Capítulo II
O sol começava a se esconder atrás do horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa enquanto Safira caminhava ao longo da praia deserta. A areia quente estava refrescada pela brisa do mar, proporcionando um contraste relaxante com a tensão que se acumulava em seu peito. Ela carregava um livro antigo em mãos, um dos poucos itens que a fazia sentir-se verdadeiramente em paz.
A leitura sempre fora uma fuga para Safira, um meio de escapar das obrigações e da pressão que sentia em sua vida cotidiana. A praia, com seu ambiente tranquilo, parecia ser o cenário perfeito para mergulhar nas páginas de um romance histórico. Mas a atmosfera serena e o som suave das ondas não conseguiam acalmar completamente a tempestade interna que a preocupava.
Enquanto caminhava, seu olhar se desviava ocasionalmente para o mar, buscando um senso de conforto. O livro que ela segurava era um presente da irmã Layla, um lembrete da vida que ela desejava longe das pressões do palácio e das obrigações de um casamento arranjado. O desmaio que sofrera no dia anterior ao receber a notícia sobre seu noivado estava ainda fresco em sua mente. O impacto emocional havia sido profundo, e a notícia de que ela estava prometida a um homem que nunca conhecera antes parecia um fardo quase insuportável.
Na distância, a figura de Mustafá estava à espera, destacando-se contra a luz do crepúsculo. Quando ele avistou Safira se aproximando, seus olhos brilharam com uma mistura de esperança e apreensão. A brisa do mar agitava levemente seu manto, e ele se endireitou, sua postura revelando um nervosismo contido.
— Safira — chamou ele, tentando soar descontraído, mas a tensão em sua voz era evidente.
— Devemos nos apressar — respondeu Safira, tentando desviar a atenção de seus pensamentos. — A maré está subindo e a noite se aproxima.
Mustafá balançou a cabeça com um sorriso forçado e fez um gesto para que ela se aproximasse. Juntos, eles se sentaram na areia, o som das ondas criando um fundo melodioso para a conversa que estava prestes a acontecer. A luz suave do crepúsculo lançava sombras longas e profundas, e a sensação de tranquilidade parecia em contraste com a carga emocional que ambos carregavam.
— Há algo que eu preciso lhe dizer — começou Mustafá, sua voz carregada de um tom sério. — Algo que venho guardando em meu coração por um longo tempo.
Safira virou-se para ele, o livro repousando em seu colo. Ela havia notado a tensão na voz dele e se preparou para o que parecia ser um momento importante.
— O que é, Mustafá? — perguntou ela, a curiosidade e a apreensão misturando-se em sua voz.
— Sempre admirei você, Safira — disse Mustafá, olhando para as ondas com uma expressão contemplativa. — E a verdade é que... eu estou apaixonado por você.
As palavras de Mustafá caíram como uma onda inesperada sobre Safira. Ela se congelou por um momento, o coração batendo rapidamente enquanto sua mente tentava processar a magnitude da declaração. A lembrança do desmaio do dia anterior, provocado pela notícia do noivado arranjado, ainda estava muito viva. A realidade era difícil de aceitar, e agora, ouvir uma proposta de casamento parecia quase surreal.
— Mas, Mustafá, você sabe que eu... — começou Safira, mas sua voz falhou, incapaz de encontrar palavras apropriadas para a situação.
— Ouça-me — interrompeu Mustafá, seu olhar se voltando para ela com uma urgência palpável. — Eu entendo que você pode ter seus próprios sonhos e preocupações. No entanto, se você não puder aceitar meu pedido, eu não posso continuar esperando. Não quero ser uma âncora que te prende.
O tom de voz de Mustafá estava carregado de uma tristeza e resignação que Safira nunca tinha visto antes. Ele se levantou e deu alguns passos para longe, seu olhar fixo no horizonte, como se esperasse que a resposta pudesse vir do próprio mar.
— Se você não aceitar, eu precisarei ir embora — disse ele, sua voz agora cheia de desespero. — Não posso ficar aqui, imaginando uma vida que pode nunca acontecer.
As palavras de Mustafá eram um golpe devastador para Safira. Ela sentia um amor genuíno por ele, mas a pressão de um futuro incerto e as responsabilidades impostas pelo casamento arranjado a estavam esmagando. A ameaça de Mustafá de partir se tornava uma questão angustiante, pois ela não queria perder o que tinham, mas também não podia aceitar a proposta sem refletir profundamente.
— Mustafá, por favor, entenda que eu... — começou Safira, sua voz embargada pela emoção crescente. — Não estou pronta para tomar uma decisão assim.
Mustafá virou-se lentamente para encará-la, seus olhos cheios de uma mistura de esperança e desespero.
— Eu sei que é uma decisão difícil — disse ele com um suspiro resignado. — Mas eu preciso saber se você vê um futuro conosco. Se não, eu preciso seguir em frente com minha vida.
O olhar de Mustafá era como uma lâmina afiada cortando a alma de Safira. Ela sabia que ele estava falando com sinceridade, e a dor em seus olhos mostrava o quanto isso significava para ele. A ideia de perder Mustafá e de deixar de lado o que poderia ser um futuro feliz era devastadora para ela. No entanto, a pressão de suas responsabilidades e o peso das expectativas ainda estavam presentes, criando uma montanha de obstáculos entre ela e a felicidade que desejava.
— Dê-me um pouco mais de tempo — pediu Safira, sua voz tremendo com a súplica. — Preciso pensar, refletir sobre tudo isso.
Mustafá assentiu lentamente, sua expressão mostrando compreensão e uma tristeza profunda.
— Está bem — disse ele com um tom resignado. — Vou dar o tempo que você precisa. Mas saiba que minha decisão de ir embora não será fácil para mim, e não quero perder o que temos sem uma resposta clara.
Ele começou a se afastar, seus passos pesados e lentos, como se carregasse o peso de uma decisão que não queria tomar. Safira o observou partir, o sentimento de perda e confusão crescendo dentro dela.
Quando Mustafá estava quase fora de vista, Safira se levantou e correu atrás dele, sua mente uma tempestade de emoções conflitantes. Ela o alcançou perto da borda da praia, seu coração batendo descontroladamente.
— Mustafá, espere! — gritou ela, sua voz carregada de urgência.
Mustafá parou e se virou para encará-la, seu rosto mostrando um misto de alívio e incerteza. Safira tentou recuperar o fôlego antes de continuar.
— Eu não posso aceitar seu pedido de casamento — disse ela, as palavras saindo com dificuldade. — E não porque eu não te amo. Na verdade, é justamente o contrário. Eu tenho sentimentos profundos por você, mas como amigo.
Mustafá parecia atônito e ferido pelas palavras. Sua expressão era de uma dor crua, como se a rejeição tivesse abalado sua própria existência.
— Então, tudo isso foi em vão? — perguntou ele, sua voz quebrando com a dor. — Tudo o que eu esperei, tudo o que eu senti, não valeu nada?
— Não é isso, Mustafá — respondeu Safira, a angústia visível em seus olhos. — É que eu não posso me libertar das expectativas que têm sido impostas a mim. O casamento arranjado, o futuro que tenho que enfrentar... isso tudo é mais do que eu consigo suportar no momento. E, por favor, saiba que meu amor por você é puro, mas é apenas uma amizade profunda.
Mustafá a observou em silêncio, seu rosto mostrando a luta interna entre a compreensão e a frustração. Ele sabia que Safira estava presa entre seus próprios desejos e as exigências de sua vida, mas a dor de ouvir a recusa ainda era palpável.
— Eu entendo — disse Mustafá finalmente, sua voz baixa e cansada. — Se é assim que deve ser, eu preciso aceitar. Mas saiba que eu me importo profundamente com você, e que meu sentimento por você é verdadeiro.
Com essas palavras, Mustafá virou-se e começou a se afastar novamente, seus passos pesados e lentos. Safira o observou partir, seu coração partido e sua mente confusa. Ela sabia que estava perdendo alguém muito especial, mas o peso das responsabilidades e das expectativas ainda era uma montanha difícil de escalar.
Com a noite caindo e a praia se tornando mais escura, Safira se sentou novamente na areia, o livro ainda em suas mãos, agora fechado. A brisa fresca do mar aliviava um pouco a tensão em seu corpo, mas não conseguia afastar a complexidade de seus sentimentos.
O silêncio ao redor parecia amplificar a turbulência interna que ela estava vivenciando. O desmaio do dia anterior ainda era uma lembrança vívida, uma manifestação física do estresse e da tristeza que se acumulavam em sua vida
. O livro em suas mãos era um símbolo do desejo de escapar e encontrar algum tipo de alívio na simplicidade da leitura, mas a realidade estava sempre presente, ameaçando desestabilizá-la.
Ela se levantou com um esforço, decidida a retornar ao palácio, mas com a mente ainda girando em torno das decisões difíceis que precisava tomar. O amanhecer parecia distante, e ela sabia que a noite seria longa e cheia de reflexões.
Ao chegar ao palácio, foi recebida por Soraia, que percebeu imediatamente a expressão abatida de Safira. A criada tentou oferecer um sorriso encorajador, mas sabia que as palavras eram insuficientes para consolar a jovem.
— Boa noite, princesa — disse Soraia suavemente, tentando avaliar o estado emocional da jovem.
— Boa noite, Soraia — respondeu Safira, com um tom de voz cansado. — Preciso de um momento sozinha.
Soraia assentiu e deixou Safira seguir seu caminho até os aposentos. A princesa se dirigiu ao seu quarto, onde se deitou na cama, o livro ainda ao seu lado. Ela tentou afastar os pensamentos tumultuados e encontrar algum alívio na escuridão da noite.
Enquanto o sono não chegava, Safira refletia sobre o futuro que estava prestes a mudar de maneira irrevogável. A proposta de Mustafá trouxe à tona sentimentos complexos e questões profundas sobre seu próprio desejo e suas responsabilidades. A decisão que ela tinha que tomar não era apenas sobre aceitar ou rejeitar um pedido de casamento, mas sobre o caminho que ela queria seguir em sua vida.
A madrugada chegou silenciosa, e Safira sabia que precisava enfrentar a nova realidade que estava se desenrolando diante dela. O amanhecer trouxe consigo uma nova perspectiva, mas a incerteza sobre o futuro e a dor da separação iminente continuavam a assombrar seus pensamentos. Ela se levantou antes do sol, decidida a encontrar algum sentido em meio ao caos de suas emoções.
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