Só uma criança
Ben cora ao se olhar no espelho, e ver os chupões e as mordidas, que Heitor deixou em si. Eles não foram muito longe, como o moreno havia dito. Mas o fizeram, foi o suficiente para o castanho se sentir quente, ele queria mais, mas ainda não estava pronto.
- Oi. - Heitor sorriu e abraçou o menor por trás.
- Oi.
- Como se sente? Eu não te...
- Não, não, eu estou bem. Eu gostei, foi bom.
Fortescue sorriu e faz um leve carinho na cintura do seu garoto.
- Bom, quando você estiver pronto, vai ser mil vezes melhor.
Ben gemeu baixinho, com a ideia.
- Tor.
- Tudo bem. - O moreno riu e apertou o garoto contra si. - Tudo bem, vamos tomar um banho.
- Eu vou pra casa do meu pai hoje, depois da escola.
- Arg, boa sorte. Vai me mandando mensagem, eu sei que seu velho não gosta de mim.
- Sinto muito.
- Não sinta.
Os dois entraram no chuveiro, fazendo carícias uns nos outros, ajudando-se a se lavar. Heitor passa o shampoo no cabelo do menor, já Ben tem que pedir ao outro pra se abaixar, o que renda risadinhas de ambos e provocações do moreno.
Os dois desceram para o café, a mãe de Heitor não estava em casa. Ela havia feito panquecas de mirtilo para Ben e de frango desfiado para o filho.
- Você não era vegano? - Pregunto Ben.
- Ah eu desisti, da muito trabalho.
Ben riu e negou com a cabeça.
- Se você diz.
- Você tem mais persistência que eu, é vegetariano a cinco anos, quase.
- Ah não faz essa carinha, porque não tenta sendo vegetariano primeiro? Pode ser mais...fácil.
- É, você pode ter razão.
Os dois terminaram o café e arrumaram a cozinha. Andaram devagar até a escola, as pontinhas dos dedos se tocando vez ou outra.
- Heitor, Heitor.
Imogen veio correndo até eles, um grande sorriso no rosto.
- Ah, oi Imogen.
- Ei, oi Ben.
- Oi Imogen.
- Então, tem uma amiga minha que me pediu pra pegar o seu número. Ela acha você muito gatinho e...
- Olha Imogen, diga a sua amiga que eu estou lisonjeado. Mas... - Heitor encolheu os ombros, um sorrisinho no rosto.
A garota franziu a testa, depois estreitou os olhos, quando pareceu ter entendido alguma coisa ela riu.
- Entendi, não se preocupe. Eu vou ficar na minha. - Ela pisca e da um sorrisinho sapeca, saindo devagar. - Eu vou dar um desculpa pra minha amiga.
Ela foi embora, deixando os dois garotos sozinhos.
- Bem...vamos pra aula? - Pergunta Heitor.
- Vamos pra aula.
* * *
O dia não tinha sido lá muito interessante, pelo contrário, havia sido entediante e arrastado. Ben e Heitor voltaram juntos pra casa, o castanho fez um lanche junto com a mãe, tomou um banho, fez sua mochila e foi pra casa do pai. Quando abriu a porta, a namorada de seu pai estava sentada no tapete, digitando alguma coisa no celular. Ela era professora de ballet, Virgínia, o nome dela.
- Oi. - Diz o adolescente.
- Oi.
A mulher era um pouco mais nova que sua mãe, tinha uma filha de quatorze anos, estudante do Higgs.
- Papai está em casa?
- Ainda não.
Ben balança a cabeça e sobe as escadas, ele e a namorada de seu pai não se odiavam, mas também não eram os melhores amigos. O adolescente fechou a porta atrás de si, e jogou a mochila no chão, tirou os tênis e se jogou na cama.
- Uh. - Ben se encolheu na cama.. Ele não queria estar ali, ele queria estar em casa. Talvez deitar a cabeça no colo de sua mãe, ou estar nos braços quentes de Heitor.
Qualquer lugar, menos ali. Fazia muito tempo, desde que viu seu pai como um herói, como um rei. Mas agora, sabendo quem seu super herói era, não sentia mais o mesmo orgulho. Richard Hope, era um homofóbico, transfóbio e tudo que tivesse mais de fóbico, que se poderia ser. Uma batida na porta, interrompeu os pensamentos de Ben.
- Ben ?
- Pode entrar.
Virginia entrou com um sanduíche e um copo de suco em um prato.
- Imaginei que pudesse estar com fome. Percebi que gosta de tomates, então fiz um sanduíche com eles picados e bem temperadinhos, tem alface e queijo "grelhado". O suco é de caixinha mesmo, as poupas estão em falta, seu pai não tem habilidade nenhuma, para compras domésticas. - A mulher riu e colocou o prato em cima da mesinha de cabeceira.
- Obrigado...Virginia.
- Sem problemas, espero que goste de suco de morango, era o único que tinha.
- Tudo bem, eu gosto.
- Tá bem, eu vou deixar você ai.
Se se vira para ir embora, mas Ben sentiu que pelo menos, poderia perguntar pela menina. Afinal, mesmo não sendo muito amistoso com Virginia, ela ainda tentava se aproximar dele.
- A Molly está bem ?
Ela se virou e sorriu.
- Está sim, ficou na casa do pai.
- Legal.
- Ela está escrevendo uma fanfic, algo sobre o Louis Tomlinson ser um mafioso que sequestra, o filho cego do inimigo de seu falecido e assassinado pai, em busca de vingança.
- Uau, impressionante. Quantos anos você disse que ela tinha mesmo?
- Quatorze.
- Nossa.
Virginia riu e tirou uma mexa de cabelo do rosto, que caia do coque preso em uma caneta.
- Ela é...uma força da natureza. Eu tento apoia-la nessas fanfics que ela faz e os edits no tik tok, sabe!? Não só nisso, em outros aspectos também, como em sua sexualidade. Não estou querendo me gabar nem nada, afinal é meu dever como mãe, não é?
Ben ficou alguns segundos perplexo. Sexualidade? Ele não esperava por isso, havia o deixado desnorteado, mas ele pareceu que a mulher a frente dele, o olhava com preocupação.
- Sim, sim, eu suponho. Sexualidade?
- Molly é pansexual.
O garoto sentiu seu coração acelerar.
- P-pansexual ?
- É, é quando uma pessoa...
- Eu sei o que é.
Ela riu.
- Claro, com certeza você saberia disso melhor do que eu.
O adolescente sentiu o coração acelerar ainda mais.
- O que você quer dizer com isso?
- Oras, você é adolescente, vocês são bem ligados nessas coisas...não ?
- A é, nós somos...nós somos sim.
- Bem, eu vou indo lá. Tenho que terminar o edit daquele última música.
- Edit?
- Das coreografias, para quando eu começar ensaiar minhas meninas e meninos, para a apresentação de final de ano. Claro isso depois da prova que eles fazem no meiado do ano, dou um semana de folga e ai começamos com os ensaios.
- Parece legal.
- É, sim.
Ela sorriu e se afastou, Ben comprimiu os lábios e se levantou, pegando seu prato.
- Virginia.
Ela parou na porta e olhou pra ela.
- Eu tenho um amigo que manja de edições de música, mix e essas coisas. Sei uma coisa ou outro, que aprendi com ele. Posso ajudar?
O sorriso que recebeu, fez o coração do adolescente se esquentar.
- Seria maravilhoso.
Se ele tinha que passar uma semana na casa do pai, que pelo menos escutasse os conselhos se sua mãe, e tentasse deixar Virginia se aproximar. Ela era uma pessoa legal.
* * *
- Cara tem várias pessoas comentando, que o Ben e o Heitor são suspeitos. - Diz Tao, com a cabeça no colo da Ell.
- Vocês estão falando de quem?
A mãe de Tao entrou no quarto.
- Mãeee.
- Desculpa, eu só vim avisar que a janta está pronta.
- Obrigado tia. - Agradece Charlie.
Os demais também agradeceram, numa sequência de "Obrigada (a) tia" "mãe do Tao" ou qualquer coisa do tipo.
- Estávamos falando do "ex" do Charlie, tia. - Explica Elle. - Ben Hope.
A mulher asiática pareceu se lembrar de alguma coisa, quando o nome foi citado.
- Oh, filho de Richard Hope ?
- É, acho que sim mãe.
- Seu pai foi advogado dele, filho.
- Advogado? - Pergunta Nick.
- Era só o que me faltava, o pai dele é um criminoso. - Darcy suspira, meio frustrada.
- Não, não. Vocês não sabem da história?
- Ah...não !? - Diz Tao, arqueando uma sobrancelha.
- Bem, Richard Hope quase matou o próprio irmão.
- Porque? - Pergunta Isaac.
- MATOU ? - Gritam Nicky e Charlie em unissono.
- Quase.
- Mãe, conta essa fofoca direito.
- O irmão de Richard, Arthur, é gay. Hoje em dia ele está preso.
- O que ele fez ? - Pergunta Ell.
- O irmão o pegou tentando... - A voz da mulher fraquejou.
- Tentando o que, mãe?
- Tentando molestar a criança.
- Criança? Que crianç...ai meu Deus, o Ben ? A criança era o Ben ? - Pergunta Charlie se levantando.
- Sim, a dez anos atrás.
- Meu Deus. - Todos disseram em unissono.
Charlie de repente parecia muito enjoado, Tao passava as mãos pelo cabelo frenéticamente.
- E-ele...ele chegou a... - Nick sentia um bolo preso em sua garganta.
- Não, Richard chegou a tempo. Quase matou o irmão, e se antes segundo o próprio, ele não concordava com essa coisa gay, a partir daquele momento, ele os enojava.
- Isso é...tudo bem que aquele garoto é desprezível, mas ele era uma criança. Porra, meu Deus. - Tao coloca as mãos no rosto.
- O Sr Hope é uma pessoa bem amarga e bem ruim, ele é um dos responsáveis pelas normas de padrão de cabelo. E sempre foi contra a escola separada por gênero, segundo ele, "influência" essa coisa gay. Ele também foi um dos responsáveis por aquela petição pra te expulsarem, Ell.
- Eu entendo que ele queira proteger o filho, mas meu Deus do céu. Não vai ser agindo de maneira tão desprezível, e ensinando essas maneiras ao filho, que ele vai conseguir. - Charlie diz, esfregando o rosto.
O garoto ainda não havia conseguido perdoar Ben, e o que ele fez com ele foi assédio. Mas não conseguia deixar de sentir pena, o outro garoto era só uma criança. Será que isso, e as atitudes do pai, é o que o tornaram assim? Não que justificasse, óbvio.
- E ele fez algum tipo de tratamento, ou algo assim? - Pergunta Tara, colocando as mãos no colo.
- Sim, sim. O tribunal exigiu, não que fosse preciso, Amélia obviamente iria querer isso, ela é uma boa pessoa. Participamos de um concurso de culinária na feira, uma vez. Vou lhes dizer, a sra Lewis cozinha divinamente. Bem, vamos crianças, antes que o jantar esfrie.
- Estamos indo, mãe.
- Tudo bem, não demorem.
Quando se retirou, os adolescentes se encararam, alguns minutos em silêncio.
- Meu Deus, estamos repetindo muito isso, não é!? - Ell solta uma risada amarga.
- Ele era só uma criança. - Diz Charlie, sentindo lágrimas brotarem dos olhos.
- Eu ainda não gosto dele, mas isso...é nojento, como um tio pode fazer isso com o próprio sobrinho? Uma criança, é monstruoso. - Tao se levanta, esfregando o cabelo.
- Isso acontece muito, e muitas dessas vezes, são na própria família da criança. É nojento e abominante, mas infelizmente é uma situação recorrente. - Darcy diz, com nojo evidente na voz.
Todos balançam a cabeça.
- Sabe o que é pior? - Tara olha para cada um deles.
- O que, amor?
- Ele provavelmente não esqueceu.
- Meu Deus, Tara. Não precisava jogar sal na ferida.
- Não eu sei amor, desculpa. Mas é verdade, pessoal.
- Com sorte, ele não se lembra. Pode ter dado um bloqueio nele, eu li que terapeutas podem induzir isso, para proteger a vítima.
- Uau Isaac, isso é bem interessante. Eu não sei se deveria dizer isso, ou se ao menos é certo, mas eu realmente espero que algo assim tenha acontecido. - Diz Ell, se levantando.
- É, tomara. Vamos descer pessoal, antes que a minha mãe volte.
O grupo de adolescentes desceu em fila para a cozinha, cada um com seus pensamentos. Pela primeira vez, tentando entender o que fazia Ben Hope, ser daquele jeito.
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