Carta aberta de Safira
Eu tive sorte.
Eu tive sorte, caro leitor.
Em minha época, neste século dezoito do qual vos escrevo, milhares e milhares de mulheres não puderam escolher.
Eu também não pude.
Nenhumas de nós teve a chance de escolher de que maneira gostaríamos de conduzir nossas vidas, nenhuma de nós escolheu a carreira que sonhamos em seguir, não escolhemos os países que queríamos conhecer, não escolhemos nossos amores e muitas de nós morremos por lutar por esses e por tantos outros direitos.
Mas repito, eu tive sorte.
Quando se vive numa época baseadas
nas raízes mais profundas do machismo, nós mulheres não temos chances sozinhas.
Eu sei que somos fortes, somos capazes de fazer tudo o que desejamos. Mas, caro leitor, aqui de onde vos escrevo não funciona assim.
Perdi grandiosas amigas para a guerra, perdi um filho para a inveja, perdi por tantas vezes a minha dignidade, perdi minha família e quase, por muito pouco, perdi também a esperança.
A minha história não é um exemplo, é apenas uma exceção de quando, apesar de tudo que passei, o meu final foi feliz.
Mas eu repito, sou uma exceção.
Tenho três filhos, você sabe disso. Não será muito diferente na época deles, talvez algumas coisas mudem, mas não quero que você crie expectativas. Estamos séculos antes de você.
Estamos tentando. Quero que você tente também.
Escrevo essa pequena carta no intuito de fomentar meus ideais. Apenas para que você não pense que vivo em um conto de fadas. Eu sei leitor, noventa por cento das vezes histórias como a minha não terminam bem.
Eu tive sorte.
Sorte quando uma aliança entre dois reinos enlaçou o meu destino e o de Said.
Sorte quando eu escapei das garras de uma mãe que me torturava. Que torturava as pessoas que eu mais amei.
Sorte quando Allah me protegeu de tantos perigos.
Sorte quando tive amigos e amigas que me apoiaram e me socorreram.
Sorte quando pensei que era o meu fim e fui salva.
Sorte quando eu consegui, mesmo quebrada em milhões de pedaços, amar.
Sorte de poder ensinar os meus filhos a serem melhores pessoas, muito melhores do que eu.
Sorte por estar viva para que pudesse, agora, escrever a você.
Caro leitor, muito obrigada por sua existência. Espero que você de onde quer que você esteja, do século em que esteja lendo isso, tenha lutado e ainda lute. Por seus sonhos, pelos seus direitos, pela sua vida.
Não quero que você tenha sorte ou seja a exceção.
Seja brilhante e ilumine todos a sua volta. Seja, apenas seja você.
Nos escontraremos em breve em outras histórias.
Com toda a minha gratidão e o meu amor, Princesa Safira Al-amin Mamun.
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