
₀₇. newlyweds stunt
CAPÍTULO SETE
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ERA DEFINITIVAMENTE O MAR. Era o navio em que eles estavam que balançava nas ondas que agitava algo dentro dele, um medo maior que o do toque e da pele, um medo que arranhava suas entranhas, quase ofuscando o fantasma em seu ouvido. Talvez tenha sido isso que lhe permitiu aquele momento de vulnerabilidade com Kira. Sim. Era isso. O mar havia confundido sua mente e Kaz não conseguia se concentrar corretamente.
E era por isso que ele estava grato por eles estarem de volta à terra, em solo Ravkan. Longe dos fantasmas rastejantes trazidos pelo cheiro do mar. Longe dos flashes que viu enquanto fechava os olhos. Martelando contra ele enquanto o barco balançava. Fantasmas. Frio, sem vida. Morto. Tudo ao seu redor, sufocando-o. Ele fez o possível para empurrá-los para baixo, mas foi inútil. O único verdadeiro momento de paz que ele teve foi naquele segundo dia de viagem e então nem mesmo o sorriso de Kira e o rosto corado foram capazes de afastar completamente seus medos.
Após o momento, porém, Kaz tomou a decisão inteligente de ignorá-la pelo resto da viagem. Ela o estava evitando também, embora ele pudesse sentir seu olhar quando ele caminhou para o convés do navio.
Assim como ela estava agora, olhando para ele com os olhos apertados e uma carranca insinuando nos lábios, enquanto ela estendia a mão para ele. Ele revirou os olhos e passou a ela um envelope cheio de dinheiro Ravkan.
── Obrigada.
Ela começou a descer a rua, antes de parar e olhar para ele.
── Venha, Brekker, eu preciso de você para o meu ardil.
A mandíbula de Kaz apertou, mas ele assentiu. Ele não tinha outra escolha, considerando que Jesper estava com Inej e o Condutor recebendo alguns suprimentos para a viagem. Ele começou a mancar na direção dela.
Caminharam em silêncio pelas ruas de Os Kervo. Kaz nunca tinha visto Ravka, apenas no DeKappel pendurado em seu escritório; então dizer que ele ficou encantado com a visão de uma cidade que não estava cheia de poluição e sangue era um eufemismo.
Ravka Oeste, Os Kervo, era uma cidade ensolarada mesmo no frio. Havia árvores nas ruas e raras eram as vezes em que via um menino pedindo migalhas ou homens e mulheres procurando freneticamente por suas carteiras. Havia Grishas desfilando em keftas e, além de alguns olhares sujos, eles não pareciam se importar com as outras pessoas. Kaz até viu uma estátua no meio de uma pracinha; uma estátua da princesa perdida de Ravka. Não havia estátuas em Ketterdam ─ pelo menos não completas.
Ao contrário de Kaz, porém, que ficou aliviado quando seus pés tocaram a terra firme após a tortuosa viagem, o rosto de Kira, quando ela colocou os pés em Ravka, era ousado. Era um rosto que ele tinha visto em seu rosto algumas vezes antes. Tente-me, dizia. E ela estava falando para todo o país.
Ela havia dito que Kaz descobriria o que ela estava escondendo assim que chegassem a Ravka. Ele não tinha. Ainda. Ele sabia que era algo importante, algo que ela temia que mudasse até mesmo a maneira como ele olhava para ela.
Como ele poderia olhar para ela de forma diferente?
Eles chegaram a uma barraca perto de um parque, onde havia grandes cartazes anunciando uma venda de carruagens. Como Kira chegou aqui, Kaz não perguntou. Atrás da baia havia um monte de carruagens alinhadas, cavalos presos a cada uma delas, esperando para serem vendidas.
── Kaz!
Os olhos de Kaz se voltaram para Kira, que o chamou para frente. Ela ergueu os olhos para ele e cuidadosamente pegou o chapéu dele, fazendo Kaz perder a respiração. Ela hesitou, mas ao ver que ele não se afastava, ela teve o cuidado de não tocá-lo enquanto o reposicionava na cabeça para não cobrir tanto o rosto dele.
── Você vai assustar a pobre mulher com seu chapéu assim. ── ela disse a ele prontamente e deixou os braços caírem ao lado do corpo, dando um passo para trás.
Uma pequena parte dele desejava que ela pudesse continuar ajustando seu chapéu para sempre, apenas para poder ficar perto dele. Mas a outra parte dele estava lutando contra os tremores e empurrando os fantasmas de volta para suas covas rasas. Ele odiava os dois; ambos eram fracos.
── Agora, tente sorrir. ── Kira disse antes de se virar e caminhar ao lado dele até a cabine onde uma mulher mais velha estava sentada, debruçada sobre alguns papéis.
── Olá! ── Kira disse alegremente, com um sorriso no rosto, e os lábios de Kaz se contraíram involuntariamente. Ela disse a ele para sorrir. Ele estava fazendo exatamente isso.
A mulher olhou para Kira, com um pequeno sorriso educado no rosto.
── Bom dia. Você está interessada em comprar um de nossos lindos transportes?
Kaz lutou contra a vontade de revirar os olhos porque, obviamente, é por isso que eles se aproximaram da barraca; mas Kira acenou com a cabeça, o sorriso em seu rosto ainda tão inocente como ele já tinha visto ─ e combinava com seu vestido azul suave; ela parecia inocente e ainda assim, a boca de Kaz puxou em um sorriso, sabendo que ela poderia matar qualquer homem em menos de um momento e fazer beicinho se sangue derramasse em seu vestido.
── Ah, sim. ── ela disse com um suspiro sonhador. ── Estamos fazendo uma viagem para Novo-Kribirsk. E precisamos urgentemente de transporte.
── Isso seria duzentos soberanos. ── disse a mulher e apontou para uma carruagem ao lado dela. Parecia simples e sem qualquer talento que pudesse elevar o preço tão alto.
Os olhos de Kira estavam repentinamente cheios de preocupação, e ela hesitou ao olhar para ele. Quando a mulher não podia mais ver seus olhos, ela deu a ele um olhar aguçado. Mentira, dizia. Kaz suspirou.
Ele se virou para a mulher com um rosto solene, um pequeno sorriso hesitante aparecendo em seu rosto.
── Senhora, minha esposa e eu somos recém-casados. Devemos encontrar a família dela em Novo-Kribirsk, mas o transporte é escasso e o dinheiro ainda mais escasso. Não pode dispensar alguns soberanos?
Os olhos da mulher se suavizaram. Kaz se virou para olhar para Kira, cujas bochechas estavam queimando enquanto ela evitava seu olhar. Kaz quase sorriu com a visão.
── Seria um grande favor. ── Kira disse à mulher, colocando a mão sobre a mão da senhora, mostrando uma faixa dourada em plena exibição em seu dedo anelar ─ ela havia roubado um anel de Jesper. ── Sinceramente, não me importaria de ficar aqui com ele, aproveitando as aparições e longe da Dobra, mas... Minha família está no leste do país e não os vejo há muito tempo.
A mulher parecia desviar o olhar dos olhos de Kira como se ela olhasse muito para eles, ela se ajoelharia e daría todas as carruagens que ela tinha de graça. Kaz pareceu maravilhado ao perceber mais uma vez por que eles a chamavam de Sussurradora. Ele não foi o único que teve dificuldade em recusá-la ─ isso o fez sentir-se aliviado ou não (ela provavelmente deu um show para ele também).
Kira nem estava se esforçando tanto, ela nem estava mentindo, e a mulher atrás da barraca olhava nervosamente ao redor como se esperasse que a permissão para baixar o preço estivesse próxima.
Kira continuou.
── Você tem um irmão?
── O que? ── a mulher perguntou, virando o rosto e caindo no olhar de Kira novamente. Erro de principiante, pensou Kaz, os olhos de Kira eram hipnotizantes.
── Eu tenho dois. ── Kira disse e piscou algumas vezes como se estivesse se livrando de lágrimas não derramadas. Ela olhou de volta para a mulher, seus lábios puxando para baixo em uma carranca que poderia fazer uma estátua chorar. ── Estive longe da minha antiga casa. Não vejo meus irmãos há anos e me dói dizer... Sinto muito a falta deles. Sempre desejei que eles conhecessem o homem com quem me casei, e... Eu nem sei se eles estão bem. ── ao chegar ao final da frase, a voz de Kira falhou e ela soltou um soluço.
Kaz viu, estupefato, quando a mulher imediatamente colocou a mão no ombro de Kira, olhando para ela com simpatia e lançando a Kaz um olhar sujo por não confortar sua "esposa".
Ele honestamente não podia culpá-la. Ele também estava querendo abraçar Kira, mesmo sabendo que era tudo uma encenação. Mas ele não podia. Porque, no final das contas, ele não era seu marido. Ele era o Mãos Sujas. Ele era um homem que tremia com a perspectiva do toque humano. Ele não podia confortá-la, de jeito nenhum. Mesmo por causa de um ardil.
── Está tudo bem, querida. ── a mulher disse voltando a atenção para Kira. ── Farei um acordo. Uma carruagem por meros cinquenta soberanos. Tudo o que preciso em troca é que você enxugue as lágrimas e sorria. Logo estará com seus irmãos.
Kira suspirou aliviada e colocou a mão sobre a mão da mulher em seu ombro.
── Obrigada.
Então ela começou a virar as costas para a mulher, olhando para Kaz com um pequeno e belo sorriso maligno enquanto ela se fazia tremer como se estivesse sufocando um soluço.
── Não chore, amor. ── Kaz disse suavemente, olhando atrás de Kira para a mulher que os observava de perto. ── Tudo está bem.
── Um pouco sobrando também, eu espero. ── Kira disse com um sorriso, embora suas bochechas estivessem levemente coradas. ── Caso contrário, o mundo cairia.
O sorriso divertido de Kaz cresceu ainda mais quando ela corou novamente e ele não sabia se eles ainda estavam fingindo.
Ela enfiou a mão no bolso onde estava o envelope, com mais de duzentos soberanos que a mulher pedira, e tirou os cinquenta. Então ela fechou o envelope e o enfiou no bolso do casaco dele. Ela voltou-se para a mulher e pagou-lhe, agradecendo-lhe interminavelmente enquanto eram conduzidos às carruagens.
Kira até conseguiu escolher qual ela queria.
Kaz sentou-se no banco, assumindo as rédeas para dirigir a carruagem enquanto Kira deslizava na parte de trás. Kaz observou, irritado, enquanto ela conversava com a mulher.
── Oh, ele pode ser um pouco tenso às vezes. ── Kira disse com uma risada e ele sabia que ela estava falando sobre ele. ── Mas ele é tão bonito... acho que compensa.
Kaz sentiu um rubor subir até suas bochechas. Porque Kira não mentia. Isso significava que ela o considerava bonito. Como ela poderia, ele não sabia, mas com certeza aumentava seu ego. Ele nunca iria admitir isso embora.
── Oh, jovem amor. ── disse a mulher com um suspiro e fechou a porta da carruagem. ── Tenha uma boa viagem, querida.
── Obrigada, Svetlana, foi um prazer conhecê-la. Certifique-se de dizer ao seu marido como ele é um homem de sorte.
── Não tão sortudo quanto o seu.
A mulher soltou uma risada no momento em que Kaz fez a carruagem avançar e o cavalo começou a se pavonear pelas ruas de Os Kervo. Ignorando a vibração dentro de seu estômago enquanto ele olhava para frente.
• • •
── Eu não o contratei simplesmente para atravessarmos a Dobra. ── disse Kaz ao Condutor enquanto cavalgavam para Novo-Kribirsk.
Eles estavam todos sentados dentro da carruagem ─ depois que Kira convenceu um homem a levá-los à cidade por menos de alguns soberanos e a promessa de uma garrafa de kvas. O Condutor, Jesper e Inej estavam apertados de um lado da carruagem e Kaz e Kira sentaram-se do outro lado. Esta que estava encostada na parede, certificando-se de dar-lhe espaço. Kaz, pela primeira vez, ficou agradecido. Pelo menos ele podia respirar no pequeno espaço apertado de corpos.
── Você está conosco porque contrabandeou Grisha para fora do Pequeno Palácio. ── disse Kaz a Arken. ── E essa é a localização do nosso alvo.
── Conjuradora do Sol. ── Inej murmurou.
── Suposta. ── Kaz rebateu.
── Eles não manteriam uma fraude no local mais seguro de toda Ravka. ── a Espectro argumentou e Kaz viu em desapontamento quando Kira assentiu.
── É um mito. Mas se o General Kirigan a tem, isso significa que é um mito tornado realidade. ── disse Kira conscientemente. ── Aquele homem não ousaria fazer papel de bobo na frente do... Rei de Ravka. Ele tem um orgulho antigo. É difícil vencê-lo.
Kaz franziu a testa com a familiaridade em sua voz. O tom que ela usava era aquele que Kaz frequentemente ouvia quando ela falava sobre coisas que ela já sabia.
── Você disse que tem um contato que pode nos levar para dentro. ── disse Kaz, tirando-se de seus pensamentos sobre a garota de cabelos dourados. ── Um Sangrador.
O Condutor cantarolava enquanto olhava de soslaio para Kira. Kaz fez uma careta para ele.
── Como eu sei que podemos confiar nela? ── ele perguntou.
── Nina cresceu lá. ── disse Arken.
── A maioria dos Grishas cresceu no Pequeno Palácio. ── Kaz disse prontamente. ── Poucos trairiam seu general, e menos ainda ajudariam estrangeiros a sequestrar seu bem mais valioso.
── Nina é uma radical. Acha que os Grishas devem escolher se servem à Coroa.
── Isso é justo. A maioria dos Lantsovs são idiotas. ── disse Kira e o Condutor fez uma careta para ela e começou a ignorá-la.
── Você os conheceu? ── Jesper perguntou divertido, e Kaz viu o rosto do Condutor se enrijecer quando Kira soltou uma risada.
── Conheci quem? Os Lantsovs? ── ela perguntou. ── Jesper, querido, você honestamente acha que eu tive modos suficientes para conhecer a Família Real?
Ela não disse não.
Foi o que bastou para que as peças se encaixassem.
As pessoas que posso culpar por quem sou são muito importantes, Kaz Brekker. . . . Eu teria que destruir um palácio. . . . Os Alta. Onde mora o rei. . . .
Ele tinha visto a estátua. Ele tinha lido o nome. Ele se cegou para a resposta porque, ao se lembrar do que havia lido, a mandíbula de Kaz se apertou e ele olhou para Kira, rindo da piada de Jesper e não entendendo por que ela pensaría que ele a olharia de maneira diferente.
Faina Kira Lantsov.
Esse era o nome na estátua. E ele ainda estava olhando para ela por quem ela era. Não quem ela tinha sido. Por que ela estava com tanto medo de sua reação?
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