revelações
- O que você quer saber? - pergunta o velho Jojo.
- Primeiramente, eu quero saber quem é você - responde Mia.
- Bom, essa é fácil, eu sou o Jojo.
- Eu sei, velho, quero saber quem é você aqui no Labirinto.
- Ah, sim, eu sou um prisioneiro.
- Assim como eu?
- Você não é uma prisioneira, minha criança, você pode muito bem sair daqui - ele aponta para o corredor escuro - se eu tentar sair, a passagem se fecha.
- E porque isso?
- Alastair teme que eu saia e tome o meu lugar de direito.
Ao ouvir esse nome, uma chama de ódio cresceu no peito de Mia, afinal, ele é o responsável por todas as coisas ruins que estão acontecendo com ela desde que ela apareceu naquele mundo.
- Esse desgraçado, como assim seu lugar de direito?
Jojo sorri.
- Pelo jeito, você não se dá muito com ele.
- Ele me colocou nesse mundo, eu o odeio mais que tudo.
- Não, criança - Jojo se senta na cama, encostando as costas na parede - Alastair não tem poder pra isso.
Os olhos de Mia arregalaram.
- Do que você está falando?
- Sinto muito, mas você entrou aqui sozinha.
- Mas como??? Eu nem sei que mundo é esse, como assim eu entrei sozinha???
- É apenas a verdade, os reis não podem trazer, apenas guiar os que chegam a sua própria vontade.
- Tá dizendo que Alastair não me prendeu aqui?
- Acho que isso ficou claro, não é?
Mia se enfurece.
- Eu não acredito em você! - ela levanta da cadeira - Eu não sei porque eu fiquei aqui com você, você não deve saber nada sobre esse mundo, é só um velho caduco.
- Talvez eu seja um caduco, mas nos meus dias de glória, era eu quem governava esse mundo.
- Espera, o quê?! - a fúria de Mia foi substituída por um misto de espanto e curiosidade - Você governava o Labirinto?
- Eu era chamado de "Jojo, o sábio", o mais justo rei desse mundo - seus olhos cansados brilhavam ao falar essas palavras.
- Então foi isso que você quis dizer com seu lugar de direito - concluiu a pensativa Mia.
- Sim, como você sabe?
- Você me contou, velho.
- Ah, contei né? - Jojo estava casa vez mais senil, o que irritava Mia.
- Como Alastair tomou o seu lugar?
- Ele me emboscou, tomou o meu lugar, meus poderes, transformou o Labirinto num lugar de medo e morte, me prendeu aqui, pôs um feitiço nesse quarto, eu não posso sair, e se eu sair, eu morro.
- Espera aí, então como você me salvou daquele poço nojento? - ela fica enjoada só de pensar.
- Eu posso ser um velho gagá, mas ainda tenho alguns truques, um pequeno feitiço de evaporação aqui, um outro de limpeza ali - ele aponta para as roupas de Mia, naquele alvoroço, ela ainda não havia percebido que seu vestido branco imundo, estava limpo e novinho em folha, ela também estava limpa e com um cheiro de lavanda.
- Meu Deus, eu tô limpa! Nem havia reparado - ela diz, alegremente - E seus truques não podem tirar a gente desse mundo?
- Não, minha cara, nem quando eu era rei conseguia fazer tal façanha, o Labirinto é poderoso demais, ele tem o seu próprio curso e nem o rei pode mudar isso.
Mia sentiu frustrada, apesar das informações novas, ela sabia que nenhuma delas iria ajudar a sair daquele lugar.
- Você sabe porque eu vim parar nesse mundo?
- Não sei, minha cara, as pessoas aparecem de tempos em tempos, completam o Labirinto e vão embora transformadas.
- Transformadas?
- Você não é mais a pessoa que era quando chegou aqui não é?
Ao ouvir as palavras de Jojo, Mia ficou pensativa, realmente, tudo o que ela havia passado a transformaria para sempre, os mãos, o baile, o poço de fezes, todo o medo que ela sentiu ia a perseguir pelo resto de sua vida.
- E Alastair? O que ele tem a ver com tudo isso?
- Como assim?
- Você disse que ele havia transformado o Labirinto num lugar horrível, mas você mesmo disse que o Labirinto não podia ser transformado e que mesmo quando você era rei, as pessoas vinham e eram mudadas por este lugar. Nada disso está fazendo sentido!
- Eu disse?
- DISSE!!! - Mia grita, machucando um pouco sua garganta.
- É, talvez eu tenha dito - Jojo coça a cabeça - É assim, garota, a função primordial do Labirinto é transformar as pessoas, fazer elas encararem os próprios demônios, isso é imutável, mas...
- Mas? - ela cruza os braços, séria.
- A essência do Labirinto pode ser mudada de acordo com o coração do rei, eu acredito que tanto coisas boas quanto coisas ruins podem construir o caráter de alguém, já Alastair tem um coração negro, acredita que o medo é o único moldador do caráter do homem, por isso que ele sempre se opôs a mim, assim que ele usurpou o trono, o Labirinto se adequou as suas vontades, apesar de se manter fiel ao seu cerne original.
A cabeça de Mia já estava doendo com tanta informação.
- Só me diz, velho, como eu saio desse mundo?
- Você ainda não sabe? Chegue no obelisco, criança.
- Não tem nenhuma outra saída além dessa?
- Tem outra.
- Qual? Me fala!
- O obelisco.
Mia dá um grunhido alto e puxa seus cabelos com força, já estava ficando sem paciência com Jojo.
Ela respira fundo.
- Tá bom, então o obelisco é a única saída?
- Sim, essa é a graça dos labirintos, só existe uma forma de sair, chegando no final dele - ele olha fixamente para a frustrada Mia - mas você já está chegando ao fim não é?
- Estou mesmo? - ela se despertou com essa notícia - Como você sabe?
- Eu fui rei durante décadas, consigo reconhecer uma pessoa com a jornada contada mesmo se tivesse a 100 metros de mim. Você teve ajuda não é?
- Sim, um escravo rebelde de Alastair, o nome dele é Lewis, ele me guiou pelo Labirinto.
- Ah, Lewis, eu não conheço, ele deve ser uma nova criação do Labirinto.
- Sim, ele disse que ganhou vida quando Alastair virou rei do Labirinto.
- Ah, é, Alastair é o rei, tinha esquecido.
- COMO VOCÊ ESQUECEU DISSO? - a paciência de Mia esgotou.
Jojo se aconchega mais na cama.
- Estou com sono, acho que vou voltar a dormir, é melhor você ir logo, mesmo eu sendo um antigo rei, não acho que Alastair teria resistência em me matar caso me visse com você.
- Tudo bem - Mia se levanta e deixa a cadeira onde estava.
- Tem uma cesta no armário, pode levar, tem um pouco de comida e água para você - ele aponta para a decorada mobília - também tem sapatos, caso você desista dessa vida de maltrapilha.
- Obrigada - responde ela com a recém adquirida cesta nas mãos e com seus novos sapatos - Obrigada por tudo, rei Jojo, o sábio.
- De nada, garota, e lembre-se, Alastair, como rei, é obrigado a te dar uma dica, então a dica que ele deu para você, siga.
Dica? Será que foi aquela das pedras amarelas?, pensa a pequena ruiva.
- Sim, senhor, vou me lembrar - ela responde antes de se aventurar naquele corredor escuro e misterioso.
Jojo, o sábio, volta a dormir no seu confortável divã.
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