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19. Vuelve

Naquela altura, nenhum som chegava aos ouvidos de Fernando Navarro.

O espanhol corria como podia atrás da bola, sentindo um puxão forte assim que um jogador que vestia branco e vermelho aproximou-se de si e, não conseguindo pará-lo, subiu a mão para seu pescoço, arranhando-o como conseguira.

Mas aquilo não fora suficiente para parar Fernando, que só tinha sua atenção na bola até o momento que uma perna cruzou seu caminho, em um carrinho mal dado que fora mais nas suas chuteiras que na bola que corria em sua frente.

Quando percebera já era tarde demais, tropeçando na chuteira colorida do adversário e caindo na grama que ficara presa nas suas mãos assim que ele as colocara no chão, para diminuir o impacto do choque.

O apito alto soou e em um instante metade do time do Eintracht München estava ao redor do juiz, pedindo por um cartão amarelo que viera depois de um ou dois gritos. O espanhol não se preocupou em brigar, levantando-se em um pulo e passando a mão pelo pescoço após sentir um forte ardor na região.

Seria uma pequena lembrancinha dos jogadores do Arsenal, na próxima semana.

— Calma, guapo — Leon Thalberg, o capitão, pediu, puxando a camisa do companheiro de time. — Você está perdendo a cabeça. As coisas não vão dar certo assim.

Nando tinha que assumir que invejava a tranquilidade que o alemão, que carregava a faixa de capitão há quase três anos do time roxo, tinha para lidar com os jogos. Não importava o placar, Leon sempre pedia calma aos seus companheiros e se focava inteiramente em não deixar um adversário sequer cruzar a sua linha de defesa.

Ele era, no momento, o principal aliado de Greco Fiorentini, o goleiro. E, naquele jogo decisivo de Champions League, estava sendo fundamental.

Afonso Reino tinha sido bem claro no vestiário: Eintracht München precisava de uma vitória para continuar na Champions League.

Empatados em pontos com o Arsenal, que no momento por critérios de desempate ocupava o segundo lugar, eles disputavam a classificação para a próxima fase da competição.

A classificação inédita.

Era tudo ou nada para os dois times que estavam em campo.

— Nós estamos ficando sem tempo, capitão — respondeu para o amigo, colocando a mão na cintura enquanto esperava os jogadores se organizassem para ele poder cobrar a sua falta, não muito depois do meio do campo. — Zero a zero, oitenta e seis minutos. Não me peça por calma.

Foi a última coisa que ele falou antes de ouvir novamente o apito do juiz, tomando distância da bola antes de chutá-la, já correndo para tentar acompanhá-la juntos dos seus amigos.

Sua cabeça estava a mil e, por mais que ele soubesse que olhar o tempo não mudaria o fato que ele estava acabando, continuava a procurar o letreiro que mostrava os minutos de instante em instante, mantendo os olhos na bola que vez ou outra voltava aos seus pés.

Mas, naquele jogo em específico, não o deixavam jogar.

Toda vez que ele se aproximava do gol, era parado brutalmente por um jogador do Arsenal que não se preocupava muito com o cartão amarelo que era levantado em sua direção. Seu meião já estava rasgado o suficiente pelas travas das chuteiras que tinha recebido na canela e sua camisa frequentemente era puxada.

Não sabia muito da técnica que o time inglês estava usando, mas tinha certeza que uma das instruções que o técnico tinha dado a eles envolvia eles não deixarem Fernando Navarro jogar.

Foi quando o cronômetro avançou para os últimos três minutos de jogo que ele pegou na bola novamente, olhando para frente enquanto procurava alguém para fazer o passe. Luka estava perto da área, mas havia dois em cima dele. Stephen era puxado por outro jogador e Moncho estava ocupado com outro, mas Maxine parecia livre o suficiente para cabecear.

Subiu a bola, mantendo seus olhos nela até o momento que a mesma acabou cabeceada por Maxine, mas Nando não estava lá para vê-la passar por cima do gol do adversário.

Sentiu um impacto forte no pé esquerdo e perdeu o equilíbrio antes que pudesse se livrar, caindo em cima de um jogador do Arsenal que estava no chão antes dele.

Em um primeiro momento, pensou que o jogador apenas poderia estar atrasado. Claro, a bola estava com ele cinco segundos antes e alguns atritos daqueles aconteciam dentro de campo. Mas teve certeza que não tinha nada a ver com isso quando notou um sorriso sacana no rosto do adversário.

— Você perdeu a noção? — Fernando gritou em inglês, levantando-se em um pulo enquanto o outro fazia o mesmo. — Hijo de la...

Não terminou de falar quando o homem o empurrou pelo peitoral, encostando sua cabeça com a do espanhol.

— O que, Navarro? Irritado porque seu time tá fora da Champions League? — provocou, rindo. — Comece a se acostumar com a derrota.

Quando fora pensar, já era tarde demais.

Fernando empurrou o homem com força pelo peitoral e, se não fosse pelos amigos que entraram no meio da confusão enquanto Luka Bahr o segurava pelo braço, ele teria acabado com o número oito lá mesmo.

Estava vendo vermelho.

Sua vida estava de cabeça para baixo, Munique estava infernalmente gelada e seu time estava prestes a sair da Champions League.

Como ele podia ter deixado tudo dar errado assim?

Porra Fernando, me escute — Luka gritou em seu ouvido e foi naquele momento que todo o estádio voltou a ter som. — As coisas não estão fáceis aqui mas vão se tornar impossíveis se você for expulso. Coloque sua cabeça no lugar, caralho.

O espanhol parou de resistir, vendo um cartão ser levantado em direção ao adversário e a ele, dispersando a confusão que tinha se formado com jogadores dos dois times um pouco antes.

Olhou para o seu redor, vendo o Südostenstadion lotado de pessoas vestindo roxo, uma grande parte levantando o cachecol que tinha o lema do time, Wir Sind Hier. Estamos aqui.

Eles estavam ali, dando tudo de si antes do apito final, mesmo que os primeiros torcedores arrasados já começassem a aparecer pelas arquibancadas, com lágrimas no rosto enquanto gritavam alto para aqueles onze que começavam a se mostrar exaustos nos minutos finais.

Levantou a cabeça, apertando o ombro do alemão antes que corresse de volta a sua posição, gritando alto para que todos fizessem o mesmo, aproveitando a falta a favor deles que ele tinha conseguido com aquela jogada.

A bola fervorosa que saiu dos pés de Moncho terminou na trave, explodindo em frustração junto com os torcedores do time que não davam lugar ao canto baixo do Arsenal que havia em algum canto do estádio roxo. E, como se fossem segundos, os últimos três minutos de jogo acabaram, junto com os dois de acréscimo que deu esperança para o time da casa.

O apito final soou quando o goleiro do Arsenal chutou a bola além do meio campo e ela ainda viajava pelo ar, fazendo com que os reservas do time inglês se levantassem em um pulo, correndo para comemorar com aqueles que estavam escalados.

Era uma festa para o time que tinha vindo de longe. Comissão técnica, jogadores e a pequena torcida que se fazia presente depois de uma longa viagem ali gritavam, comemoravam e se abraçavam enquanto o outro lado se calava.

Afonso Reina colocou as mãos no bolso da calça social depois de cumprimentar e parabenizar Unai Emery, xingando o universo baixinho enquanto continuava do lado do campo, olhando para a imensidão de torcedores do Eintracht München que pareciam desolados. Alguns dos reservas continuaram sentados no banco, não querendo acreditar que o sonho tinha chegado ao fim, enquanto outros andavam em direção dos companheiros de time para consolá-los pelo resultado final.

Fernando Navarro agachou assim que o jogo se deu como finalizado, usando as duas mãos para cobrir a boca enquanto ficava de frente para o espaço reservado à torcida organizada do Eintracht. Apertou os lábios em uma fina linha assim que as primeiras imagens começaram a aparecer no telão do estádio, mostrando os torcedores desolados com lágrimas escorrendo pelo rosto, manchando as linhas branca e roxa que tinham pintado.

Eles acreditavam na classificação.

Acreditavam tanto quanto ele.

Só notou que estava chorando quando sua própria imagem apareceu, ampliada no telão. Uma lágrima silenciosa descendo pelo canto dos seus olhos escuros, que brilhavam mostrando que aquela era só a primeira. Mas não se preocupou em limpá-las, deixando que a dor que sentia em estar sendo eliminado saísse de uma vez só.

Guapo... — Leon chamou, se agachando ao lado do espanhol e passando uma das mãos pelos cabelos dele. — Você fez um bom jogo.

Assentiu sem falar nada, levando os olhos castanhos até o do capitão, apertando seu ombro em agradecimento pelas palavras.

— Às vezes as coisas só não são para ser — o alemão continuou, suspirando. — E dessa vez, não era nossa vez de ser.

— Eu sei — concordou, apertando o maxilar. — Eu só preciso de um tempo sozinho.

Leon assentiu, oferecendo um sorriso de conforto para o espanhol antes de se levantar e se afastar dali, enquanto Nando sentava de vez no gramado e apoiava as mãos atrás do seu corpo.

Sua respiração ainda estava descompensada, mas com o fim do jogo a adrenalina já não estava mais no seu corpo e o pé, que tinha levado uma pancada violenta, começava a incomodá-lo dentro da chuteira rosa que tinha escolhido para aquele dia.

Olhou para seus pés, vendo o 'S' gravado na parte de dentro, se perguntando onde tinha errado em achar que tudo daria certo. Que o que sua Sunny tinha dito a ele um tempo antes, quando eles visitavam o centro de treinamento, ia dar certo e que ele teria ela para comemorar no final da temporada.

Os resultados não pareciam bons para o Eintracht München. Nem para Fernando Navarro.

— Quando as coisas vão ficar melhores? — ele olhou para os céus, perguntando em espanhol mesmo sabendo que não havia ninguém para respondê-lo ali. — Quando as coisas vão voltar a dar certo?

Abaixou a cabeça assim que gotas finas de chuva começaram a cair do céu e o choro fez com que ele soluçasse, escondendo o rosto dentro da camisa roxa para que aquela imagem não fosse gravada pelas câmeras que continuavam a passar pelo campo.

Ele só precisava de uma palavra de apoio.

Ele só precisava dela dizendo que as coisas dariam certo.

Fernando precisava de Summer. Ou estaria na hora de deixá-la para trás de uma vez, sem alongar a dor que tinha sentido nos últimos dias e que ele estava sentindo naquele exato momento.

E que não tinha nada a ver com a lesão que ele descobriria alguns minutos mais tarde.


O aroma agradável dos muffins recém saídos do forno e de café quente enchiam a cafeteria.

Do lado de dentro, todas as mesas estavam ocupadas e o som de risadas e de conversas altas era a única coisa que podia se ouvir. A superlotação do café enchia até as quatro mesas que ficavam do lado de fora, mesmo com as pesadas nuvens cinzas cobrindo o céu de Munique, anunciando que uma tempestade estava para chegar.

O movimento era tanto que se assemelhava a véspera de natal, quando os famosos biscoitos de canela não duravam dez minutos expostos. Mas era apenas um dia qualquer do meio da semana de março, embora não se parecesse com um.

Os funcionários vestidos com o uniforme da Das Versteck andavam apressados com as bandejas nas mãos, visando atender a todos os pedidos no menor tempo possível, sendo analisados de perto pela chefe que tomava lugar no caixa.

Não que Summer Kaufmann fosse o tipo de chefe que eles tinham que temer, mas a presença dela no lugar depois de tanto tempo longe merecia uma atenção extra.

Danke e tenham uma boa tarde.

Summer falou, entregando a sacola com o logo da cafeteria para o casal de idosos a sua frente, com um enorme sorriso no rosto que fora correspondido pelos dois.

Parou, talvez pela primeira vez desde que tinha tomado a função de caixa, e soltou todo o ar que prendia antes de analisar tudo ao seu redor.

Como ela tinha sentido falta daquele lugar.

Ela adorava passar os dias em Dresden com seus pais, mas nada se comparava a estar em um lugar tão aconchegante como o Das Versteck era para ela. Era ali que Sunny passava boa parte do seu tempo, mesmo que não estivesse diretamente envolvida no caixa ou auxiliando os atendentes.

Em todos os outros dias que estava em Munique, ela sempre escolhia a mesa do fundo para se sentar, pegava o livro do momento que carregava em sua bolsa e fazia sua leitura ali, alternando o olhar entre as páginas amarelas e as pessoas que enchiam o lugar que ela tinha orgulho de chamar de seu.

Gostava de observar os casais apaixonados conversarem animadamente, as mães ou os pais limparem o chocolate que ficara na boca dos filhos, os engravatados digitarem rapidamente palavras que ela nunca conheceria em seus computadores... Era assim que passava seus dias nos últimos meses, até que seu olhar sempre acabava no homem que tinha sido sua companhia diária.

Fernando sempre tinha um sorriso no rosto, mesmo quando apenas a observava ler enquanto ele gastava seu tempo, e sua bateria, com Candy Crush ou Subway Surf. E era aquele sorriso, branco e perfeitamente alinhado, que tinha se tornado o favorito dentre de tantos que Sunny já conhecia.

E mein Gott, como ela sentia falta dele.

— Você parece cansada, Sunny.

A voz de Liesel, atrás de si, fez com que Summer se assustasse, mandando seus pensamentos para longe assim que se deu conta que tinha passado os últimos minutos com eles inundando sua cabeça.

— Nem passei em casa, vim da estrada direto para cá — Sunny confessou para a atendente, que usava um avental colorido enquanto colocava uma nova fornada de cookies na vitrine de vidro. — Mas eu estou bem, só preciso de umas horas de sono.

— Deveria ir para casa, nós damos conta daqui — Liesel falou, recebendo um olhar torto da chefe. — Você sabe que nós damos! Sobrevivemos aos o que, quinze ou dezesseis dias que você ficou fora, não é? Podemos sobreviver a mais um.

Summer colocou as mãos na cintura fingindo desconfiança, rindo assim que a morena empurrou levemente seu ombro.

Ela não tinha nenhum motivo para achar que as coisas sairiam do controle, já que confiava cegamente na pequena mas eficaz equipe que tinha colocado para cuidar do Das Versteck, uma das poucas coisas que a tranquilizaram quando resolveu que seus dias fora seriam mais que o planejado.

Sunny só não queria ir para casa.

Entrar em um loft que não era aberto há mais de duas semanas, procurando uma companhia que ela sabia que não estaria lá.

Pelo menos não enquanto ela não fosse de encontro a ele.

Ja ja, estou indo — Summer falou vencida, sorrindo. — Obrigada por cuidar das coisas na minha ausência, Lise. Você é incrível.

— Não fale assim, chefinha — respondeu carinhosamente, sorrindo. — Só me prometa que suas viagens longas acabaram, porque nós precisamos de você por aqui.

A loira sorriu, assentindo diversas vezes.

O plano inicial era de passar apenas quatro dias em Dresden.

Os quatro dias que sabia que Lilie também ficaria na cidade natal, quase como em um retiro relaxante em família onde eles iriam rir de antigas piadas e se sentar ao redor da fogueira que tinham no quintal, como nos velhos tempos.

Mas Sunny percebeu que não estava preparada para voltar a Munique em apenas quatro dias.

Sua cabeça ainda estava muito bagunçada e a alemã prometeu a si mesma que só voltaria quando tivesse certeza do que queria dizer a Fernando.

Quatro dias viraram oito, que logo se tornaram dezesseis.

Sabia que uma hora precisaria parar de fugir do inevitável e esse era o único motivo que a fez colocar as malas no seu carro e voltar em direção a cidade da Baviera.

As palavras para Fernando, porém, não tinham sido escolhidas ainda, por mais que ela tivesse ensaiado incontáveis discursos de frente ao espelho onde costumava usar para passar o batom que roubava do banheiro da mãe, quando era mais nova.

Achou que elas viriam durante a viagem. Ou quando sentisse o cheiro de café, o que ela jurava que era seu favorito de todo o mundo.

Mas ao senti-lo, percebeu que um perfume que costumava ficar em suas roupas e nos lençóis da sua cama tinha ganhado o primeiro lugar naquela competição de aromas que só acontecia dentro da sua cabeça.

E talvez aquele cheiro fosse o único que pudesse trazer paz de volta a ela.

Retirou o avental que estava pendurado no seu pescoço, buscando seu celular e suas chaves que tinham sido guardadas no balcão de madeira do caixa. Percebeu que enquanto fazia isso, Lise estudava todos os seus momentos.

— Algo errado? — perguntou, arqueando uma sobrancelha enquanto se voltava a funcionária.

— Sunny... — Liesel falou, brincando nervosamente com os dedos das suas mãos. — Eu não quero parecer intrometida e me perdoe se eu estiver sendo...

— Só vá em frente Lise, nós temos essa intimidade — Summer a interrompeu, juntando suas sobrancelhas. — O que aconteceu?

Liesel pareceu ponderar em dizer o que queria, abrindo e fechando a boca algumas vezes.

— Fernando veio aqui em todos os dias que você ficou fora — falou de uma vez, pigarreando em seguida. — Até hoje de manhã ele passou por aqui.

Summer arqueou as sobrancelhas em surpresa, sentindo o ar fluir para fora dos seus pulmões em agonia.

— Todo os dias é a mesma coisa, ele senta na mesa que vocês costumam dividir, pede sempre a mesma coisa e depois vem até o caixa — Lise continuou, vendo Sunny engolir em seco. — Conversa com quem estiver aqui, insiste em pagar a conta mesmo que você tenha dito a nós para não deixarmos ele fazer isso e no final pergunta de você. É o roteiro dele.

A loira deixou um sorriso surgir no canto dos lábios, puxando uma lufada grande de ar para dentro dos seus pulmões em seguida.

Dezesseis dias.

Dezesseis dias se passaram para que Summer tivesse certeza do que queria para sua vida.

Primeiro, pensou em si mesma.

E talvez, aquela fosse a primeira vez que ela fazia isso em muito tempo.

Inevitavelmente, quando ela resolveu pensar em si mesma, ela pensou em Fernando.

Pensou nas noites em claro que costumava passar com ele, nas discussões profundas sobre o propósito do destino que ele tanto acreditava, nas tantas vezes que ela fora capaz de entrar no Südostenstadion e não se sentir uma agonia extrema consumir seu peito, só porque sabia que estava ali por ele...

Não precisou de muito para entender que, se ela quisesse se colocar em primeiro lugar em sua própria vida como o seu pai tinha aconselhado, teria que começar conversando com Fernando.

Deixando-o saber, do jeito que ele tinha pedido, pelas suas próprias palavras, o quanto ela queria o relacionamento dos dois.

O quanto ela queria ele.

Sunny decidiu que queria manter em sua vida tudo o que a fizesse bem.

E isso incluía Fernando Navarro, seu sotaque pesado e sua risada alta.

Ela não precisou de dezesseis dias para descobrir isso. No fundo sempre soube, antes mesmo de deixar Nando ir embora do seu apartamento.

Na verdade, Sunny precisou de dezesseis dias para aceitar isso.

Precisou da conversa pesada com Viktor e colocar a cabeça no travesseiro, chorando como uma criança pequena quando perde o brinquedo favorito para perceber que ela precisava dividir o peso de tudo o que carregava com Fernando. Não queria olhares de pena, nem queria pensar no que aconteceria quando finalmente não estivesse tentando estar no controle de tudo.

Pela primeira vez em muito tempo, Sunny ia deixar de cuidar de todo mundo e deixar que alguém cuidasse dela. Não que Fernando já não estivesse fazendo isso há algum tempo.

Daquele dia em diante, porém, seria em definitivo. Sem segredos, sem barreiras, sem o medo de não saber o que estava por acontecer assim que ela dividisse a única parte da sua vida que fez questão de guardar só pra ela.

Summer só esperava que dezesseis dias não tivessem sido tempo demais para Fernando.

— Ele te pediu para me dizer algo? — Sunny perguntou, arqueando as sobrancelhas ao ver Liesel negar.

Não escondeu a frustração em sua expressão, abaixando seus ombros como se eles tivessem ficado mais pesados.

Era sua vez, sabia disso. Mas a grande parcela de orgulho que envolvia seu coração ficou mexida ao perceber que mesmo assim, ele tinha ido atrás dela.

— Eu só achei que era algo que você precisava saber — falou ao perceber que Sunny não falaria nada, dando de ombros. — Ele parecia preocupado... Você deveria ligar para ele.

Summer assentiu, apertando mais forte o celular que tinha em mãos.

— Eu vou — murmurou, colocando uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha. — Obrigada, Lise. Vejo você amanhã.

— Se cuide, Sunny! — Liesel se despediu, tomando o lugar da mulher no caixa.

Summer deu uma boa olhada ao seu redor antes de caminhar até a saída do estabelecimento, com a respiração ofegante como se tivesse acabado de sair de uma corrida de vários quilômetros. Mas era só a reação do seu corpo e da sua mente enquanto ela fazia a decisão que acreditava que era a mais difícil que já tinha tomado em sua vida, até aquele ponto.

Levantou seu olhar até a televisão do lugar, ouvindo o apito final do jogo do Eintracht München contra o Arsenal pela Champions League que estava sendo transmitido. Levou uma mão a boca assim quando viu a comemoração do time inglês e a imagem devastada dos que vestiam roxo, que se sentavam no chão sem conseguir acreditar no que estava acontecendo.

E ai a câmera se voltou para Fernando, seu Nando, que chorava, sentado sozinho no meio do campo. Focaram especificamente no seu rosto, pegando o momento que as lágrimas faziam o trajeto pela sua pele escura, sem que ele se preocupasse em limpá-las.

O espanhol olhou para cima com os olhos vermelhos, soluçando algumas vezes enquanto perguntava algo aos céus, um pouco antes que uma chuva fina começasse a cair em Munique, deixando-o ainda mais molhado do que já estava. A imagem fora cortada para uma entrevista com Leon, que parecia tão quebrado quanto o outro.

Mas ver aquilo foi o suficiente para Summer sabia que Fernando precisava dela.

O celular queimava em sua mão e seus dedos formigavam para discarem o número que estava gravado na sua agenda.

Mas ela não conseguiu.

Ao contrário disso, levantou seu olhar para o céu e jurou que ainda podia ver naquela imensidão escura o brilho de algumas estrelas que ainda se escondiam por ali.

E se mesmo naquela noite nublada, as estrelas ainda brilhavam... Então ela teve que acreditar com todas as suas forças que ela e Fernando ficariam bem.


❆❆❆

O tempo que os jogadores do Eintracht München passaram no vestiário, após o jogo, não fora regado de risadas e comemorações, como eles esperavam antes dos noventa minutos.

Afonso Reina não se prolongou em suas palavras, apenas pediu para todos irem para casa que eles conversariam na manhã seguinte. Provavelmente porque metade dos jogadores ainda estavam emocionados demais para ouvir qualquer coisa do treinador, que ofereceu um tapinha nas costas de consolo para todos que passaram pelas portas do vestiário e dedicara um tempo para acompanhar o espanhol que tinha seguido até o departamento médico.

Chegara em sua casa com o pé esquerdo enfaixado, mas tinha dispensado as muletas que estavam no banco de trás do seu carro. Não saira do carro de primeira assim que estacionou na sua garagem, tirando um tempo para observar seu próprio reflexo no espelho retrovisor.

Aquilo não estava certo. Aquele não era Fernando Navarro.

Percebeu as olheiras escuras que tinham aparecido embaixo dos seus olhos, a vermelhidão deles pelas lágrimas, sua barba por fazer e seu cabelo bagunçado que pedia por um corte o mais rápido possível.

Aquelas pequenas coisas que ele não tinha percebido por estar tão distante nos últimos dias.

Tirou o celular do bolso da calça jeans clara que usava com alguma dificuldade, ignorando todas as mensagens que chegavam sem parar e discando os conhecidos números que ainda constavam no seu histórico de chamadas. Cada toque fazia com que seu coração batesse um pouco mais rápido, na esperança que fosse ouvir aquela voz do outro lado.

Diferente do esperado, foi a voz da caixa postal que soou nos autofalantes, mas Fernando não desligou como tinha feito todas as vezes que tinha chegado até ali, e esperou até que a mensagem gravada fosse finalizada.

— Hey Summer — murmurou para o celular, pigarreando quando percebeu que sua voz soava baixa. — Nós precisamos conversar.

Olhou para frente, encarando o escuro da sua garagem, sem saber exatamente o que deveria falar.

Todas as palavras sumiram da sua cabeça e ele até pensou que ela pudesse apagar a mensagem se ouvisse até aquela altura, já que o silêncio se fez presente por muito tempo.

— Me ligue, por favor. As coisas não estão muito bem por aqui sem você e eu não estou sabendo lidar com isso... Nós estamos fora da Champions e, eu... — parou, sentindo os olhos começarem a encher de lágrimas novamente, apertando-os para que o choro não voltasse de uma vez. — Só me ligue ou me avise quando eu puder te ligar. Te quiero mucho y te extraño, cariño.

Fernando encerrou o recado em seguida, não sabendo se Sunny conseguiria entender a sua última frase, mas sabendo que precisava dizê-la antes de ficar louco.

Ele sentia falta dela. Muita.

E não só dos seus beijos, da sensação de ter os dedos dela juntos com os seus ou das noites que eles passavam juntos. Fernando sentia falta de receber conselho depois que todas as luzes já tinham sido apagadas, de deixá-la com as bochechas rosadas, de perder seus dedos dentro dos cabelos loiros dela e da sensação que tinha sempre que acordava com ela ao seu lado.

Sentia falta do perfume dela em suas roupas, dos banhos compartilhados em silêncio e dos passeios de carro que duravam mais que o suficiente só porque os dois adoravam fazer uma competição inexistente de canto entre eles.

Fernando sentia falta de Summer, e sentir falta dela estava acabando com ele.

Saiu do carro sem pressa quando a ligação fora finalizada, deixando que a alça da bolsa do treino que estava no banco do carona escorregasse do seu braço assim que destrancou a casa, pisando nos tênis para retirá-los e indo diretamente para a cozinha. Abriu a geladeira em busca de algo para cozinhar, pensando em colocar em prática alguma receita que tinha aprendido com a alemã nos últimos meses, cansado de viver de drive-thrus e aplicativos de restaurante.

Fechou assim que percebeu que algo parecia fora do lugar.

José Cuervo não foi recebê-lo e pular em suas pernas até quase derrubá-lo como ele fazia todas as vezes que Fernando chegava no apartamento.

Discou os três números da polícia no seu celular, mantendo seu dedo no ícone verde do teclado digital enquanto ia, devagar, para a sala. Podia não ser nada, mas sua imaginação era fértil graças ao número de séries policiais que ele tinha assistido nos últimos dias e isso era a única coisa que se passava pela sua mente.

Se ao menos ele estivesse com as muletas que estavam no carro... Elas se mostravam como ótimas armas de defesa.

Seu coração estava acelerado, mas seus batimentos ficaram ainda mais fora do controle quando ele reconheceu a silhueta que estava de pé no meio da sua sala, com José sentado aos seus pés.

Summer parecia tão arrasada como ele, com seus cabelos bagunçados, seus olhos fundos e a ponta do seu nariz vermelha, como se ela tivesse chorado nas últimas horas. Não a julgaria, ele tinha feito o mesmo em rede nacional.

— Sunny? — Fernando murmurou, engolindo em seco antes de dar dois passos em direção a alemã.

Ela fez o mesmo em direção a ele, sorrindo de alívio, mas com lágrimas nos olhos, por finalmente tê-lo em sua frente. Depois de tantos dias longe, não conseguiria explicar o quanto a presença de Fernando trazia conforto e tranquilidade ao seu coração.

E Summer soube, assim que colocou os olhos nele, exatamente o que deveria ser dito.

Fernando voltou a andar em direção a ela e não pensou duas vezes antes de passar seus braços pela cintura da alemã, envolvendo-a em uma abraço apertado, que ela aprofundou quando passou as mãos pelo pescoço dele.

As mãos do jogador não se contentavam em ficar apenas naquela parte do corpo dela e ele traçava seu próprio caminho imaginário, começando pela cintura, subindo pela coluna dela e terminando em seu rosto. Era como se ele quisesse ter certeza que tinha ela entre seus dedos novamente e que aquilo não era mais um dos seus pesadelos fantasiados de sonhos que ele tinha tido nas últimas noites.

Eles sempre começavam com o reencontro dos dois, mas todas as vezes que Nando corria em direção a Sunny, ela desaparecia de frente aos seus olhos e suas mãos sempre ficavam vazias.

O toque dos dedos gélidos dela no rosto dele fez com que ele finalmente pudesse soltar um suspiro de alívio assim que teve a certeza que ela era real. Daquela vez, sua Summer de verdade não ia escapar por entre seus dedos. E ele nem mesmo tinha planos de deixá-la escapar pelo resto da noite.

Eles juntaram seus lábios no segundo seguinte, sem nem mesmo se preocupar que qualquer coisa fosse dita antes disso. Sabiam que havia muito a ser conversado, mas o beijo desesperado não parecia necessitar de mais nenhum esclarecimento.

Era saudade.

Pura e completa, no sentido total da palavra.

Eles se afastaram minimamente e pela primeira vez na noite, Fernando pode encarar por completo os olhos azuis como mar, inundados, a sua frente. Eles não se pareciam como gelo, como estavam da última vez que eles tinham se visto.

Os olhos de Summer demonstravam uma calmaria que ele não via a um tempo. Eles estavam inofensivos, como as águas do rio Isar se vistas por Grünwald. Os dele, pelo contrário, eram uma mistura de inquietação e fogo, exatamente o que Fernando era.

E eles ficaram assim por um tempo, aquele que ele, finalmente, derrubasse as paredes e o jogo sem palavras que jogava desde que tinha ficado sem Summer.

Ela estava ali. Ele não precisava mais disso.

Só precisava de respostas. Fernando Navarro precisava dos braços de Summer Kaufmann, dos lábios dela junto aos seus, dos seus corpos trocando carícias e de respostas.

— Você não tinha direito de fazer o que você fez comigo, Summer — Fernando murmurou, a respiração entrecortada pelo nervosismo que o preenchia. — Você não tinha o direito de me quebrar desse jeito.

As palavras fizeram com que o coração de Summer se quebrasse junto ao dele e ela sentiu como se todo o ar tivesse sido retirados dos seus pulmões, tentando controlar seus lábios trêmulos.

Tateou o rosto de Fernando com a ponta dos seus dedos, deixando que uma lágrima incapaz de ser contida traçasse o caminho pelo seu rosto e se perdesse no tecido das suas roupas.

— Eu sinto muito, Nando — ela murmurou, encostando a testa na dele e fechando seus olhos. — Eu sinto muito... 

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