Capítulo Vinte e Três
- Admita.
- Não tenho nada para admitir.
- Admita.
- Will!
- Admitida que Luke Hemmings eleva seus níveis de estrogênio. Ele eleva os meus.
Estávamos no sofá da sala, vendo um filme que havia sido lançado no dia anterior na Netflix, mas assim que o assunto se voltou para Luke, Will perdeu totalmente a concentração. Eu havia contado tudo para ele sobre a noite passada.
- Ainda não acredito que vocês se pegaram, bem aqui, nesse sofá. Como é ter aquilo tudo em cima de você?
Lembrei do peso de Luke sobre mim, seus lábios treinados no meu pescoço, sua mão deslizando por baixo da minha blusa...
- Sua cara diz tudo. – Will deitou no meu colo com um suspiro. – Senhor, envia um desses pra mim! Você não disse que ele tem um amigo gostoso?
- O Ashton. Mas já te falei que ele é hétero.
- E eu já falei que adoro os héteros. Agora admita.
- Admitir o quê?!
- Que você está de quatro por ele. – Will abriu um sorriso safado. – Ou que teria ficado se Max não tivesse...
Eu o olhei de boca aberta, então peguei a almofada e coloquei sobre seu rosto.
- Que mente imunda a sua! – falei, ainda meio surpresa, mas rindo.
Will deu tapinhas no meu braço até que eu o soltei.
- Vai bagunçar meu cabelo! – ele gritou, sentando longe de mim. – Se eu fosse você, querida, meus joelhos viveriam grudados no chão sempre que aquele homem passasse por uma porta.
- Nem tudo se resume a sexo, Will. Luke me deixa louca. – notei o sorrisinho dele. – Não estou falando nesse sentido.
- Então você vai dizer que não?
Fingi olhar para a TV por um momento, então suspirei.
- Nem sei o que ele quis dizer com aquilo.
- “Seja a minha garota”. Não é óbvio?
- O que significa ser a garota de alguém?
- Significa mais amassos no sofá. Isso é tudo o que você precisa saber para aceitar.
- Mas isso envolve exclusividade? Não sei se gostaria de saber que, antes de estar na minha boca, a língua dele andou por... outros lugares. – fiz uma careta. Eca.
- Não sabe se quer?
- Não quero, eu quis dizer. De jeito nenhum.
Will pensou por um momento.
- Nesse ponto você tem razão. Ele poderia passar algo para você.
- Will!
- O quê? Sabe se lá onde ele anda esfregando as suas coisas.
- E se ele estiver pensando em exclusividade só da minha parte? Quer dizer, ele não gostou nada de me ver beijando o Patrick.
- Quer dizer ele saindo com outras mulheres e você não?
- Isso.
- Seria um puta machista.
- Bom, eu não duvido. Isso seria muito a cara dele.
- Mas isso significa que ele gosta de você, ao menos um pouco. Quer dizer, ele admitiu sentir ciúmes e quer ter algum tipo de relação com você.
- Esse é o ponto. Que tipo de relação?
- Vá lá e pergunte para ele.
- De jeito nenhum. Eu pedi folga para o Phill hoje para não ter que ver o Luke.
- Vai ficar fugindo dele? O cara sabe onde você mora, Jay, aposto que ele aparece aqui a qualquer momento.
- Você acha mesmo?! – lancei um olhar para mim mesma. Estava um caos. Usava moletom e uma blusa de alcinha velha. Meu cabelo estava preso em um coque desgrenhado e tinha certeza que os salgadinhos que havia comido durante o filme deixaram minha boca laranja.
- E ele tem passe livre com o seu porteiro. Não vai nem interfonar.
Droga. Luke havia aparecido justo em uma noite em que o sr. Suárez estava substituindo o porteiro noturno. Agora ele o deixaria subir sempre que aparecesse ali. Bom, isso seria até que o sr. Suárez comentasse com a tia Becky e descobrisse que eu não tinha primo nenhum. Eu havia comprado o silêncio de Max com uma promessa de levá-lo para passear, mas até quando uma criança de cinco anos guarda um segredo?
- Preciso falar com a minha tia. – conclui.
- Sua tia é jovem, ela não vai criar caso.
Aquilo era verdade. Talvez não fosse um problema.
- Mas e o Luke? O que você vai dizer pra ele?
Foi minha vez de deitar no colo de Will.
- Eu não sei. Me diga o que eu tenho que fazer.
- Se aproveite daquele corpo o quanto puder. Essa é minha sugestão.
Revirei os olhos. Will era pure fuego.
Depois de muito enrolar, acabei tomando coragem e fui até o Comic’s. Queria resolver tudo aquilo de uma vez. Diria não para Luke e sua proposta de ménage. Ele nunca ficaria apenas comigo, então seria melhor acabar com aquilo de uma vez. Estava decidida e firme, mas aquilo não me impedia de sentir um iceberg na barriga. Eu não queria ficar com ele daquela maneira, mas tampouco desejava que desaparecesse completamente. Deveria, porque ele estava trazendo à tona o pior de mim, mas não conseguia fazer isso. E, para piorar, o beijo que ele me deu na parada de ônibus e a forma que segurou meu rosto antes de ir embora na noite passada me pareceram tão ternos. Aquilo me dava uma ponta de esperança de que talvez, só talvez, Luke pudesse ser o tipo de cara com quem eu poderia estar.
Entrei no restaurante com o coração aos pulos. Olhei o lugar, que estava mais ou menos cheio, e não o vi. Provavelmente estava fazendo alguma entrega. Sentei em uma das mesas próximas da saída e esperei. Sofia, que parecia estar cobrindo o meu posto, logo apareceu.
- Quase não reconheci você sem fantasia. – ela brincou.
- Olá. Como está o dia?
- Mais ou menos. – ela deu de ombros e preparou a caneta. – Você já sabe o cardápio de cabeça. Me diga o que vai querer.
Pensei por meio minuto. Não estava realmente com fome.
- Só algumas batatas. E água, por favor.
- Ok. – ela começou a se afastar.
- Ei, Sofia.
- Hum?
- O Luke está na cozinha?
- Ah, não. Saiu para algumas entregas.
Acenei com a cabeça e ela se foi. Iria ter que esperar um tempinho, então. Aquilo não ajudava com a minha ansiedade. Talvez eu devesse voltar para casa e esperar ele lá... Não, má ideia. Eu precisava da segurança de um lugar público para ter certeza que as mãos dele ficariam longe de mim. A última coisa que eu queria era ser influenciada na hora da decisão.
Patrick apareceu com meu pedido em tempo recorde, mas no lugar de só deixar ali, ele empurrou minha cintura com a dele para que eu abrisse espaço no banco. Quando se acomodou, passou um braço por meus ombros e sorriu.
- Então, Julia, quando e onde?
- O quê?
- Nosso encontro, lembra?
Aquele garoto ainda mantinha aquela chama acesa?
- Patrick... – comecei, mas ele me cortou.
- Você prometeu. Escuta, eu tenho entradas para um lugar chamado The Vine, deve ser uma boate nova ou algo assim. Podemos ir.
Automaticamente pensei em Luke, ele não ficaria nada feliz. Qual o meu problema? Por que eu estava me importando com o que Luke iria pensar? Não era ele quem queria uma amizade colorida e nada mais?
- Tudo bem, vamos hoje a noite. – concordei, pegando a batata que ele segurava e a colocando na boca. Sorri. Patrick ergueu a mão, como se fosse tocar meu rosto.
- Se eu fosse você eu não faria isso. – Luke avisou, aparecendo do nada.
- Opa, eu não sabia que você estava acompanhada. – Patrick pareceu meio nervoso, mas a minha aceitação em sair com ele pareceu lhe dar coragem, pois não saiu correndo, nem mesmo quando Luke se inclinou sobre a mesa para olhá-lo na cara e falou:
- Eu vou contar até três. No um, espero que tire as mãos de cima dela. No dois, que leve sua bunda para fora desse lugar e, no três, que compre uma passagem para a África. Talvez seja longe o suficiente para me impedir de ir atrás de você.
Patrick se contorceu no banco e puxou o braço para longe de mim. Luke nem havia começado a contar.
- Calma aí, cara, não precisa bancar o macho alfa territorial. Qual o seu problema?
- Você é o meu problema.
- Que coincidência, você é o meu problema também.
Luke ficou de pé, todo o seu metro e noventa se estendeu sobre nós. Ele cruzou os braços e eu pude ver seu tríceps. A imagem fez tudo abaixo da minha cintura se contrair.
- Eu sou seu problema, garoto? Então por que não vem resolver?
Patrick se remexeu na cadeira. Eu estava com dificuldade em tirar os olhos dos braços de Luke e me concentrar no que eles estavam falando.
- Não quero ser demitido. – Patrick resmungou.
- Podemos ir lá para fora, depois do turno.
- Desculpe, já tenho planos para mais tarde. – ele levantou. - Aproveite agora, pois à noite ela é minha. – falou antes de sair, parecendo satisfeito consigo mesmo.
Luke o olhava confuso.
- Mas de que merda ele estava falando? – perguntou pegando o lugar de Patrick ao meu lado.
Eu pisquei rapidamente, deixando a sensação dos braços dele ao meu redor me apertando irem embora.
- Ele me convidou para sair mais tarde. – falei, dando um gole na água. Todos aqueles pensamentos haviam subido minha temperatura.
- E você aceitou?
- Claro.
- Por que fez isso? – Luke me olhava bravo, sua testa franzida.
- Ele me convidou, eu aceitei. O que tem de chocante nisso?
Ele me olhava perplexo.
- Você está falando sério ou só adora foder com a minha cabeça? Quando eu te vi aqui pensei que, por fim, teria minha resposta e no lugar disso descubro que você vai sair com aquele moleque?
- O que foi? Só você pode sair com outras pessoas? – agora eu também estava irritada. Como Will o havia chamado? Puto machista.
- Do que você está falando?
- Que você pode sair com quantas quiser e espera que eu seja exclusividade sua! Vai sonhando.
- Eu não saí com ninguém além de você ultimamente... - ele pareceu lembrar de algo, aquilo fez algo dentro de mim se apertar, daquela vez não de um jeito bom. Com quem ele esteve?
- Ah, jura?
- Foi antes da gente resolver as coisas.
- Nada aqui foi resolvido.
- Você acha que eu sairia com outra mulher depois do que falei?
- Não vejo motivo para não sair.
- Você é o motivo, caralho! – ele meio que gritou, fazendo alguns clientes nos olhar. Luke se afastou um pouco de mim e virou o rosto, pensando um pouco antes de seguir. – Ben saía com outras garotas quando estava com você?
- Claro que não!
- Ah, claro, entendi. Ele é o cara perfeito e eu sou o tipo que faz merda.
- Não, Luke. Quero dizer, a diferença é que Ben era meu namorado.
- E agora você quer um sex toy? – Luke estava mais que bravo, parecia querer quebrar alguma coisa. Então, após um minuto daquele olhar, sua raiva caiu, deixando no lugar algo parecido com decepção. – Por que você quer isso?
- Não fale como se a ideia tivesse sido minha!
- E de quem foi então?
- Sinceramente, eu não sei o que significa “ser a garota” de alguém. Isso inclui a exclusividade?
Ele me olhava como se eu fosse estúpida. Bom, eu era mesmo meio estúpida, só quando estava perto dele.
- É claro que sim, Evans. Quero que seja minha, só minha, e eu quero ser seu.
Suas palavras eram como ouro líquido escorrendo dentro de mim. Elas me esquentaram desde os dedos dos pés até a cabeça. A sensação era tão boa que me deu vontade de sorrir.
- Eu não sabia. – falei, um tanto entorpecida. Ele queria ser meu.
- Tão impossível às vezes. Acha mesmo que eu dividiria você? - suas mãos seguraram minha cintura e me levaram para perto. – Não quero mãos que não sejam as minhas em você. – então sua boca tocou a minha, ternamente. Seu cheiro me invadiu, fazendo meu corpo reagir imediatamente. Passei os dedos em seu cabelo longo. Nos separamos rápido demais.
- Estou em horário de trabalho. – ele falou, sorrindo.
- Que grande pena. – eu retribuía seu sorriso.
- Você pode me esperar, não falta muito.
Meu sorriso morreu. Baixei o olhar para minhas mãos.
- Luke, eu realmente não sabia que éramos... hum, que estávamos juntos desse jeito, por isso aceitei o convite do Patrick.
- Tudo bem, eu vou perdoar a sua ignorância sobre nós dois.
Sorri bobamente com o “nós dois”. O que tinha de errado comigo? Eu havia acabado de sair de um relacionamento, ouvi muitos “nós dois” do Ben, e não lembrava de um ter me deixado tão feliz. Infelizmente durou só um segundo. – Eu preciso sair com ele. – falei, assistindo seu humor escurecer.
- Não, não precisa.
- Eu prometi há alguns meses que se terminasse com Ben, sairia com ele. Na época ele estava bem mal.
- Mas não está agora, não é? Ele que vá buscar outra garota. Não seja tonta, Julia, esse cara está usando a sua promessa para colocar as mãos em você e, acredite, ele não vai fazer isso. – o tom de Luke era indiscutivelmente seguro, como se confirmasse que o mundo era redondo. – Além do mais, foi uma promessa feita há meses e sob pressão sentimental, isso anula a dívida.
- Quem disse?
- Sir Luke Hemmings. Grande pensador.
Revirei os olhos.
- Aquela promessa pode ter sido há muito tempo, mas não faz nem quinze minutos que aceitei o convite. – Luke me olhou duro, o azul de seus olhos ficaram tensos, e me apressei em continuar. – Escute, eu só quero me livrar dessa dívida, ok? Vamos a um tal de The Vine, eu conto que estou com você, bebemos alguma coisa, conversamos sobre algo que não seja o trabalho, dançamos e fim. – dei de ombros para enfatizar que não era grande coisa.
- Então, você quer que eu fique sentado enquanto minha garota saí com outro cara para beber e dançar?
- Temos dezessete, não podemos beber.
- Eu tinha catorze quando consegui minha primeira cerveja.
- Nós não somos você. Qual é, vai ser uma saída de amigos.
Luke bufou e cruzou os braços, deixando de me olhar. Ficou todo um minuto assim, então, do nada, mudou de expressão.
- Ok.
O olhei desconfiada.
- Ok?
- É, Julia, você tem razão. É só uma saída de amigos.
- Hum... Com certeza é.
Eu ainda estava confusa quando Luke voltou a colar sua testa na minha. Sempre que ele fazia aquilo, eu tinha a mania de esquecer que estava em público. Era como se fosse transportada para um lugar onde só estávamos nós dois e o resto do mundo já não existisse.
Luke beijou meu nariz, minhas bochechas e meu queixo. Prendeu o olhar no meu e afastou uma mecha do meu cabelo com a ponta do dedo. Aquilo sempre me desarmava, seu toque quente me tirava o chão e eu precisava fechar os olhos, encontrando dificuldade para respirar, por isso abria a boca. Geralmente era nesse momento que ele me atacava, começando seus beijos tão particulares, mas não daquela vez. Esperei e esperei, mas nada veio. Abri os olhos e o encontrei me olhando divertido.
- Eu não vou beijar você. – avisou.
- Por que não? – perguntei. Estava com mau hálito?
- Assim você voltará mais rápido. – seu sorriso aumentou. – Quando voltar, beijarei você até que seus lábios gravem minhas digitais neles.
- Lábios não têm impressões digitais.
Ele abriu um sorriso safado.
- Vou ter que usar os dedos, então.
Sua promessa me esquentou, eu apertei as pernas e mordi o lábio. Luke engoliu em seco, seus olhos entregavam o seu desejo, mas se manteve firme. Inclinou-se para passar o nariz no meu rosto, absorvendo meu cheiro, e apertou minha cintura. Eu mesma busquei sua boca, ávida, mas ele se afastou e eu reclamei com um grunhido. Eu grunhi?
- Até depois. – ele soprou e levantou.
Agarrei sua mão rapidamente.
- Vai me deixar assim?
- Ainda vai sair com o jardim de infância?
Soltei sua mão e cruzei os braços. Luke ergueu um canto da boca.
- Vou esperar ansiosamente por você, Julia.
E ele foi embora.
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