▪ EM UM ESFORÇO PARA CONSCIENTIZAR SOBRE OS RECENTES TERREMOTOS NA TURQUIA, JAMIE HARINGTON EMBARCOU EM UMA VISITA COM A ACNUR PELA REGIÃO AFETADA.

▪ JAMIE HARINGTON FEZ UMA GENOROSA DOAÇÃO E ESTENDEU O PEDIDO PEDINDO PARA QUE AS PESSOAS SIGAM SEU EXEMPLO E AJUDEM AS VÍTIMAS DO TERREMOTO NA TURQUIA E NA SÍRIA.

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— Você está realmente fazendo isso?

— Vão ser apenas quatro dias, Taylor — Jamie a lembrou.

— Quatro dias parece muito tempo para mim — ela apontou — Como vou ficar?

— Espero que bem, amor — a garota olhou para ela um pouco sem entender, como se aquela pergunta não fizesse tanto sentido diante da situação. Ela ficaria bem — Você se lembra do que precisa para alimentar os bebês, certo? Você precisa retirar o frasco com leite do freezer e depois colocá-lo em banho-maria, em água quente, com o fogo já desligado. Basta agitar um pouco. Verifique a temperatura com algumas gotas no pulso e, se estiver um pouco acima da temperatura corporal, ótimo. Eu não acho que você terá problemas com qualquer outra coisa, nós nos damos bem cuidando de Hale e Rowan sozinhos, e você tem seus pais. Os meus estão a uma hora de distância também, mais qualquer coisa é só me ligar.

— Por que você tem que ir?

— Cenric está indo com a organização dele, estamos apenas tentando ajudar. São apenas quatro dias, amor — assegurou ela, e então ouviu o suspiro alto de Taylor que a fez desistir da breve arrumação da pequena mala que levaria. Jamie se aproximou da mais velha, envolvendo-a com cuidado pela cintura, depois cortando o espaço entre elas com um beijo carinhoso — Quatro dias.

— Se alguma coisa acontecer...

— Nada vai acontecer — Jamie assegurou a ela — E você vai ficar bem.

Taylor queria compartilhar aquela certeza que Jamie tinha, mas parecia muito difícil. Uma coisa era ficar metade do dia com as crianças, outra bem diferente era ficar com elas, sozinha, por quatro dias sem nem mesmo o contato de Jamie - ok, ela não estaria realmente sozinha, considerando que seus pais estavam lá, mas ainda era alguma coisa. No entanto, a inglesa parecia certa da decisão que tomara e dificilmente voltaria atrás.

Cenric, nos últimos dois anos, havia estendido seu trabalho voluntário em Londres. O Outside Project realmente se tornou seu foco - além de seu envolvimento com o Kode with Klossy - mas ele também manteve seu contato com o ACNUR, ajudando milhares de pessoas em meio à crise de refugiados na Europa. Jamie tinha uma noção muito clara do trabalho do mais velho porque acompanhou sua transição, deixando seu alto cargo na WPP para focar em toda aquela área.

Duas manhãs atrás, quando ele mandou uma mensagem para Jamie, foi apenas para mantê-la informada sobre o que havia acontecido e depois perguntar se ele poderia contar com a plataforma dela para expandir o discurso sobre doações às pessoas afetadas pelo terremoto na Turquia e na Síria. Cenric comentou que, além de sua própria doação com Karlie,  a modelo postaria sobre isso para seus 13 milhões de seguidores no Instagram, e que seria realmente incrível se Jamie pudesse fazer o mesmo para seus quase trinta milhões, doar e, em seguida, conscientizar e incentivar as pessoas a fazerem o mesmo. No meio disso, o mais velho também deixou escapar que em breve estaria viajando para ir a campo ver pessoalmente os estragos e depois ajudar no que pudesse, e Jamie acabou perguntando se poderia acompanhá-lo.

Seu último dia de apresentações antes da pausa do final do ano já havia acontecido, ela e Paul voltariam para o Almeida em janeiro, e lá continuariam até o final do mês, para se transferirem para o West End no final de fevereiro e então entrarem em uma corrida curta de duas semanas no local. Jamie tinha seus dias de folga e Cenric havia dito que ele e sua equipe estariam fora por quatro dias. Ela realmente queria fazer algo sobre essa situação.

Foi assim que Jamie acabou em um voo fretado junto com mais alguns voluntários e Cenric. Aterrissando em Ancara, eles subiram em algumas vans separadas para a viagem de quase duas horas até Yesilyurt. Jamie se acomodou com Cenric nos últimos bancos, mantendo a única bagagem de mão que carregava no colo, enquanto o mais velho se espremia entre ela e o outro banco carregando uma caixa de roupas, que não havia achado espaço no porta malas. 

— Você mandou uma mensagem para Taylor? — perguntou Cenric.

— Assim que saí do avião.

— E o que ela disse?

— Ela mandou uma foto com nossos filhos e comentou que estava tudo bem — disse Jamie — E a Karlie? Você falou com ela?

— Sim. E ela está bem — ele sorriu suavemente — Um pouco enjoada e um pouco cansada, mas a irmã dela, Kimberly, está lá ajudando com Levi. São apenas quatro dias, então acho que ficaremos bem.

— Espere- — Jamie parou por um momento. Ela olhou para Cenric, tentando se orientar — Karlie...?

— Grávida? — ele completou a pergunta, pois parecia óbvio o caminho daquilo — Sim.

— E você não pensou em comentar sobre isso? — ela o empurrou pelos ombros levemente, o que arrancou uma risada honesta do homem mais velho.

— Ela quer esperar e contar aos poucos. A ideia é apenas falar publicamente sobre a gravidez no Met Gala.

— Vocês vão juntos?

— Vai ser minha primeira vez — Cenric disse — Nós vamos sim. Ela está muito animada pensando em qual roupa ela vai usar, e estou animado em vê-la assim. Com Levi foi algo totalmente diferente. Todo mundo estava dentro de casa, e agora as coisas meio que voltaram ao normal. Karlie gosta disso. A parte do trabalho em si... Ela quer realmente ser mais aberta sobre a própria gravidez dessa próxima vez.

— Isso é incrível, mate.

— Eu sei, eu sei... Diferente da primeira vez, realmente planejamos agora, e parece até um pouco menos descomplicado.

— Quantas semanas?

— Seis.

— Então vocês ainda não sabem o sexo.

— Não, mas estamos ansiosos para isso — o mais velho confessou — Eu estou meio que torcendo para que seja uma menina. Se vier outro garoto, eu vou amar da mesma forma, mas uma menina seria realmente especial. Dois filhos parece um campo assustador, mas divertido.

— Eu imagino. Lá pelo fim da minha gravidez eu estava completamente exausta, mas ter Hale e Rowan foi realmente algo. Acho que fiquei pensando por algum tempo como Taylor e eu conseguiríamos dar conta dos dois, mas dois é um ótimo número — ela disse, e terminou pensando como algumas horas longe e tudo parecia um pouco mais difícil. Saudades era realmente algo, ela só não tinha tanta noção disso.

Com a viagem pela estrada se aproximando do fim, logo o grupo de vans se emparelham do lado de fora do acampamento montado para receber o máximo de pessoas que conseguiriam. À medida que o número de mortos aumentou em um dos terremotos mais mortais em décadas, havia certamente um esforço permeando o espaço, mas seria mentira dizer que as pessoas longe daquele lugar estavam se importando tanto quanto pareciam se importar com, por um exemplo, a guerra que acontecia logo ali não tão longe, na Ucrânia. O esforço global de ajuda humanitária enfrentava grandes desafios, parecia muito difícil porque a ajuda era realmente mínima.

A primeira imagem que Jamie teve do cenário não foi realmente o tipo de coisa que ela gostaria de lembrar. Civis em meio aos escombros enquanto tentavam recuperar corpos presos dentro dos prédios desabados em Yesilyurt, e a movimentação contínua de pessoas que há três dias não paravam para absolutamente nada.

O terremoto destruiu grandes áreas de cidades, deixando uma região, que já enfrentava uma crise de refugiados há mais de uma década de guerra, em uma crise monumental. O esforço de recuperação parecia um grande caos.

Milhares de edifícios foram destruídos ou permaneceram instáveis, deixando centenas de milhares de pessoas sem abrigo sob chuva, neve e temperaturas que muitas vezes caíam abaixo de zero. No frio intenso, equipes de resgate retiraram milhares de sobreviventes dos escombros, mas conforme o tempo transcorrido, caíram drasticamente a chance de acharem pessoas com vida. Mesmo depois de um período controlado, houve alguns resgates milagrosos. Naqueles últimos dias, o desespero tinha aumentado cada vez mais à medida que as missões de resgate se voltavam para a recuperação.

A situação dos sobreviventes era terrível, com pessoas relutantes em voltar para suas casas e usando fogueiras de destroços para se manterem aquecidos, amontoadas em carros e sofrendo frequentes quedas de energia e escassez de combustível. Eles também estavam com falta de alimentos e suprimentos médicos.

A Turquia impôs estado de emergência por três meses em 10 províncias, e a agência nacional de emergência distribuiu uma grande quantidade de tendas e mobilizou milhares de veículos, incluindo escavadeiras, guindaste e guinchos, com a ajuda de mais de 230.000 trabalhadores humanitários. Alguns países enviaram equipes e suprimentos, e um sistema de saúde improvisado surgiu, mas grande parte da ajuda em si vinha de organizações sem fins lucrativos que estavam lá para responder o chamado, como a de Cenric

Logo após o terremoto, a única travessia aprovada pelas Nações Unidas para levar ajuda internacional à região abrigada não funcionou por um tempo devido aos danos na área, então foi realmente um pouco de sorte quando Jamie e Cenric conseguiram autorização para seguir.

Eles chegaram com uma equipe de pouco mais de vinte e cinco pessoas, com o máximo que conseguiram carregar de alimentos, roupas, cobertores e outros suprimentos, e foram recebidos por socorristas exaustos e frustrados e médicos que os agradeceram, mas comentaram o óbvio, que aquilo ainda não era o suficiente, especialmente em uma região onde muitas pessoas haviam sido deslocadas pela guerra e lutavam para sobreviver antes mesmo do terremoto.

Jamie e Cenric se juntaram a uma equipe de voluntários, dedicando seu tempo e energia para prestar assistência e apoio a quem precisava. Barracas pontilhavam a paisagem, enquanto as pessoas tentavam reconstruir suas vidas em meio a tudo a quilo.

No dia seguinte à chegada, Jamie ajudou a distribuir suprimentos e fornecer um pouco menos de caos a assistência médica - ela aprendeu em alguns minutos o básico e logo estava tentando fazer o que podia com o que tinha enquanto encaminhava quem realmente precisava para um atendimento, ajudando as pessoas em situações não tão sérias a se manterem calmas ali na tenda em que estava. Cenric tinha sumido para um lado com mais alguns outros homens, quando eles comentaram que continuariam os esforços em mais um dia revirando os escombros.

Naquele dia em questão foi quando Jamie se viu entrando uma pequena tenda onde uma garotinha de nome Ayse estava ficando junto de alguns conhecidos. Ayse estava há apenas algumas semanas de seu primeiro aniversário, e ela havia perdido seus pais no terremoto. Ela nasceu ali, mas seus pais eram ingleses, tinham vindo de Doncaster. Eles estavam ali porque haviam voluntariamente deixado a Inglaterra para ajudar os refugiados de guerra na fronteira com a Síria, e não havia realmente uma família próxima para ligar até a garotinha. O parente mais próximo era a mãe do pai dela, mas ela não mantinha contato com o filho e parecia realmente difícil de se localizar ainda que a informação de que vivia em Paris tivesse sido reconhecida.

Ayse terminou lembrando Jamie de Taylor. Com os olhos azuis e o cabelo cacheado tão claro que quase podia ser confundido com o tom de platina. Naquela noite, quando Jamie caminhou junto de Cenric para o lugar onde estava ficando, o garoto a chamou para se juntar ao resto dos outros voluntários em volta de uma fogueira improvisada, mas Jamie estendeu isso dizendo que queria apenas falar com Taylor antes de se juntar a eles.

A mais velha terminou não atendendo o celular, e foi apenas no fim da noite, quando o relógio marcava onze horas onde Jamie estava e nove de volta à Londres, que ela mandou uma mensagem para a esposa.

girldad: posso te ligar?
jamie: estou contando com isso.

Taylor estava na sala de casa, enquanto Hale e Rowan riam de algo que Scott falava. Andrea manteve a atenção dividida entre aquela cena, o noticiário noturno da BBC e uma conversa de Taylor com Jamie.

Com o celular contra o ouvido enquanto ouvia atentamente as palavras da mais nova, Taylor não conseguiu não se encher de preocupação quando Jamie contou tudo o que tinha visto. Então ela falou da história da garotinha que tinha conhecido naquela tarde.

— Ela realmente me lembrou de você, e todas aquelas suas fotos ainda bebê — Jamie murmurou, tentando não aumentar a voz já que estava há apenas alguns passos de onde seus colegas se reuniram.

— Então ela deve ser linda — Taylor brincou.

— Ela é... — Jamie sorriu suavemente — Eu estou com saudades de vocês.

— Nós também estamos morrendo de saudades de você. Rowan tem sido um problema no meio da noite, sempre que acorda, ele procura por você e então não te vê e parece a criança mais irritada do mundo.

— Eu volto em dois dias.

— Dois dias parece realmente muito — Taylor acompanhou — Mas ok, nós aguentamos. Como Cenric está?

— Um pouco agitado. Isso é meio que o trabalho dele, ele realmente sabe o que está fazendo.

— E você?

— O que tem eu?

— Sabe o que está fazendo?

— Eu tenho um pouco mais de ideia a cada segundo que passa — Jamie assegurou, deixando um bocejo escapar quando chegou ao fim da frase. Taylor reparou.

— Você deveria descansar, querida — ela disse.

— Eu vou fazer isso.

— Eu te amo — Taylor sussurrou.

— Eu também te amo.

— Hm, me mande uma foto da garotinha de hoje, se conseguir — ela pediu, sem saber realmente a razão. A coisa toda apenas saiu, e ela tinha ficado um pouco curiosa.

— É a primeira coisa que vou fazer amanhã.

— Ok — Taylor acenou, como um reflexo, ainda que Jamie não pudesse a ver — Eu te amo, e já disse isso, mas estou dizendo de novo — ela brincou uma última vez, ganhando uma risada leve da mais nova, que logo caiu em um silêncio. Jamie suspirou com calma.

— É realmente maluco como estar aqui coloca as coisas em perspectiva — Jamie murmurou — Ninguém tem absolutamente nada planejado, porque em um instante você pode apenas perder tudo.

— Querida-

— Mas ok, não vou entrar nisso — Jamie a interrompeu. Ela queria muito entrar nisso, e não sair por uma tangente, mas estava realmente cansada, então apenas deixou o assunto ir embora — Nos falamos depois?

— Eu te ligo pela manhã — Taylor garantiu.

E foi exatamente o que fez.