Capítulo Vinte e Seis
Julia estava sorrindo, o mesmo sorriso que mostrou no parque, enquanto brincava com seu irmão. Era um sorriso terno e espontâneo e, daquela vez, ele era dado a mim. Sua covinha apareceu e eu quis beijá-la ali. Cheguei mais perto, fazendo que seu rosto adotasse aquela expressão, como se todos os pensamentos lhe tivessem escapado. Puxei a ponta de sua trança, fazendo-a erguer a cabeça. Passei o polegar em sua bochecha rosada, segurei o rosto no lugar e capturei sua boca com a minha. Ela era doce e macia... Então eu fui esmagado.
Abri os olhos e tive um vislumbre da parede do meu quarto antes de algo muito pesado rolar outra vez sobre mim.
Eu estava sendo esmagado de lado, por algo que parecia estar tentando foder minha coxa.
- Ai, Hemmings, que gostoso da porra que você é! Vai, querido, goza pra mim!
- Mas que... – tentei tirar ele de cima de mim, mas um dos meus braços estava preso debaixo do meu corpo. Ashton começou a respirar como um cachorro.
Comecei a me contorcer até derrubar ele no colchão. Ashton soltou um suspiro dramático.
- Foi a melhor foda da minha vida, amor. – disse, tentando acariciar meu peito.
Eu me afastei o máximo possível sem cair da cama.
- Que merda você faz aqui? – perguntei, fazendo uma careta. Estava com um puta bafo.
- Senti saudade do meu Pookie Lookie. – ele respondeu com um sorriso divertido.
Meus pensamentos ainda estavam confusos entre o sonho e a realidade.
- Como você entrou aqui? – perguntei, esfregando o rosto.
- Sério? Já esqueceu como se arromba uma porta?
- Como você descobriu onde eu estava?
- Sua mãe me contou.
- Que grande fofoqueira, Liz. – resmunguei.
- Não culpe a sua mãe. Eu precisei cobrir meu corpo nu de chocolate e fazer uma dança sensual até ela se render.
Eu lancei um olhar puto pra ele.
- Não se preocupe, amor, com você foi melhor. – Ashton pulou da cama para desviar do meu soco. Ele riu e foi até a janela, puxou a cortina. Minha cabeça quase explodiu.
- Merda! – virei de costas para a claridade. – Como você adivinhou que eu alugaria o mesmo apartamento?
- Conheço a sua praticidade, meu garoto. Só precisei confirmar com o porteiro.
- Você não pode largar as minhas bolas por uma semana? Inferno.
- Eu vim salvar as suas bolas, cuzão.
- Do que está falando?
- Rivers estava farejando você. Descobriu que eu fiz o último serviço sozinho.
Aquilo chamou minha atenção. Me virei para olhá-lo.
- Como?
Ashton deu de ombros.
- Ele é o Rivers.
Sim, aquilo explicava tudo. Se quisesse, Rivers descobriria até a marca das calcinhas da minha mãe.
- Merda.
- Não se preocupe, surgiu um novo serviço. A gente cuida disso e, com sorte, ele esquece do outro.
Levantei da cama, coçando a cabeça e procurando meu jeans pelo chão.
- Onde é?
- Watsonville.
- Mais alguma informação?
- Documentos outra vez.
Achei minha calça e a vesti.
- Simples. – falei.
- É um dos contatos dourados.
Parei de subir o zíper na metade. Os contatos dourados do Rivers eram elite.
- E ele nos deu esse serviço? – perguntei, confuso. Geralmente eram os caras de maior confiança do chefe que lidavam com os contatos mais importantes. Ashton e eu estávamos longe disso.
- Pode ser um teste. Talvez ele queira nos promover. – disse Ashton.
- Ou talvez ele queira que mandem nos matar.
- Também é uma possibilidade.
Terminei de me vestir pensando naquilo. Ao menos já estávamos na Califórnia, seria apenas uma viagem de duas horas e meia, menos, se fôssemos de moto.
- Preciso ir trabalhar. – falei.
- Você arranjou um emprego? De novo? Cara!
- É o mesmo.
Ashton balançou a cabeça. Continuei falando.
- Vai alugar algum quarto?
- Seu sofá está ótimo para mim. Estou economizando para comprar um lugar. Meus irmãos me deixam louco quando estou em casa.
- Você não vai ficar aqui.
- Ah, qual é, cara! Por que não?
Porque eu pretendo usar o sofá, a cama e todas as outras superfícies com Julia. Não preciso de um espectador.
- Você sabe o que Rivers diz. Temos que ficar separados.
- Vai ser coisa rápida, talvez hoje mesmo. Amanhã podemos dar o fora.
- Hoje?
- Algum compromisso?
Sim, porra, hoje é o aniversário da Julia.
- Só o trabalho. – resmunguei.
- Ah. Relaxa, provavelmente vai ser depois do seu expediente de bom moço.
Depois do trabalho eu vou levar ela para o cinema. Caralho, a sorte adorava cuspir na minha cara.
- O que você tem para comer? – Ashton perguntou, me seguindo para fora do quarto.
- Não sei, cereal. Peça alguma coisa.
- Não tenho dinheiro.
Eu me virei para olhá-lo.
- Já torrou tudo? Dos dois últimos serviços?
- Você sabe o que significa economizar?
- O dinheiro para a comida não entra nisso, idiota.
- Vamos, Hemmo, com dez dólares eu consigo um hambúrguer. É só até hoje a noite.
Pensei em chutá-lo do meu apartamento, mas estava atrasado. Peguei uma nota do bolso e a bati no seu peito.
- Eu não sou sua vadia banqueira. – avisei, saindo. – E conserte minha fechadura antes de ir embora.
- Está dizendo que não posso ficar aqui? Mesmo?
Não respondi, mas a batida da porta deve ter servido como uma.
Como era costume, sempre que não haviam muitas entregas, Phil acabava me colocando para ajudar na cozinha ou os garçons, então eu estava no Comic’s quando Julia chegou, no meio da tarde. Eu a vi entrar e consegui alcançá-la antes que entrasse no banheiro para se trocar.
- Feliz aniversário. – falei, após puxá-la para um canto mais reservado e lhe dar um beijo.
- Obrigada. – ela falou, sorrindo.
- Eu sei que beijo muito bem, mas não precisa agradecer todos eles. – brinquei, fazendo-a rir.
- Você é muito bobo.
Fiz um carinho em seu rosto, com as costas da mão e lhe dei mais um beijo rápido.
- Como está sendo o seu dia especial? – perguntei.
- Nada especial.
- Mesmo?
- Bom, eu acordei com o coro de “Feliz aniversário!” e um brownie com uma vela, mas tia Becky vai embora amanhã, então o clima está meio triste lá em casa.
- Tudo já está resolvido?
- Sim. Calum já é o nosso responsável legal. – Julia desviou o olhar. – Eu estou feliz que Becky finalmente vai voltar para sua vida, mas...
- Mas você vai sentir falta dela.
- Muita.
Puxei-a para um abraço, apoiando o queixo em sua cabeça.
- Ela pode visitar vocês sempre que quiser.
- Não é tão simples, ela mora em Boston.
- Não é tão ruim, apenas um cara separa vocês.
- Um cara?
- Oregon.
Ela tentou sorrir com a minha piada idiota, sobre o estado entre a casa da tia Becky e nós, mas foi algo triste. Phil nos achou bem nesse momento.
- O que fazem aí escondidos? Há um pedido esperando para ser entregue! E você, vá trocar de roupa.
- Sim, Phil. – Julia escorregou entre a parede e eu e correu para o banheiro.
- Estou de olho em você. – ele falou, me encarando.
- Eu sou muito bonito, eu sei. – pisquei para ele e voltei para o salão. Maggie me passou o endereço do pedido e fui buscar a mochila na cozinha. O lugar ficava na mesma quadra do restaurante. Dirigi até lá resmungando sobre pessoas preguiçosas que não buscam a própria comida e, quando estava subindo na moto para voltar, meu celular vibrou.
- E aí? – atendi. Era Ashton.
- Rivers acabou de mandar as instruções.
- E?
- Restaurante Tesse, sala privada. Oito e meia. O figurão vai estar com um lenço vermelho no bolso do paletó.
- Entendido. Você está com a encomenda?
- Tudo pronto. Vou alugar um carro e passo para te pegar lá pelas seis.
Subi na minha moto e peguei o capacete com a mão livre.
- Eu cuido disso, pode deixar. – falei.
- Quê?
- Você fez o outro serviço sozinho, deixe que eu me encarrego desse. Vá curtir a noite.
- Do que você está falando? Eu vou com você.
- Sério, cara, é coisa simples. Você ainda tem o número daquela garota? A estudante de fisioterapia? Ligue para ela. Ou arranje outra, não sei.
Ashton ficou meio segundo quieto.
- Em quê você está metido, Hemmings?
- Eu preciso voltar para o restaurante, tenho entregas. Venha deixar os documentos.
- Não fode, cara, fala logo.
- Não demore, encontro você no estacionamento. – falei e desliguei. Um plano se formando na minha cabeça.
- Jantar, eu e você, hoje a noite. – falei para Julia, pegando a bandeja pesada que ela carregava.
- Você vai dividir um hambúrguer de drive thru comigo? Porque é o que eu pretendo jantar.
Chegamos até a mesa e ela serviu os clientes. A acompanhei de volta para a cozinha.
- Mas é o seu aniversário. Tem que ser algo especial.
- Luke, eu vou sair daqui às oito. Onde vamos conseguir reservas a essa hora?
- Eu já tenho.
Ela parou de repente.
- Ah é? Onde?
- Surpresa.
- Por que não me avisou antes? – ela voltou a se mover. Paramos junto ao balcão.
- Surpresa.
- Essa é a palavra do dia.
- Achou mesmo que não íamos comemorar?
Julia sorriu.
- Ok, tudo bem. Vai ser legal, nosso primeiro jantar.
- Romântico.
Ela ergueu uma sobrancelha, divertida.
- Romântico?
- O que foi?
- Ah, nada, só nunca achei que essa era uma das suas qualidades.
- Eu sou muito romântico!
- Não é não.
- Ok, certo. Mas hoje serei. Eu vou até usar um terno!
- Um terno? Para onde vamos? – agora ela parecia um pouco preocupada.
- Para o lugar perfeito.
Julia me olhou mordendo o lábio.
- Não tenho o que vestir para ir a lugares perfeitos.
- Podemos comprar alguma coisa.
- Tá brincando?
- Pode ser seu presente de aniversário. – tentei pegar minha carteira, mas ela segurou minha mão.
- Não, Luke, já vamos ter o jantar.
- E daí? Me deixe comprar um vestido pra você.
- Eu posso usar o do casamento.
Lembrei do vestido que eu havia lhe comprado e ela nunca descobriu.
- E que tal aquele preto? Sonho em tirar ele de você desde aquela noite. – abri um sorriso malicioso, puxando-a pela cintura. Julia sorriu de volta, espalmando as mãos no meu peito.
- Não temos espetáculos ao vivo.
Desviei o olhar e encontrei Phil, vermelho e suado, nos encarando. Julia se afastou rapidamente.
- Que bom que está aqui, Phil, precisamos sair mais cedo, hoje. – falei.
- Sair mais cedo? Os dois? Impossível.
- É o aniversário dela. – mantive o sorriso no rosto com algum esforço.
- Feliz aniversário. – ele resmungou.
- Obrigada.
- Mas vocês não podem ir. – completou.
- Por que não? As entregas estão fracas. – falei.
- Bom, é. Você pode ir, mas ela não. Você já teve muitas saídas, garota.
- Eu paguei todas, trabalhando nos fins de semana. – Julia lembrou.
- Mesmo assim. Voltem ao trabalho.
O gorducho saiu, caminhando daquele jeito, como um pato.
- Espere aqui. – falei para Julia e o alcancei.
- Eu já disse que não. - ele cuspiu, entrando na sua sala. Eu me espremi, forçando a porta que ele tentava fechar.
- Qual é, é o aniversário dela. – repetir, lá dentro.
- Quer saber? Eu não me importo, rapaz.
Dei a volta na sua mesa, apoiei minhas mãos nos braços de sua cadeira e me inclinei, para olhá-lo bem de perto.
- Quer saber? Eu me importo. – falei, em um tom baixo e pausado. – Ela é minha namorada e eu vou levá-la para jantar hoje a noite.
- Vocês... Vocês podem fazer isso mais tarde. – ele estava nervoso. Eu podia contar as gotas de suor na sua testa.
- Acontece que eu fiz uma reserva em um restaurante fora da cidade. Precisamos de tempo, eu não quero me atrasar. Atrasos me deixam... irritado. E, você sabe, quando estamos irritados, fazemos coisas que nos arrependemos depois.
Phil engoliu em seco. Seus olhinhos de porco estavam arregalados.
- Que tipo de coisas? – perguntou.
Fiquei ereto e dei de ombros, caminhando casualmente até uma janela. Eu podia ver parte do estacionamento dali.
- Não sei... Por exemplo, uma vez eu fiquei tão irritado que acabei quebrando todos os vidros do meu carro. Acontece que eu me confundi, sabe, eu não tinha carro. – coloquei o dedo na janela, apontando para um ford taurus prata. Era o carro dele.
- Você está me ameaçando? – o tom dele estava entre o temor e a ofensa.
Virei em sua direção lentamente.
- Só estou contando uma história.
- Eu não gostei da sua história, rapaz.
Peguei minha carteira e tirei duas notas dela. Ergui a primeira.
- O nosso amigo Ulysses Grant pede desculpas. – lhe oferecia os cinquenta dólares. Phil hesitou, mas acabou pegando, duvidoso. – E o grande Benjamin Franklin quer lhe fazer companhia enquanto Julia e eu vamos comemorar o aniversário dela. O que me diz? – entreguei a nota de cem e, daquela vez, ele a pegou sem cerimônia.
- Eu acho... – limpou a garganta. – Acho que está tudo bem. O movimento está fraco, hoje.
Sorri.
- Foi o que pensei desde o início.
Julia estava esperando no mesmo lugar, não havia mesas para atender. Parei junto a ela.
- Vamos nos trocar. – falei, sorrindo.
- Phil deixou? Como você convenceu ele?
- Com uma simples conversa.
Ela me olhou desconfiada, mas antes de responder, alguma coisa chamou sua atenção na entrada.
- Ei, olha, é o Ashton.
Me virei e o vi desviando de um dos garçons. Roubou uma batata frita da bandeja e a jogou na boca.
- É melhor você ir se trocar. – falei, rapidamente.
- Nós vamos agora?
- Eu ainda tenho que deixar você em casa e comprar um terno.
- Precisa da minha opinião?
- Você não pode me ver vestido antes da ocasião.
Julia riu.
- Você é algum tipo de noiva?
- Algo assim. – Ashton nos encontrou e começou a se aproximar. – É melhor você ir, vamos nos atrasar.
- Hm... ok. – ela acenou para Ashton e foi em direção aos banheiros. Ele chegou logo em seguida.
- Eu disse que encontrava você no estacionamento. – falei, puxando ele para longe da visão do salão.
- Eu esperei, mas você não saía nunca.
Olhei ao redor.
- Ok, me dê.
Ashton levantou a blusa e pegou o envelope enfiado em sua cintura. Eu o peguei, baixei o zíper da blusa de motoqueiro e o guardei ali.
- Tudo certo, te dou notícias quando voltar. – dei dois tapinhas no peito dele o dispensado, mas ele não se moveu.
- Qual é, cara, eu tô com sarna ou algo assim? Por quê fica me afastando?
- Eu só não posso ficar de papo durante o expediente. – Ashton era um imbecil sentimental.
- Você estava conversando com a Julia.
- Ela trabalha aqui, é diferente. Vamos, cara, nos falamos depois, ok?
Ele colocou as mãos nos bolsos, não estava feliz.
- Não acredito que vim até aqui para não fazer nada. – reclamou.
- É claro que fez, você trouxe os documentos, agora deixe comigo.
- Ah, foda-se, eu vou procurar uma casa de streaper.
- Esse é o meu garoto. – achei melhor não lembrá-lo que era o meio da tarde.
Ashton se afastou, pegou uma torrada de uma velhinha que olhava distraída pela janela e foi embora.
Corri para o banheiro, me troquei, guardando os documentos cuidadosamente debaixo da roupa, peguei a mochila e saí. Julia me esperava ao lado da porta do banheiro.
- Eu pensei que você estava aqui sozinho. – ela falou, enquanto saíamos do Comic’s.
- Eu estava. Ashton chegou hoje.
- Melhores amigos que não se desgrudam? – perguntou, sorrindo.
- Algo assim.
No estacionamento, colocamos os capacetes e montamos. Julia passou os braços pela minha cintura, me fazendo desejar fazer a viagem de mais tarde de moto, mas nossas roupas não seriam adequadas.
O prédio dela não ficava muito longe, então chegamos lá em poucos minutos. Ela desceu da moto e ergui meu capacete para lhe dar um beijo de despedida.
- Eu venho pegar você as cinco e meia. Esteja pronta.
- Cinco e meia? Vai ser um jantar ou um brunch?
- Confie em mim.
- Eu confio. – Julia me deu mais um beijo e entrou em seu prédio.
Ajeitei o capacete extra no braço e dei partida, em direção ao centro. Encontrei uma loja com alguns modelos de ternos legais na vitrine e decidi experimentar.
- Posso ajudar? – a atendente me estudou dos pés à cabeça e pareceu não gostar muito do que viu. Talvez ela pensasse que meu jeans rasgado não pudesse pagar qualquer peça dali.
- Eu preciso de algo... elegante. – falei.
- Tem preferência por terno, paletó ou blazer?
Eu a olhei confuso.
- Não são a mesma coisa?
Ela juntou as mãos na altura da cintura e me encarou de volta.
- Não são, realmente.
Ficamos ali por um momento, até que ela pareceu desistir de esperar que eu fosse embora.
- Por aqui, por favor.
Caminhamos até um seção em particular.
- O terno é formado por três peças: o paletó, o colete e a calça. Temos muitos modelos, alguns bem... acessíveis.
Resolvi ignorar aquilo. Eu realmente não tinha tempo para procurar outra loja.
- Não curto muito coletes. – na verdade eu nunca havia usado um, mas aquilo parecia apertar. – E esse aqui? – falei apontando para um manequim sem colete.
- Isso é um costume. – explicou. – Se prefere, posso lhe mostrar nossas opções.
- Eu gostei desse, mas não da calça...
- Não se pode vender as peças por separado, como falei, é um costume.
Se eu ouvisse aquela voz anasalada dizer costume mais uma vez...
- Você parece fazer o tipo adepto ao jeans. Que tal um blazer?
Eu tinha quase certeza que o blazer era só a parte de cima. Decidi voltar para os ternos. Dei uma olhada, com a vendedora um passo atrás, como se eu fosse esconder uma peça no bolso. Acabei escolhendo três modelos.
- Pode me trazer esses três no meu tamanho?
Ela precisou erguer a cabeça para olhar todo o meu comprimento.
- Hum, tudo bem. Você pode esperar no provador. Fica logo ali.
- Obrigado.
Fui na direção que ela apontou e encontrei o espaço cheio de espelhos e cortinas. Entrei em um dos provadores e comecei a tirar a roupa, para não perder tempo.
- Você está aí? – ouvi a voz anasalada.
Puxei a cortina para o lado. A mulher arregalou os olhos ao me ver ali parado só de boxer.
- Aqui estão os modelos. – falou, completamente corada.
- Muito obrigado. – falei, pegando as roupas.
Não me incomodei em puxar a cortina outra vez, e vesti o primeiro modelo. Era um azul marinho. Um segundo vendo meu reflexo foi suficiente. Tirei tudo aquilo e passei para o próximo. Aquele era preto, não frouxo nas pernas e nada de colete. Virei para dar uma olhada nas costas e balancei a cabeça.
- É esse.
- Não gostaria de experimentar o outro? – a vendedora ainda estava ali, me observando.
- Não, gostei desse.
- Tudo bem, então. Eu espero você se trocar e o acompanho para efetuar o pagamento.
- Ah, não vou tirar, tenho um jantar. – falei, recolhendo minhas roupas e guardando na mochila.
A mulher me olhou estranha.
- Ahn, entendo. Por aqui, por favor.
Fomos até o outro lado da loja, não havia fila. A roupa custou uma pequena fortuna, mas não me importei, meu saldo bancário seria atualizado amanhã. Quando paguei em dinheiro, vi a vendedora que me atendeu mudar sua postura completamente.
- O senhor gostaria de uma taça de champagne? Perdão não ter oferecido antes, onde andou minha cabeça! – ela soltou um risinho.
- Não obrigado. Mas pode me ajudar com a etiqueta.
Ela prontamente puxou uma tesourinha do bolso e se livrou do papel.
- Prontinho. – ela me lançou outro olhar. - O senhor não escolheu sapatos nem uma gravata!
- Eu tenho um lugar em mente.
Deixei o estabelecimento e desci a rua, até uma loja com uma pegada mais rock que já havia notado antes. O cara que veio me atender avaliou meu terno.
- Não vendemos gravatas. – falou, enquanto mastigava um chiclete. Eu precisei rir.
- Na verdade, quero a jaqueta da vitrine.
O cara se arrastou até lá, tirou a jaqueta do manequim e me entregou. Eu a vesti e fui até o espelho. Era preta, com detalhes pratas. Repletas de tachinhas na lapela, nos ombros e nos punhos. Sorri, aprovando. Dei uma volta pela loja, pegando um par de sapatos de cano alto lustrosos, também pretos e com detalhes em metal nos calcanhares, e uma espécie de broche gigante em forma de águia, que eu usei no lugar da gravata. Conferi o espelho mais uma vez e vi que estava pronto.
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