Capítulo XVIII
Casamento, dia 1
Durante a noite daquele sábado toda a família Mamun estava reunida no salão principal do palácio de Kuwait. Haya e as duas filhas terminavam os últimos preparativos para a troca de alianças entre Safira e Said que ocorreria logo mais tardar.
Enquanto isso o pai do sheik e Khalid discutiam fervorosamente sobre as finanças do reino, pensando em como ficaria situação de Kuwait quando Said se mudasse para a Índia.
A troca de alianças era um ritual sagrado para todos eles, a partir daquele dia tudo mudaria na vida dos noivos. E para a família era motivo de grande alegria ver aquele casal se unindo.
O salão havia sido decorado com mimosas flores brancas de jasmim, representando a pureza daquele momento. Véus da mesma cor perduravam sob o teto alto do palácio e a luz dos lustres que refletiam no tecido traziam um ar aconchegante ao salão.
Havia uma mesa farta dos mais variados quitutes onde seria servido o jantar mais tarde naquela noite. As almofadas coloridas davam um toque de cor a imensidão de cor branca. E inúmeras velas colocadas ao longo da mesa causavam um tom intimista.
Aquela primeira cerimônia seria somente para a família, um momento íntimo e sagrado que resolveram guardar apenas entre eles.
A família de Safira como já era previsto não poderia comparecer às festividades, pois Omã estava cada vez mais sob ameaça dos rebeldes e de outros reinos, o que aumentava os riscos de uma emboscada em meio ao deserto.
Tudo estava em seu devido lugar, o encarregado de fazer as preces da mesquita havia sido convidado pra celebrar o casamento e todos aguardavam ansiosos pelo sheik e pela princesa.
Said saira logo pela manhã a fim de resolver questões governamentais na vila da cidade e até aquela hora ainda não se encontrava no palácio. Sua mãe havia feito diversas resalvas de como a presença dele era indispensável naquele dia e seria uma afronta se ele se atrasasse ou não comparecesse em seu próprio casamento, mas mesmo assim o Sheik insistiu em sair.
Safira por sua vez ao final da tarde acabava de concluir seu banho de rosas e uma criada muito gentil a auxiliava no serviço, entregando-lhe uma toalha para que pudesse se secar.
A princesa vestira uma camisola leve apenas para não ficar nua enquanto obseevava pelo espelho do quarto a criada secar calmamente seus longos cabelos e elaborar um penteado muito bonito, dando forma a seus cachos loiros deixando apenas alguns fios soltos e o restante preso em um coque alto.
Naquela noite permitiram que a princesa mostrasse seu cabelo e todo seu rosto, podendo deixar de lado seus hijabs e niqabs. Os fios claros das sobrancelhas foram penteados com uma escovinha, assim como os cílios tomaram uma forma curvada. Nos olhos uma fina linha de khol preto fora delineada, deixando os olhos de Safira ainda mais impressionantes. Pequenas batidinhas nas bochechas deram um tom rosado a princesa e na boca um pigmento vermelho foi espalhado com os dedos.
Estava linda, e se olhando no espelho deixou-se emocionar. Nunca em sua vida pensou que quando aquele dia chegasse se sentiria tão emotiva. Não sabia se era de fato por ter se visto como uma noiva prestes a se casar ou se aquela emoção era falta de quem amava, sentia falta de Soraia e de Layla.
A criada que já havia terminado a maior parte do trabalho, foi até a cama de Safira buscar o seu primeiro vestido de noiva.
De todos os que ela escolheu, aquele era o mais simples, sem tantas pomposidades e muito menos volume que os outros. A saia era leve e o vestido se acinturava no corpo da princesa fazendo com que quando ela se mexesse o vestido se esvoaçasse flutuando no ar.
Com ajuda se vestiu e conseguiu ficar ainda mais bela, o tom azul claro do vestido que tinha pequenas lantejoulas prateadas bordadas em seu tecido realçou mais ainda o brilho dos olhos dela. A princesa não deixou de lado as mangas compridas e o decote que escolhera era discreto. Um fino cintinho dourado preso em sua cintura dava o detalhe final ao traje.
- Princesa? - a criada chamou sua atenção - Isto é para a senhorita, presente do sheik Said - disse segurando um enorme porta jóias azul repleto de rendas brancas e delicadas pérolas enfeitando o objeto.
Safira ficou maravilhada com a beleza e abismada quando abriu o porta jóias e encontrou um lindo conjunto de colar, brincos e uma coroa adornados de milhares e pequeninas pedras de safira.
- Mashallah! - exclamou sincera - Como é precioso! Foi mesmo o sheik que mandou entregar? - Perguntou duvidosa, no entanto recebeu da criada um gesto afirmativo, indicando que aquela preciosidade era sim um presente de Said. - Ajude- me a coloca-los, por favor - pediu sorridente para a mulher. Eram perfeitos para aquela noite. - São tão lindos - comentou maravilhada ao ver o reflexo das jóias no espelho.
Ali, o servo fiel da família Mamun batia na porta em sinal de que estava na hora de descer. Safira respirou fundo, repetindo milhares de vezes eu sua cabeça que conseguiria fazer aquilo, pois era o seu dever.
Descia as escadas segurando firme no corrimão, não sabia ao certo se teria capacidade de descer sem tropeçar e cair no chão.
Haya a esperava ansiosa no fim da escadaria, Safira podia ver os olhos da futura sogra se encherem de lágrimas.
- Como está bela, menina - disse a mulher com a voz embargada. - Uma verdadeira princesa.
- Shukran, senhora Haya - agradeceu timidamente ao elogio - Estão todos a minha espera? - Perguntou preocupada que tivesse se atrasado demais
- Lá! - negou - Está na hora certa, venha me acompanhe - disse pegando na mão de Safira e a levando até o salão onde estavam todos.
Safira observava tudo com bastante atenção, sua nova família havia se empenhado muito naquele casamento, tudo estava decorado nos mínimos detalhes.
Chegando lá encontrou Núbia acendo um incenso próximo a várias almofadas que estavam no chão. A jovem usava um vestido roxo bordado com pequenas flores brancas no busto e usava um véu da mesma cor apenas para esconder seus cabelos. A princesa Núbia era uma das poucas mulheres que não precisavam de camadas e mais camadas de maquiagem, era bela naturalmente.
- Safira! - exclamou quando notou a presença da princesa - Mashallah, estás tão linda! Não imaginei que ficaria ainda mais bela quando escolheu este vestido, pensei que ficaria tão simples mas vejo que realçou ainda mais a sua beleza.
- Obrigada Núbia - agradeceu com um sorriso contido - Você também está linda. - elogiou a cunhada.
- Shukran - agradeceu a jovem - Sente-se - disse apontando para as almofadas - Estamos esperando Said chegar para começar a comemoração.
Safira olhou em volta e percebeu que Said realmente não estava presente. Não se surpreendeu, mas sentiu uma pontada de decepção. Tinha consciência de que ele também não se agradava daquele casamento, porém acreditava que ele honraria o compromisso.
Não queria ficar com uma feição descontente no dia de seu casamento, no entanto era inevitável. Se pegava olhando para as portas a todo instante na esperança de que ele chegaria logo.
Haya parecia aflita mexendo nervosamente suas mãos no colo e Ranya que estava lindamente vestida de verde esmeralda dedilhava com maestria uma harpa no canto do salão, fazendo com que a melodia entrasse nos ouvidos de Safira e de alguma maneira a acalmasse.
Khalid usava uma toga de tom mostarda e seus cabelos negros estavam cortados mais curtos desde a última vez que Safira podia se lembrar. O jovem príncipe observava a princesa ao longe e seguiu em sua direção sem tirar os olhos dela.
- Ele virá - Escutou Khalid dizer ao se aproximar dela.
- O que? - A princesa perguntou sem entender ao que ele se referia.
- Said - ele disse - Ele virá, não se preocupe.
A princesa ia responder o príncipe, mas no mesmo instante as portas se abriram revelando um Said com aparência aflita, como se tivesse acabado de receber uma notícia ruim.
- Me desculpem o atraso - ele disse - Os conselheiros me prenderam em uma reunião importante.
Said usava sua usual toga azul marinho e seus cabelos que já haviam crescido e batiam pouco abaixo de sua nuca, estava bagunçados. O cheiro de cardamomo do sheik parecia impregnar o lugar, assim como sua presença fazia todos o olharem atentamente.
Os pais de Said pareciam respirar aliviados, as irmãs tinham se levantado e sorriam de felicidade por ele ter chegado. E até mesmo o almuadem que aguardava pacientemente para começar o casamento parecia feliz.
- Podemos começar! - disse o pai do Sheik - Tragam o bolo! - gritou para um dos criados.
Safira foi levada até duas almofadas que estavam dispostam uma ao lado da outra e ajoelhou-se em uma delas, enquanto Said fez o mesmo.
O almuadem abriu o Alcorão a fim de recitar algumas palavras para os dois.
- Alah diz que o casamento é a maneira Dele se fazer presente na vida de duas pessoas que desejam firmar um compromisso. - Ele olhava para os noivos confirmando prestavam atenção em suas palavras - A mulher foi criada do homem para que fosse sua companheira nesta Terra, a fim de tranquilizar o marido nos dias difíceis. E ao homem foi dada a obrigação de proteger a sua esposa e a sua casa. Portanto para que haja um casamento próspero é necessário que haja feição e harmonia entre os dois.
Safira ouvia atenta, concordando em silêncio com cada palavra que o almuadem falava. Olhara de esguela para Said e notou que ele também estava concentrado.
- Vocês, Said e Safira, estão de acordo com esta união? - perguntou após terminar o seu sermão.
- Evet, estou de acordo - confirmou Said, que continuava a olhar para o almuadem não expressando qualquer emoção.
- Evet - Safira também respondeu.
Ranya se aproximara dos dois trazendo um pequeno porta alianças, carregando dentro dele duas esferas de ouro branco. Entregou-as para Said que agradeceu com um sorriso contido.
Estavam agora de frente um para o outro, Said parecia querer focar em qualquer parte do salão mas os olhos azuis da princesa pareciam o chamar para que ficasse preso no olhar dela.
- Está na hora de trocar as alianças, quero que repitam comigo um de cada vez - Informou - Said, comecaremos por você. Repita comigo "Eu Said Massud Youssef Mamun desposo você Safira, princesa de Omã.
- Eu, Said Massud Youssef Manun desposo você Safira, princesa de Omã - repetia as palavras ao mesmo tempo que deslizava a aliança no dedo de Safira.
Os dois pareciam agir no automático, apenas reproduzindo aquilo que eram mandados fazer, assim a princesa também fez o seu voto e colocou na mão esquerda de Said a aliança.
Não deixaram de se olhar em nenhum instante, mas os pensamentos dos dois pareciam não estar ali.
- Pelos poderes a mim investidos eu vos declaro marido e esposa - declarou o homem - Assinem seus nomes no contrato por favor.
Saindo do transe em que se encontravam Said pegou a pena e molhou no tinteiro, assinando seu nome e em seguida entregou para a princesa que repetiu a ação.
- Estão casados! - disse o almuadem com alegria.
A família inteira gritou de alegria, e Safira não pode deixar de sorrir ao ve-los tão alegres. A mãe e o pai do sheik se aproximaram da jovem princesa emocionados.
- Querida Safira, a partir de hoje você se torna nossa filha - disse Haya novamente com lágrimas nos olhos.
- Que Alah ilumine os seus dias - completou o pai do sheik.
Safira os agradeceu beijando as mãos de cada um num gesto de carinho e honra. Ela oficialmente fazia parte da família.
Os noivos foram arrastados para a mesa de jantar sentando um ao lado do outro e uma pequena fatia de bolo foi servida para os dois.
Todos olhavam para eles com expectativa e Safira foi quem tomou a iniciativa de começar a tradição.
A princesa com muito cuidado, pegou um pedaço do bolo e ofereceu ao sheik que abriu a boca de bom grado.
- Que a nossa vida seja doce - ela disse.
- Que nós possamos construir um amor assim como de nossos pais - desejou Said pegando o outro pedaço e oferecendo a Safira.
Em seu coração a princesa desejou que aquelas palavras se tornassem reais. Se aquele era o destino que Alah tinha preparado pra ela, então ela aceitaria.
Terminaram a noite bebendo sharbatt, a bebiba doce feita de frutas e flores que era preparada especialmente para aquela ocasião. Uma simbologia que trazia fartura para o casamento.
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Primeiro dia de casamento concluído com sucesso! Ah gente, foi lindo não foi?
Só pra esclarecer caso alguém ache estranho, na cultura deles é pecado demonstrações de afeto entre um casal, como abraçar ou beijar, em público. Por isso não teve beijo hoje.
Se preparem que amanhã tem mais!
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