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Um

Não há nada melhor do que aproveitar a vida de forma leve e alegre. Mas tente dizer isso para a Ama que cuida de mim, e que nesse momento está correndo atrás de mim pelos corredores do castelo enquanto minhas gargalhadas ecoam por eles.

- SAFIRA!!!!!!!!

Hoje é quarta, dia de aula de etiqueta e costura. Santo Odin! Gostaria de saber qual o problema de uma criança de 8 anos brincar pelos jardins do reino. Sim, eu fugi e é por isso que ela está igual uma louca correndo atrás de mim. Paro de escutar seus gritos e passos e resolvo olhar para trás, mas continuo correndo e dessa forma não vejo alguém na minha frente e acabo esbarrando na pessoa caindo por cima dela no chão.

- Ai! – Uma voz de criança resmunga.

Nos levantamos e quando observo percebo que esbarrei em um garoto que parece ter a minha idade. Nunca o vi por aqui, pelo reino de Lork.

- Me desculpe, eu estava distraída. – Peço para ele enquanto se arruma e limpa sua roupa, sequer olhou para mim.

- Claro, distraída igual uma louca. – Falou e então olhou para mim.

Poxa vida! Que olhos incríveis.

- E você? Por que não estava olhando para a frente e desviou de mim? – O encaro e ele está boquiaberto, então não consegue responder, fica apenas olhando profundamente em meus olhos.

- Luke, meu bem, estava lhe procurando. – Uma mulher fala se aproximando e noto que se trata da tia Cloude. – Ah! Olá, minha pequena Safira. Que saudades de você, olha com está grande. – Ela diz me puxando para um abraço acolhedor.

- Titia! Eu não sabia que estava vindo nos visitar. – Admiro tanto ela e faz muitos anos que não nos vemos.

- Querida, ainda não encontrei o nosso fi... – Tio Garnow surge e quando me vê perde até a fala. – Ah! Minha pequena, que saudade eu estava de você. – Ele se abaixa para ficar da minha altura e nos apertamos num abraço que só ele sabe me dar, como eu estava com saudade disso.

- Que saudade, titio. Estou feliz por vocês estarem aqui. – Digo emocionada.

- Oh! Vejo que já conheceu o Luke, nosso filho. – Ela me diz e puxa o garoto que eu esbarrei para ficar na minha frente.

- Então você é o Luke? – Falo e percebo que seus olhos são tão verdes como os da tia Cloude e eu sempre os achei incrivelmente lindos. – Me desculpe de verdade. Eu não queria te machucar.

- Não tem problemas, eu não estou machucado. Me desculpe por ser grosseiro com você. – Ele me lança um sorriso. Odin me leve. Que sorriso lindo.

- SAFIRA!!!!!! Sua princesa rebelde, estou tão cansada de correr atrás de você. Vou te fazer costurar 10 vestidos como lição para não fugir mais. – A Ama fala quando me encontra. Todos olham para ela e para mim e me sinto envergonhada.

- Ora, ora, Ama. Ainda querendo fazer as crianças amadurecerem antes do tempo? Deixe que a menina brinque quando quiser, é apenas uma criança. – Tio Garnow fala para ela.

- Garnow, você me fez correr tanto quanto ela, não pense que me esqueci. – Ela fala ficando vermelha.

- E vejamos o que me tornei. Um homem de honra. Você se preocupa demais, o que acha de férias, minha querida? – Ele fala enquanto enlaça os braços nos dela e vai se afastando carregando-a para longe. – (...) ainda faz aquelas tortas de maçã que eu tanto amo?

Ufa! A Ama pode ser difícil quando quer. Tenho que me lembrar de agradecer o titio depois. Volto a olhar para o Luke e ele me observa.

- Vem! Vamos brincar! – Pego na sua mão e saio lhe puxando pelos corredores. Definitivamente mamãe tem razão quando diz que só ando correndo. Rio com o pensamento.

Vamos correndo pelo corredor de mãos dadas até passarmos pela sala de reuniões do papai e eu percebo que ele tem visitas. Paro bruscamente e volto até a porta da sala, para tentar ver pela brecha e tentar escutar algo da conversa.

- Não aprendeu que ouvir conversas alheias é falta de educação, princesa? – Luke me pergunta, mas está encostado na porta igual eu.

"Então você sugere que façamos essa aliança com duas crianças que não fazem ideia do que é um casamento? "

Escuto meu pai falar para o homem que está na sala conversando com ele.

- Não quando o assunto é sobre mim. – Respondo ao Luke.

Encaro o Rei a minha frente como se ele tivesse três olhos na cara.

- Eu vou repetir mais uma vez para ver se é isso mesmo que estou escutando. – Falo enquanto lhe encaro ainda horrorizado. – Você quer que eu assine uma aliança com você, aqui, agora, afirmando que seu filho vai casar com a minha filha, a minha doce e pequena filha de apenas oito anos de idade?

- Hairú, você quando está em choque é mais lerdo que uma tartaruga. Que tipo de pai você acha que eu sou para casar nossos filhos que são duas crianças? – O Rei George responde percebendo o meu desespero. – Eles casariam quando completassem 18 anos, isso está óbvio. Não compreendo o espanto. – E conclui como se fosse uma ótima ideia dar minha filha de mão beijada para o seu filho, traçando o seu destino antes mesmo dela sequer saber o significado do mesmo.

- O espanto é que você não esperou minha filha completar nem quinze anos para jogar suas garras na tentativa de possuir o que é dela por direito. Aliás, o que lhe garante que ela é a chave da profecia? Isso mesmo, absolutamente nada. Não concordarei com isso, vai contra tudo o que tento afastar dela, não quero destinos traçados por terceiros para a vida dela, quero que ela caminhe por si só e os escreva como achar que deve ser. – Falo já começando a sentir uma raiva querendo me consumir.

- Tudo bem, Hairú. Já vi que não iremos por esse caminho. – George passa as mãos pelo rosto enquanto suspira. – Vamos para o meu plano B.

Era só o que me faltava. Quantas ladainhas ainda vou ter que ouvir desse homem? Santo Odin, dá-me paciência.

- Prossiga! – Reúno todo o resquício de calma para ouvir o que ele ainda tem para me propor.

- Já que está fora de cogitação uma aliança, quero te pedir que permita que Alfredo viva aqui no seu Reino. Quero que ele tenha a educação daqui, que treine com o seu exército de guerreiros, já que são os melhores. Sei que os garotos daqui possuem habilidades extraordinárias para vencer guerras e enfrentar dificuldades. Te peço que cuide dele debaixo de sua proteção como se fosse seu filho e então ele poderá também conviver com a Safira e quem sabe se apaixonar por ela. Não estaríamos traçando caminhos para eles, apenas permitindo que o destino de ambos se cruze. O que me diz? – Ele joga a bomba em cima de mim e fica me encarando com cara de cachorro abandonado.

Presto bastante atenção no que ele me diz e chego à conclusão de que essa foi a proposta mais sensata que ele me fez.

- O que o Alfredo acha de viver aqui? Não acha que vai afetar no comportamento dele e na relação de vocês? – Pergunto, já que seu filho é uma criança assim como Safira, tendo apenas dois anos a mais.

- Já conversei com ele e Alfredo é bastante compreensível. Sabe como é, nessa idade eles só querem um amigo para correr para lá e para cá. – Eu lembro de Safira imediatamente e rio de forma involuntária. A Ama que o diga, acho que seus cabelos brancos dizem por si só do que essas crianças gostam.

- Bom, George, devo admitir que você foi sensato com essa proposta e eu gostei dela. Acho que isso eu posso fazer por você. Deixarei que ele viva aqui e cuidarei para que se torne um bom homem, sem esquecer suas origens e seus propósitos. – Estendo minha mão para ele e o mesmo aperta ela com bastante força.

- Muito obrigada, Hairú. Espero que o destino esteja ao nosso favor. – Ao seu, você quis dizer.

- Que ele esteja a favor deles. – Concluo com um sorriso genuíno.

***

Nossa pequena Safira.

O que acharam da decisão do Rei Hairú sobre deixar Alfredo viver no castelo?

E o que acham que essa convivência pode acarretar?

Até breve!
Beijocas da Vê 💋

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