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17. Losing You

A neve caía forte em Munique desde o fim de dezembro, mas a cidade ficou completamente branca entre janeiro e fevereiro.

Os casacos mais pesados foram tirados do armário e usar um só não era suficiente. Os parques da cidade ficaram desertos, assim como todo e qualquer lugar da redondeza que não desfrutava da presença de um aquecedor.

Luvas, toucas e cachecóis se tornaram ainda mais indispensáveis à medida que a temperatura caia a níveis negativos e as estradas ficaram bloqueadas pelo excesso de neve.

O inverno rigoroso da Alemanha nem mesmo se pareceu como um inverno para Summer e Fernando.

A sensação dos dois é que tinham ganhado um permanente lugar privilegiado de frente a uma quente lareira durante os dois primeiros meses do ano, quando a neve fez parte da decoração das ruas de Munique.

Aquele estranho sentimento que os envolvia era resultado da fase que o relacionamento tinha entrado.

Já não passavam pelas situações comuns ao começo de um namoro, apesar de toda a parte boa desse primórdio ter permanecido, como visitas surpresas fora de hora, mensagens carinhosas vez ou outra pela manhã e jantares românticos toda sexta à noite.

Porém, a mudança mais nítida foi o aumento da confiança e da cumplicidade entre eles, acompanhada por um crescimento inegável do sentimento que sentiam um pelo outro, cada vez mais nítido nas conversas noturnas que eles sempre gostavam de ter.

Junto com isso veio a chave do apartamento de Sunny para Fernando, uma chave reserva da casa dele para ela, uma conta especial no Das Versteck e um par de ingressos disponíveis para todo jogo do Eintracht München.

Pequenas coisas com um significado imenso por trás delas.

Mas, diferente do comum, naquela sexta à noite era Pia Schäfer que estava no loft de Summer em Nymphenburg, observando a amiga andar de um lado para o outro, nervosa.

— Okay sunshine, repita tudo trinta vezes mais devagar — Pia interrompeu a amiga, fazendo Sunny soltar uma lufada de ar. — E respire.

O número de Pia foi o primeiro que passou pela cabeça de Sunny assim que desligou a ligação com sua irmã e só precisou de poucas palavras para que a amiga soubesse que ela precisava de uma visita.

E como todas as outras vezes que emergências aconteciam, Pia apareceu na porta de Summer dez minutos depois, com dois copos de café nas mãos e um saco de Pretzels recheados.

Era o jeito que as duas tinham se discutir problemas desde que tinham se conhecido, anos antes.

— Desculpe — Summer murmurou, puxando uma grande quantidade de ar antes de continuar.

A mala a sua frente estava completamente bagunçada, bem diferente do que costumava ser em outras ocasiões. As roupas tinham sido reviradas, jogadas de qualquer jeito e provavelmente chegariam em seu destino final como se nunca tivesse visto um ferro na vida, o que a incomodaria em qualquer outra situação.

No momento, ela só não se importava. Não se importava se os pijamas estavam descombinando e se estavam juntos com as calças jeans e com os casacos.

— Lilie e Andreas estavam em Dresden para uma degustação dos docinhos do casamento e passaram na casa dos meus pais para uma rápida visita — Summer explicou, falando relativamente mais devagar do que antes. — E estava tudo ótimo até meu pai chegar da corrida diária dele e não reconhecer o Andreas.

Pia soltou o ar que nem sabia que estava prendendo, levando sua mão inconscientemente para a barriga de seis meses de gravidez, como fazia sempre que precisar pensar.

— Lilie deve ter ficado arrasada — murmurou baixinho e viu Sunny assentir.

— Devastada — concordou, engolindo em seco. — Eles já estão juntos há sete anos, Pia. É exatamente como o médico descreveu para nós, as memórias mais recentes estão se perdendo. Mas nós não esperávamos que seria tão rápido.

Toda a família já conhecia as consequências da Alzheimer, mas esperavam que teriam pelo menos alguns anos até que elas fossem ficando mais perceptíveis. Mas havia algo no caso de Viktor que se diferenciava dos outros.

A doença estava agindo rapidamente e os remédios se tornando cada vez menos eficazes. Os esquecimentos mais frequentes e o medo crescente em todos que o conheciam.

— Essa é uma situação de merda, sunshine — Pia falou, usando um vocabulário que era diferente do seu e até fazendo com que Summer desse um pequeno sorriso graças a isso. — Então você está indo para lá?

— Eles precisam de mim — respondeu, colocando mais um casaco dentro da mala. — Pensei que ia conseguir adiar a visita até a próxima semana já que as coisas estão muito agitadas no café, mas não tem como. Devo estar de volta na próxima semana, quarta ou quinta no máximo.

— Fernando já sabe da viagem?

Summer estava de costas para Pia no momento que ela fez essa pergunta, e escolheu por continuar assim, fingindo interesse repentino na sua prateleira de perfumes.

— Ainda não tive tempo de contar — respondeu, suspirando. — Ele está vindo para o jantar.

— Vai falar o motivo da viagem também, Sunny?

O tom duro tão incomum de Pia fez com que Summer travasse, se atrapalhando na hora de colocar os itens de higiene dentro da sua necessaire.

Tudo estava indo bem entre os dois, mas...

Ela ainda não tinha tido aquela conversa com Fernando.

Três meses tinham se passado desde o primeiro dia que ela quis contar a ele sobre seu pai, em Llafranc. Três meses em que ela tinha tido inúmeras oportunidades de olhar no fundo dos olhos castanhos do jogador e desabafar o peso incalculável que carregava em suas costas.

Três meses que ela tinha fracassado inquestionavelmente.

— Pia...

— O que eu faço com você, Summer? — A voz de Pia estava decepcionada, fazendo com que a outra engolisse em seco. — Você não pode esconder isso dele para sempre.

— Eu não vou — concordou, sorrindo assim que se virou para a amiga. — Prometo.

Pia assentiu, escolhendo por dar o voto de confiança para Sunny mesmo que já tivesse escutado aquelas palavras todas as vezes que tinham entrado no assunto.

Ela não achava justo que a loira escondesse algo tão importante do namorado, da mesma forma que Lilie, Sven e qualquer pessoa que se conhecesse os dois.

Ele merecia saber.

— Sunny?

A voz de Fernando preencheu o apartamento e a alemã deixou as roupas que tinha em mãos em cima da cama bagunçada antes de descer com pressa a escada de metal do seu loft. Pia a seguiu com menor velocidade, mas chegou na sala a tempo de ver a amiga abraçar o jogador com força, como se os braços dele fosse o único lugar do mundo onde ela poderia encontrar segurança.

Não duvidava disso, e esse era um dos motivos do carinho grande que tinha criado por Fernando, brincando algumas vezes que até poderia suportar o Eintracht München enquanto eles não estivessem jogando contra o seu amado Bajuwaren.

— Pia, hallo! — Fernando a cumprimentou com um sorriso assim que percebeu que ela estava na sala, entrelaçando seus dedos com os de Sunny. — Não te vejo faz um tempo. Como vocês vão?

— Nós estamos muito bem, obrigada — respondeu, rindo antes de colocar uma mão na sua barriga. — E você? Espera, que atuação maravilhosa no último jogo contra o Hannover. Sven me pediu para te dar os parabéns quando te encontrasse, seu gol foi incrível.

A carreira de Fernando também foi beneficiada pelo inverno.

Ele odiava treinar na neve e jogar no frio, mas ser relacionado como titular nos últimos sete jogos do Eintracht München e marcar em cinco deles significava muito para o jogador, que finalmente conquistava o seu lugar debaixo dos holofotes e ainda não estava acostumado em ouvir os incontáveis torcedores presentes no Südostenstadion gritarem seu nome no meio de uma partida.

Não era o que ele queria.

Era muito mais do que ele sequer podia sonhar que aconteceria em Munique.

— Obrigado, mande um abraço para ele — falou, não tirando o sorriso do rosto. — Você sabia que eu dediquei o gol para sua amiga?

— É verdade? — Pia fingiu surpresa e Sunny riu, apoiando o rosto no ombro de Fernando como se já tivesse feito isso outras mil vezes. — Então era para você que ele estava apontando na arquibancada, hum?

A lembrança fez com que as bochechas de Summer ganhassem cor, mordendo seu lábio inferior enquanto ganhava a atenção de Fernando.

— Não se junte a ele para me deixar sem jeito, Pia — murmurou como resposta, fazendo os dois rirem. — Você já é boa em fazer isso sozinha.

O jogador achou adorável que ela ainda continuava corada, deixando um beijo carinhoso na sua bochecha antes de passar um dos braços pela sua cintura.

— Ah, eu trouxe sua correspondência que estava lá embaixo e... Os ingressos para o jogo contra o Schalke de amanhã. Por que você e Sven não vem com a Sunny ao Südostenstadion, Pia? Eu consigo mais um. — Fernando arqueou as sobrancelhas, com um envelope que tinha o slogan do Eintracht nas mãos. — VIP Lounge, chance única. É pegar ou largar.

As duas sorriram, mas trocaram um olhar rápido que foi suficiente para que Fernando entendesse que havia algo que ele ainda não sabia, desviando o olhar para Summer em seguida.

— O que foi? — perguntou confuso, mas ainda sorrindo. — Algo errado?

— Nada, é só que... — começou a falar, demorando para encarar Fernando de volta. — Eu vou para Dresden, amanhã cedo. Nós podemos marcar para ver o próximo jogo na Südostenstadion...

— Champions League contra o Arsenal, daqui a duas semanas e meia — Fernando buscou o calendário de jogos em sua memória, assentindo. — Tudo bem... Viagem de última hora? Não me lembro de você ter falado sobre a viagem antes.

— Eu não falei, acabei de decidir — confessou, dando de ombros. — Lilie me ligou, vamos passar o fim de semana e mais alguns dias com nossos pais. Ela e Andreas já foram hoje e iriam passar aqui, mas eu preferi esperar para falar com você primeiro.

Tudo o que Summer falava era verdade, mas naqueles momentos ela se sentia completamente culpada ao encarar Fernando e perceber que escondia dele o motivo de suas tão frequentes viagens a casa dos pais.

— Alguma coisa errada com eles ou visita normal?

Pia abaixou o olhar quando o jogador falou e Summer foi pega de surpresa pela pergunta, negando rapidamente enquanto colocava um sorriso no rosto.

Era quase como se ele soubesse que algo estava fora do lugar.

— Visita normal, você sabe... Meus pais ainda sentem falta da casa cheia quando nós morávamos com eles. O casamento da Lilie está mexendo com o lado carente dos dois — brincou, mordendo o lábio inferior em seguida. — Não precisa se preocupar.

Fernando assentiu aliviado, deixando a mão de Summer livre quando ela se encaminhou para a cozinha e ele tomou um lugar em uma das cadeiras da bancada de madeira.

Se ele tivesse prestado um pouco mais de atenção na alemã, teria percebido que suas mãos tremiam ao segurar o copo de vidro e que o desconforto estava claro em suas expressões.

Cariño... — Fernando chamou após um tempo em silêncio, acompanhando seus movimentos na cozinha. — Por que você não convida sua família para o jogo da Champions? Você disse uma vez que seu pai é torcedor do Eintracht...

O jogador falou aquilo pausadamente, em tentativa de que o baque não atingisse Summer de uma vez só.

Não funcionou.

— O que? — questionou, arqueando as sobrancelhas. — Nando...

— Pense por um segundo — Fernando pediu e Sunny podia ver o brilho de ânimo crescer em seus olhos, enquanto ele enumerava com os dedos. — É um jogo de Champions League, ele vai adorar ver do estádio. Eu posso conseguir a melhor tribuna do Südostenstadion e nós podemos ficar lá até o final do jogo para um pequeno tour, e...

— Nando — Summer aumentou a voz, interrompendo-o. — Nós podemos marcar para outra data...

— Então espere amanhã até o final do jogo e eu irei com você até Dresden — o jogador se prontificou, abrindo os braços. — Só assim você não dirige sozinha e...

Fernando — a loira chamou, mordendo o lábio inferior com força assim que teve total atenção do homem a sua frente. — Está tudo bem, eu prefiro ir sozinha.

O clima pesou no momento em que o sorriso saiu do rosto de Fernando, dando lugar a uma expressão de irritação. Pia percebeu o que acontecia e amaldiçoou que Summer morava em um loft sem paredes, em que ela não podia se trancar em um quarto e deixar que eles se resolvessem sozinhos por ali.

Porém, escolheu por dar um pouco de privacidade aos dois, subindo as escadas para o quarto do andar superior enquanto o silêncio não era interrompido.

— Quando eu vou poder conhecê-los, Sunny? — Fernando perguntou baixinho, engolindo em seco. — Quando você vai me falar qualquer coisa sobre eles? Ou sobre Dresden? Quando você vai conversar comigo?

Fernando estava cansado de todas as desculpas que Summer dava a ele sempre que perguntava sobre a família dela, ou quando ele iria poder conhecê-los, agora que ela viajava para Dresden pelo menos uma vez por mês.

Ele sentia que era um passo importante que eles dariam juntos quando finalmente pudesse trocar uma conversa com o pai dela e rir de fotografias de quando ela era criança com a mãe dela.

Para ele, era algo importante e já tinha feito questão de deixar isso claro para Summer um milhão de vezes.

Estava começando a ser desgastante para o jogador receber desculpas atrás de desculpas, deixando um clima chato até o momento que ele preferir fingir que nem tinha tocado no assunto e tornava a beijá-la mais uma vez.

Seu sono, porém, era perdido. Passava incontáveis horas pensando em teorias da conspiração e motivos sem pé na cabeça que Sunny podia ter para matê-lo longe de Dresden.

Não fazia sentido algum. E ele estava cansado de deixar isso de lado.

— Em breve, Nand... — falou terna, saindo da cozinha e indo em encontro ao jogador. — Logo.

— Você me fala isso há cinco meses... Cinco meses que eu acordo todo dia sabendo que tem uma parte enorme da sua vida que eu não faço ideia que existe — Fernando disse, controlando a sua voz lotada de emoção. — Qual o problema? Eles sabem que eu existo?

— É claro que eles sabem, Fernando — Summer aumentou a sua própria voz, apertando a ponte do seu nariz. — Eles sabem de você há um tempo.

— Então o que é, Sunny? — questionou, juntando as sobrancelhas. — É minha profissão? Minha nacionalidade? Eles pelo menos querem me conhecer?

— É claro que eles querem te conhecer, Nando — ela continuou, colocando as duas mãos no rosto dele. — Eles já te amam só por me fazer feliz como você faz.

Os olhos sempre tão sorridentes de Fernando tinham uma tristeza aparente que Sunny não se lembrava de ter visto outra vez, nem mesmo quando eles se despediram da família do jogador no aeroporto de Barcelona.

Ele colocou as mãos em cima das dela, tirando-as delicadamente do seu rosto, negando.

— Então é você. Por que você não me deixa conhecê-los, Summer? — perguntou, engolindo em seco. — Você conhece toda a minha família. Meu pai, minha mãe, meu irmão, Dios mio, até meus avós te amam... Você sabe tudo sobre todos, você sabe tudo sobre mim... Mas você não me deixa saber tudo sobre você.

A alemã sentiu como se todo o ar tivesse sido colocado para fora dos seus pulmões no momento em que Fernando terminou de falar, soltando as mãos dela que ainda estavam juntas com a dele.

— Você quis me contar tudo isso... — Summer o cortou, negando. — Eu nunca pedi.

A última parte saiu como um sussurro mas atingiu Fernando como um tapa ardido em um dos lados do seu rosto.

Ele estava sentindo uma dor que não podia nem ser comparada a dor que sentiu quando machucou seu joelho meses antes.

Aquela, ele controlaria com analgésicos. A outra, ele sabia que não existia um medicamento efetivo o suficiente para deixá-lo dormir pela noite ou esquecer o que fora dito.

— Por que você está fazendo isso soar como uma coisa ruim? — perguntou, unindo as sobrancelhas em uma expressão de dor que fez com que o coração de Sunny se despedaçasse. — Você está certa. Eu te deixei por dentro de tudo da minha vida porque eu quis. Porque é assim que uma relação tem que funcionar.

Fernando tomou uma grande quantidade de ar antes de continuar a falar, sabendo que precisava de coragem para as próximas palavras.

— E eu sinto muito, Summer, mas se você não está disposta a estar em uma relação e dividir sua vida comigo... Então eu não vejo mais motivos para continuarmos insistindo nisso.

A alemã não escondeu sua surpresa no momento que as palavras dele chegaram em seus ouvidos, seguidas por um silêncio que só era quebrado pelo barulho da respiração pesada dos dois.

— O que isso significa, Nando?

— Significa que você tem que saber o que você quer — murmurou para ela, engolindo em seco. — Se você quer continuar comigo ou... Se você não está preparada para continuar. Eu preciso ouvir de você, então me ligue quando tiver uma resposta — fez uma pausa, negando com a cabeça. — Porque do jeito que estamos, não dá mais para mim.

Fernando falou e sentiu como se aquelas palavras pesassem uma tonelada, levando seu olhar ao chão em seguida, sentindo-se incapaz de encarar os olhos marejados de Sunny.

O próximo passo tinha que ser dela.

Mas Summer não conseguiu interrompê-lo. Não conseguiu achar uma coisa dentro da sua cabeça que fizesse sentido ser falada, não conseguiu dizer qualquer coisa que pudesse convencê-lo que ela queria o mesmo que ele.

Ele se levantou da cadeira que estava sentado, lançando um último olhar para o rosto inexpressivo da alemã antes de dar as costas a ela e ir em direção a porta do loft.

Fernando...

A voz de Sunny saiu baixa, mas foi suficiente para que ele parasse e fechasse os olhos, esperando as palavras que estavam por vir.

Ela só precisava falar.

Qualquer coisa.

Ela só precisava mostrar que se importava e ele podia jurar que correria de volta para seus braços e retiraria todas as palavras que tinha dito antes.

O silêncio seguiu por quase um minuto e Fernando percebeu que não escutaria mais nada. Abriu os olhos, voltou a andar em direção a saída e Summer não teve forças para pedir que ele ficasse.

Não teve coragem de contar tudo o que a angustiava e dizer a Fernando o quanto ele a fazia bem no meio de tanta confusão.

Não teve coragem de abrir a boca e deixá-lo saber como ela o amava e como ela queria estar com ele.

E teve que ouvir o som abafado da porta de madeira batendo assim que ele deixou o loft, junto com o som que ela podia jurar que tinha sido do seu coração se quebrando.


❄❄❄

— Você está melhor?

Pia perguntou, cruzando as pernas no sofá enquanto olhava fixamente para Summer, sentada ao seu lado.

Sunny nem mesmo se lembrava qual tinha sido a última vez que ela tinha chorado copiosamente como tinha feito desde o momento que Fernando deixou o seu loft.

No começo, nem sentiu quando as primeiras lágrimas caíram e os primeiros soluços se fizeram audíveis.

Foi só quando Pia a abraçou, exatamente como sua mãe fazia, que ela desmoronou.

Todo seu corpo tremia enquanto Sunny mantinha seus olhos fechados, apertando o braço da amiga com tanta força que por um segundo até pensou que podia estar incomodando-a.

Pia não a interrompeu por um momento sequer. Deixou que Sunny chorasse por longos cinquenta e dois minutos, apenas acariciando seu cabelo e repetindo, poucas vezes, que as coisas iriam ficar bem.

Ela sabia o quanto Summer precisava chorar para que pudesse tirar pelo menos um terço da tristeza que a tinha preenchido com as palavras de Fernando.

Tratou de preparar dois chás de camomila assim que os soluços diminuíram, colocando um programa de comédia na televisão para que as duas pudessem ver, enroladas em um edredom felpudo.

Pelos seus rápidos olhares, sabia que a atenção de Sunny estava longe dali, mas preferia tentar mantê-la entretida do que tentar conversar quando ela deixava visível que não tinha nenhuma condição.

— Na medida do possível — Sunny murmurou em resposta, fungando. — Obrigada.

— Você sabe que não precisa agradecer por isso — Pia sorriu, mordendo o canto de uma das suas unhas e tomando um tempo antes de continuar. — Você quer conversar sobre o que aconteceu?

Summer respirou pesadamente, engolindo em seco.

Por um lado, queria esquecer tudo o que tinha acontecido e fingir que tudo estava bem, como ela sempre fazia. Por outro, queria a opinião de Pia. Queria que a amiga, com mais experiência que ela com relacionamentos, a dissesse se aquele realmente tinha sido um ponto final em uma história que ela não estava pronta para se despedir.

— Talvez seja melhor assim — falou, limpando as lágrimas teimosas que ainda restavam em seu rosto. — Eu não posso ser a pessoa que ele precisa e merece ao seu lado agora.

Pia tomou mais um gole do seu chá e deixou a xícara na mesa da sala antes de falar, negando.

— Sunshine, você sabe falar isso não vai te fazer sentir isso, não é? — questionou, sorrindo sem mostrar os dentes. — E você não precisa fingir que é assim que você realmente se sente. Não pra mim.

A outra assentiu, passando os dedos nos cantos dos olhos assim que percebeu que as lágrimas estavam voltando com força total.

— Eu não quero tornar tudo pior, mas você e Fernando... Mein Gott, Sunny. Não tem como você não perceber o quanto você brilha ao lado dele e o quanto ele te faz feliz.

Summer fechou os olhos, sentindo o coração apertar mais um pouco à medida que os últimos meses passavam pela sua cabeça.

Como não pensar em como Fernando a fazia se sentir quando eles estavam juntos?

Por todas as vezes que ela fugia dos braços dele para dar um telefone aos seus pais, recebia notícias ruins de Viktor e sentia o coração apertar, se sentindo bem melhor quando voltava para a cama e os braços de Fernando a abraçavam, lembrando que ele estava ali...

Ele esteve ali por ela durante todo o tempo.

Ele e a eterna sensação de que tudo daria certo que sempre o acompanhava. A sensação que Sunny tanto tinha gostado de encontrar em alguém, com os olhos castanhos mais bonitos que ela já vira.

Como ela desejava que a noite tivesse tido um outro fim...

— Está feito, Pia — respondeu, sentindo os olhos encherem de lágrimas de novo enquanto ouvia a amiga falar. — Eu o deixei ir...

— E você é a única que pode fazê-lo voltar — interrompeu, negando. — Está nas suas mãos agora.

— O que torna tudo tão mais difícil.

— A vida é difícil, sunshine, mas você não precisa complicar isso ainda mais. É sua vez de dar um passo, ele está esperando por isso... Ou você realmente acha que ele ficou bem depois de falar tudo isso?

Pia negou, vendo Sunny fungar enquanto desviava seu olhar para a janela de vidro do seu loft, tentando evitar que as lágrimas voltassem com força total.

Se Nando estivesse sentindo metade da dor do que ela sentia naquele momento, já era dilacerante o suficiente.

A alemã realmente achou que após o diagnóstico do seu pai nada mais conseguiria tirar o seu chão. Acreditava nisso até colocar os olhos na expressão machucada e desacreditada que Fernando a lançou antes.

Não fazia ideia quando ia conseguir se apoiar em algo firme novamente.

— Não é o melhor momento para perguntar isso, mas eu não consigo mais esconder minha curiosidade. Me diga por que não quer contar para o Fernando do seu pai — Pia falou, olhando diretamente para Sunny. — Não deixe nenhum detalhe de fora.

— É complicado — murmurou, puxando o ar. — Fernando... Ele se envolve completamente e eu não queria que isso se tornasse um problema para ele também, ou que... eu me tornasse um problema.

Schäfer assentiu repetidas vezes, assimilando o que tinha acabado de ouvir de Summer. Suas palavras pareciam verdadeiras, mas diferente do que ela tinha pedido anteriormente, tinha uma impressão de que Sunny tinha deixado algo grande de fora.

O verdadeiro motivo.

— Posso falar o que eu acho, sunshine? — Pia questionou, estalando a língua quando a amiga assentiu. — Você está sempre tomando conta de todo mundo. Você veio a Munique quando achou que seus avós precisavam de você e nem fale que foi só pela faculdade, você podia muito bem ter se formado em Dresden.

Summer desviou o olhar para suas unhas, o esmalte vermelho já completamente descascado nos últimos minutos de nervoso.

— A primeira coisa que você pensou quando descobriu a doença do seu pai foi em voltar para Dresden, para ficar com ele — continuou. — Tudo isso diz muito sobre você e isso não é uma coisa ruim, Sunny, de verdade — fez uma pequena pausa e sorriu. — Aí você conheceu Fernando, e de repente ele não era alguém que precisa dos seus cuidados, mas alguém que queria cuidar de você. Não estava acostumada com o jogo virando, não é?

As palavras pegaram Summer de surpresa e ela deixou um pequeno sorriso escapar dos seus lábios, junto com as lágrimas que já enchiam seus olhos novamente.

Aos 9 anos de idade, a pequena Kaufmann resolveu comprovar sua independência máxima para aquela fase e se livrar das rodinhas da sua bicicleta de pompons cor de rosa. Não avisou a ninguém, nem mesmo ao seu pai, e a sua primeira reação após levar o maior tombo da sua vida e machucar o pé, foi gritar a pleno pulmões a todos que tentavam ajudá-la que 'ela podia fazer aquilo sozinha'.

Bastou se arriscar a dar um passo para perceber que algo estava fora do lugar e um orgulho ferido para pedir colo ao seu pai.

Duas horas no hospital e as notícias não eram as melhores para a pequena que passou quase três meses com um gesso sem graça que a recordava da sua aventura frustrada.

Essa era a história do seu pé quebrado.

Se parasse para pensar, durante todo o tempo que esteve com Fernando, ela estava gritando que podia fazer aquilo sozinha.

No começo, tinha certeza que o jogador não podia escutar e achou que seria assim até que aquela fase ruim da sua vida passasse, por mais que ela não tivesse nem previsão de quando aquilo aconteceria.

E, enquanto ele falava as palavras mais doídas de se ouvir que Sunny podia pensar, ela percebeu que ele sempre ouviu.

Fernando sempre soube que ela escondia algo e aproveitava dos seus momentos mais espontâneos para pedir, sem realmente usar palavras, que ela confiasse seus segredos a ele. Porque ele queria estar ali para ela.

Seu orgulho, o medo de se entregar completamente a alguém e o receio de derrubar todas suas últimas paredes de frente a Fernando tinham feito com que ela o deixasse ir sem dizer a ele como tê-lo ao seu lado era a única coisa que a mantinha em pé.

E essa era a história do seu primeiro coração partido.

— É isso também, não é?

Summer assentiu, fechando os olhos e deixando que as lágrimas voltassem a correr livremente pelo seu rosto, sem se preocupar em escondê-las.

Na verdade ela estava cansada de sempre guardar tudo para si.

— É difícil pra mim também — Sunny falou, subindo o olhar para Pia. — A parte do relacionamento. Fernando nunca me cobrou, mas eu sei que é preciso que nós dois sejamos sinceros um com o outro... E eu não fui com ele.

— Você não foi sincera com essa parte da sua vida, mas não se culpe demais. Eu tenho certeza que você sempre deixou claro o quanto ele é importante para você...

— Talvez não o suficiente — murmurou mais para si mesma do que para a amiga, passando as mãos pelo rosto. — Eu preciso de um tempo para pensar e colocar a cabeça no lugar.

— Eu estranharia se você não precisasse, sunshine — Pia sorriu, colocando uma mão no ombro de Summer. — Só se certifique que não vai quebrar Fernando enquanto faz isso. Ele não merece.

— Sei disso — murmurou, passando a língua nos lábios. — Eu preferia sofrer em dobro do que causar qualquer dor nele, Pia... De verdade.

— Então cuidado, pequena — Pia usou o apelido que costumava ser usado por Lilie, colocando uma de suas mãos em cima de uma das de Sunny. — Porque pelo o que eu pude perceber, ele já me parece muito magoado.

— Eu sei — assumiu, concordando. — Mas nós vamos ficar bem. Ele merece isso... Nós merecemos isso. Não é o fim.

Pia assentiu enquanto Sunny falava, abraçando-a em seguida.

Não era o fim. Não podia ser.

Era só uma oportunidade que eles teriam de começar de novo.

Tinha que ser.


❄❄❄

O apito final do jogo coincidiu com um suspiro aliviado de Fernando Navarro.

Quando o som soou por todo o campo ele desacelerou da briga pela bola que travava, colocando as mãos na cintura enquanto ouvia os aplausos empolgados da torcida presente no Südostenstadion.

Ele adorava aqueles momentos.

Perdia seu olhar na mistura de rostos e pessoas de roxo, divididos em aplaudir os jogadores que estavam em campo e cantar empolgadamente o grito de guerra do time lila.

Nunca tinha pressa para deixar o campo, cumprimentando os companheiros e os adversários, parabenizando-os pela boa partida e recebendo vários elogios de volta. Depois, como dizia no protocolo, seguia até a torcida para agradecer pelo apoio junto com o time e o mascote.

Aquele sábado em específico, Fernando passou mais tempo que o normal em campo.

A maioria dos seus amigos já tinham ido ao vestiário e os torcedores já começavam a se direcionar para as saídas superlotadas do estádio, mas ele continuou lá.

Observando tudo de longe, sentado em uma das cadeiras da cabine dos reservas, com uma garrafa d'água na mão que era apertada por ele vez ou outra.

Precisava de um tempo em paz para pensar.

E por mais que um estádio de futebol fosse a imagem contrária de paz, era ali que Fernando escolher ficar.

O jogo tinha sido bom.

O foco e a fome de bola tinham sido muito eficazes em fazê-lo retirar Summer da cabeça por todo o tempo de disputa, mas era incontestável a facilidade que a imagem dela tinha de voltar para sua mente.

Se perguntava se ela tinha chegado a assistir à partida, comemorado o resultado de cinco a um sobre o Schalke 04 e se sentindo orgulhosa da perfeita assistência que ele tinha dado para um dos gols, apesar de que poderia ter feito, se quisesse.

Preferiu fazer o que sempre fazia e entregar no pés de Luka, para que ele pudesse enfiar dentro do gol e apontar diretamente para Nando depois.

Enquanto abraçava Luka Bahr, percebeu que aquele gesto era algo que Sunny faria, como era de costume. Colocar as pessoas a sua frente e se fechar em uma concha inabalável quando se tratava de si própria.

E lá estava ele de novo, lembrando da mulher que tinha o oferecido apenas o silêncio um dia antes.

Por uma imensidão de vezes, Nando pensou em confessar que a amava.

Era isso que ele sentia por Sunny, e já sabia disso há algumas noites.

Mas não pareceu justo.

Não pareceu justo que ele jogasse todos os sentimentos para cima da alemã em um momento que ela soava tão sensível. Mesmo que também não fosse justo que ela o deixasse ir sem receber uma palavra sequer de volta.

— Fernando?

Moncho apareceu na porta do túnel do estádio, arqueando uma sobrancelha assim que viu o jogador sozinho por ali.

— Tudo bem? — perguntou, recebendo um rápido aceno de cabeça como resposta. — Nós estamos pensando em ir para algum lugar para comemorar a vitória, o que acha?

Fernando olhou mais uma vez para o céu estrelado antes de desviar a atenção para Moncho, que esperava sua resposta com um semblante confuso no rosto.

— Não estou no clima — respondeu, esticando as pernas e deixando a garrafa cair das suas mãos no gramado. — Vou pra casa, descansar... Foi um jogo puxado. E nós temos Champions próxima semana.

— Sério? — Ramírez pareceu surpreso, dando alguns passos e se sentando ao lado do amigo. — Fale com a Sun, quem sabe você não se anima? Angie quer vê-la.

Oh, Summer.

Por que ela não tinha ligado para ele? Nem dado qualquer sinal de vida?

O jogador se quebrava todas as vezes que olhava seu celular e o nome dela não estava na tela.

Nunca imaginou que o silêncio pudesse doer mais que as palavras, mas tinha aprendido nas últimas doze horas que ele era dilacerante. E nem sabia por quanto mais tempo conseguiria fingir que tudo estava bem.

— Ela está em Dresden — falou seco, pigarreando em seguida. — Eu acho...

— Vocês brigaram, guapo? — Moncho questionou, juntando as sobrancelhas. — Eu tenho certeza que foi algo de momento.

— Talvez... Vamos descobrir isso logo.

Deu de ombros e Moncho, por conhecer Fernando há anos, sabia que era a única coisa que iria conseguir tirar dele.

— Mas você vai ficar bem? — Moncho perguntou após um tempo em silêncio, vendo Fernando assentir. — Me ligue se você precisar de qualquer coisa. E ah, Greco precisa de uma carona, tudo bem para você levá-lo?

Ja — confirmou, assentindo novamente. — Diga a ele que já estou indo.

Moncho encarou o amigo por mais alguns segundos antes de deixar o campo, sabendo que por trás do semblante despreocupado e do mínimo sorriso no rosto havia uma imensidão de sentimentos que ele não conseguia ler.

Os anos se passavam e Fernando Navarro continuava o mesmo.

Calmo e tranquilo pela superfície.

Mas como o mar, isso não refletia o que acontecia em suas profundezas.

Olhou para o céu mais uma vez, entrelaçando seus dedos e apoiando seu rosto em suas mãos. Soltou o ar que prendia devagar, observando a nuvem de vapor se formar em frente ao seu rosto.

Não escondeu o sorriso que preencheu seus lábios quando se recordou de uma tarde que ele e Sunny tinham passado no Schlosspark Nymphenburg, escorregando na neve, arremessando bolas como em um velho filme americano e observando o mesmo vapor sair da boca dos dois, antes da alemã explicá-lo porque aquilo acontecia, com suas bochechas vermelhas e seus lábios roxos.

E aos poucos, o sorriso foi sumindo do seu rosto, dando lugar para uma expressão machucada assim que ele percebeu que aquilo era uma lembrança.

Apenas uma lembrança, em que a risada de Sunny não soava tão bem quanto no dia que viveram, que ele não conseguia sentir o cheiro de chá verde e gengibre dos cabelos dela e nem sentir aqueles mesmos lábios congelantes contra os seus.

Fechou os olhos.

E a voz, o toque e as cores de Summer foram desaparecendo da sua cabeça.

Quando tornou a abrir, sentiu pequenas gotas geladas caírem em sua pele, pequenos flocos de neve fora de hora que já começavam a esconder a grama verde do campo de futebol e derretiam em contato com a sua pele.

Era como se o universo estivesse pregando uma peça, trazendo neve a cidade como se o frio que ele sentisse já não fosse o suficiente.

Só para fazê-lo perceber mais uma vez como ele sentia falta do seu raio de sol.

— Não faça isso comigo, Sunny — Fernando murmurou, engolindo em seco. — Não me deixe sozinho.

A única que podia ouvi-lo naquele momento era a lua, mas Nando desejava que, de alguma forma, sua Sunny recebesse sua mensagem.

Ele precisava dela, e estava ansioso para o momento que ela iria se dar conta de que precisava dele também.

Nem mesmo imaginava que Sunny sabia disso desde o primeiro sorriso, dos olhos e dos lábios, que recebeu dele.

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