Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

25. Train Wreck

Era vinte e nove de abril.

Um dia importante para quem torcia pelo Eintracht München e mais ainda para os jogadores que defendiam o time. A cidade estava parada desde as primeiras horas do dia e o trânsito, diferente do usual, estava completamente caótico.

Para qualquer lugar que se olhasse, havia alguém vestindo a camisa do time, carregando um escudo da Bundesliga de papel nas mãos ou com o rosto pintado de roxo e branco.

Por mais um ano, eram os jogadores do Bajuwaren 05 que levantariam o famoso e desejado escudo prateado de campeão da Bundesliga. Repetindo o feito do ano anterior, era uma nova temporada que tinha tido seu campeão decidido alguns jogos antes da rodada final. Pro Eintracht München, o segundo lugar não era tão azedo quanto poderiam imaginar que seria. Eles estavam classificados para a Champions League do ano seguinte, tinham feito uma campanha belíssima durante a temporada e ainda tinham um troféu para conquistar.

A taça dourada da DFB Pokal. A final que aconteceria na semana seguinte.

A famosa Copa da Alemanha era o espaço que alguns times pequenos tinham para brilhar. Misturando times grandes com outros de segunda ou terceira divisão, o sorteio sempre acabava formando emocionantes partidas para quem estava na arquibancada.

O trajeto do time Lila de Munique até a final não tinha sido fácil. Encontrou o grande time amarelo de Dortmund logo na primeira fase, um da segunda divisão na segunda e outro do vale de Ruhr na terceira, precisando dos pênaltis e de um dia de sorte de Greco Fiorentini para avançar para a fase seguinte.

Na final, estavam de frente ao Bajuwaren 05. E por mais que brincassem que estavam começando a enjoar a quantidade de clássicos de Munique que enfrentavam por ano, tinham que reconhecer que estavam de frente ao maior da cidade.

Maior. Mas, para todo o plantel de Afonso Reina, não melhor.

O clima, dentro do time roxo, já era de final, apesar do jogo do dia apenas indicar o final do campeonato alemão. Todo jogo era de vital importância, mas aquele em específico não valia muita coisa já que o Eintracht já não conseguiria alcançar o Bajuwaren mesmo se conseguisse os três pontos da vitória e também já não podia ser alcançado pelo time que ocupava o terceiro lugar da tabela.

Era quase que simbólico, apenas para comemorar o fim de uma temporada de sucesso e um aquecimento para a verdadeira final que teriam na semana seguinte. Teriam chuva de confetes roxos e brancos após o apito final, faixa especial para a torcida e muito a comemorar pela temporada que chegava ao fim, mas o grande prêmio poderia vir apenas na semana seguinte. E viria, se dependesse da garra que o time iria entrar em campo para aquele jogo.

— Deveria estar chovendo assim nessa época do ano?

Fernando comentou enquanto trocava passos rápidos com Moncho, que começaria no banco naquela partida em específico, e vestia um colete preto por cima da usual camisa roxa e branca do time Lila. O amigo deu de ombros, colocando um pouco mais de força do seu chute, fazendo com que a bola que os dois brincavam no aquecimento parasse longe dos dois.

Fernando não era grande fã de chuva, mas odiava mais que tudo jogar em dias nublados e molhados como aquele. O campo ficava escorregadio, sentia-se mais pesado para correr e os grossos pingos de água turvavam sua visão vez ou outra. Mas sabia que tinha se acostumar com aquilo se quisesse cumprir os quatro anos de contrato que tinha na Baviera.

— Não exatamente — Moncho falou, suspirando enquanto abraçava o próprio corpo. — Mas eu ainda não entendo muito bem essa cidade. É fria sempre, guapo.

Nando deu risada assim que viu o espanhol fingir tremer, antes de correr atrás da bola para que continuassem a aquecer antes que o jogo começasse de uma vez.

Aproveitou o momento para procurar Summer na arquibancada, apertando seus olhos escuros no intuito de enxergar melhor os cabelos dourados da mulher no estádio que já estava parcialmente cheio. Sabia onde deveria procurar graças aos ingressos VIPs que tinha deixado em cima da mesa da sala do seu apartamento pela manhã, despedindo-se da alemã que ainda dormia com um beijo no topo dos cabelos espalhados pelo travesseiro, recebendo um 'bom jogo' baixo e sonolento como resposta.

Achou Angie primeiro, no momento em que a espanhola descia pela escadaria da arquibancada, acenando animadamente para Moncho, atrás de Fernando. Mas seus olhos não duraram muito na namorada do amigo, logo encontrando o alvo que procurava desde que tinha pisado os pés dentro do campo.

Summer acenou timidamente para Nando assim que percebeu que o jogador tinha a atenção presa nela, colocando os cabelos loiros para frente antes de virar de costas, apontando sem jeito para o nome do espanhol gravado nas costas da camisa que ela vestia.

Era a primeira vez.

Não que ela ia ao estádio. Sua presença no Südostenstadion era tão certa quanto um gol ou uma assistência de Navarro antes do apito final. Sempre que podia, e que suas aulas na universidade ou seu turno no café não batiam, ela estava nas arquibancadas, vibrando com cada gol do namorado e sofrendo com cada bola que não balançava a rede.

Mas ela a primeira vez dela no Südostenstadion com uma camisa dele.

Fernando colocou as duas mãos no coração assim que a alemã ficou novamente de frente a ele, dando risada quando o jogador fingiu um semblante de dor com a cena.

Um filme se passou em sua cabeça.

A cena dos dois, tantos meses antes, juntos no apartamento dela, cozinhando juntos enquanto ele brincava com planos que não sabia se um dia chegaria a acontecer.

Mas estava acontecendo.

Seus planos com Summer Kaufmann estavam se tornando reais.

"— Mas você sabe o que está me deixando ansioso? O dia que você for me ver jogar, vestida com uma camiseta com o meu nome e gritando toda vez que eu pegar na bola.

Summer não soube dizer pelo tom que ele usou se Nando estava brincando ou não com a situação, apesar da risada que ele deu ao perceber a falta de reação dela.

— Como você pode ter tanta certeza que será seu nome na camiseta? — provocou, arqueando as sobrancelhas. — Parece muito confiante do que fala, Fernando. Luka Bahr foi o responsável do gol que levou o time para a Champions, acho que você deve se preocupar..."

Summer não podia escutar, mas conseguiu ler os lábios do espanhol assim que ele pronunciou um 'te amo' mudo, embalado pelo barulho de uma música alta e das conversas paralelas que serviam de plano de fundo pelo estádio antes que o jogo pudesse começar de uma vez.

— Sua família toda está aqui ou só sua garota? — Pedro Antunes perguntou assim que parou ao lado do espanhol, apoiando as duas mãos na cintura. — A festa mais tarde será muito bonita.

— Por enquanto, só minha garota e meu irmão — Nando respondeu, acenando assim que Diego apareceu, respondendo da mesma forma ao irmão. — Meus pais chegam na próxima semana para a final da Pokal. Estou esperando que seja uma festa ainda maior.

O brasileiro riu, assentindo e apertando o ombro do companheiro de time.

— Será, guapo. Nós temos um time inteiro preparado e você para fazer mágica.

Fernando sorriu sem jeito, humilde como fora criado para ser.

Mas as expectativas eram as maiores possíveis para a partida da semana seguinte. O Bajuwaren podia ter vencido o campeonato além, mas o time Lila estava sendo elogiado pelos seus últimos jogos e crescimento durante os jogos.

O Eintracht e Fernando Navarro, obviamente.

O espanhol não gostava de cantar vitória antes da hora, mas tinha pedido para toda sua família estar em Munique na semana seguinte para a final da Pokal. Ele usou a desculpa que estava com saudade da bagunça e do barulho que os Navarros faziam na Alemanha, mas também esperava poder dar a eles o prazer de segurar a taça dourada na festa dos campeões.

Queria as pessoas que mais amava ao seu redor quando isso acontecesse.

O apito do árbitro soou alto para que os jogadores se posicionassem, fazendo com que metade dos que estavam em campo fossem para o banco e os escalados tomassem seus lugares para os noventa minutos que se seguiriam.

E foi isso que Nando fez, xingando mentalmente quando o primeiro pingo de chuva caiu em seu uniforme, fazendo-o olhar para o céu e reparar a quantidade de nuvens que cobria o estádio, um prelúdio de toda a água que cairia durante a partida que começava..

Odiava jogar na chuva, mas tinha que aprender a lidar com isso na Alemanha.

Deu um último suspiro antes do apito inicial, olhando para o céu escuro e pedindo proteção como fazia em todos os outros jogos, esperando que tudo acabasse da melhor maneira possível e que ele pudesse ir comemorar com Summer no final.

Pensava em um vinho, comida brasileira do única restaurante que servia na cidade. Talvez um filme ou um fondue com os amigos, quem sabe.

E foi o apito alto que interrompeu seus pensamentos, fazendo sua cabeça voltar completamente para os campos.

E seria aquela partida que interromperia seus planos para o futuro.

Era quase como uma pelada entre amigos.

Posse de bola não costuma refletir placar final, mas os 83% do Eintracht München deixava claro que estava sendo uma partida fácil, assim com os três gols a seu favor, com uma assistência de Fernando.

O nome dele também era um dos mais falados pelos comentaristas e, por incrível que parecesse, não refletia um favoritismo. Qualquer pessoa que estivesse vendo aquele jogo, de perto no estádio ou no sofá de casa, falaria tão bem quanto o homem de meia idade que não poupava elogios à Navarro.

Era bonito de ver o espanhol jogar. O modo que ele brincava com a bola, dava passes certeiros e fugia de jogadas feias e faltas maldosas. Era glorioso vê-lo se livrar de dois ou três jogadores do time adversário que estavam responsáveis por pará-lo e não se dar como vencido nem quando um deles puxava sua camisa para segurá-lo a qualquer custo.

O estádio praticamente ia ao delírio coletivo quando ele se aproximava da área e ao surto quando acabava no chão, oferecendo um sorriso forçado e alguns xingamentos baixos em espanhol para que mais ninguém pudesse ouvir, frustrado por ter sua jogada interrompida.

Naquele jogo, Fernando Navarro mostrou o melhor de si.

Do canto, Afonso Reina assistia o homem de vinte e tantos anos brilhar, mas se olhasse bem conseguia ver o menino de onze anos que tinha assistido fazer uma carreira excelente no time de base de Barcelona.

Nunca teve tanta certeza que o lugar de Fernando era ali, brilhando naquele campo, mesmo que pouco sol escapasse pelas nuvens escuras que pairavam em cima do estádio.

— Stephen, desça! — Afonso gritou assim que o zagueiro chegou perto de onde ele estava, colocando a mão na boca para que o som ficasse mais alto. — Leon, Ramírez está a sua esquerda!

O capitão assentiu, recebendo a bola de Xavi e passando-a para frente, um pouco mais atrás do meio do campo, rolando em direção a defesa do time visitante, mais fechado do que nunca.

— Aqui, Xavi — Fernando pediu, posicionado perto da linha de meio de campo, com o suor escorrendo pelo rosto e os olhos fixos na bola que, depois de um chute leve, ia em sua direção.

Foi questão de um segundo.

Um milésimo de segundo, ele diria.

Em um minuto, a bola estava nos pés de Xavi e ele fez um passe sensacional para Nando, que a esperava para tentar aumentar o placar nos últimos minutos. Mas o espanhol percebera que, se ficasse onde estava, a bola passaria por ele diretamente para um dos jogadores do outro time.

Fernando Navarro, para não perder a jogada, resolveu esticar a perna um pouco mais, esperando que a bola batesse nas suas chuteiras rosas e fossem em direção a Leon, que o esperava alguns metros a sua frente.

Mas ele sentiu.

Sentiu, na hora que forçou sua perna direita, que algo estava fora do lugar.

A dor subiu por todo seu corpo assim que um jogador adversário tentou pegá-lo em um carrinho, fazendo-o ir ao chão por cima dele, segurando desesperadamente o joelho direito como se isso fosse diminuir a sua dor.

Se em um instante o estádio gritava seu nome, no outro ele estava em silêncio.

Nando estava no chão, dividido entre colocar as mãos no joelho e no próprio rosto, escondendo as lágrimas e o semblante de dor que não podia ser controlado. Metade dos jogadores em campo já tinham corrido em direção ao espanhol que não conseguia completar uma frase sequer que fizesse sentido para responder às perguntas que o médico e o fisioterapeuta do time direcionavam a ele.

— Nós vamos tirar você daqui, guapo, aguente por um segundo — Moncho falou assim que se ajoelhou ao lado do amigo, levantando o olhar apenas para ter certeza que dois maqueiros já corriam em direção ao campo com a maca em mãos. — Você vai ficar bem, Nando.

Acabou, Moncho — respondeu em espanhol, sentindo o lábio inferior tremer enquanto apertava os olhos. — Acabou.

Ninguém teve a coragem de respondê-lo.

Nenhum dos seus colegas de time, seus adversários, Afonso ou metade do departamento médico que estava ao seu lado enquanto ele era imobilizado.

Ninguém teve a coragem de aumentar a voz e dizer, com firmeza, para Fernando Navarro que tudo ficaria bem.

Porque não podiam garantir à ele que ficaria.

Na arquibancada, as duas mãos de Summer Kaufmann escondiam a sua boca. Seus olhos azuis estavam completamente marejados e, por alguns segundos, todo o estádio parecia ter entrado no mudo. Ela pode sentir Angie passar um braço pelos seus ombros e ver Diego parado com as mãos na cabeça ao seu lado, mas não conseguia reagir.

Não conseguia se mexer desde o momento que Fernando foi ao chão e os seus olhos escuros cheios de lágrimas tinham aparecido no telão do estádio, um pouco antes das câmeras se focarem em qualquer coisa que não fosse o espanhol que gritava de dor no meio do campo.

No começo, Summer achou que não era nada. Ele parecia ter caído sozinho e deveria estar no chão apenas para ganhar tempo para que o árbitro desse a partida encerrada de uma vez por todas.

Mas não havia quem punir com um cartão amarelo e nenhum teatro durava tanto tempo assim.

Nem podia ser tão real.

— Para onde estão levando ele? — Summer questionou assim que conseguiu emitir alguma palavra, buscando respostas no rosto desesperado de Diego Navarro ao ver o irmão mais velho em dor. — Nós precisamos vê-lo, Diego. Nós precisamos ver se tudo está bem.

A última frase soou mal aos ouvidos da alemã e ela se arrependeu no momento que ela se fez audível.

Nada parecia estar bem com Fernando naquele momento.

Seu Nando. Tão grande e sorridente durante todos os setenta minutos de jogo agora tinha deixado o campo chorando como uma criança de dez ao ralar o joelho no asfalto. Mas aquela lesão não parecia que podia ser consertada com um band-aid e um beijo que garantia que tudo ficaria bem.

Diego subiu as escadas da arquibancada na frente, mas de segundo em segundo se certificava que a cunhada estava logo atrás, ignorando todos os olhares curiosos que se destinavam a mulher que vestia a camisa de Navarro, e já tinha saído nos jornais vez ou outra com ele.

Não conversaram durante todo o trajeto e também não demoraram muito para encontrar alguém que trabalhava para o time que dissesse que ia levá-los até onde Fernando Navarro estava. Percebeu, nesse meio tempo, que Diego tinha falado com os pais por poucos segundos, prometendo que daria mais informações assim que as tivesse, enquanto a alemã acabava com todas as suas unhas logo atrás dele.

Também não trocaram uma palavra na sala de espera, assim que disseram que estavam fazendo exames iniciais no espanhol e que, por esse motivo, eles teriam que esperar alguns minutos. Nem se atentaram muito pra quantos foram, mas suficiente para o apito final soar e o estádio ficar mais silencioso que no momento que eles deixaram as arquibancadas.

— Você acha que foi sério? — Sunny questionou com a voz rouca pela falta de uso assim que teve coragem, buscando respostas nos olhos escuros de Diego, que fitavam o chão da sala como se isso fosse a coisa mais interessante que houvesse para ele fazer.

— Não sei, Summer — respondeu baixinho, sem desviar o olhar para a mulher. — Eu nunca... Eu nunca vi Fernando chorar assim. Eu nunca o vi dessa maneira.

A resposta foi suficiente para a mulher se calar novamente, abaixando os olhos para o chão, se esforçando para que não deixasse suas próprias lágrimas escorressem pelo seu rosto.

Não era o final de temporada que Fernando Navarro merecia.

Não era justo.

Tirou o celular do bolso para dar notícias a Angie e Zöe, que estavam ao seu lado nas arquibancadas, quanto notou um tanto de chamadas acumuladas de Dresden. Sua mãe, Lillie e até Sven, e ela imaginou que todos em casa deveriam estar vendo o jogo pela televisão da casa de tijolos na cidade pequena da Alemanha.

Pensou em retornar, mas guardou o aparelho no bolso assim que um homem de meia idade entrou na sala onde ela e Diego esperavam, vestindo jaleco e com uma prancheta transparente nas mãos, buscando os dois com o olhar.

— Eu imagino que vocês querem ver o Fernando — o homem falou, segurando a porta do lugar aberta, variando o olhar entre Summer e Diego. — Nós o medicamos e fizemos os exames iniciais. Ele está sonolento, mas ainda acordado. Posso liberar a entrada de vocês.

Os dois se entreolharam assim que ele terminou de falar, seguindo o médico pelo corredor estreito do centro médico do clube assim que ele indicou com o queixo para que fizessem isso.

A cabeça de Summer estava uma confusão e o barulho só parecia aumentar a cada passo que ela dava em direção ao quarto que ele estava. Fazia uma prece, quase infantil, para encontrar Nando sorridente assim que o médico abrisse a última porta do corredor. Feliz, animado e perguntando, em tom de brincadeira como ele sempre fazia, se ele tinha sido o homem do jogo para ela.

A resposta de Sunny, geralmente, era sim. E não importava mais a opinião de nenhum especialista para Fernando.

Quando a porta fora aberta, tudo pareceu ficar em silêncio na cabeça de Summer Kaufmann. Diego entrou na frente, se aproximando prontamente da cama onde seu irmão mais velho estava deitado, enquanto a alemã ficou quase por trás dele, tentando conter suas lágrimas antes de se fazer visível para o jogador.

Sua perna estava elevada, enfaixada e imobilizada. Seu olhar, abatido, alternando entre Diego e Sunny e seus olhos vermelhos, mostrando que o choro tinha durado até pouco instantes antes.

Ela não queria chorar, mas não conseguia se manter forte toda vez que se lembrava da cena que tinha presenciado e a reação de Fernando ao cair no chão. Por um segundo, achou bobo, já que fisicamente não havia nenhuma dor que a incomodava.

Mas ela sentia.

Sentia como se fosse ela que tivesse saído naquela maca. Sentia como se fosse o seu sonho que tivesse sido interrompido.

Aquilo só poderia ser amor, então.

Sentir pelo outro. Desejar tomar aquela dor, ou ao menos parte dela, para si. Querer ampará-lo e fazer com que o sorriso tão bonito de Fernando voltasse ao seu rosto, e não aquelas lágrimas que o telão mostrou.

Amor.

— Cariño... — ela murmurou ao se posicionar ao lado do irmão do jogador, tomando a mão dele com a sua. — Como está?

— Não sinto mais nada — Fernando respondeu, olhando para a perna bem a sua frente. — Me deram algo para dor. Algo forte. E acho que algo para dormir também.

Ela assentiu, apertando um pouco mais a mão dele embaixo da sua, como se isso fosse aliviar ao menos um pouco a dor, que não era física no momento, que ele sentia.

— Eles disseram que é ruim. Parece ser uma ruptura total, irei precisar de cirurgia o mais rápido possível, fisioterapia pesada durante alguns meses e aí uma reavaliação. Eu pedi por sinceridade ao médico, mas não esperava que ele me dissesse que talvez minha carreira tenha acabado, mas ele praticamente disse...

Ele deu um pequeno sorriso para Sunny, mas não havia nenhuma alegria ali. Seus olhos estavam vermelhos e mais escuros que o usual, mostrando que as lágrimas de dor que ela achara que vira pelo telão eram reais e o pior dos cenários também.

Não era uma especialista quando se tratava de lesões. Não sabia exatamente o que significava um rompimento total dos ligamentos do joelho, mas não precisava desse conhecimento para saber que aquilo era ruim.

E que aquilo tinha custado o sorriso que Nando carregava nos lábios quando se despediu dela, pela manhã.

Não podia ser o fim.

— Você passará a noite aqui?

— No hospital — Fernando corrigiu. — Eles fizeram só alguns exames e eu vou ter que fazer outros no hospital. Assim que o diagnóstico for confirmado, eu vou para a cirurgia. Eles falaram que amanhã ou depois, no máximo.

As palavras pegaram Summer de surpresa e ela sentiu uma agonia crescente em seu peito pela frieza que Nando as pronunciara.

Cirurgia.

Fernando precisaria de uma cirurgia no joelho.

— Como você está? — perguntou novamente, mas dessa vez Fernando sabia que ela não queria saber do estado físico dele e sim do que se passava atrás dos seus olhos opacos. — Converse comigo.

Ele puxou uma grande quantidade de ar e desviou o olhar para as mãos dos dois juntas ao lado do seu corpo, mordendo o lábio inferior com força.

Como ele estava?

Vivendo um pesadelo que tinha tido início no momento em que sentiu que tinha algo errado com seu joelho, uma dor agonizante que nem a adrenalina que corria em seu sangue tinha sido capaz de aliviar.

Um pesadelo que não teve fim quando ele abriu os olhos e os médicos do time estavam ao seu redor, usando termos médicos complicados que ele não sabia o que significava, mas tinha certeza que não era coisa boa.

Fernando sabia.

Podia não entender mais que o básico do que eles conversavam, mas ele já sabia o que tinha acontecido e o que ele perderia por causa disso.

A final da Pokal, o começo da nova temporada.

Um ano inteiro fora dos campos.

Talvez o fim da sua carreira brilhante aos vinte e poucos anos.

Só de pensar naquilo, ele sentia o sangue gelar e os olhos marejarem de forma que ele já não mais podia culpar a dor que vinha do joelho.

Era outra dor.

Uma que ele não sabia lidar ou como fazê-la ir embora.

— Eu estou bem — respondeu por fim, com a voz vacilante e os lábios trêmulos. — Eu vou ficar bem.

Summer o conhecia o suficiente para dizer que era difícil para Nando assumir quando seu coração estava quebrado. Que ele preferia se calar e engasgar com todas as palavras não ditas que assumir que nada estava bem.

Mas ela não o deixaria sozinho.

Não pediu por mais explicações, apenas sentou no canto da cama que tinha lençóis brancos como em um hospital e o abraçou, apertando os olhos fortemente para evitar que as lágrimas corressem pelo seu rosto.

Fernando passou os braços pelas costas dela e, assim que sentiu que estava seguro ali, parou de lutar contra todas as barreiras que tentava erguer ao redor de si próprio, suspirando pesadamente.

Então ele chorou.

Nem sabia dizer por quanto tempo, mas fora suficiente para deixar a blusa roxa que Sunny usava molhada e seus olhos completamente vermelhos. Tudo o que era escutado eram os soluções incontíveis dele, e suas costas balançavam mesmo quando alemã passava a mão por ali na tentativa de acalmá-lo.

Summer também chorava, mas em silêncio. As lágrimas apenas escorriam pelo seu rosto sem que ela pudesse controlá-las, sabendo o quanto que custaria para Fernando aquela lesão. Ela não podia suportar pensar que todos os planos que ele tinha feito para os meses seguintes seriam em vão.

Daquela sala branca e fria, eles puderam ouvir o momento que o festival de fogos explodiu nos céus de Munique e sabiam que toda a cidade deveria estar em comemoração pelo fim da temporada. As paredes grossas do estádio não eram suficientes para abafar a cantoria animada dos jogadores e da torcida, que comemoravam com todo o fôlego que tinham.

O que eles não sabiam é que, no meio de todo aquele barulho, as pessoas que vestiam roxo e branco e que torciam pelo Eintracht München estavam em silêncio. Os jogadores passaram as entrevistas e o único a parar foi Leon Thalberg, o capitão do time Lila, para trocar apenas poucas palavras e dizer que torcia para uma recuperação rápida do jogador e amigo que tinha lesionado no final do segundo tempo.

Todos estavam preocupados e perguntavam de Nando a qualquer pessoa que aparecesse pela frente e vestisse o uniforme do time.

Mas não havia respostas, notícias ou qualquer coisa que pudesse confortá-los que tudo ficaria bem.

Isso apenas os exames do dia seguinte e o tempo diria.

— Você vai ficar bem, cariño — Sunny murmurou baixinho, só para ele escutar, vendo-o assentir devagar. — Não vai ser tão feio quanto estão falando. Você vai ficar bem e vai estar de volta aos campos fazendo o que você nasceu para fazer. Conquistando o troféu de artilheiro da temporada e trazendo o escudo dourado da Bundesliga para casa.

— Você vai entrar no campo comigo? — ele brincou com um pequeno sorriso no rosto, mesmo que seus olhos ainda estivessem marejados.

— Vou — ela riu junto a ele, usando a ponta dos seus dedos para afastar as lágrimas que molhavam o rosto do jogador. — Sempre, cariño.

Nando tinha que se contentar com ouvir tudo e apreciar o abraço da mulher ao seu lado que o envolvia, repetindo baixinho que tudo ficaria bem.

Precisava acreditar nela.

Alguns médicos do time entraram na sala enquanto isso, mas eles apenas respeitavam o momento frágil e saiam após alguns instantes, deixando-os só novamente. Eles já tinham feito todo o possível e agora só esperavam os resultados dos exames para ter certeza de qual seria o próximo passo.

Dar privacidade a Fernando era o mínimo que podiam fazer porque sabiam que a sua dor nos dias seguintes seriam maiores que um ligamento rompido.

O toque do celular de Summer se fez audível por toda a sala e só isso fez com que eles se afastassem, os dois com os rostos inchados e lágrimas perdidas.

— São meus pais — Summer murmurou assim que verificou o visor do seu telefone, bloqueando-o logo depois. — Eu posso retornar para eles depois, eles só devem estar querer saber de você.

— Não — Nando falou, engolindo em seco. — Fale com eles agora, eles podem estar preocupados. Eu preciso falar com meus pais. Minha mãe deve estar surtando e não duvido que já estejam vindo para cá.

Summer assentiu levemente, aproximando o rosto de Fernando para que pudesse deixar um beijo em seus lábios, sentindo o gosto salgado das lágrimas que já não podia dizer se eram suas ou do jogador.

— Você ficará bem sem mim? — ela questionou baixinho, vendo-o esboçar um sorriso lateral.

— Não se preocupe — Nando respondeu, colocando uma das mãos no rosto dela, aumentando um pouco o sorriso que tinha nos lábios. — Obrigado por estar aqui.

Ela colocou uma de suas mãos em cima da de Fernando, retirando-a do seu rosto e deixando um carinhoso beijo ali, sorrindo para ele antes de descer da cama, pegar sua bolsa e andar em direção a porta da sala.

— Sunny — chamou, fazendo-a parar com a mão na maçaneta e virar seu corpo em sua direção. — Você pode passar no meu apartamento ou no seu para pegar algumas roupas? Eu encontro você depois no hospital.

— Você vai ficar bem? — ela o questionou, percebendo um pequeno sorriso aparecer no canto dos seus lábios antes dele assentir levemente.

— Diego cuidará de mim enquanto você estiver fora.

Summer sorriu sem mostrar os dentes, apertando o ombro do cunhado ao passar por ele, que estava sentado no canto da sala, e recebendo um pequeno sorriso de volta.

Cariño — Fernando chamou novamente, fazendo-a se virar mais uma vez. — Eu te amo.

A alemã não escondeu o sorriso que seus lábios ganharam, mais verdadeiro que os outros.

— Eu te amo também — falou para ele, tomando uma lufada de ar antes de deixá-lo sozinho ali.

Ela desconfiava que era por amá-lo tanto que aquela situação era tão dolorosa para si. Preferia que fosse seu joelho ali e não o de Fernando, e só podia pedir em silêncio que as coisas não fossem tão ruins como se parecia.

E que aquilo não fosse suficiente para fazê-lo infeliz. Não Fernando.

Ele não merecia.

O trajeto do Südostenstadion para seu apartamento durou mais que o usual pelo trânsito que se formara ao redor do estádio, mas em menos de trinta minutos Summer já ia em direção ao hospital da cidade, seguindo o endereço que Fernando tinha enviado por mensagens logo após ela deixá-lo só.

Na saída, jornalistas e fotógrafos cercaram o carro do jogador e se decepcionaram ao ver que não era ele atrás do volante da brilhosa Lamborghini Gallardo, mas o burburinho rapidamente se espalhou e a notícia que a lesão de Fernando era mais séria que o esperado já estampava os jornais, assim que ele deu entrada no melhor hospital da cidade.

Ela só tinha aberto o navegador rapidamente para checar como estava o trânsito e um minuto nos sites de notícias fora suficiente para ver a foto e vídeos de Fernando se contorcendo de dor no campo por mais vezes do que poderia contar.

Havia posts dos outros jogadores do Eintracht em todas as redes sociais desejando melhoras para o espanhol e várias mensagens lotavam a sua caixa de entrada, inclusive de Pia, Sven, Andreas e Angie.

Tentou retornar a ligação dos seus pais, mas a linha apenas chamou duas vezes antes de ficar muda e Sunny perceber que a tela do seu celular havia ficado completamente escura e ele tinha ficado sem bateria.

Por um minuto, ela só quis encostar o carro em qualquer vala escura, deitar o rosto por cima do volante e chorar até o sentimento ruim que tinha crescido em seu peito desde que tinha visto Fernando sair de campo sumisse.

Ela só queria fechar os olhos e perceber que tudo não tinha se passado de um pesadelo ruim, e que eles estariam comemorando o final da temporada com o resto do time no Südostenstadion, completamente decorada para a festa de final de temporada do Eintracht que tanto se falava nos últimos dias.

Mas não precisava se beliscar para saber que aquilo era real. A dor de Fernando e a sua própria eram tão reais que ela se perguntava como podia doer tanto.

Fora o pensamento de Fernando sozinho no hospital que fez com que ela pisasse o pé mais fundo que antes no acelerador e só parasse no estacionamento vazio do local.

Assim que passou pelas portas brancas, o seu celular deu sinal de vida graças ao carregador portátil que tinha achado em uma das gavetas do seu loft, sinalizando no mesmo instante diversas ligações de Dresden. Não só sua mãe, mas também de Lilie e do telefone fixo da residência dos seus pais.

Já passava das dez da noite e ela se assustou ao perceber que tinha passado mais tempo do que imaginava com Fernando na sala do departamento médico do time, imaginando que seus pais provavelmente estariam aflitos sem nenhuma notícia dela ou dele.

— Sunny! — a voz da sua mãe atendeu no terceiro toque, fazendo ela suspirar. — Você está bem, sunshine? Está em todos os noticiários, como o Fernando está?

— Nada bem, Mama — Summer confessou, arrumando em seu ombro a mochila que tinha trazido com os pertences do jogador e alguns seus próprios. — Estamos no hospital e parece que vamos passar a noite aqui. Disseram que ele vai precisar de cirurgia...

Ela mordeu o lábio inferior com força assim que terminou de falar, ainda não acostumada em pensar naquela situação. Encostou em uma das cadeiras do lobby do hospital para se recuperar, tentando manter a calma para que pudesse ser um porto firme a Fernando.

Ele precisava disso. Precisava dela.

— Oh, Sunny, eu sinto tanto — Kristin respondeu e sua voz demonstrava vulnerabilidade, fazendo Summer assentir, mesmo que ela não pudesse ver. — Ele ficará bem, fale a ele que nós mandamos lembranças.

— Eu vou — confirmou. — Está tudo bem por aí, Mama? Eu preciso desligar, ele deve estar me esperando.

— Tudo bem, querida — a voz da mais velha pareceu vacilante, mas a cabeça de Summer estava em outro lugar no momento. — Só me dê notícias e fique bem.

Sunny respondeu com um murmúrio, passando alguns instantes em silêncio com o celular no ouvido antes de pensar em desligá-lo.

Sunshine — voltou o celular para perto do ouvido assim que ouviu a voz da mãe aumentar de tom, juntando suas sobrancelhas. — Não, não está tudo bem. Algo aconteceu.

Um arrepio percorreu por todo o corpo de Summer e ela sentiu seu coração bater ainda mais rápido que antes. As incontáveis ligações perdidas, as mensagens ignoradas de Lilie, o nervosismo na voz de sua mãe... Não era só por causa de Fernando. Algo estava fora do lugar.

— Diga de uma vez, Mama — pediu, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas novamente antes mesmo que qualquer coisa fosse dita do outro lado da linha. — É o Papa, não é? Mama...

— É o seu pai — Kristin confirmou de uma vez e Summer percebeu as lágrimas em sua voz, fazendo as primeiras escorrerem pelo seu próprio rosto. — Ele saiu para a sua caminhada diária e não voltou ainda. Nós já procuramos em todo canto, Summer, ele não está em nenhum lugar. Pedimos para os amigos nos ajudarem e...

Ela não conseguiu ouvir mais nada que veio após isso, tapando a própria boca com uma das mãos enquanto sentia o ar fugir dos seus pulmões.

Aquilo não podia estar acontecendo.

Só poderia ser uma piada sem graça, uma brincadeira ridícula que ela ficaria brava assim que fosse revelada.

O que começou como o melhor dia da sua vida não podia terminar como o pior.

Summer só queria voltar para o momento que acordou naquela manhã, com o corpo de Fernando metade em cima do seu e seus cabelos bagunçados entre os dedos dele. Ela queria voltar ao momento que ainda estavam na cama e ela passou mais tempo do que o normal o observando dormir, com os lábios rosados entreabertos e um dos braços abraçando a cintura dela, enquanto a alemã se perguntava como tinha dado tanta sorte de tê-lo ao seu lado.

Ela queria voltar para o momento na manhã que seu pai tinha mandado uma mensagem agradecendo novamente os ingresso que seu genro havia endereçado a ele, e desejando um ótimo jogo para ele.

No instante seguinte Summer já corria pelas portas do hospital, com as mãos trêmulas e um bolo preso na sua garganta que ela não sabia como fazer sumir. Colocou a chave na ignição do carro antes que pudesse cair em si e acelerou em direção a saída da cidade, se aproveitando da potência que aquele carro de luxo tinha.

Ela só queria que aquele dia tivesse um fim. Só precisava ouvir de alguém que tudo ficaria bem.

Mas as duas únicas pessoas de quem ela gostaria de escutar isso eram as duas que não poderiam dizer.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro