Dezessete
Eu não sei o que acabou de acontecer no corredor enquanto estava com o Julian. Algo dentro de mim acendeu como uma lamparina e me trouxe uma sensação boa, mas é algo desconhecido e que me deixou receosa quanto a descobrir.
Entro no meu quarto e troco o meu vestido pesado por uma camisola leve, a qual uso para dormir. Parece estranho que ontem eu tenha deitado na minha cama com milhares de pensamentos saudosos em relação aos meninos e que hoje ambos estão em quartos próximos ao meu. Eu estava acostumada com uma visão de dois garotos alegres e esperançosos quanto ao futuro, hoje me deparei com homens que mantiveram essa essência, mas que carregam um brilho a mais em seus olhares. Quero desvendá-los e conhecer mais do que se tornaram. Quero mostrar mais do que me tornei também. É uma sensação tão boa saber que estão de volta. De volta para mim.
Deito-me na cama e fecho os olhos na intenção de dormir, mas viro de um lado para o outro e parece que não vou conseguir. Tem algo de errado, algo faltando, então me lembro do Luke e sua presença constante aqui, me impedindo de sentir qualquer coisa negativa, me embalando na terra do sono, sem sonhos estranhos e sentimentos esquisitos.
É isto. Está decidido. Levanto da cama e abro minha janela, me deparando com a noite estrelada que tanto observei pela varanda. Dou uma olhada para os dois lados e parece que só a lua está de testemunha. Logo estou caminhando em direção à janela do quarto do Luke, que por milagre está aberta, assim não preciso nem o acordar. Sento-me no parapeito dela, coloco as pernas primeiro e prontinho, estou dentro. É o que penso, mas nem mesmo tenho tempo de respirar e meu corpo é empurrado de encontro à parede e sinto a lâmina de uma espada pressionando em meu pescoço.
Solto um grito devido ao pânico diante a situação e logo o contato é desfeito.
— Princesa? O que raios pensa que está fazendo? — Luke fala ofegante enquanto coloca a espada escorada na parede.
— E-e-eu só estava... é... — Ele se aproxima e segura meu rosto com as duas mãos, então seu olhar desce para o meu pescoço onde ele passa a analisar se me feriu, mas vê que não aconteceu nada e logo seus olhos voltam a encarar os meus. — Não estava conseguindo dormir. — Digo depois de respirar fundo.
— Me perdoe, princesa, eu não queria te assustar, tampouco lhe machucar. Ouvi passos na varanda e meu instinto de guerreiro me deixou em alerta. — Eu consigo ver toda a sinceridade no olhar dele. Além de que sei que jamais me machucaria dessa forma.
— Eu sei que jamais me machucaria, Luke. Eu que não deveria ter vindo aqui, dessa forma. — Falo já me virando para pular a janela novamente, mas suas mãos rodeiam minha cintura e me puxam para ficar de frente com ele novamente e, sem pensar, espalmo minhas mãos em seu peito que só agora percebi que está desnudo.
Santo Odin! Ele estava sem camisa esse tempo todo?
— Nada disso, mocinha. Você acabou de dizer que não estava conseguindo dormir e já quer ir embora? — Ele pergunta sem perceber que não estou prestando atenção em nada além do seu corpo, um corpo lindo, um corpo que certamente não era assim quando ele se foi, mas que está mil vezes melhor. Céus! — Você veio para conversar comigo, Safira?
— Uhum... — Murmuro enquanto observo detalhes que não estavam ali antes, como uma cicatriz do lado esquerdo do seu tórax, como se alguém tivesse tentado acertar seu coração. — Eu... é... eu vim dormir aqui com você. — Solto a informação, mas continuo com a minha minuciosa observação. Que tatuagem é essa que ele tem no pescoço?
— Gosta do que vê, princesa? Porque você pode chegar mais perto e tocar como quiser. — Finalmente olho para seu rosto e vejo um brilho em seus olhos, fazendo complô com aquele sorriso de lado que é maravilhosamente lindo. Tenho certeza de que estou completamente vermelha pelo constrangimento de ter sido pega o observando.
— Eu... nã-não sei do que está falando. — E essa é toda a minha capacidade de revidar o flagra.
— O que você quis dizer com dormir aqui, princesa? — Ele pergunta enquanto vem se aproximando de mim. Eu ando para trás e a parede me impede de continuar.
— Eu pensei que a gente podia dormir juntos. — Mais perto e meu coração está acelerando conforme eu fico presa sob seu olhar. Está absolutamente brilhante e envia reações para o meu corpo que eu nem consigo explicar.
— Dormir juntos? Safira, você não está falando sério, está? — Agora ele está totalmente perto, nossos narizes quase se tocam. Fico ofegante, abrindo a boca tentando dizer algo, mas estou tão desconcertada. Sem falar que está um calor absurdo. Odin, onde raios está Thor com seus trovões para esfriar isso aqui?
— Nós sempre dormimos juntos, Luke. Eu pensei que não tivesse nenhum problema. — Realmente achei que ele não se importaria se eu viesse aqui. Será que esses anos fizeram ele ter vergonha de mim?
— Você realmente não enxerga o perigo, princesa? — O perigo? Que perigo?
— A qual perigo você se refere? — Não acredito que algo de tão sério possa ter acontecido ao ponto de eu correr algum perigo estando perto dele.
— Princesa, preste atenção. — Ele levanta meu queixo e eu respiro fundo, porque preciso de forças para não ligar para o fato de sua boca estar próxima a minha. – Você é uma mulher agora e eu sou um homem. É totalmente... — Ele se inclina para a minha esquerda e percorre esse lado do meu pescoço com o nariz. Arrepios tomam conta do meu corpo até em partes que nunca nem havia me dado conta que pudessem reagir assim. — Completamente... — Ele faz o mesmo processo agora do lado direito e eu já nem sei mais como ainda estou em pé. — Absolutamente perigoso ficarmos perto. — Conclui esfregando o nariz no meu, acendendo mais uma vez aquela lamparina dentro de mim.
— Por quê? — Acho que consigo sussurrar essa pergunta idiota, mesmo começando a compreender a resposta por conta própria.
— Porque fico tentado a fazer coisas com você. Coisas que sei que não devo. — Ele responde respirando fundo e começa a se afastar, então o puxo de volta para mim e o encaro.
— Mas você quer? — Não sei de onde tirei coragem para fazer essa pergunta, mas está tudo quente dentro de mim e me sinto diferente.
— É tudo o que mais quero, princesa. — Posso sentir sua respiração pesada indo de encontro a minha. Meu santo Odin, como nunca senti isso antes?
— Então faça o que você deseja. — Dou a sentença final e nem tenho tempo de raciocinar, porque tão logo ele já está me pressionando na parede atrás de mim e sua boca entra em contato com a minha, levando embora todo o meu raciocínio. Eu não sei se ele já fez isso antes, mas seus lábios parecem saber exatamente como provocar os meus e rapidamente esqueço de qualquer coisa que possa existir além do calor dos nossos corpos tão próximos. Minhas mãos ganham vida própria e se enfiam entre seu cabelo, numa tentativa de trazê-lo para mais perto de mim. Como se fosse possível, mais perto que isso só se fundíssemos nossos corpos. As mãos dele também não param quietas e vão do meu cabelo ao meu pescoço, descendo numa carícia suave e deliciosa pela minha cintura. Consigo sentir seu coração descompassado, assim como o meu e junto a isso ainda ouço um gemido entrecortado.
— Princesa... — Luke geme meu nome e desce seus beijos pelo meu pescoço. — Peça para eu parar. Por favor... — Soa como uma súplica sofrida, mas minha mente está desligada e não controlo mais meu corpo.
De alguma forma que nem percebo, sou suspendida por ele e, involuntariamente, cerco sua cintura com minhas pernas, ficando agora em seu colo, enquanto seus beijos sobem novamente para a minha boca. Eu vou enlouquecer! De repente, como se tivesse um lapso de consciência, ele me coloca no chão e cessa os beijos. Quando olho para seu rosto, o encontro com os olhos fechados, como se estivesse fazendo força para se manter são. Tento me aproximar novamente, mas ele dá passos para trás e abre os olhos, me encarando como se estivesse com dor.
— Vá para o seu quarto, Safira. — Pede e desvia o olhar.
— Luke, me desculpe se voc... — Ele levanta a mão em sinal de "pare", me interrompendo e impedindo que eu chegue perto.
— Só vá para o seu quarto. É o melhor a ser feito agora. — Eu apenas concordo com a cabeça e dou as costas para o Luke e o nosso momento.
Nunca pensei muito sobre o meu primeiro beijo, mas uma coisa é certa: nunca imaginei que seria expulsa logo após ter a minha melhor experiência com alguém.
Dessa vez o sono me embala e sou levada para uma terra distante e perigosa.
Caminho pela floresta sentindo o clima pesado que ela tem se fundir com o medo que me assola. Essa não parece com as florestas de Lork, o que me deixa mais temerosa enquanto faço meu trajeto, sem ter a mínima noção de para onde estou indo. Não consigo usar meu poder! Isso está me deixando cada vez mais assustada pois nunca aconteceu algo do tipo. Tenho quase certeza que se trata de um feitiço de bloqueio, mas não posso afirmar nada de certeza. Preciso sair daqui antes que me encontrem. Ouço o barulho de gravetos se partindo no chão e sinto que eles estão próximos. Não há tempo para pensar, então corro. Corro como se minha vida dependesse disso (porque ela depende) e nem me importo com nada ao meu redor, além da necessidade de chegar em algum lugar. Escuto vozes e não consigo distinguir a quem pertencem, também não me atrevo olhar para trás, tendo a certeza de que, se assim o fizer, serei pega. Meu vestido se rasga aos poucos, quando fica preso em alguns galhos e estou com os pés descalços, o que contribui para os machucados que aumentam as dores que sinto ao fugir com tamanho desespero.
Se eu tivesse meus poderes...
Se eu conseguisse regressar...
Se...
Antes que eu possa pensar em mais alguma coisa chego na beira de um penhasco e fico sem saída. Voltar não é uma opção, então tomo uma iniciativa suicida, pela primeira vez, e me lanço ao mar que cobre a região e se encontra abaixo de mim.
Sempre achei que inúmeros pensamentos surgissem em nossa mente quando estamos prestes a morrer, mas a verdade é que a minha está vazia. Enquanto meu corpo despenca, não existe nada em meus pensamentos, somente o meu corpo em estado letárgico, uma pura aceitação de que é o fim. Quando meu corpo se choca com a água gelada, tenho a certeza que minha vida acaba agora. A correnteza é tão violenta que não consigo nadar até a superfície e nem prender a respiração por muito tempo. Tudo o que sinto é a água invadindo meus pulmões e meu corpo tremendo enquanto se afoga na escuridão.
Acordo tossindo, tentando recuperar o fôlego. Esse pesadelo é tão real e venho tendo o mesmo constantemente. Algo dentro de mim me diz que não é um pesadelo qualquer e tenho receio de tentar descobrir se isso pode ser parte de uma visão do futuro. Me assusta pensar que a vida é tão frágil e que eu chegue num nível de desespero tão grande que precise me lançar de um penhasco. Balanço a cabeça na tentativa de espantar esses pensamentos e imagens de um olhar verde-escuro e um sorriso de canto me invadem.
Céus! Foi só um beijo.
A quem eu quero enganar? Até ontem não havia pensado na possibilidade de sentir algo tão intenso por alguém, principalmente alguém que cresceu comigo, sendo meu melhor amigo durante todos esses anos, despertando carinho, amor, lealdade, mas desejo é um sentimento novo e que eu não esperava que fosse experimentar. Não dessa forma. Só espero que isso não interfira na nossa amizade, já que pela reação dele, me afastando, deu a entender que ele odiou.
Eu sou tão boba.
É claro que o Luke já teve muitas experiências. Ele é lindo, charmoso até na forma de andar. É carinhoso e tem aquela áurea de rebelde sem causa que eu sei que encanta as princesas. Mas quer saber? Não vou agradecer por ter sido beijada. Eu sei que não pensava em nada desse tipo, mas tenho consciência da minha beleza e do meu poder. Se ele não gostou, o problema é dele, porque eu estou mais do que satisfeita. Não irei me jogar aos seus pés, pedindo para ser beijada. Isso está fora de cogitação e eu vou fingir que nada aconteceu. Dois podem jogar esse jogo.
***
Voltei, minhas princesas.
Vocês não imaginam o prazer que é trazer esse capítulo lindinho.
Por que as crianças crescem? Ontem a Safira era uma princesinha que não parava quieta no castelo, hoje é uma danadinha que beija na boca.
ALGUÉM ACHOU QUE O PRIMEIRO BEIJO DELA PODERIA SER COM O LUKE?
Eu to devastada aqui depois desse clima de romance.
Eu quero saber o que vocês acham sobre a reação dele. Pode comentar aqui.
Um beijo e até o próximo.
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