13. Not About Angels
A primeira coisa que Summer Kaufmann percebeu quando acordou naquela manhã de dezembro, foi que estava sozinha na cama.
Tateou o lado direito do seu colchão, que virou o lado de Fernando algumas semanas antes, e sentiu-se decepcionada ao encontrar apenas o vazio e cobertas emboladas.
A segunda coisa foi o cheiro agradável que ela sentiu assim que se levantou, detectando pelos barulhos de panela que vinham da cozinha onde estava o fugitivo que procurava.
A neve que caia em Munique desde a segunda semana do último mês do ano se acumulava no batente da janela de vidro do apartamento e a temperatura negativa fazia com que a vontade de Summer fosse voltar para a cama e passar o resto do dia lá.
Só teria que resgatar a sua companhia antes e convidá-lo para se juntar a ela e aos lençóis quentes e fofinhos por pelo menos mais alguns minutos, já que seria um dia cheio para os dois.
— O que você está fazendo? — Summer perguntou enquanto descia as escadas do seu pequeno loft, abraçando o próprio corpo na tentativa de se aquecer. — É cedo.
— Café e tentando não acabar com sua cozinha. O que parece que eu estou fazendo? — Fernando falou antes de jogar uma panqueca para o ar, se esforçando para pegá-la com a frigideira quando ela já fazia seu trajeto em direção ao chão. — Guten Morgen, cariño.
Summer riu, andando em direção ao jogador e abraçando-o pela cintura, depositando um selinho demorado em seus lábios.
Não conseguia se recordar quando foi que a presença de Fernando Navarro no seu espaço se tornou tão rotineira.
Na primeira de várias noites que eles passaram juntos, no final de outubro, Fernando teve que deixar o apartamento de Summer na manhã seguinte vestindo as roupas temáticas da Oktoberfest, recebendo segundos olhares por todo o trajeto até sua casa como se todos soubessem exatamente o que tinha acontecido ali.
Aos poucos suas visitas ao pequeno loft em Nymphenburg ficaram tão frequentes que ele já tinha deixado metade do seu guarda-roupa ali, com a desculpa de que demoraria muito mais tempo para voltar a sua casa e ir até o centro de treinamento em Säbener Strasse, em comparação a sair para os treinos direto do apartamento de Sunny.
Essa era uma boa história inventada por ele e aceita pela alemã para que ainda não precisassem se comprometer com a verdade: os dois gostavam tanto da companhia um do outro que queriam aproveitá-la ao máximo, já que Fernando tinha voltado aos campos e viajava frequentemente para cumprir a agenda dos jogos do Eintracht München.
— Guten Morgen, Nando — Summer murmurou ainda com os lábios colados com os dele, se afastando para olhar para a mesa do café cheia em seguida. — O que nós temos hoje?
— Hmmm, waffles queimados porque eu acabei me esquecendo deles, panquecas americanas porque foi essa receita que consegui achar na internet e pão na chapa — enumerou, segurando uma espátula que ia de um lado para o outro enquanto ele falava. — Receita da família.
— Nada mau — ela sorriu, tirando a espátula da mão dele e colocando na pia. — Por que você fez tudo isso?
Fernando fingiu confusão em um primeiro momento, fazendo com que Sunny apertasse os olhos em sua direção.
— Você me disse que não gostava de cozinhar uma vez — Summer explicou, pigarreando em seguida. — Apesar de ter muitas receitas boas.
— Dios mio, você se recorda de tudo o que eu te falo? — brincou, a abraçando pela cintura e encarando seus olhos azuis. — Você me disse que esse é o dia mais estressante do ano. Eu pensei que começar com um café da manhã na cama poderia melhorar isso, então é bom que você volte para lá antes que eu acabe por aqui.
— Dios mio, você se recorda de tudo o que eu te falo? — repetiu o que ele tinha dito antes, rindo antes de morder o lábio inferior, estudando os olhos castanhos dele de volta. — Obrigada Nando, mas só dessa vez nós podemos usar a mesa.
Piscou sorrateiramente para ele, deixando um selinho nos seus lábios antes de ajudá-lo a colocar todos os pratos na bancada que separava a cozinha da sala, se acomodando em uma das cadeiras de madeira e esperando até que o jogador fizesse o mesmo.
— Qual é o planejamento do dia? — Fernando perguntou ao se sentar, juntando as mãos e observando atento os movimentos de Sunny. — Você deve estar muito animada para a visita.
Summer sorriu assim que ele falou, enquanto colocava o café na sua xícara.
Vinte e dois de dezembro era o dia circulado em qualquer calendário que pertencia a alemã, mas ela não conseguia esconder de Fernando que não era só animação que a preenchia.
— Eu estou... — respondeu, levantando o olhar para ele. — Mas uma pequena parte de mim está aterrorizada. É a primeira vez que faço isso sozinha, Nando.
A primeira vez que seu avô, Frederich, a levou para uma primeira visita de natal às instituições que ajudava, ela tinha oito anos. A pequena Sunny não entendia porque era véspera de natal e o abrigo de idosos estava tão cheio, perguntando aos seus avós mais tarde porque aquelas pessoas não estavam comemorando com a família.
Naquela noite, o patriarca da família Kaufmann disse a ela que eles estavam sim com a família. Um tipo diferente de família, aquela que tinha sido responsável por estender a mão para todos que estavam ali.
Foi ali que ela percebeu que um dia queria estender a mão a outras pessoas também.
Desde aquele dia ela tinha passado mais treze natais em companhia dos avós fazendo visitas, o último deles já com seu Opa muito debilitado mas insistindo que eles precisavam ir uma última vez, como se estivesse sentindo que quatro dias depois ele já não estaria mais presente, nem mesmo para vestir o suéter de lã que tinha ganhado de presente de natal.
Aquela seria a décima quarta visita de Summer e sua primeira sem a companhia das duas pessoas que idealizaram todo o projeto de caridade que a Das Versteck promovia todos os anos. E para completar, ainda era seu primeiro natal sem seus avós.
Até poderia culpar sua tpm ou seu inferno astral, mas as lágrimas que vez ou outra preenchiam seus olhos nos últimos dias tinham outros motivos.
— Você sabe que não está sozinha. Eu estarei lá com Lilie, — continuou, acariciando as bochechas dela com seu polegar. — Nunca vai estar.
Ela concordou, colocando sua mão em cima da dele e fechando seus olhos, aproveitando o calor que o jogador a passava.
A única coisa que fez seu dezembro ser tão brilhante quanto as luzinhas do pisca-pisca que enfeitava a árvore de natal do seu apartamento atendia por Fernando Navarro.
Ele a ajudou em todo o processo de planejamento da visita a caridade que eles fariam, fazendo listas e listas de coisas que eles precisavam providenciar, com direito a ligações tarde da noite para contá-la uma ideia genial para o entretenimento para as crianças.
Sempre soube que natal era a época do ano de agradecer, mas nunca conseguiria expressar a gratidão que tinha pelo futebolista.
— Eu sei e eu preciso te agradecer por isso — sorriu, abrindo os olhos para encará-lo. — Mas nós não temos muito tempo aqui, Lilie deve estar chegando de Stuttgart a qualquer minuto. Nós estamos com os presentes e precisamos passar no café para pegar as encomendas, passar no seu apartamento para pegar os cartões autografados e ir.
— Nós não vamos ter nem um tempinho no meio dessa correria para um beijo de verdade diferente dos selinhos de bom dia? — Nando questionou, arqueando as sobrancelhas. — Uma despedida antes que eu vá para Barcelona?
— Posso pensar no seu caso, Fernando — Sunny fingiu seriedade, colocando ambas as mãos no rosto dele e juntando seus lábios.
O jogador aproximou sua cadeira da dela, puxando a camisa branca que ela vestia, que deveria ser dele, para trazer seu corpo mais próximo de si. Ela já tinha as mãos no pescoço dele quando o som da campainha soou por todo o apartamento, fazendo com que Summer empurrasse Nando com pressa.
— Deve ser a minha irmã — sussurrou, penteando os cabelos com as mãos e passando a língua pelos lábios. — O que ela está fazendo aqui? — perguntou para si mesma, negando.
— Qual a melhor maneira de conhecer a cunhada? — Nando sussurrou de volta com os lábios completamente vermelhos, fazendo Summer se questionar se os seus estavam da mesma forma.
— Não sem roupa — Sunny falou, levantando-se rapidamente e arrumando seu pijama. — Vista algo.
— Eu estou vestindo um short de treino — o jogador falou como se fosse óbvio, olhando para a porta assim que a campainha tocou novamente. — Você deveria atender.
Summer concordou assim que o viu pegar uma camiseta esquecida no dia anterior pelo sofá, arrumando suas roupas uma última vez antes de abrir a porta.
— Você não é quem eu esperava que fosse abrir a porta — Lilie falou assim que viu a irmã, com os olhos curiosos já varrendo o apartamento. — Onde está ele?
— Eu estou feliz em te ver também, irmã — Sunny falou assim que a irmã mais velha entrou, abraçando-a rapidamente. — Não sei quem você estava esperando...
— Espanhol-Brasileiro-Italiano, sotaque latino, caliente, jogador e o nome que você já falou mais vezes que o meu, levando em consideração que nós somos irmãs — Lilie frisou a última parte, sorrindo assim que colocou os olhos em Fernando. — Você!
— É um prazer te conhecer, Lilie — Nando arranhou no alemão, abraçando-a rapidamente com um enorme sorriso no rosto. — Uau, vocês são muito parecidas.
As duas loiras riram juntas, fazendo com que o jogador ficasse ainda mais confuso. Os olhos da Kaufmann mais velha eram definitivamente mais claros do que os que ele já estava acostumado em observar toda vez que acordava, mas as semelhanças entre as duas eram tão claras que nem havia dúvida de que eram irmãs.
— O prazer é todo meu. Falam isso muito, mas você só vai precisar de dez minutos na presença das duas para perceber que somos completamente opostas — Lilie explicou, checando as horas em seu relógio de pulso. — Eu já preciso ir, Andreas está me esperando lá embaixo, eu só passei para dizer hallo para os dois. — Piscou de forma culpada para a irmã mais nova, fazendo-a rolar os olhos. — Os presentes já estão no seu carro, sunshine?
— Uhum — Sunny concordou. — Nós só vamos tomar café, um banho e já vamos para lá.
— Tudo certo, então — Lilie sorriu, já se encaminhando para a porta do apartamento. — Vejo os dois em alguns minutos, então. Foi realmente um prazer, Fernando.
— Digo o mesmo — o jogador sorriu de forma radiantes, fazendo com que Summer sorrisse junto.
Fechou a porta de madeira com calma, ouvindo um pequeno riso vindo do jogador, parado atrás de si.
— Então você fala muito de mim? — Fernando provocou, arqueando uma sobrancelha.
Sunny sentiu suas bochechas esquentarem e rolou os olhos, tentando fugir do olhar do jogador assim que se virou, lentamente.
— Não comece... — falou timidamente, sabendo que sua expressão a entregava.
— Está tudo bem — Fernando falou enquanto ria, abraçando pela cintura. — Porque meu irmão vai falar exatamente a mesma coisa quando te ver... E eu não vou nem perder tempo tentando negar.
♡♡♡
— Por que você fala diferente, Onkel Fernando?
— Ele tem sotaque porque ele não é daqui, não é Onkel Fernando?
— De onde você é, Onkel Fernando?
As vozes se misturavam e se confundiam, fazendo Fernando Navarro ter dificuldade para descobrir quem falava o quê e responder a todos. A pequena rodinha de doze ou treze crianças que tinha se formado ao redor de si continuava com conversas atropeladas, fazendo-o desistir de puxar o ar para responder um por um e apenas continuar sentado, sorrindo e passando os braços por duas crianças que tinham se acomodado em suas pernas.
— Uma por vez, crianças — Lisa, a responsável pela instituição, falou mais alto, fazendo com que a maioria das vozes cessassem. — Vocês vão deixar o Fernando maluco.
— Nein, nein, nós estamos nos divertindo — Fernando desconversou, utilizando seu alemão amador que começava a aperfeiçoar principalmente pela convivência com Summer. — Vocês estão se divertindo?
A gritaria recomeçou e tanto Fernando quanto as outras pessoas que estavam de voluntários naquela manhã de dezembro riram, voltando a tentar deixar as dezoito crianças que estavam presentes entretidas.
O jogador tinha a atenção de mais da metade delas, mas Summer e Lilie auxiliavam um pequeno grupo a pintar uma tela branca, outro voluntário tocava violão agradando a todos e outros ainda se dedicavam a arrumar a mesa de comidas que foram encomendadas junto com as pessoas que já trabalhavam na pequena instituição que estava enfeitada com decoração de natal desde a entrada.
Alguns pais também estavam presentes naquele dia, já que a instituição era responsável pelo tratamento de câncer das crianças carentes que estavam lá, mas todas elas voltavam para a casa ao fim do dia.
A alegria era nítida no espaço e parecia que a doença das crianças era apenas um pequeno detalhe que era lembrado pela máscara que alguns usavam, ou pelo semblante de abatido de um ou outro.
Perceptivelmente a doença do mal não tinha tirado a felicidade de nenhuma daqueles pequenos, que eram tão graciosos e cheios de vida que todos os voluntários que estavam presentes queriam passar o resto da semana por ali.
— Kinder, está na hora do lanche da manhã — Lisa avisou, batendo palmas para chamar atenção, sorrindo em seguida. — Façam um pequeno intervalo das brincadeiras.
A maioria já tinham em mãos um cartão com a foto do jogador autografado e correram para a mesa de guloseimas assim que foram avisados que podiam atacá-la. Fernando não sentia antes, mas foi só tentar levantar para perceber que suas pernas estavam dormentes pelo peso das crianças que estavam nelas até segundos antes.
Sorriu verdadeiramente ao ver a mão de Sunny em sua direção e não pensou duas vezes antes de aceitá-la, passando as mãos pela roupa para que pudesse desamassá-la.
— Você está se saindo bem com o alemão — Summer comentou, passando um braço pela cintura do jogador quando ele passou o seu pelos ombros dela. — Eu vi que você estava empolgado com a conversa com as crianças.
— Eu pedi para elas repetirem uma coisa ou outra, mas eu acho que melhorei muito — comentou, assentindo. — Elas só acharam engraçado o meu sotaque.
— Mas é engraçado. — Sorriu, passando a língua pelos lábios antes de continuar. — Eu acho que é por causa da sua língua materna, mas você tende a fazer biquinho sempre que vai falar. E sempre com a língua nos dentes...
— Até você, cariño? — Nando fingiu desapontamento, recebendo como resposta um demorado beijo na bochecha.
— Mas é muito fofinho... Só perde para quando você está falando espanhol...
— Irresistível, uh? — o jogador provocou, fazendo-a sorrir.
— Un poquito — foi obrigada a concordar, não demonstrando nenhuma resistência quando Fernando desceu seus braços para a cintura dela e juntou seus lábios. — Deixe isso para mais tarde... Eu preciso da sua ajuda agora.
— Então terá um mais tarde? — questionou com um sorriso malicioso nos lábios, observando-a tirar um papel amassado do bolso. — Bom saber.
— Você está indo para Barcelona para as festas de final de ano, nós podemos ficar um tempo sem se ver... Uma despedida é justo, mas esqueça isso por enquanto — falou autoritária, mas sem esconder o sorriso que surgiu em seus lábios. — Eu estou tentando descobrir o que cada um deles quer de natal, ainda faltam alguns e já está quase na hora dos presentes. Me ajuda?
— Você está tentando descobrir o que eles querem receber? — Fernando confirmou, vendo-a assentir.
— Ja — sussurrou para o jogador, suspirando. — Eu não quero que uma pequena receba uma boneca quando ela queria muito uma bola, então eu tento achar entre os presentes que nós compramos o que mais se parece com o pedido. Só preciso de uma pequena mãozinha.
Fernando olhou para a lista amassada que ela tinha em mãos com todos os nomes das crianças escritos, mais da metade deles já riscados. Logo seu olhar subiu para o rosto dela, que olhava atentamente para o papel e um sorriso surgiu em seus lábios quando isso aconteceu.
Seus fios loiros estavam bagunçados provavelmente pelas crianças que ela pegava no colo de vez em outra, o batom já não estava mais em seus lábios e suas bochechas estavam naturalmente rosadas pelo frio que vencia o aquecedor daquele lugar.
A beleza de Sunny, porém, não era exatamente o que chamou a atenção de Fernando.
Foi o modo que ela estava totalmente comprometida com o projeto, fazendo questão de fornecer a cada criança um pouco de felicidade no natal. Também, a maneira que ela brilhava e parecia realizada com toda a manhã que eles estavam tendo, não mostrando nem um pingo de cansaço pelas horas em pé e com um sorriso no rosto que ele sabia que era o mais verdadeiro que já tinha visto.
Quando ele achava que já estava completamente envolvido nos dedos da alemã, ele descobria que ainda havia como se apaixonar mais.
Passou tanto tempo observando-a que Sunny achou que tinha algo errado, juntando as sobrancelhas assim que voltou o olhar ao jogador.
— Tudo bem? — perguntou, passando as mãos pelo rosto para ter certeza de que não tinha restado nenhuma tinta com que as crianças brincavam mais cedo por ali. — O que foi?
Fernando negou sorrindo, puxando-a para um abraço e deixando um beijo demorado no topo da sua cabeça. Sunny não se incomodou com a presença de desconhecidos na sala, fechando os olhos enquanto sentia o corpo dele abraçar o seu.
Era o maior conforto que ela iria encontrar naquela manhã fria.
— Eu estou muito orgulhoso de você, e... É um prazer poder conhecer essa sua parte. Eu sei que hoje não é um dia fácil para você, mas você está se saindo muito bem. — Retirou alguns fios de cabelo do rosto dela, enquanto encarava seus olhos azuis como o mar começarem a encher de lágrimas. — Tudo isso que você montou com sua família é incrível, Sunny. E eu sei que já disse isso trezentas vezes, mas você é incrível.
Foi olhando os olhos castanhos de Fernando naquele final de manhã de dezembro que Summer deixou que suas barreiras fossem ao chão, não limpando assim que a primeira lágrima cruzou seu rosto.
— Scheiße, eu não deveria chorar na frente das crianças, é pra ser um dia de alegria aqui — murmurou baixinho para que só Nando escutasse, que usou seu polegar para secar as lágrimas.
— Mas eles estão felizes, Sunny. Seu trabalho incrível fez com que essas crianças tivessem um natal maravilhoso — falou a ela, deixando que um sorriso escapasse dos seus lábios.
— Eles são tão pequenos e carregam um peso tão grande como essa doença... Eu fico feliz de poder ter feito qualquer coisa que possa ajudá-los — Summer falou antes de fechar os olhos e respirar fundo. — Ter oportunidade de fazer isso é a melhor herança que meus avós me deixaram e eu queria que eles tivessem aqui para ouvir isso.
— Eles sabem... — Fernando falou antes de abraçá-la, deixando que ela escondesse seu rosto no ombro dele. — Eu não tenho dúvidas disso.
Summer limpou o canto dos seus olhos antes de soltar o jogador, sentindo que tinha tirado um fardo muito pesado das suas costas quando finalmente deixou que as lágrimas escorressem e resolveu falar dos seus avós a Fernando.
Era algo que apertou seu coração pelos últimos meses do ano assim como a doença do seu pai e a única pessoa com quem ela conseguia esquecer isso, e todos seus outros problemas, era ele.
Presente desde o primeiro dia.
E fazendo tão bem a Sunny que ela nem conseguiria explicar.
— Vamos passar mais alguns minutos com as crianças e aí você vai me deixar te levar para casa — Nando falou enquanto tinha as duas mãos no rosto dela, fazendo-a assentir em resposta. — Você já está melhor?
Summer assentiu com os lábios apertados em uma fina linha, recebendo mais um abraço de Fernando e vários beijos carinhosos do jogador em seus cabelos loiros.
Não demorou muito até que eles entrelaçassem seus dedos e se infiltrassem de volta a mesa das crianças e dos voluntários, ajudando a servir o bolo e repassar os cupcakes com enfeites natalinos entre as crianças da instituição.
Fernando permaneceu durante todo o resto da visita ao lado de Summer após perceber que naquele fim de ano ela precisava de alguém que estivesse lá por ela.
E se dependesse de sua vontade, o jogador sempre estaria lá para ela.
♡♡♡
— Nein, José! Eu estou muito cansada para brincar com você hoje!
Summer falou assim que destrancou a porta da casa de Fernando e o enorme labrador marrom colocou as duas patas nas coxas dela, balançando o rabo de um lado para o outro com a animação de revê-la.
— Oh, José... Quando foi que eu te perdi, amigo? — Fernando murmurou assim que o labrador começou a cheirar seus sapatos, depois de cumprimentar Summer. — Eu sou sua segunda opção agora.
— Não é verdade — Sunny riu antes de jogar as sacolas que tinha em mãos no chão, jogando-se no sofá, fazendo com que José apoiasse as patas no móvel, clamando por atenção da alemã. — Ok, talvez seja verdade.
Ela acariciou as orelhas do cachorro algumas vezes antes de arremessar uma bolinha de tênis dele que estava perdida pelo chão, ganhando tempo para que pudesse se desfazer dos seus sapatos antes que Nando se deitasse no sofá junto com ela.
Os dois estavam exaustos.
Era resultado de lidar com dezoito crianças animadas que corriam de um lado para o outro sem parar e comemoravam o que geralmente era o feriado favorito dos pequenos.
Ao mesmo tempo, sentiam-se renovados.
Esquecendo que tinham passado o dia todo em pé, recordando-se apenas do bem que eles tiveram a chance de proporcionar aos pequenos. E era isso que importava.
Quando deixaram a instituição, após muito ouvir pedidos de 'fica' dos pequenos, ainda saíram para almoçar com Lilie e depois foram explorar um pouco de Munique com a irmã de Summer e Andreas, seu noivo.
Passaram uma tarde divertida que fora interrompida por uma rápida visita ao cemitério da cidade, onde os quatro deixaram flores para Frederich e Genevieve Kaufmann. Ao contrário de mais cedo, a lembrança não trouxe lágrimas a tona, mas sim um sentimento de felicidade que soava muito como se os próprios avós de Sunny e Lilie estivessem, do céu, agradecendo-os pela tarde.
O passeio turístico foi muito agradável, mas a exaustão de só terem chegado à casa do jogador, quando o sol já não estava mais no céu bateu assim que eles estacionaram, junto com o lembrete que Fernando tinha um voo para pegar às quatro da manhã com destino a Barcelona.
O que deixava uma pequena brecha de tempo para os dois se despedirem.
— Nós podemos pular o restaurante? — Sunny pediu assim que se acomodou no sofá, com metade do corpo de Fernando em cima do seu. — Podemos pedir algo.
— Leu minha mente — Nando concordou, segurando o queixo da mulher que estava embaixo de si e grudando seus lábios. — Eu estou tão cansado. Juro que as crianças exigiram mais de mim do que um treino pesado de Afonso Reina.
Ainda não era a noite do natal, mas as luzes do pisca-pisca da árvore de natal criavam um clima especial graças a pouca iluminação do lugar. Fernando usou do ambiente favorável para aproveitar o último dia em Munique com Sunny, colocando uma de suas mãos no cabelo dela e bagunçando seus fios sem nenhum pudor.
Nos seus melhores planos para a noite, ele ficaria naquela posição até a hora do seu voo e se negaria a deixar Summer antes disso.
Quem diria que ele estaria finalmente desejando passar mais tempo na gélida Munique?
— Eu só quero um banho e dormir, mas primeiro... — Nando quebrou o beijo, levantando levemente seu rosto para que Sunny não alcançasse seus lábios. — Eu quero te dar seu presente.
Summer suspirou, empurrando-o para se sentar no sofá antes que ela fizesse o mesmo.
— Eu falei sem presentes — falou entredentes, penteando os cabelos que tinha sido bagunçado pelas mãos de Fernando. — Você me deu um cheque de três mil euros para a caridade dois meses atrás, Nando. Esse foi o meu presente.
— Eu sei que você disse sem presentes mas... Eu já tinha algo em mente — murmurou, roubando um selinho dela antes de se levar em um pulo e sumir pelas escadas do loft de Sunny.
Ela teve um segundo para rir sozinha da teimosia de Fernando, arrumar as almofadas do seu sofá que estavam esparramadas pelo chão e desamassar sua roupa com as mãos, antes dele voltar a sala com uma pequena caixinha em mãos.
— É simples, mas me lembrou de você — o jogador explicou antes de se sentar novamente ao lado dela, passando-a a pequena caixinha. — Feliz navidad, cariño.
Summer não consigo prender o sorriso, deixando um beijo carinhoso nos lábios dele antes de se voltar para o seu presente.
Livrou-se da embalagem em um segundo, colocando a pulseira de ouro nas mãos antes de perceber que nela estava pendurada vários pingentes delicados com formato de flocos de neve.
— É uma metáfora para o seu nome e para o efeito que você teve na minha vida — Nando explicou, com os olhos presos no rosto dela. — Você me fez sentir o calor que eu sentia em casa.
As bochechas de Summer ficaram vermelhas com a fala dele, entregando a pulseira na mão de Fernando para que ele pudesse colocar em seu braço.
— Obrigada — murmurou assim que ele terminou de fechar, balançando para ver os flocos de neve sacudindo de um lado para o outro. — Ela é linda. E se eu tiver que explicar o que você foi pra mim... Você trouxe o calor de volta a Munique antes do fim do inverno. Obrigada por isso também.
Ela tinha escolhido aquele momento específico para ser completamente honesta com Fernando, já que tinha tido uma pequena briga com sua consciência dias antes que ela deixaria ele saber o quanto ele era importante antes de sua viagem para Barcelona.
E não foi difícil, da mesma maneira que nada parecia ser difícil com Fernando.
Nem mesmo a parte de ter um relacionamento, o que costumava assustar Summer.
Ele a beijou novamente, impulsionando seu corpo em direção ao dela e não tendo nenhum problema em se livrar dos seus tênis enquanto fazia isso. Suas mãos já se atreviam a invadir a blusa de Summer, dedilhando as suas costas de uma forma que fazia a sensação de ter muitas roupas entre os dois ser incômoda.
— Só uma coisa — Sunny murmurou, empurrando-o levemente antes de se levantar do sofá, indo até a árvore de natal enfeitada do seu apartamento. — Eu tenho algo para você também.
— Sem presentes — Nando ironizou, recebendo um tapa fraco dela no ombro, antes de observar a pequena caixinha preta que ela tinha em mãos.
— Eu sou péssima para presentes, mas eu tive a ajuda do seu irmão — Summer explicou enquanto se sentava, entregando-a para o jogador em seguida. — Frohe Weihnachten. Espero que você goste.
Quando Nando abriu, sua primeira visão foi a de uma pequena medalha religiosa e ele precisou puxá-la para perceber que era um escapulário. Colocou no seu pescoço, pegando uma das duas medalhas em mãos para observar melhor, sorrindo ao voltar o olhar para Summer.
— Para te proteger todos os dias — Sunny murmurou baixinho, como se eles tivessem alguma companhia que não fosse a da lua no céu.
— Obrigado — Nando sussurrou de volta, não precisando falar mais nenhuma palavra para que a alemã percebesse, pelo brilho em seus olhos, que ela tinha gostado do presente. — Eu não consigo acreditar que não vou passar o natal com você.
— Não se importe com isso — Summer respondeu, aproximando seus corpos no sofá e descansando sua mão em cima da dele. — Nós ainda temos toda essa noite. Nós podemos ficar juntos até o momento que você precisar ir.
Ela assentiu quando terminou de falar, juntando as sobrancelhas em curiosidade assim que percebeu que o jogador olhava fixamente em sua direção, com um pequeno sorriso culpado no rosto.
— O que foi, Nando?
— Eu tenho um último presente pra você.
Summer nem pensou em retrucar, ainda processando a última coisa que ele tinha dito e observando de perto o momento que ele colocou a mão no bolso da calça, tirando de lá um envelope bastante amassado.
— Eu passei o dia todo com isso no bolso sem ter coragem de entrar a você e você não precisa me responder agora... Só pense sobre.
A alemão estava com as mãos trêmulas quando colocou as mãos no papel e Nando tentou estudar sua reação enquanto ela o abria.
Ponderou por noites e noite se deveria ou não entregar aquele último presente a Summer, recebendo um empurrão de Diego com o argumento de que a pior coisa que ele poderia ouvir na vida era não. E só isso.
A passagem que estava dentro do envelope era marcada para o último dia do ano e tinha como destino Barcelona. Estava comprada no nome de Summer e naquele momento ela nem se perguntou como ele tinha conseguido acesso a seus documentos.
— Por que você não me perguntou antes de comprar a passagem? — questionou, mantendo a voz firme. — Você não precisava...
— Porque você diria não — Nando a cortou, suspirando. — Você diria que é um passo grande demais, mas cariño, não precisa ser um passo grande se nós não quisermos que seja.
Summer voltou o olhar novamente para a passagem em suas mãos, percebendo que encarar os olhos castanhos de Fernando era apelação para aquele momento.
Ela sempre teve medo de dar passos nos seus relacionamentos passados e não escondia de ninguém que isso tinha sido o motivo deles terem chegado ao fim.
Seu maior medo próprio a si, e que não envolvia sua família diretamente, era de ser aprisionada. Logo ela, que já nasceu com as asas abertas para o mundo.
Mas, com a passagem em suas mãos, ela não tinha medo.
Talvez o sentimento que melhor explicasse o que Summer estava sentindo naquele momento era ansiedade, pensando em como seria se ela embarcasse para a virada de ano junto a Fernando.
— Nada vai mudar se você disser não, eu estarei de volta na primeira semana do mês antes da viagem de pausa de temporada — Nando explicou, levantando seu queixo com uma de suas mãos. — Mas eu realmente queria que você pensasse sobre.
O jogador tirou delicadamente o papel das mãos de Summer, colocando-o na mesa de madeira de frente ao sofá.
— Deixei para pensar nisso em outro dia, você ainda tem tempo... — Fernando pediu, dando de ombros. — Vamos pensar no hoje.
Summer assentiu, colocando as mãos no pescoço dele e aproximando seus corpos. Seus narizes se encontraram primeiro e passaram um tempo daquela forma até que seus lábios seguissem os mesmos caminhos, em um ritmo que era só deles.
Não havia mais amanhã, semana seguinte ou qualquer coisa que fugisse a aquele cômodo e aos dois.
Pelo menos até que o mundo real batesse em suas portas.
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