Capítulo XIX
Casamento, dia 2
O sol raiava em Kuwait iluminando o quarto da princesa, o vento entrava forte através da janela fazendo com que a pele exposta de Safira se arrepiasse. A jovem se espreguiçava na cama acordando de um sono incrivelmente bom.
Safira se lembrava de na noite anterior desejar que tivesse um bom casamento com Said, mas assim que ouviu as batidas em sua porta se arrependeu, um bom casamento significava grandes comemorações e o amanhecer do dia estava apenas começando.
Depois de um tempo criou coragem e abriu a porta de seu quarto que foi invadido pelas mulheres da família com grande alegria, muitas delas as quais Safira sequer conhecia.
A colocaram no banho de leite e depois todas se revesaram para ajudar a princesa a se vestir, enquanto uma pequena mesa de café da manhã era servida no quarto.
Safira adorava comer, e ela mesma não sabia como era tão magra. Aproveitou a boa comida e tratou de se alimentar, pois aquele dia seria longo. Muito longo.
Algumas primas de Said também foram convidadas para o dia da noiva, e todas levaram Safira à uma das saletas do palácio, que fora decorada com tecidos coloridos especialmente para aquele dia. Além disso o cheiro de incenso de mirá se espalhava pela sala e uma pilha de caixas de presentes era vista próxima a janela.
Todas as jovens mulheres dançavam e cantavam em celebração à transição da princesa, de moça solteira para uma mulher casada. Um dia que deveria ser lembrado por Safira pelo resto de sua vida.
Durante aquela manhã a princesa recebera inúmeros presentes da família de Said, até mesmo os parentes mais distantes da família do sheik fizeram questão de presentea-la.
Além deles diversos reinos do oriente e também do ocidente mandaram quantias exorbitantes de ouro e prata como forma de presentar a Safira pelo casamento. Ela era realmente uma princesa muito importante e o tesouro de Omã.
A princesa fora colocada sentada em uma cadeira muito bonita no meio da sala, e seus pés estavam descalços assim como não usava nenhuma jóia naquele momento em suas mãos e pescoço, pois logo ela receberia diversas delas.
Todas as mulheres se puseram ao redor da jovem e voltaram a dançar, desta vez de maneira sincronizada enquanto cantavam músicas sobre mães que perdiam suas filhas e filhas logo se tornariam esposas e depois mães.
Para muitas noivas aquela cerimônia era extremamente triste, ter que deixar sua família, deixar de pertencer aos seus pais para se tornar filha de outras pessoas costumava ser uma passagem dolorosa. Mas Safira não sentiria falta de sua mãe e nem se sentia infeliz por se tornar filha de Haya, pra ela aquele momento era sua salvação.
Haya foi a primeira a se aproximar da princesa trazendo em suas mãos uma grande caixa de madeira e ao abri-la Safira encontrou um vestido de noiva, era tradição a família do noivo presentear a noiva com o vestido do casamento e mesmo elas já tendo ido à costureira encomendar os vestidos havia ainda mais um que a princesa deixou de levar. Ela sorriu ao ver que a sogra havia notado sua dificuldade em escolher entre os dois vestidos, Safira havia levado outro muito mais simples para o palácio depois que saíram do ateliê, e agora Haya a presenteava com o vestido mais caro e brilhante que havia no ateliê. Por dentro a princesa saltitava de alegria pois havia se apaixonado pelo vestido assim que o viu, mas não queria abusar da boa vontade da sua futura família gastando exageradamente o dinheiro deles.
É claro que lembrou-se de Soraia e de seus inúmeros ensinamentos. Uma princesa deveria ser consciente de seus gastos econômicos e jamais esbanjar por caprichos. Talvez Haya tenha percebido isso e comprar aquele vestido foi uma maneira de dizer que gostou do que viu em sua futura nora. Era o que a princesa esperava.
Safira vestiria dois vestidos de noiva no dia seguinte, e aquilo significava que a prosperidade na vida dela e de Said seria em dobro.
- Shukran! - agradeceu sorrindo abertamente. Recebendo de volta um sorriso da sogra que logo voltou a se juntar às outras mulheres na dança.
Em seguida Núbia se aproximou e entregou a Safira diversas pulseiras de ouro, que eram tão pesadas que a princesa quase não pode segura-las.
- Que o ouro em sua vida seja tanto que irá transbordar - desejou.
- Inshalá - Desejou que aquela fosse a vontade de Deus.
E então Ranya colocou em Safira uma gargantilha de ouro cravejada de rubis e pérola, assim como anéis dourados e finas pulseiras vermelhas que se alternavam com as dadas por Nubia.
- Que a sua casa seja próspera! Inshalá! - exclamou
Safira estava alegre como a muito tempo não se sentia. Mais mulheres da família de Said também a presentearam com muito ouro e jóias magníficas.
E por fim as últimas primas do sheik trouxeram o véu vermelho e colocaram sob a cabeça da princesa, a fim de esconder todo seu rosto.
- Que todo mal agouro se espante e que a tua casa seja sempre feliz - desejaram as jovens
O vermelho espantaria todo mal olhado e inveja da vida conjugal de Safira e Said. Aquele véu em especial pertencera a bisavó do sheik e foi passando para todas as mulheres da família. Um dia se a princesa tivesse uma filha ela também herdaria o véu.
Naquele mesmo instante uma senhora de não muita idade adentrava na sala carregando um pequeno vasilhame em suas mãos, seguido dela vinha Said que estava de cabeça baixa, usando uma toga também de cor vermelha, que nele se destacava muito bem em sua pele dourada. Na cabeça seu adorno azul e branco deu lugar a túnica de sheik fabricada da mesma cor do seu traje. Aquela era a primeira vez que ele se vestia como um sheik de verdade, pois a partir do momento em que se tornou casado com Safira automaticamente herdou o trono de seu pai.
Said seguia a mulher ainda sem olhar para Safira e sentou- se em uma cadeira ao lado da princesa enquanto a senhora mexia com uma colher de madeira no líquido marrom avermelhado que havia na vasilha.
Safira observava atentamente tudo o que acontecia e sentiu seu corpo extremecer ao ver que a mulher agora a olhava profundamente como se pudesse ver a sua alma através do véu.
- Me dê a sua mão esquerda - ela disse sem tirar seus olhos de Safira
A princesa estendeu sua mão até a mulher que pegou-a com firmeza e passou a deslizar a pontas dos dedos pela palma da mão, riscava de maneira imaginária nas diversas linhas da mão de Safira.
A mulher parecia tentar conhecer cada detalhe daquela mão e mesmo sem olhar parecia enxergar tudo o que queria. Safira por sua vez sentia ondas e mais ondas de eletricidade por todo seu corpo, como se ela e a mulher se ligassem de alguma forma através daquele toque.
Logo a senhora saiu de seu transe e seu rosto tomou uma feição de quem via algo terrível em sua frente e então sorriu.
- O que viu? - perguntou a princesa preocupada
- Morte - disse a mulher - Mas também muita alegria - completou sua frase.
As mulheres na sala continuavam a dançar e cantar em volta dos noivos, enquanto algumas seguravam velas e outras bandejas de prata contendo açúcar. E Said tinha os olhos arregalados para a senhora, ouvindo cada palavra que saia profetizada da boca dela.
Safira não sabia ao certo o que sentir naquele momento, mas sabia que não deveria fazer mais nenhuma pergunta a aquela senhora.
Nazira era o nome dela, para muitos uma espécie de bruxa mas aquela mulher tinha apenas um dom, que segundo ela foi dado por Allah. A velha árabe podia ver o futuro, era ela quem preparava a henna para pintar as mãos e pés de todas as noivas do reino de Kuwait pois seguindo a tradição tinha todos os requisitos, era casada e tinha um casamento feliz, seus pais ainda eram vivos e possuía um casal de filhos. Sua família era próspera e todas as mulheres que ela tocara nos últimos anos eram abençoadas.
Apesar de suas palavras diretas causarem espanto para muitas pessoas, era comum que as videntes não fizessem arodeios sobre o que viam, elas falavam tudo imediatamente após a visão, pois poderiam ser castigadas se escondessem a verdade.
- Não se preocupe, ela ficará bem - Disse para Said.
O sheik pensou que Nazira falava de Safira, então deixou-se relaxar e sentiu um grande alívio esvair-se de seu corpo.
Então a senhora pegou novamente a mão de Safira, colocando-a apoiada em seu colo e começou a desenhar com a henna.
O sol se despedia no céu e finalmente a noite da henna poderia começar. Nas arábias tradicionalmente quando uma mulher se casava teria que passar pelo ritual uma noite antes do casamento oficial e lá estava Safira cada vez mais perto de concretizar seu destino.
Safira usava um vestido vermelho escuro de saia volumosa e com um decote que permitia que seu colo ficasse a mostra, as mangas possuíam pequenas ombreiras dando um detalhe a mais ao vestido. Ele era repleto de bordados em dourado que iam do busto até a cintura criando formas de arabescos e propositalmente as jóias que havia ganho mais cedo combinavam com seu traje de noiva.
Desenhos florais eram feitos no dorso de suas mãos e iam até a ponta de seus dedos. No mindinho um fino circulo ao redor foi feito assim como o mesmo fora desenhado no dedo mindinho de Said.
Haya estava havia se aproximado dos dois segurando a tigela de prata e pegando nas mãos de Said espalhou a henna em pó, pintando toda a palma das mãos do sheik. Seguindo para a vez de Safira, a princesa não abriu suas mãos causando risos entre todos na sala, então a sogra colocou uma moeda de ouro em sua frente e somente assim a moça permitiu que a henna fosse jogada.
Todos que estavam presentes se aproximaram dos noivos e puseram suas mãos nas mãos deles para que ficassem também marcados, significando que alguém da família havia se casado recentemente.
Passada aquela tradição, Said fora levado para a ala dos homens pois a partir daquele momento ele não poderia mais participar da cerimônia.
Depois de desenhadas as mãos, os pés de Safira foram postos dentro da vasilha deixando assim toda a sola dos pés pintada de vermelho e logo após foram colocados em cima de um pózinho brilhoso. E então por fim nos dedos foram também desenhadas diversas flores.
A henna sobretudo traria fertilidade e felicidade ao casamento, além de que quanto mais tempo aqueles desenhos permanecessem no corpo da jovem mais prosperidade ela teria.
As jovens solteiras que ainda seguravam as bandeijas se aproximaram e uma a uma jogaram açúcar sob a cabeça de Safira, a fim de desejar doçura para a vida dela.
A princesa logo se juntou às moças e começaram a dançar. A festança durou até pouco depois da última batida dos sinos da Mesquita, quando todas elas ali mesmo na saleta dobraram seus joelhos no chão e fizeram suas preces a Allah.
Safira desejou um coração mais compreensivo aquela noite, desejou que o seu caminho ao lado de Said fosse repleto de calmaria e paz. Desejou que Allah iluminasse seus dias e que protegesse seu reino da guerra. Fez preces para que Ele cuidasse de Soraia e de sua irmã e desejou que um dia pudesse velas novamente.
Quando todos foram embora, restanto apenas as mulheres do palácio Safira se despediu e foi para seu quarto descansar. Chegando lá tirou o véu, o imenso vestido e todas as jóias, guardando tudo com muito cuidado dentro de seus baús.
Se sentia exausta mas estranhamente feliz, se olhando no espelho do banheiro via seu rosto pálido resplandecer felicidade, esta que ela não sabia de onde vinha.
Passou boa parte do fim daquela noite dentro da banheira, pensando em como sua vida mudaria em poucas horas e depois em poucos dias quando fosse para a Índia.
Lia um de seus livros enquanto o banho de leite hidratava sua pele e as velas que iluminavam muito pouco o banheiro aqueciam o lugar.
Mais tarde ainda se deitou em sua nova cama, agarrando-se às almofadas e travesseiros observando pela janela ao longe a lua iluminar o céu. Adormeceu, esperando ansiosamente e com muito medo pelo novo dia.
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2° dia de casamento!! Estou amando escrever essa parte! 👸🕌👳
Perdoem qualquer erro ortográfico, reviso o capítulo várias vezes, mas pode acontecer de deixar passar alguma coisa.
Deixem seus comentários meus amores.. 📖
Ah uma dica! Fiquem atentas a algumas frases que aparecem no livro, depois tudo fará sentido!
Não se esqueçam de apertar na 🌟
Até amanhã (devo postar só durante a noite), um bom domingo pra todxs vocês e um feliz dia das mães ❤
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