18.
Subi pro meu quarto, era pra viagem ser perfeita. Mas eu não era propriedade de ninguém. Nem um objeto pra Bruna e pro Luan ficarem disputando. Eu já tinha a família dele, a minha me pressionando. E já sabia o que me esperava quando ele me assumisse pras fãs. Não sabia se estava preparada pra isso. Era muita coisa pra minha cabeça.
No meu quarto, aproveitei pra desenhar. Não queria dar de cara com nenhum dos dois pelo hotel, e tinha trabalho a fazer. Estava no segundo desenho quando ouvi batidas na porta.
— Jade? — Era a Dona Marizete.
Corri abri a porta.
— Entra dona Mari.
— Já te disse pra parar com isso, né?
— Desculpa.
— Tudo bem, vim conversar com você. Posso?
— Lógico...
— Percebi que você ficou chateada com os dois no carro. Entendo o porquê. Mas queria te dizer que não ficar brava por muito tempo. É novidade pra eles também. Bruna vê em você a chance de ter uma irmã, e o Luan vê um futuro.
— Eu sei que não é fácil, mas nenhum dos dois me pediram se quer desculpas. Sem contar que os dois erraram e ficaram um jogando a culpa no outro. O Luan não me dá liberdade pra fazer minhas escolhas. E a Bruna acha que tem o direito de me monopolizar também. Eu só queria e precisava de um tempo sozinha. E eles não me dão isso.
— Você está certa. Quer ir tomar um suco comigo?
— Agora não, obrigada. Estou fazendo uns desenhos do trabalho, e não quero encarar os dois agora.
— Tudo bem. Se precisar conversar, eu estou aqui, tá bom?
— Obrigada, Do... — Ela me olhou feio antes de eu terminar — Mari. — Corrigi. Ela sorriu, me deu um abraço, e saiu do meu quarto, me deixando sozinha com meus desenhos e pensamentos.
×
Eu estava morrendo de fome, e com um rombo nas minhas economias. Não podia ficar me dando luxos, mas pedi um misto quente e um suco de laranja no quarto. Já tinha feito três desenhos, e precisava comer algo. Além de ler um pouco. Me sentei na varanda, com vista para o mar, a piscina - não vi a Bruna por ali, nem o Luan - e o pôr do sol. Sentei com meu livro, e meu lanche. Ouvi novamente batidas na porta.
— Jade? — Dessa vez era a Bruna. Eu não poderia ser criança pra sempre também. Afinal, tínhamos viajado juntos. Me levantei, abri a porta, e falei pra ela me seguir. Sentamos na varanda juntas.
— Jade, me desculpa. Você está certa. Eu não poderia te tratar como se você fosse minha boneca. Nem idade pra brincar de boneca eu não tenho mais.
— Tudo bem, Bruna. A situação chata já passou. Eu só precisava ficar um pouco sozinha.
— Você me perdoa mesmo?
— Perdoo. — Ela sorriu e me abraçou.
— O que você ficou fazendo presa nesse quarto hoje? Além de se encher de misto quente e suco?
— Essa foi minha primeira refeição, acredite. Me perdi desenhando pra coleção.
— Posso ver?
Mostrei a ela todo meu portfólio. Ela disse que eu teria que lançar aqueles vestidos para adultas também, pois estavam lindos. Quando me surgiu a ideia. Assim que a Bruna saiu, liguei para dona Aline.
— Jade?
— Dona Aline, a Bruna Santana me deu uma ideia maravilhosa. E se de vez fazermos a coleção infantil, fazermos mãe e filha? Podendo comprar as peças juntas e separadas...
— Jade, eu amei a ideia. Mas e minhas clientes que são mães de meninos apenas? Elas também querem se vestir com os filhos? — Ai me deu o estalo.
— Fazemos uma coleção família então. Roupa para meninos, e para os pais também. Camisas com a mesma estampa dos vestidos.
— Jade... Você é maravilhosa. Acha que consegue desenhar toda a coleção a tempo?
— Quanto tempo temos ainda?
— Mais um mês... O lançamento será daqui dois. Precisamos confeccionar antes pras fotos.
— Posso tentar.
— Vai desenhando, sei que você está em viagem, me manda as fotos do que você tiver fazendo e já vamos decidindo e produzindo.
— Tá bom.
— Jade, obrigada por usar seu talento com isso.
— Imagina dona Aline. - Nessa hora eu ouvi batidas na porta. — Preciso ir, amanhã já mando as fotos pra senhora.
— Divirta-se também, Jade. Tchau.
Desliguei a ligação e abri a porta, era o Luan, com uma cara de cão que caiu da mudança, e o violão na mão.
— Vim falar com você. Posso entrar?
— Pode. — Dei espaço pra ele, e fechei a porta. Ele sentou na cama, e ficou me olhando.
— Primeiro vim te pedir desculpas. E perguntar se você quer jantar com a gente. — Olhei pra fora, estava escuro. Peguei meu celular. Já eram 20h30.
— Desculpas aceitas. Acho que quero sim. — me sentei na cama, ao lado dele. Que sorriu.
— Preparei algo pra você.
Mais batidas na porta.
— Jade, janta conosco? Estou indo chamar o Luan. — Era seu Amarildo.
— Vamos, depois você me mostra o que fez.
— Tá bom. Só me dá um beijo antes de irmos?
— Como dizer não com essa cara de pidao?
E então nós beijamos. Até ouvirmos as batidas na porta novamente.
— Jade, o Luan está por aí? — Era seu Amarildo mais uma vez.
Rimos, abrimos a porta, e saímos pra um jantar.
×
Luan passou no meu quarto, pra pegar o violão.
— Você não vai me mostrar o que preparou?
— Posso ficar um pouco aqui?
— Pode.
— Já que eu toco pra você. Me responde umas coisas antes?
— Claro.
— O que você ficou fazendo a tarde toda?
— Trabalhando.
— Você iria escolher ficar em que quarto?
— No da Bruna. Desculpa.
— Tudo bem. Posso saber o porquê?
— Porque eu não sei se estou pronta pra algo físico. E estando no seu quarto, eu não sei se resistiria. Poderia fazer algo e me arrepender. Não é algo que eu queira. Me arrepender de algo com você.
— Entendo. Quer ir pro quarto dela? A gente cancela esse aqui.
— Não. Acho que gosto de ter um espaço só meu.
— Posso te ajudar com pelo menos metade? Eu sem querer, vi sua conta. Não quero ser culpado pela sua falência.
— A gente pode conversar sobre isso depois.
— Tudo bem.
Me aconcheguei no braço dele.
— Você não tem algo pra me mostrar?
— Tenho, mas inclui o violão.
— Tudo bem. — Me afastei. E deixei ele pegar o violão.
Quando ele começou a cantar:
" Raridade é ver o Sol depois da tempestade
É esquecer a mentira e só ver a verdade
O que machucou é tão difícil de esquecer
Raridade é conseguir sorrir depois da briga
Só quem ama muito enxerga a saída
E quando se vê livre nosso amor
Invade nosso coração, renova a nossa paixão
Raridade é ver um mundo hoje é meu e seu
É confiar em mim, te conhecer valeu
E vale cada dia mais
É complicado conviver com algo tão incomum
Mas a vontade de vencer é o que nos torna um
Acredite, é raridade!
Eu te amo eternamente, minha Jade"
Eu não conseguia conter as lágrimas.
— Outra música perfeita?
— Você gostou mesmo?
— Eu amei Luan.
Ficamos mais um tempo no meu quarto, aos beijos. Até que percebi um volume abaixo do seu shorts. Comecei a gargalhar.
— O que foi, Jade?
Apontei pro volume e ele perdeu a cor.
— Jade, me perdoa. Tá difícil me controlar.
— Tudo bem Luan.
— Quero que você saiba, que eu não vou forçar nada. Que vou esperar seu tempo.
— E quando o tempo acabar, o que você vai fazer?
— Quer ter certeza?
— Acho que eu quero.
— Primeiro, vou beijar essa boquinha linda. Depois essa bochecha, descer para o pescoço... — Ele me olhava com um olhar de desejo. — Ah, Jade. Não faz isso, que fica mais difícil. Não morde o lábio assim. — Eu nem percebi que estava mordendo.
—Então vamos parar a conversa por aqui. Porque por aqui também não está fácil. Ainda mais depois do meu sonho. — Acrescentei mentalmente.
— Que sonho?
— Eu falei alto? — Eu tinha achado que tinha pensado, apenas.
— Falou.
— Meu Deus, que vergonha.
— Que sonho, Jade?
— No jato, sonhei que tínhamos feito ali mesmo.
— Olha, teria sido uma primeira vez maravilhosa. Quem sabe na volta pra São Paulo?
— Vai sonhando.
— Quem sonhou foi você. Não eu.
— Tá bom, Luan. Hora de voltar pro seu quarto.
Ele me agarrou por mais um tempo, e então foi pro quarto dele.
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