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Capítulo I

Capítulo 1: 1790 - Reino de Omã

Haviam se passado quarenta e nove anos desde que Omã se tornara terra de sultões e sheiks, após a expulsão do povo Otomano daquele local. O reino vivia sua chamada Era de Ouro, quando diversas nações firmaram alianças e as fronteiras se expandiram. Localizado no extremo oriente da Península Arábica, Omã se estendia por vastos desertos e montanhas, com as imponentes Montanhas al-Hajar dominando o centro-leste do território.

No litoral, as cidades mais importantes do reino se erguiam, com destaque para Mascate, onde ficava o palácio real. Ao redor do esplendoroso império, surgiam vilas e mercados, sendo o mercado de peixes um dos mais movimentados, onde o povo de Omã, de todas as classes, se concentrava para comercializar e viver. O reino dependia dessas pessoas, mesmo que muitos não soubessem disso.

No entanto, em meio à riqueza de oásis, mar e deserto, havia alguém que não compartilhava da mesma felicidade: Safira, a jovem princesa. Ela passeava pelo comércio, acompanhada de sua criada Soraia, em busca de tecidos e véus novos. Não que ela gostasse de ostentar ou desfilar com modelos novos, mas fazer compras lhe dava uma sensação de desconexão com a realidade — uma fuga das angústias que a perseguiam.

— Princesa, olhe! — disse Soraia, parando em frente a uma lojinha de véus. — É muito lindo, e combina com seus olhos de safira.

A criada estava encantada com um niqab azul, da mesma cor dos olhos da princesa.

— É muito bonito, mas não vejo por que comprar. — Safira respondeu, seus olhos esgueirando-se para a loja, com a etiqueta de "noivas" visível. — Não vê que é uma loja para noivas, Soraia?

— Me perdoe, mas a princesa é o quê? — Soraia olhou-a com uma expressão de incredulidade. — Noiva, princesa! — a criada disse, com certa ênfase, como se fosse impossível que Safira tivesse esquecido esse pequeno detalhe.

— Eu não vou me casar. — Safira suspirou nervosa, afastando-se da loja com passos lentos. — Vamos embora, Soraia, não há mais nada para comprar neste mercado. Vamos antes que eu te deixe aqui sozinha.

Soraia ficou quieta, sabia que a princesa era teimosa, de espírito livre. O casamento iminente parecia uma prisão para Safira, algo que ela jamais desejaria. A jovem princesa queria ser livre, mas sentia-se aprisionada pela obrigação de se casar com um homem que nem conhecia, desde que soubera, aos quinze anos, que estava prometida desde o nascimento.

Já passava da hora do almoço quando elas retornaram ao palácio, cansadas de tanto andar pelas ruelas do comércio. Safira só desejava algo simples: deitar-se em sua cama e comer um manjar dos deuses, regado a tâmaras, enquanto ouvia sua irmã contar histórias de suas viagens. No entanto, ao entrar em seu quarto, levou um susto ao ver que sua irmã Layla estava de volta.

— Ah, Layla! — Safira exclamou, correndo para abraçá-la. — Eu senti tanta a sua falta!

Layla, mais nova, havia passado os últimos meses viajando por vários reinos, após ter sido expulsa do palácio pela mãe de Safira. Ela era a única que ainda compartilhava com a princesa a saudade do tempo passado juntas.

— Só passei dois meses fora, Safi, não foi tanto tempo assim. — Layla riu, mas ao ver a expressão ansiosa de Safira, seu sorriso se suavizou. — Tudo bem... eu também senti a sua falta. — Ela a abraçou novamente, apertando-a com carinho.

Enquanto as irmãs se abraçavam, Safira sentiu um alívio momentâneo, desejando que aquele momento durasse para sempre, sem separações, sem pressões. Mas o peso do casamento, a promessa que lhe fora imposta, estava sempre à espreita.

— Safi, trouxe presentes! — Layla disse, interrompendo os devaneios da irmã.

— Para mim? — Safira perguntou, a surpresa evidente no tom de sua voz.

— E para quem mais seriam? — Layla sorriu, brincando com a irmã, mas logo percebeu o quanto ela estava cansada e nervosa.

— Me desculpe, acho que estou com um pouco de sono. — Safira respondeu, tentando esconder o desconforto. — Eu e Soraia pegamos muito sol em nosso passeio pela manhã. — Ela forçou um sorriso, sem saber como lidar com o que estava sentindo.

— Pois bem, deixe-me mostrar... — Layla disse, pegando uma caixa e colocando-a sobre a cama de Safira. Com um movimento suave, ela retirou de dentro dela um sári vermelho, feito de um tecido fino e bordado com as mais preciosas joias. Junto com ele, havia um conjunto de top e calças, típicos da Índia.

— São lindas... por Allah, mas devem ter sido tão caras... — Safira ficou atônita, sem palavras diante da beleza dos presentes. — Você não deveria gastar o seu pouco dinheiro comigo.

— É o seu presente de casamento. — Layla respondeu com um sorriso triste, os olhos brilhando com uma leve tristeza. — Quero que você seja a noiva mais linda deste mundo e, mesmo não estando perto de você, quero que sinta a minha presença lá. Porque, Safi, eu nunca, nunca, nunca vou te abandonar.

Safira olhou para a irmã, sentindo um aperto no peito.

— Mas Layla, do que você está falando? Como assim?! Essa é a minha roupa de noiva? Alguém pode me explicar o que está acontecendo?

Layla percebeu, com um baque no peito, que Safira ainda não sabia da verdade sobre seu casamento. A princesa estava prestes a ser lançada em uma realidade completamente desconhecida. Ela olhou para Soraia, que estava ao lado, com o semblante tão perdido quanto o de Safira.

— Ninguém contou para ela?! — Layla exclamou, sentindo um peso em suas palavras.

— Não contaram o quê, Layla? — Safira perguntou, tentando se manter calma, mas a preocupação transparecia em sua voz.

Layla olhou para a irmã com pesar, antes de responder.

— Safi... você vai morar na Índia. O seu noivo... o sheik será transferido para lá. O castelo de vocês está sendo construído há mais de dez anos e estará pronto em breve para o seu casamento. — Layla falou tudo de uma vez, observando as reações da irmã enquanto as palavras caíam pesadas sobre ela.

Safira, que estava em choque, mal conseguiu compreender o que acabara de ouvir. A confusão a tomou de surpresa, e antes que pudesse entender a extensão do que estava sendo dito, ela desmaiou nos braços de Layla.

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