8. Despacito
Quando a campainha tocou, Summer dividia sua atenção com o cereal com leite na tigela a sua frente, o canal de notícias e um sudoku parcialmente preenchido na mesa.
Ela não estava esperando visitas, mas não se preocupou com o pijama de frio que vestia enquanto ia atender à porta ainda com a colher na boca e os olhos fixos na televisão assim que ela escutou uma menção ao Eintracht München. Esse era algum dos efeitos causados por Fernando Navarro e os resquícios da boa impressão que ele tinha deixado alguns dias antes.
Parecia que o perfil do time roxo de Munique agora aparecia com mais frequência no feed do seu Instagram, assim como as curtidas e comentários dos seus amigos na conta do Facebook. Isso, ou o fato dela ter conhecido Fernando a deixara ligada para qualquer chance que tinha de ser notificada sobre ele, mesmo sabendo que o jogador estava a um toque na tela do seu celular de distância, o que ele fazia questão de lembrá-la toda vez que mandava uma mensagem.
Puxou a maçaneta da porta sem prestar atenção no que fazia, mas arqueou as sobrancelhas assim que se deparou com um enorme buquê de flores que escondia metade do corpo da sua melhor amiga.
— Desde quando você recebe flores, Sunny? — Pia arqueou uma sobrancelha enquanto inclinava o corpo para conseguir observar Summer pelo arranjo de flores. — O porteiro me pediu para subir com elas e disse que acabaram de chegar. Tem um cartão aqui.
Os olhos da loira brilharam enquanto olhava para as lindas rosas vermelhas que sua amiga tinha em mãos, parecendo que foram cuidadosamente escolhidas uma a uma. Soube, assim que viu, que aquilo era obra de Fernando Navarro.
Não negaria que seus batimentos cardíacos aceleraram e um sorriso involuntário surgiu em seus lábios quando pensou naquilo.
Ele era realmente muito bom para ser real.
— É uma longa história e alguém parece estar realmente querendo impressionar — Summer respondeu, tirando o buquê das mãos de Pia para colocar em cima da bancada que dividia a cozinha e a sala, com um sorriso nos lábios. — Como vocês estão?
O rosto de Pia se iluminou ao ouvir o plural usado pela amiga, abrindo os braços para envolvê-la em um abraço que resumia as quase duas semanas que elas tinham passado sem se ver.
— Nós estamos bem — a mais velha respondeu, colocando uma das mãos na sua barriga de três meses que ainda não tinha volume em seguida. — E temos muitas novidades de Dresden para você. Minha mãe que está surtando com todas as mudanças atuais e Sven também, mas acho que ela é o motivo dele estar surtando.
Pia caminhou até o sofá que ficava no meio da sala do apartamento de Summer, sentando-se e esperando que a amiga fizesse o mesmo para continuarem a conversa.
— E você continua a pessoa mais paciente do mundo — Sunny comentou, sorrindo.
— Vai adiantar muito se eu falar a Mrs. Schäfer que não gosto das sugestões dela para nome enquanto nós nem sabemos o que esse bebê é? — Pia deu de ombros, rindo em seguida. — E você? Quem é o homem das flores? Não sabia que você estava vendo alguém.
A atenção de Summer caiu ao belíssimo buquê que agora enfeitava sua casa, não parando de sorrir por nem um minuto enquanto fazia isso.
Nem sabia por onde começar a falar sobre Nando para Pia, que tinha passado as duas últimas semana em Dresden, cidade natal de Sven, seu marido. A única pessoa que sabia da existência e da aproximação de Fernando na vida de Summer era Lilie, que ainda mantinha um pé ou os dois para trás toda vez que a irmã falava sobre ele.
Mas resolveu oferecê-lo seu voto de confiança por gostar de ver a irmã saindo e trocando flertes divertidos por mensagens, tentando pelo menos uma vez na vida olhar um pouco mais para si do que sofrer pela situação que seu pai estava.
Gostava de tudo o que conseguia tirar a cabeça de Summer de Dresden enquanto sua vida passava de frente aos seus olhos, em Munique.
— Eu não estou vendo ninguém, acho — Summer acrescendo a última palavra um tom mais baixo, suspirando. — Nós estamos conversando, mas não sei...
— Você definitivamente está vendo alguém, Sunny! Ninguém manda rosas tão lindas por nada, eu quase as roubei para mim enquanto o elevador não chegava ao seu andar — Pia falou, cruzando as pernas assim que se sentou. — Desembuche.
Summer só se rendeu aos pedidos de Pia Schäfer porque sabia, pelo seu histórico de amizade, que ela não estaria satisfeita até que soubesse de todos os detalhes. Não importava se estava quase na hora da Pia entrar no restaurante que trabalhava como chef, se ela estava exausta da viagem do dia anterior ou sua agenda lotada, graças a gravidez surpresa mas bem recebida e a interminável procura ao que seria sua nova casa, já que o apartamento que viviam era pequeno demais para ser explorado por mais um integrante.
Mesmo com tudo, Pia estava ali, sentada no sofá ao seu lado com um sorriso sincero no rosto e uma vontade para saber o que tinha perdido na vida amorosa de Summer pelo tempo que ficou fora.
Era uma das coisas que a caracterizavam como pequena demais para um coração tão grande.
— O nome dele é Fernando — Summer começou, tentando conter o sorriso que queria escapar dos seus lábios quando dizia o nome dele. — Eu o conheci no bazar da cafeteria e nós saímos semana passada para o Schlosspark Nymphenburg. Ele me deu o seu número e eu estou me sentindo com quinze anos de novo enquanto nós trocamos mensagens.
— Boa escolha, Fernando! — Pia sorriu. — Ganharia pontos comigo pela criatividade.
— Ele ganhou... — confessou, suspirando. — E você deve conhecê-lo como a nova contratação do Eintracht München.
Usou um tom mais baixo para a última frase, sabendo que aquela definitivamente não era uma informação básica que ela pudesse ignorar. Não valia nada para ela, porém, já que se não tivesse jogado o nome assinado no cheque por ele para conferir sua procedência no Google ela nem mesmo saberia quem ele era.
Sabia o nome da metade do elenco do Eintracht pelo costume e pela fama que eles tinham na cidade, mas o nome de uma das contratações da temporada definitivamente tinha passado despercebido por Summer enquanto lia a coluna de esportes, em julho.
Tinha certeza que o nome também não significaria muito para Pia, que tinha sua torcida assumida para o leões de Munique, o Bajuwaren 05, graças a sua presença constante aos seus jogos na sua infância com a companhia do seu pai.
— Oh, esse Fernando — Pia arqueou as sobrancelhas em surpresa, assentindo. — Eu acho que o vi nos jornais, ele é a única coisa que falam na coluna de esportes nos últimas dias. Mas me deixe fazer a pergunta que realmente importa, sunshine. Você gosta da companhia dele?
Summer ganhou um tempo para pensar, mas ele era praticamente dispensável. Ao pensar em Fernando sua mente já voltava para o primeiro momento que se viram logo em seguida acabando nos dois tomando sorvete na beira do lago do Schlosspark Nymphenburg, após saírem da gôndola. Todos os momentos que ela estivera em sua presença foram agradáveis, principalmente pelo seu jeito leve e sua risada fácil, que a fazia desejar que ele sorrisse sempre.
E, Mein Gott, qualquer pessoa que conhecesse Summer Kaufmann sabia que ela não era uma pessoa acostumada com a tecnologia. Suas redes sociais não eram muito atualizadas, seu Facebook não via uma publicação nova há dois anos e ela nem se atrevia em se inscrever no Twitter. Preferia ligações a mensagens, podia demorar dias inteiros para responder algo simples e não aguentava passar mais de cinco minutos no Whatsapp.
Mas desde que ela e Fernando começaram a se falar, ela esteve mais online do que nunca. Não esperava muito para respondê-lo e ficava checando, de minuto em minuto, se o espanhol já tinha mandado alguma mensagem que a faria sorrir sozinha no meio do seu dia. Atualizara sua foto do Instagram assim que o jogador a seguiu, aprendendo o que um perfil privado significava assim que novas pessoas começaram a segui-la por causa dele.
Achou que Pia deixaria passar sua expressão de encantamento e o pequeno sorriso que tinha escorregado dos seus lábios, mas ela entregou que não o fez assim que começou a rir com o silêncio revelador que a outra tinha entrado.
— Ok, entendi. Você realmente gosta da companhia dele, então isso deixa vocês dois quites.
O olhar de Pia indicou o buquê de flores, fazendo o rosto de Summer esquentar com a informação que estava implícita ali.
— O que você está esperando para ler aquele cartão que está ali? Eu já estou roendo minhas unhas e eu nem conheço a estrela.
Summer riu da brincadeira de Pia, prestes a dizer para ela que ele com nada se pareceu com uma estrela em todos o tempo que eles dividiram o espaço.
Ela sentiu como se tivesse quinze anos outra vez e tivesse se deparando com uma cartinha colorida e lotada de adesivos que encontrara dentro da sua mochila ou do seu caderno, após chegar da escola. Tinha vinte e dois, mas suas mãos tremiam da mesma forma que sete anos atrás.
O envelope branco foi descartado com facilidade e ela logo percebeu que o bilhete tinha sido escrito com uma caligrafia corrida e um pouco bagunçada, dando-a a certeza que o recado tinha saído do punho de Fernando. Justo quando ela pensou que ele não poderia ser mais atencioso.
À medida que avançava nas linhas do cartão, um sorriso crescia em seu rosto e ela nem se importava se tinha companhia ali.
— E então? — Pia perguntou, juntando suas mãos inquietas. — O que ele diz?
— É um convite — Summer disse por fim, sem tirar os olhos do papel em suas mãos. — Eu acho que tenho planos para a noite.
'Sua mãe estava certa sobre você aquecer as pessoas no inverno, mas eu espero que você goste das flores da primavera mesmo assim. Assim como espero que aceite o convite para me acompanhar em uma noite na cidade.
xxx
Fernando'
♡♡♡
O lugar que Fernando Navarro estacionou o carro tinha pouca luminosidade e um piso falho, o que ele imaginou que seria péssimo para Summer caminhar com os saltos que usava, mas fora o mais próximo que ele conseguiu do destino final dos dois.
Ele pediu para pegar Summer em sua casa já que ainda estava apto a dirigir, com a pequena desculpa que poderia se perder no caminho, quando na verdade só queria aumentar o tempo que teriam a sós com ela.
Apesar disso, a única coisa que ganhara dela fora um rápido beijo no rosto, como ele tinha feito no outro dia, e um agradecimento pelas flores encomendadas pela manhã.
Além de claro, também ter ganhado a noite por estar na companhia da mulher mais linda que ele poderia encontrar pelas ruas de Munique, em sua opinião.
Ofereceu seu braço para ela se apoiar até que eles saíssem do piso ruim, mas a leve mão de Summer continuou no mesmo lugar até que eles cruzassem a entrada da estabelecimento, que tinha uma baixa iluminação e detalhes com luzes vermelhas.
O jogador precisou de cinco minutos e uma ligação para encontrar o colega de time, acenando rapidamente assim que viu Moncho Ramírez olhar despreocupadamente em sua direção.
— Achei que você não iria vir mais — Moncho comentou assim que se aproximou, cumprimentando o amigo com um aperto de mãos e um rápido abraço. — Bueno, hermano?
— Tranquilo — Fernando respondeu com um sorriso, adiantando-se para deixar um beijo no rosto da mulher que estava ao lado de Moncho. — Cómo estás, Angie?
— Bien, Nandito — A mulher que tinha um braço entrelaçado com o de Moncho respondeu, sorrindo. — Bueno verte aquí.
Summer observou a interação dos três com um sorriso no rosto, percebendo que a atenção estava toda em si assim que o silêncio se fez presente.
Moncho, como Fernando tinha se referido a ele, a encarava com um sorriso tão genuíno que ela se perguntava se todos os espanhóis tinham a mesma expressão encantadora.
— Summer, esse é o Moncho e a namorada dele, Angie — Fernando falou, mantendo uma mão apoiada nas costas dela enquanto a outra estava escondida no bolso da sua calça. — Ele também joga no Eintracht e nós defendemos a seleção espanhola juntos.
— Prazer em te conhecer, Summer. — Moncho estendeu uma mão para que ela apertasse e a mulher ao seu lado fez o mesmo em seguida, provavelmente acostumados com a frieza alemã.
— Digo o mesmo — ela respondeu para os dois assim que os cumprimentos foram feitos, sorridente.
— E esse é Xavier Noguerra, também do time — Nando continuou, assistindo o amigo tomar a mão da mulher e deixar um beijo, fazendo-o rolar os olhos enquanto sorria. — Nota para você mesma, nunca dê muita liberdade ao Xavi.
— Ele só está tentando queimar meu filme, Summer — Xavi respondeu, passando as mãos pelos cabelos escuros. — É um prazer te conhecer, hermosa.
— O prazer é todo meu! Gracias, Xavi!
Fernando rolou os olhos mais uma vez com a brincadeira do amigo, passando um dos braços pela cintura da mulher e vendo-a apoiar sua cabeça confortavelmente no ombro dele enquanto mantinha um pequeno sorriso no rosto, exatamente como ele.
— Gostou do lugar? — Angie perguntou, apoiando a mão no ombro do namorado.
Summer assentiu repetidamente, olhando novamente ao seu redor, percebendo que começava a encher perto das dez horas da noite.
Era uma casa de shows espanhola, como Fernando a tinha explicado por mensagem assim que ela perguntou para ele o que exatamente o jogador tinha em mente para a noite. O nome, Latino's, era desconhecido para Summer e ela teve certeza que nunca tinha frequentado o lugar assim que eles chegaram. A pequena entrada de tijolos escondia um clube enorme, famoso por suas músicas latinas nos alto-falantes, bebidas típicas e um ótimo espaço de dança.
— Oh, nós já começamos mas vamos pedir um drink para vocês dois — Moncho falou, apontando para a mesa alta típica de boates que estava atrás de si. — Tequila para entrar no clima?
— Por mim, tudo bem — Fernando respondeu, sorrindo. — Você, Sunny?
— Pode ser — falou, voltando o olhar para os olhos de Fernando, que pareciam sorrir junto com seus lábios. — Você não está tomando remédios para dor? E não tem um treino para ir amanhã?
Fernando sorriu verdadeiramente com a observação e a nata preocupação que ela demonstrou, fazendo uma anotação mental que aquilo era mais uma das coisas que ele tinha achado genuinamente adorável nela.
— Isso é o que eu estou sempre lembrando ao Moncho, mas só dessa vez ele está liberado — Angie falou, juntando as sobrancelhas enquanto observava o namorado sorrir. — Amanhã é folga para os três.
— Não existe uma contraindicação para álcool e meu treino se resume a corrida leve e levantamento de peso nos últimos dias por causa da lesão, Sunny. Nada que uma tequila possa atrapalhar...
Moncho deu um tapa de leve na cabeça do amigo assim que ele terminou de falar, negando.
— Dê um tempo, Fernando. Se você começar a bancar o grumpy Fernando aqui, você não vai impressionar a Summer. — Moncho brincou, fazendo as bochechas de Sunny ganharem cor e Nando o repreender com o olhar.
Por também ser espanhol e terem certo tempo de vestiário juntos pela seleção, Moncho foi o primeiro com quem Fernando criou um vínculo na Alemanha.
Isso o colocava a par do assunto 'Summer' ao lado de Diego e Xavi, e Ramírez poderia dizer com todas as letras que estava ansioso para conhecer a alemã que estava tirando um sorriso de Fernando Navarro.
Ele podia não ter um olhar tão bom quanto Diego para essas coisas, mas podia perceber que tinha algo no modo que Fernando a olhava. Diria, com facilidade, que ele estava definitivamente encantado por Summer por todo o interesse que ele mostrava estando ou não na presença dela.
— Gosto de te ver se preocupando comigo — Fernando murmurou para que apenas Sunny ouvisse, piscando em direção a ela em seguida.
Summer arqueou uma sobrancelha em provocação e estava prestes a responder quando Moncho colocou um copo na sua frente, com um cheiro forte e um pedaço de limão equilibrado entre seus limites.
— Brinde? — Angie sugeriu assim que todos estavam com os copos na mão, levantando o seu próprio. — Sigam a contagem.
— Arriba, abajo, al centro y adentro!
A alemã do grupo não teve tanta facilidade para repetir a frase como os outros três, mas seguiu os movimentos deles e se divertiu da mesma forma, não conseguindo segurar a careta assim que virou o copo de bebida.
— Agora a festa começa — Xavi falou, abrindo caminho para que eles pudesse sair da área das mesas para a pista de dança.
Fernando ofereceu sua mão para Sunny, que não pensou muito antes de entrelaçar os dedos dele com os seus, como tinham feito dias antes. O gesto já a passava um tipo de conforto bom e ela não acharia ruim se passasse mais tempo assim.
E soube, pelo sorriso que ele a ofereceu em seguida, que ele gostava daquilo tanto quanto ela.
♡♡♡
— Como que você conhece tantos lugares legais em Munique? — Summer perguntou antes de tomar mais um gole da bebida que tinha em mãos, arqueando uma sobrancelha para Fernando em curiosidade.
Eles já estavam sozinho há um tempo.
Não literalmente sozinhos, já que o clube estava ainda mais cheio que antes, mas depois de muita conversa e risadas com o casal assumido dos quatro, eles foram deixados a sós pela pista de dança.
Apesar de apreciar a companhia do amigo de time e de Angie, Fernando precisava assumir que também gostava de estar a sós com Summer, tendo a atenção dela toda para ele e retirando um sorriso dos seus lábios com muita mais facilidade.
— Meu irmão, Xavi ou Moncho — Fernando confessou, dando de ombros com um pequeno sorriso no rosto. — Xavi chegou aqui primeiro e eu tenho certeza que hoje ele não larga Munique por nada. Moncho veio logo depois e também é completamente apaixonados pela cidade, eles foram um grande incentivo para eu aceitar a proposta do time.
Summer assentiu com a informação, olhando diretamente para os olhos escuros do homem enquanto ele falava, apesar dos seus lábios atraírem sua atenção.
— Parece assustador pensar em como as transferências no futebol acontecem — ela comentou, vendo-o assentir. — Espero que você não fique com tantas saudades.
— Quase impossível, mas ter um pedaço da Espanha no centro de Munique é completamente genial e pode me ajudar a matar as saudades do Reggaeton.
Ela sorriu com a honestidade dele, sentindo que ficava cada vez mais difícil não deixar seu olhar ir dos olhos de Fernando para seus lábios. A culpa também era do espaço que ficava cada vez mais limitado, já que várias pessoas deixavam o espaço das mesas para ir a pista de dança, como os dois tinham feito.
— Você realmente gosta da Espanha...
Ele assentiu assim que ela terminou de falar, dando de ombros levemente.
— Eu não queria voltar para lá hoje e ficar infeliz, como eu estava no meu antigo clube — confessou, levando os olhos castanhos para os dela. — Mas é onde eu cresci. É especial pra mim...
Um sorriso sincero saiu dos lábios dela, porque Sunny conhecia aquela sensação. Dresden era onde ela havia nascido, crescido e morado durante boa parte da sua vida, mas voltar para lá naquele momento a tiraria toda a felicidade que ela tinha encontrado em Munique.
Seu café, suas amigas e sua tão adorada independência que ela tanto valorizava.
E talvez o que fazia de Fernando tão real era ver que ela estava de frente a uma estrela do futebol e importante nome no mundo do esporte, mas que sentia falta do seu lar da mesma forma que ela, que não tinha nada mais que um nome estranho.
— Eu te entendo, mas eu espero que Munique possa conquistar um lugar no seu coração — ela sorriu genuinamente para falar, tocando o peitoral de Nando e vendo-o levar o olhar até sua mão, fazendo-a corar. — Você realmente já poderia estar em pé no meio de uma pista de dança, Fernando?
Summer não sabia exatamente os passos daquela dança, diferente de todas as pessoas que estavam no clube, mas se contentava em mexer levemente os quadris de um lado para o outro enquanto observava Fernando balançar todo seu corpo.
Ela não sabia dizer se era certo comentar, mas ele ficava ainda mais irresistível ao mostrar o seu gingado e o talento que claramente ele tinha para estar em uma pista de dança. Não sabia dizer se todos os outros homens se comportavam da mesma forma, já que toda sua atenção estava em Nando, mas ele se destacava a sua frente.
Devia ser a camisa de botões que tinha os dois primeiros abertos e deixavam parte do seu peitoral perigosamente exposto e ela se perguntava se ele não estava sentindo frio com nenhum casaco protegendo seu corpo. Ou então o sorriso que ele dava uma hora ou outra ao olhar para ela, os dentes brancos e perfeitamente alinhados completando a sua expressão favorita do jogador, graças às pequenas rugas que formavam nos cantos dos seus olhos quando ele resolvia sorrir. Ainda poderia ser a forma que seus lábios tomavam toda vez que ele murmurava a letra da música que tocava nos alto-falantes.
— Eu deveria estar exatamente onde eu estou, Summer — Fernando devolveu no mesmo tom, se abaixando para sussurrar no ouvido dela, segurando uma de suas mãos com a própria. — Dance comigo. Só uma música.
Summer negou envergonhada, sendo obrigada a girar assim que Fernando levantou sua mão e a rodopiou, colocando as duas mãos em sua cintura em seguida. Ela deixou o copo de vidro na bandeja de um garçom que passava, ficando com as duas mãos livres para apoiar no peitoral do jogador.
— Eu não sei dançar, Fernando — ela explicou, colocando um pouco mais de força no seu toque contra a pele dele. — De verdade.
— Eu posso te ensinar — o jogador respondeu, fazendo biquinho. — Só uma, Sunny...
Seus olhos castanhos extremamente persuasivos a fizeram suspirar e rolar os olhos, vendo-o sorrir em comemoração.
Summer era uma nata observadora, e se orgulhava disso, e tentou refazer os mesmos passos de dança que ela via as mulheres ao seu redor fazerem. Não parecia tão difícil mexer o quadril de um lado para o outro no ritmo da música, mas ela podia dizer que não era tão fácil na prática.
— O segredo, cariño, é deixar seu corpo solto — Fernando murmurou no ouvido de Sunny, fazendo questão de deixar que a ponta do seu nariz encostasse no rosto dela. — Só isso.
Ela tentou seguir o conselho dele e relaxar seu corpo, deixando com que Nando a conduzisse de acordo com o ritmo da música latina. O jogador realmente parecia saber o que estava fazendo, não encontrando nenhuma dificuldade enquanto brincava com o corpo dela, que respondia prontamente aos movimentos do seu.
Certas estavam as pessoas que afirmavam que para aprender a dançar só é necessário o parceiro certo.
Summer não sabia dizer se estava fazendo aquilo certo, mas a mistura do álcool e da graça da companhia de Fernando a deixaram ainda mais tranquila que antes, aproveitando por completo a música empolgante e o fervor que sentia toda vez que seu corpo se chocava com o dele.
Quase era como se fogo estivesse a consumindo, se isso fizesse lógica com a temperatura tão baixa que estava em Munique.
— Eu não entendo uma palavra do que está sendo dito — ela sussurrou no ouvido de Fernando, fazendo-o rir. — Mas é um idioma bonito.
— A música se chama 'Despacito' — Fernando explicou, sussurrando de volta no ouvido dela. — Quiero desnudarte a besos despacito, firmo en las paredes de tu laberinto y hacer de tu cuerpo todo un manuscrito...
Alguém deveria avisá-lo que ele ficava especialmente irresistível falando espanhol.
Mas Summer tinha uma impressão que ele já deveria saber disso.
— Ainda não entendo nada — continuou sem deixar de sorrir, percebendo que eles já não seguiam os passos da dança e estavam muito mais preocupados em manter seus corpos juntos. — Traduza.
Fernando pareceu pensar por um instante, rindo e negando enquanto fazia isso.
Se ela entendesse espanhol, provavelmente perceberia que ele estava, ainda que indiretamente, colocando em palavras tudo o que tinha imaginado desde que havia visto seu sorriso no bazar.
Ainda que ele já tivesse passado de fase e não quisesse apenas dançar com ela.
A verdade é que Fernando Navarro, que sempre fora tão imediato com tudo em sua vida, estava adorando o jogo da paciência que tinha estabelecido ali.
Despacito.
Não havia pressa alguma, por mais que sua situação estivesse começando a ficar complicada. Já era difícil demais brincar de flertes indefesos com Summer, mas conseguia ficar ainda mais difícil quando tinha o corpo dela colado ao seu, sentindo o hálito dela arrepiar os pelos do seu pescoço sempre que ela se inclinava para falar uma coisa nova em seu ouvido.
— Despacito significa lentamente — explicou, sussurrando no ouvido dela e deixando seus lábios ali. — A letra é basicamente um homem falando seus desejos para a noite com uma mulher que chamou sua atenção.
— Desejos de uma forma ingênua ou...
— As duas — Nando respondeu, deixando um pequeno sorriso escapar dos seus lábios. — Ele quer ser o ritmo dela e...
O jogador a induziu a rodar novamente, abraçando sua cintura com os dois braços assim que ela voltou a ficar em sua frente.
— Quer que ela ensine a sua boca quais seus lugares favoritos.
Não havia mais nenhuma condição deles continuarem com a conversa naquela altura da noite. Fernando não sabia se era a coragem criada pelas duas doses de tequila, os conselhos de Diego ou só a presença de Summer que o fazia ter atitude.
A única coisa que ele tinha certeza era que se aquilo fosse um jogo, Summer estaria ganhando de virada. Não de uma forma tradicional, mas jogando de uma forma que as duas torcidas, a de casa e a rival, paravam para aplaudir.
Uma goleada.
Ela apertou ainda mais suas mãos no pescoço dele, sentindo seus narizes se tocarem algumas vezes enquanto os dois permaneciam com a respiração falha e os lábios entreabertos.
— Esse é um grande e amarelo sinal de advertência — Summer murmurou, negando com os olhos presos nos lábios de Fernando. — Você deveria obedecê-lo.
— E o que ele diz? — Nando questionou, arqueando uma sobrancelha enquanto suas mãos se apertavam mais sob a cintura da mulher a sua frente. — Eu ainda não consigo ler em alemão.
Brincou e apesar da linha de tensão que havia se estabelecido ali, Sunny foi capaz de sorrir.
— Diz que é sua última chance de se afastar...
— Eu acho que vou correr o risco.
Fernando a cortou quando seus narizes já estavam encaixados e os dois só esperavam o inevitável. Foi a última coisa que ele disse antes de tomar a frente de ser o responsável por acabar com a mínima distância que os separava, juntando seus lábios e sentindo as mãos dela subirem do seus pescoço para seus cabelos.
Se Fernando Navarro já gostava de ter o corpo dela junto ao seu, gostou muito mais da forma que seus lábios se movimentavam juntos.
Percebeu ainda, que da mesma forma que podia ouvi-la falar pelo resto da sua vida, também poderia beijá-la por todos os dias que seguissem, ou pelo menos pela noite toda. Se dependesse do jogador, a dança esquecida pelos dois seria verdadeiramente esquecida até que as luzes do clube se acendessem.
— Despacito, uh? — Summer murmurou assim que quebrou o beijo, subindo seu olhar dos lábios avermelhados de Fernando para seus olhos.
Ela fazia referência ao ritmo avançado que eles tinham ganhado ali, terminando com um jogador de futebol sem fôlego e uma Sunny com os lábios avermelhados já livres do batom que tinha colocado antes de sair de casa.
— Despacito — ele concordou uma última vez antes de colocar uma mão carinhosamente em seu rosto.
Voltou a unir seus lábios, dessa vez com menos urgência do que antes, apenas aproveitando os movimentos que eles faziam um sobre o outro.
Aquele parecia ser o ritmo dos dois.
Despacito.
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