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Capítulo XVI

Billy fora tirado de mim.

Nita cismou que cuidaria dele, então o levou do meu quarto junto dos trapos e da almofada que eram sua aconchegante caminha.

Mas o que me consolava era saber que Nita o faria um filhote saudável rapidinho, afinal ela cuidou de mim, e sei o poder daquelas mãos habilidosas.

Então, sem o compromisso de alimentá-lo de hora em hora, voltei para o meio dos cavalos, após passar toda a manhã brincando com Billy.

Tentando, na verdade, pois ele parecia mais interessado em dormir.

Animalzinho preguiçoso.

Mesmo a certa distância, ainda, noto que Ian retornou de quaisquer que fossem os deveres que o mantiveram longe alguns dias, e me apresso em sua direção.

- Bem vindo de volta, Ian! - digo, meio sem fôlego pela minha pequena corrida.

Ele me olha, então, sorrindo.

Como eu pude não notar as semelhanças entre ele e Jamie? Não físicas, mas a maneira de olhar e de movimentar o corpo.

- Lizy! Que travessuras aprontou durante minha ausência? Jogou mais algum livro em nosso excelentíssimo senhor Mackenzie?

- Não, mas arrumei um cachorro. - respondo satisfeita e orgulhosa do meu feito.

Ian arregala os olhos, impressionado.

- Jamie não gosta de cães.

- Infelizmente, para ele claro, eu não me importo. Billy já é parte da casa, Nita está cuidando dele e estamos providenciando um pequeno canil.

Ian joga a cabeça para trás numa gargalhada gostosa.

- Venha, preciso levar feno às baias, me acompanhe e conte tudo o que aprontou. Quero os detalhes da história desse cachorro, algo me diz que será divertido.

Ele começa a caminhar em direção ao barracão dos fenos, e eu sigo ao seu lado.

- Direi sim, mas apenas depois que me disser por onde esteve e o que fez. Ausentou-se por dias!

- Eu fui fazer um favor ao Jamie. Encomendar uma coisa, aguardar que ficasse pronta, e a trazer até ele.

- E o que seria essa coisa misteriosa?

- Se eu lhe contar, ele provavelmente a usará em mim, e eu não quero isso. - ele me diz com um piscar de olhos - Mas, o que posso lhe dizer, é que essa foi a primeira vez que ele me pediu um favor, que confiou em mim. E graças a você.

- Graças a mim?

- Sim, digamos que estamos em um período de acordo de paz no momento.

- Ele me disse que remediaria seus erros. Fico tão feliz, Ian.

- Eu também. Obrigado.

- Ora, não há o que agradecer. Eu apenas disse umas poucas e boas para aquele cabeça dura, ele quem fez o resto.

Ele sorri. Chegamos ao barracão, e Ian começa a colocar feno em uma carroça que havia ali.

- Agora, enquanto trabalho, conte-me sobre como adquiriu o cão.

- Bem, tudo começou quando uma rapariga de voz de cacatua grudou em Jamie no centro de comércio daqui…

Já era entardecer quando vi algo que me fez perder o chão por um momento, e que gelou meu interior: o criado que fora com Jamie até a cidade retornou sozinho, trazendo Vento Negro consigo.

- Ian… - digo num sussurro agoniado, estávamos no cercado observando os potros brincando.

- O que foi, Lizy? Parece que viu um fantasma.

- Aquele homem acompanhou Jamie até a cidade e voltou só. - eu tremia.

Ian então olha na direção que apontei e endurece as feições ao ver o cavalo preferido de Jamie sem o cavaleiro em cima.

- Venha.

Seguimos até o homem, Ian a passos largos, e eu correndo.

- Onde ele está? - pergunta Ian.

- O patrão está vindo ali atrás, numa carroça. - diz o homem.

Ele está ferido! Esta ferido!

Saio correndo em direção a casa principal, na direção dele, temendo ver o pior.

Ian vem logo atrás de mim, sei que está preocupado, afinal, eles estão começando a se entender.

Quando chego, o vejo descendo da carroça, mas há sangue em suas roupas.

Muito sangue.

Ele me vê e se vira para mim, abrindo os braços, mas não o abraço.

- O que aconteceu? Esta ferido? Jamie, está ferido? - minhas lágrimas turvam minha visão, mas o vejo me dar um pequenino sorriso.

- Esse sangue não é meu. - ele diz.

Isso basta para que eu o envolva em meus braços, o apertando contra meu corpo.

Preciso sentir sua solidez para me certificar de que ele está bem.

- Eu estou bem, está tudo bem. - ele murmura carinhosamente para mim, afagando meus cabelos.

- Quando vi seu cavalo sem você, eu pensei… pensei que…

- Pensou que conseguiria se livrar de mim tão facilmente?

- Você nunca facilitaria tal coisa, não é? - pergunto com um leve sorriso, agora mais calma.

- Não mesmo.

Nos afastamos quando Ian chega, Jamie o cumprimentando com um aceno de cabeça que Ian retribui, então segue ao fim da carroça, que noto está cheia de galinhas, puxa uma manta que ali havia e diz.

- Venha, está em segurança agora.

Observo enquanto um homem sujo e maltrapilho, e certamente ferido pela maneira que se move, se levanta e sai dali lentamente.

E ofego profundamente quando vejo quem esse homem é.

- Doutor Cooper! - grito.

Ele vira o rosto para mim, e seus olhos brilham quando me reconhecem.

- Annelizy! - ele diz num tom bem mais fraco, quase aos sussurros.

Sigo até ele e lhe dou um abraço suave temendo machuca-lo.

- O que aconteceu, dr Cooper? - pergunto, ainda abraçada a ele, mas quem responde é Jamie.

- Vamos cuidar dele primeiro Lizy, depois explicaremos tudo.

Saio de nosso abraço, e o observo notando que está visivelmente abalado e fraco.

Ele estava desaparecido há dias, pelo que esse homem passou desde então?

- Ian, pode ajudá-lo a entrar? Leve-o ao segundo andar, o terceiro quarto.

Ian prontamente se aproxima do médico, que passa a mão pelo ombro forte dele em busca de apoio, e ambos seguem lentamente até seu destino.

Jamie e eu trocamos olhares.

Ele parece triste, noto, entristecendo-me também.

- Porque está triste?

Ele leva alguns segundos para responder.

- Contarei amanhã, cada detalhe. Agora, vamos entrar.

Ele me estende a mão e eu a aceito, resignada. Ele está incomodado com algo, e não quer me dizer.

Começo a subir as escadas com ele, mas Jamie me impede.

- Iremos cuidar dele, Lizy, Ian e eu. Você vá tomar um banho, está cheia de sangue.

Assim, Jamie segue até o quarto de hóspedes até Dr Cooper e Ian.

Nita se assusta quando me vê, ensanguentada e parada aos pés da escada.

- O que aconteceu, menina?

- Ah, isso, Jamie chegou, Nita.

- Ele está ferido? Oh céus.

- Não, Nita, Jamie está bem. Quem está ferido é o Dr Cooper.

- O médico que a ajudou e que estava desaparecido? Ele está aqui?

- Sim. Não me pergunte como pois também não sei. Apenas sei que Jamie e Ian estão lá em cima cuidando dos ferimentos dele.

- Bem, então vou ajudá-los. O seu banho está pronto, apresse-se antes que a água esfrie. Ande, vamos, vamos.

Nita me empurra escadas acima onde vou direto ao meu quarto, e sigo ao banho, onde fico até que a água esteja fria e meus dedos enrugados, fazendo conjecturas sobre o que de verdade aconteceu.

Como o nosso querido Doutor Cooper foi parar naquela cela??

Algum palpite?

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