Prólogo
— O que você quer? — perguntou ela, ainda observando o sol se pôr através da pequena janela da cabana.
A luz dourada do crepúsculo espalhava-se pela sala, revelando o interior simples e aconchegante, com paredes de madeira rústica e uma cama de dossel coberta por tecidos ricos, agora amassados e desordenados. O cheiro suave de canela que antes preenchia o ambiente misturava-se com uma sensação palpável de tristeza e desolação.
— Eu quero você — disse ele, sua voz carregada de frustração e desejo contido. Mesmo sabendo que era errado, mesmo sabendo que nunca poderiam ficar juntos. — Mas... eu não posso. — Suspirou cansado, a expressão marcada pela resignação e o olhar perdido.
— Não pode ou não quer?! — retrucou ela, a voz tremendo de desespero. Não suportava ser deixada sozinha, não naquela situação. Não depois de tantos planos feitos para os dois. Seus olhos, brilhando com lágrimas que se recusavam a cair, refletiam a luz do sol que desaparecia lentamente no horizonte.
— Eu não posso, habib... Eu sinto muito — ele murmurou, tentando justificar-se, a voz trêmula pela carga emocional do momento. As linhas do rosto estavam tensas, e o peso de sua escolha parecia dobrar seus ombros.
— Não, você não sente. — Ela vociferou, a dor e a raiva evidentes em cada palavra. — Foi tão simples me iludir, me usar, e agora me descartar por ela. Eu sou uma tola... — Ela o encarou profundamente, com o coração partido estampado em cada traço de seu rosto.
As lágrimas finalmente começaram a descer, silenciosas, molhando suas bochechas e caindo no chão sem som.
— Por favor, tente compreender! — exclamou ele, exasperado, as mãos erguidas em súplica. — Eu não tenho escolha. Preciso me casar com a princesa, e infelizmente... ela não é você. Nunca será.
Os ombros dele caíram, resignados. O peso do dever parecia esmagar qualquer resquício de esperança que ele ainda carregava.
— Eu sei que fiz planos com você, que prometi coisas... Sei que não há perdão para isso, mas não há nada que eu possa fazer. Tenho responsabilidades com o reino. Não se trata apenas de nós... — Ele suspirou, a frustração clara em sua voz e postura.
— Você sempre soube. A vida toda, você soube! — ela gritou, a voz ecoando pela cabana, carregada de angústia.
Abraçando a si mesma, como se tentasse proteger o que restava de sua dignidade, ela desviou o olhar. O ambiente parecia encolher ao redor deles, sufocando-a.
— Eu... — Ele balançou a cabeça, as palavras morrendo antes de serem ditas. — Posso colocá-la no harém quando tudo se ajeitar. Sei que não é o que você deseja, mas é o melhor que posso fazer... Por favor, habib. Eu te amo. — Sua voz carregava a mistura amarga de culpa e desespero.
— Não me chame assim! — ela gritou novamente, a dor queimando em cada palavra. — Não ouse dizer essas palavras, nunca mais! Você me enganou. E agora continua tentando me prender nessa mentira. Cada promessa falsa sua é como uma faca em meu coração. Por Allah! — exclamou, sua voz partindo-se ao meio. — Não diga mais nada... eu imploro. Eu não aguento mais.
As lágrimas desceram sem parar agora, incontroláveis, afogando suas palavras. Ela não queria mais ouvir, não queria mais sentir.
— Eu sinto muito... — ele disse novamente, a indiferença aparente em sua voz agora parecia mais uma armadura do que um reflexo verdadeiro de seus sentimentos.
O cheiro de canela no ar, outrora reconfortante, agora era um lembrete doloroso do que estava sendo perdido. Ela virou-se para a janela, recusando-se a encará-lo.
Ele hesitou. Por um breve instante, pareceu querer voltar atrás, mas, sem mais palavras, deixou o quarto onde estivera por tanto tempo. O sol já havia desaparecido completamente, mergulhando o ambiente em sombras melancólicas. Não olhou para trás, mesmo quando tudo dentro de si gritava para fazê-lo.
E então ele partiu, como se pudesse apagar o passado na mesma velocidade de sua caminhada até o palácio.
Ela, por sua vez, desabou no chão, rendida às próprias emoções. O impacto físico era insignificante diante da dor em sua alma. Tudo que sonhara parecia desmoronar diante de seus olhos. Talvez tivesse almejado algo impossível. Talvez o amor que tanto acreditara nunca tivesse existido.
Mas como poderia? Como poderia ser apenas uma ilusão, se cada momento com ele parecia tão real?
E então ela chorou. Chorou por si mesma, por ele e por tudo o que haviam perdido. Chorou porque o amava tanto que sequer conseguia odiá-lo, mesmo sabendo que ele a enganara, que lhe dera falsas esperanças e arruinara sua vida.
Com um suspiro pesado, sua mão pousou sobre o ventre, o segredo que ela guardava queimando dentro de si. Entre soluços, fez um juramento silencioso: jamais permitiria que tocassem nela novamente, nem em seu corpo, nem em seu coração.
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