Dez
Com os olhos fechados respiro fundo e tento convencer a mim mesmo que não demonstrar nada a Safira é o certo a se fazer. Então imagens dela vestida de noiva e beijando o Julian invadem os meus pensamentos e a tristeza começa a querer tomar lugar em meu peito.
Você só está se protegendo...
Você só está se protegendo...
A quem eu quero enganar? Me faço de forte para tantas coisas, eu deveria insistir nesse amor, lutar por ela, mostrar ao seu pai que sou digno de tê-la em minha vida por toda a eternidade. Mas algo me impede e eu bem sei o que é. Safira combina perfeitamente com o Julian e.... céus! Ele é meu irmão, meu melhor amigo, assim como ela, só posso querer o melhor para ambos e devo confessar que todos os habitantes do reino de Lork sabem que Julian é o melhor para a princesa.
- Chorando escondido, irmão? – Falando no diabo... – Você já foi mais forte. – Seu sorriso sapeca arranca outro meu.
- Você tem o dom de aparecer nas melhores horas, Julian. Mas, para a sua infelicidade, eu não estava chorando. – Ele faz uma careta triste.
- Poxa! Achei que ia ter um motivo para zoar você com o Alfredo. – Se aproxima e fica do meu lado, escorado no corrimão da varanda onde estamos. – No que estava pensando?
Sempre preocupado. Esse é o cara que todas as princesas gostariam de ter ao seu lado.
- Estava pensando no quanto você tem sorte por ser quem é. Seu jeito certinho atrai a admiração de todos e com certeza a princesa vai escolher você. – Digo olhando para o céu.
- Ah! Ainda estamos nesse assunto? – Ele pergunta e me viro para lhe encarar. – Sabe, Luke, você se preocupa demais com o futuro. Não há nada de errado em ser quem você é, sempre foi assim e ninguém gostou menos de você por conta disso. Não estamos competindo para ver quem leva a garota primeiro, isso não é um jogo. Estamos falando de sentimentos. Você tem seu jeito de amá-la e eu tenho o meu, nenhum é melhor do que o outro. O que fazemos com esse sentimento é o que realmente importa e, bom, você não está fazendo nada. – Suas palavras me pegam em cheio e agora seu olhar é de decepção, o que corta meu coração em pedacinhos. – Eu costumava achar você o cara mais corajoso que eu já conheci, você era meu herói, irmão. E agora? Eu só consigo enxergar um covarde, o que é pior, porque você teme seu próprio coração.
Se eu pudesse apagar a expressão de tristeza que ele carrega ao olhar para mim nesse exato momento, assim o faria, pois me deixa totalmente pra baixo.
- Julian... – Meus olhos se enchem de lágrimas que eu me recuso a deixar cair. Não posso fraquejar, não na frente dele. Preciso que olhe para mim e reconheça o Luke que eu sempre fui, mas se torna muito difícil quando ele vira as costas e sai, não sem antes eu enxergar uma lágrima solitária deslizando pelo seu rosto. Não seja um covarde, não seja um covarde. – Eu não consigo. – Digo para mim mesmo e ainda fico ali mais um pouco relembrando suas palavras.
Mais tarde os convidados já estão indo embora e o baile já está por acabar. Estou meio para baixo depois da minha breve conversa com o Julian e acho que não estou conseguindo disfarçar muito bem, pois minha mãe já veio perguntar se estou bem umas oito vezes. Nesse momento é meu pai quem se aproxima.
- Ótima festa, não é, filho? – Ele me pergunta e bebe um gole do vinho que carrega na taça que não sai de suas mãos. Podemos perceber para quem eu puxei em ser tão bom no diálogo.
- Sim, pai. Apenas algumas infelizes presenças, mas foi uma festa muito boa. – Qual é, pai. Metade da festa passei lá fora me lamentando.
- Se refere ao príncipe Philipe? – Observador como sempre.
- Exatamente ele. Sua presença não me agrada e é quase palpável a energia ruim que vem dele. – Meu pai assente enquanto digo.
- Bom, mantenha-se observando e proteja a princesa. – Ele diz e dessa vez sinto como se fosse o comandante Garnow falando, ao invés do meu pai. A verdade é que o admiro bastante.
- Eu protegerei.
- Está empolgado para a viagem? – Ele pergunta e vejo expectativa em seu olhar. Espera-se que eu seja o próximo comandante do exército de guerreiros de Lork, assim como ele é. Desde pequeno soube que cresceria para me tornar um guerreiro, não um qualquer, mas sim o melhor. Sinto um frio na barriga cada vez que falo sobre isso. Não quero decepcionar o meu pai e nem o Rei. Existe uma espécie de acampamento de treinamento para onde os garotos são mandados aos 17 anos. Claro, não é obrigatório, mas sempre quis isso, sempre tive vontade de me tornar o que meu pai era e proteger aqueles que eu amo. Mesmo que não enfrentamos guerra a bastante tempo, ainda sinto essa necessidade de fortalecer minhas habilidades e amadurecer. Vários ensinamentos são passados aos meninos lá e isso é o que faz com que o reino de Lork seja referência nesse quesito. Julian e Alfredo também irão, a pior parte é que esse acampamento dura exatos 5 anos. Não sei se meu coração irá aguentar tanto tempo longe da princesa, mas é necessário.
- Estaria mentindo se dissesse que não. Só não sei como contar para a Safira. Tem alguma ideia sobre isso? – Pergunto a ele, porque, mesmo parecendo sem palavras as vezes, meu pai tem os conselhos mais simples e diretos.
- Apenas seja sincero, filho. Estaremos protegendo ela durante o tempo que estiver fora com os garotos. Ela vai ficar bem.
- Eu sei, pai. – Não posso dizer o mesmo de mim.
O baile foi muito bom, mas também foi bastante cansativo. Eu não vi mais nenhum dos meus amigos, o que foi triste, pois eles teriam me alegrado bastante. Eles devem ter seus motivos para terem se ausentado da festa. Fora isso tudo ocorreu muito bem e os convidados já foram embora. Estou sentada numa cadeira enquanto tiro os sapatos e mexo os dedinhos que estavam sendo maltratados no salto.
- Buh! – Alguém fala tentando me assustar enquanto coloca as mãos vendando meus olhos. Reconheceria essa voz em qualquer lugar.
- Liz! – Digo em repreensão. – Por onde você andou? Senti sua falta no baile. – Faço um biquinho e ela revira os olhos.
- A gente se vê todos os dias e fazemos tudo juntas, Safira. Deixei você se divertir um pouquinho sem a minha presença. – Diz e ri sapeca. – Mas pode ser que eu estivesse fazendo algo importante. – O olhar que ela me lança é um de quem aprontou.
- Algo mais importante que ficar ao lado da sua melhor amiga durante o aniversário de 15 anos dela? – Pergunto apenas para brincar e ela continua com esse sorrisinho no rosto.
- Não sei se pode ser considerado mais importante, mas também foi importante. – Sua resposta não me convence.
- Importante tipo o quê? – Insisto e seus olhos brilham.
- Importante... tipo um... beijo?! – Ela responde em tom vergonhoso. Demoro 3 segundos encarando ela sem esboçar reação alguma, então finalmente compreendo o que ela me disse e fico sem palavras.
- Ai-santo-odin! – Exclamo quase gritando e ela tampa minha boca.
- Não faça alarde, Safira. – Diz sussurrando.
- Você beijou alguém? – Sussurro de volta. Seu rosto cora e eu exclamo o nome de Odin outra vez.
- Para ser mais exata eu fui beijada. – Ainda estamos sussurrando.
- E você deixou? Liz, você só tem 15 anos. – Não que eu ache um absurdo, só não imaginava que a minha amiga fosse ter uma experiência assim tão nova.
- Deixa de ser careta, Safira. A pessoa me gosta e eu gosto dela, não há problema algum. E nem foi um beeeeijo sabe? Foi apenas um selinho, mas foi perfeito, eu acho que vou explodir de amor. – Ela fala tudo muito rápido. A Liz é bem tagarela se você der muita atenção para ela.
- Espera um pouco! – Digo quando avalio o que a mesma acabou de me contar. – Foi o Alfredo que beijou você? – Ela cora novamente e balança a cabeça em afirmação.
- Você sabia que ele gosta de mim?
- Liz, todo mundo sabe que ele gosta de você. É totalmente perceptível. – Pego a mão da minha amiga e entrelaço nossos dedos. – Se você gostou eu fico feliz por você. Pelos dois, na verdade. Quero muito que sejam felizes, vocês são muito importantes para mim. – Ela sorri e me abraça.
- Não se preocupe que a sua hora vai chegar, amiga.
- Ah! Não estou preocupada. Eu nem penso nisso, na verdade. – Digo achando engraçado a forma como ela me encara arqueando a sobrancelha e sorrindo de canto.
- Pois deveria, já que tem duas opções maravilhosas. Eu estaria surtando. – A última parte ela sussurra e eu não entendo o que quis dizer.
- Como assim, Liz? – Pergunto franzindo a testa.
- Deixa para lá, Safira. Vem! Vou te levar para o seu quarto. – Ela levanta e me puxa pela mão. Sei que o assunto se encerrou, mas gostaria de compreender o que ela me disse. Porém me permito ser acompanhada e deixar isso para lá.
Estamos na porta do meu quarto e ela está me apertando em seu abraço de urso. Especialidade da Liz.
- Estou tão feliz por ser sua amiga e por ver você crescendo. – Seus olhinhos brilham e começam a se encher de lágrimas.
- Ei! – Fico emocionada também e lhe puxo para outro abraço. – Eu amo você, loira. Obrigada por tudo.
- Eu que agradeço, Safira. Você é muito especial para mim. – Enxuga as lágrimas que escaparam e me lança um sorriso. – Amanhã começamos o treinamento com o papai, estou muito empolgada.
- Nem me fale, estou louca para começar a usar minha magia para valer. – Digo absolutamente ansiosa. Espero aprender com facilidade os feitiços, quero mostrar a todos o meu poder. Acho que mamãe e papai vão ficar bem felizes por mim.
Nós nos despedimos e eu entro no meu quarto. Estou tão cansada. Vou direto para o closet tirar esse vestido e colocar algo mais leve para dormir. Depois de estar devidamente vestida volto para o quarto e sigo em direção a varanda. Adoro observar as estrelas e hoje é uma noite que o céu está incrível. Fecho os olhos respirando a brisa fresca que acaricia meu rosto e sorrio involuntariamente, agradecendo a Odin pelo dia perfeito. Bocejo, pois realmente estou cansada e volto para dentro. Quando chego na minha cama noto algo diferente. É uma rosa azul, elas são bem raras, mas nós temos uma colina onde elas nascem, como são raras, dificilmente são encontradas por lá, porque os camponeses colhem para fazer comércio. Por esse motivo nunca vi uma de perto e sempre digo ao Luke como gostaria de ir até lá e encontrar alguma. Luke.... É claro! Foi ele. Essa é a surpresa dele. Um sorriso bobo estampa minha face agora. Acabo de mudar de ideia e esse sim é o meu presente preferido que ganhei hoje. Apago a luz do abajur e repouso a rosa no travesseiro, para sentir seu cheiro enquanto durmo.
AAAAAAAA
Queria que o Luke visse essa cena dela dormindo com a rosa e declarando que foi o melhor presente.
Como vocês estão? Gostando da história? Se sim, votem e comentem muito.
No próximo capítulo a Safira vai descobrir que seus amigos vão para o acampamento. Qual será que vai ser a reação dela?
Até o próximo!
Beijocas 💋💋
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