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Capítulo XII

Naquela manhã de domingo Safira aproveitava a luz do sol que entrava em seu quarto e dobrava todos os seus véus sob a cama, estrategicamente separados por cor e por ordem de tempo que ela os tinha, enquanto uma das criadas os guardava em um baú de viagem.

- Eu já lhe disse que não tem que fazer esses trabalhos - alertou Soraia - Vamos, deixe isso. Pedirei a outra criada que termine de arrumar suas coisas. 

- E eu já lhe disse que não vejo nenhum problema em organizar minhas roupas - rebateu a princesa - Já estou acabando, Soraia. Por quê está com tanta pressa pra sair do quarto?

- Nós duas temos que conversar, agora que você vai se mudar pra outra casa, pertencer a outra família... Eu preciso ter certeza que aprendeu tudo o que eu te ensinei.

- Mas é claro que eu sei - disse a princesa - Eu não serei um fardo para a família de meu marido.

- Eu sei, habib - disse fazendo carinho no rosto de Safira com uma das mãos - Eu só quero que você fique bem. A família de seu futuro marido não tem inúmeros criados para fazer todos os tipos de serviços, nem toda a riqueza que você está acostumada.

- Mas.. - Safira ia protestar, mas foi impedida pela criada que continuou a falar e a puxou até o outro canto do quarto, onde podiam ficar sozinhas sem que algum dos criados ouvisse a conversa entre elas.

- Eu sei que você não se importa com dinheiro, nem mesmo se sua banheira será de ouro ou não. Mas não há outra realidade que você conheça se não essa, e eu não quero que tenha dificuldade se precisar preparar seu banho sozinha, cozinhar para seu marido, manter sua casa organizada.

- Soraia, ele é um Sheik... c-como poderia me dar uma vida tão diferente desta que já tenho? Porque eu terei que cozinhar? Por Alah... você me ensinou a anos, mas não vejo porque terei de fazer estas coisas. - Reclamou confusa.

- Minha princesa, você sabe que o seu casamento é muito mais que uma aliança entre reinos, não sabe? - Safira fez que sim com a cabeça - Pois bem... isso não é assunto para mulheres, mas  os criados não param de falar e além disso eu não poderia te deixar ir com pessoas que não poderiam te proteger. 

- Do que está falando? Como assim?

- Existem outros reinos... que desejam tomar o lugar de seu pai. E agora com o seu casamento marcado, as ameaças se voltaram para o Sheik Said e todo o reino. Seu pai sabia que uma guerra poderia acontecer, por isso era certo que quando chegasse o tempo de você se casar, iriam mandar você e seu marido para a Índia. Se lembra disso, não é? Layla lhe contou.

- Então... quer dizer que eu corro perigo?

- Eu quero dizer que você não sabe como será sua vida na Índia. Sei que construíram um castelo muito bonito para vocês, mas sei também que não existem muitos recursos e nem criados dispostos a abandonar Omã, principalmente agora que estamos ameaçados.

- Espere... não entendo, meu pai pagou um dote muito caro para o Sheik. Como não existem recursos?

- Safira preste atenção, há uma guerra vindo. Todo o dinheiro está sendo usado para recrutar homens para lutar e proteger nosso reino. E habib, a Índia é um lugar que o nosso povo não conhece, poucas pessoas irão acompanhar vocês. Será um tempo difícil, mas sei que enquanto você estiver longe daqui, estará segura. - disse Soraia com lágrimas nos olhos.

- Então você vai comigo, jamais te deixaria aqui em meio a uma guerra. Precisa ir comigo - disse em desespero.

- Eu não posso, sabes disso. Eu obedeço a sua mãe, é ela quem decide quem vai e quem fica. E nós já sabemos que eu ficarei. - falou sentindo muita tristeza em seu coração - Agora... eu lhe farei algumas perguntas e você vai me responder exatamente como eu te ensinei, tudo bem?

- Está bem - concordou a princesa

- Uma jovem solteira pode ficar em um local sozinha com um homem que não é da sua família? - perguntou

Imediatamente os olhos de Safira se arregalaram, pois ela havia ficado sozinha não apenas uma vez, mas por diversas vezes com homens que não eram de sua família.

- Não... - respondeu tentando disfarçar que estava nervosa.

- E por quê?

- Porque é haraam. - disse simplesmente - E seria um grande desrespeito a minha honra.

- Se você desejar sair, por qualquer motivo que seja, o que você deve fazer?

- Devo pedir permissão para o meu marido. - disse revirando os olhos - E se ele não estiver em casa, eu preciso esperar até que ele volte.

- Espero que você se lembre muito bem dessa regra, Safira - disse olhando bem em seus olhos - Por favor, não fuja.

- Eu não fugirei, Soraia... eu prometo. - falou com um sorriso no rosto

- Quando estiver na casa de sua sogra ou quando a mesma for te visitar, o que você deve fazer?

- Devo trata-la como se fosse minha própria mãe, devo sempre preparar um chá de camomila, pois isso a manterá calma e vai evitar que ela procure defeitos em minha casa. E também devo sempre ter um prato com a comida preferida de meu marido preparado, pois assim ela saberá que sou uma boa esposa para o filho dela.

- Muito bem, isso mesmo. Ah, e nunca se esqueça, jamais levante a voz para a sua sogra, isso só trata problemas para você. Pois certamente em uma discussão de vocês duas, seu marido ficará do lado dela.

- Por Alah... isso é terrível! - reclamou - Não quero me casar, não quero.

- Você vai se acostumar - disse compreensiva - Agora... o que acontece se você precisar de um médico? Se sentir muitas dores, como as que você sente quando suas regras vêm?

- Eu só poderei ser consultada por um médico se o meu marido estiver presente. E ele só poderá me tocar se for uma emergência, caso eu esteja morrendo.

- Ótimo.

- Já acabou? Soraia... essas perguntas não farão diferença.

- Você leu o seu contrato de casamento, não leu?

- O que? Claro que não... eu não vi nenhum contrato.

- Por Alah... Safira! Deveria ter lido, se não entenderia porque faço todas essas perguntas. Você não pode ser devolvida, imagina o que sua mãe faria se uma tragédia dessas acontece?

Safira de imediato colocou sua mão sob o braço machucado. Lembrando do quanto sua mãe era capaz de machuca-la pra conseguir o que quer. Não queria nem imaginar o que Zúria faria se o Sheik devolvesse ela.

- Espero que ele não me devolva, então.

- Bem, se alguém da família de seu marido falecer, o que você deve fazer?

- Preparar um doce de tâmaras e chá preto para as mulheres da família, pois nenhuma de nós pode acompanhar o corpo até o cemitério. Devemos esperar em casa até que a cerimônia se encerre.

- E porque?

- Porque os mortos podem ouvir, e as mulheres choram muito... o que pode pertubar a alma do falecido.

- E além disso nós temos o costume de pedir a Alah pelos mortos. E isso é algo que não devemos fazer, pois não há nenhuma folha que caia sem a permissão Dele, então não devemos tentar mudar o destino. - Acrescentou a criada.

- Está bem, eu me lembrarei de tudo. Eu prometo que farei o meu melhor, mesmo que não queira fazer nada destas coisas. Eu prometo que farei de tudo pra que me aceitem em minha nova família e que a minha nova casa seja muito harmoniosa. Eu prometo, por você. - falou enquanto abraçava Soraia, tão forte quanto podia.

- Eu sei que você fará. És uma verdadeira princesa, teimosa, mas ainda sim uma princesa. Eu a amo, minha menina.

- Oh Sô, eu a amo mais que tudo. Muito obrigada por tudo que faz por mim... se eu pudesse - falou em meio aos soluços - te levaria comigo, jamais te deixaria aqui.

- Eu sei que sim - falou se separando do abraço  - Apenas mais uma coisa...

- O que?

- Sempre esteja arrumada para o seu marido, uma mulher cheia de jóias e perfumada significa que é uma esposa feliz. Se quando seu marido chegar em casa você estiver vestida de qualquer maneira ele poderá se desagradar, e pode até querer se casar com outra mulher ou até mesmo te devolver.

- Casar com outra? Não! Eu jamais permitirei que ele tenha uma segunda esposa - disse exasperada

- Não é você quem decide isso, mas certamente pode evitar que ele pense nessa possibilidade.

- Eu vou me esforçar. Obrigada, de verdade. Eu não sei o que faria sem você.

- Pare de me agradecer, é o meu dever, minha princesa. A sua felicidade é a minha também. Agora deixemos essa conversa de lado, você tem que tomar banho e se arrumar, logo as carruagens ficarão prontas e você partirá com a família do Sheik.



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Até mais, beijão

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