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Capítulo Vinte e Cinco

Bati a porta do quarto do Luke com a mesma força que eu usaria para bater nele. Luke Hemmings era o ser mais odioso, rude e problemático que eu tive o desprazer de conhecer.

Por força do hábito, peguei à esquerda no corredor, já que no meu apartamento a saída estaria naquela direção, mas no de Luke ficava para o lado oposto. Ao perceber isso, dei meia volta. A porta do quarto se abriu e ele barrou meu caminho.

- Espere. - pediu, tentando segurar meus ombros, afastei suas mãos.

- Saia do caminho.

- Não, espera. - estávamos em uma espécie de dança, eu tentando passar e ele se colocando no caminho. - Desculpa, ok?!

Tentei empurrar seu peito, mas ele era tão maior e mais forte.

- Me deixa ir embora!

- Julia, desculpa, eu sou... Merda! Eu sempre estrago tudo!

- É meio que o seu dom. - desisti de tentar passar por ele e cruzei os braços. - Pode me deixar ir, agora?

Luke passou as mãos no cabelo, despois suspirou.

- Você só me pegou de surpresa, só isso.

- Ah, eu devia ter mandando um email preparando você?

- É só que eu não imaginava. Tem certeza que nunca falamos disso realmente?

- Está perguntando se eu tive algum lapso de memória onde esqueci que não era mais virgem e passei essa informação para você?

- Ok, tudo bem, eu interpretei mal.

- Você deduziu mal. Eu nunca dei a entender que era virgem.

- Eu sou um imbecil. E burro. Um burro imbecil. - não o contrariei. - Me desculpe. Como nós nos desviamos para tão longe de onde paramos? Estávamos tão...

Foi minha vez de suspirar. Encostei as costas na parede e o olhei.

- Por que isso é tão importante para você?

- Não é.

Ergui as sobrancelhas, descrente.

- Não é, de verdade. Eu só fiquei surpreso, só isso.

- Aham.

- Tudo bem, saber que você e o Ben... Isso me deixa enjoado "barra" puto, mas...

- Mas?

- Eu não me importo, não tanto para deixar você ir embora. - ele respondeu em um tom mais brando, se aproximando.

- Você me expulsou. - lembrei.

- Eu chutaria o meu próprio saco, mas seria um pouco complicado.

- Eu posso ajudar você com isso.

Ficamos um pouco em silêncio.

- Estou perdoado? - perguntou.

Avaliei a situação.

- Eu só estou muito cansada de brigar com você, Luke.

- Isso é um sim?

Me desencostei da parede.

- Isso é um "nos falamos amanhã".

Luke me deixou passar. Fui até a sala e recolhi minhas roupas. Eu as vesti ali mesmo. Ao erguer a cabeça, o encontrei me observando.

- Eu vou levar você pra casa. - falou.

- Eu pego um táxi.

- Mas está tarde.

- O serviço de táxi é vinte e quatro horas. - olhei ao redor, até achar minha bolsa. Peguei meu celular e vi algumas ligações da tia Becky. - Droga. - liguei para ela.

- Julia? - ela atendeu.

- Oi, tia.

- Onde você está? Dissemos dez e meia.

- Desculpe, eu me atrasei.

- Venha para casa. Agora.

- Eu chego aí em quinze minutos. Prometo.

- Eu vou esperar você.

Nós duas ouvimos o que estava implícito naquelas palavras. Desliguei e me virei para Luke.

- Carona? - ele perguntou.

Concordei com a cabeça. Ele desapareceu no corredor e voltou em tempo recorde, completamente vestido. Pegou o capacete na poltrona e as chaves sobre o balcão.

Descemos em silêncio até a garagem do prédio. A moto dele era a única por ali. Ele me passou o capacete e montamos.

Aquela viagem foi diferente em tantos pontos. Primeiro, eu me segurei nele, mesmo ainda estando um pouco chateada. Sim, ele havia sido machista e estúpido, aquele era um comportamento rotineiro dele, mesmo não sendo algo que eu permitiria que continuasse acontecendo, ele pediu desculpas logo em seguida e pareceu sincero. Conversaríamos sobre aquilo em outro momento. Segundo, graças aos Céus não estava chovendo, por tanto consegui aproveitar bem a sensação de estar apertada contra ele, era extremamente excitante. Terceiro, Luke estava pilotando mais rápido, provavelmente por saber que eu estaria encrencada, mas ainda assim foi bem cuidadoso, nenhum pneu foi furado.

- Merda! - ele gritou, me assustando.

Estava a ponto de perguntar o que havia de errado quando notei as luzes coloridas piscando atrás de nós. Meu sangue gelou.

Luke diminuiu a velocidade até que paramos. A viatura também parou, logo atrás.

- Deixe que eu falo, ok?

Balancei a cabeça, concordando. Havia perdido minha capacidade de fala. Meu coração latejava em minhas costelas, tamanho era o medo. Minha mão apertou a camisa dele involuntariamente. Luke a pegou e lhe deu um beijo.

- Está tudo bem, Julia. Relaxe.

O policial chegou até nós. Era um homem ainda bem jovem, talvez uns quarenta. Tinha todo o cabelo intacto, era moreno e seu físico denunciava idas frequentes à academia.

- Boa noite, crianças. - ele falou, segurando o cinto exatamente como os policiais da TV faziam.

- Como vai? - Luke respondeu.

- Meu plantão estava bem calmo até você me obrigar a percegui-lo por não estar usando um capacete.

- Desculpe, foi uma emergência.

Os olhos do policial se viraram para mim.

- Você foi mais esperta. - falou, dando umas batidinhas com a ponta do indicador no meu capacete. - Vou precisar ver os documentos de vocês. Desçam.

Minhas pernas pareciam chumbo, sentia que não iria conseguir me mover. Luke pareceu sentir a minha tensão. Ele colocou uma mão na minha perna e a apertou por um segundo. Desci da moto de forma desajeitada.

- Documento. - o policial Lanson, pude ver em seu uniforme, pediu.

Remexi em minha bolsa até encontrar e o entreguei. Ele o analisou rapidamente e uniu as sobrancelhas, enquanto me olhava.

- Tire o capacete. - pediu.

Obedeci. O policial me analisou por um minuto, deu mais uma olhada na minha identificação e balançou a cabeça.

- Julia Evans Hood. Você é a filha da Joy, não é?

Eu o olhei surpresa. Aquele homem conhecia minha mãe?

- Sua mãe e eu éramos amigos na época de escola, mas perdemos contato quando fui para a faculdade. Já estive na sua casa duas ou três vezes. - ele explicou, sorrindo.

- Desculpe, eu não lembro.

- Claro que não, você era desse tamanho. - o policial colocou uma mão na altura da cintura. Seu rosto ficou triste, de repente. - Eu soube do acidente. Sinto muito.

- Obrigada. - desviei o olhar.

Todos ficamos em um silêncio incômodo por meio minuto, até que o policial Lanson o quebrou.

- Bom, vou precisar do seu documento também. - falou para Luke. Depois mandou que esperássemos e foi até a viatura.

- Por favor, diga que está limpo. - implorei. Eu estava coberta de suor.

- Eu nunca fui preso. - respondeu. Não deixei de notar a diferença entre minha pergunta e sua resposta.

Olhei para ele. Luke não estava exatamente relaxado, mas não parecia preocupado. Pela primeira vez percebi que eu não o conhecia de verdade. Tudo que eu sabia havia sido revelado por ele mesmo. O que ele escondia? O que eu não sabia? Não deveria ter averiguado tudo aquilo antes de pular de cabeça em um relacionamento com ele? Senti um calafrio.

O policial Lanson voltou após alguns minutos.

- Parece estar tudo certo com vocês. - falou, nos entregando os documentos. - Vá até ali e venha caminhando em linha reta, rapaz.

Luke soltou minha mão, eu não lembrava de a ter pego, e fez como foi mandado. Meu coração acelerou ainda mais, mesmo eu não achando aquilo possível, lembrando da vodka. Mas, ao que parecia, o corpo de Luke já havia se livrado daquilo, isso ou a quantidade ingerida havia sido pouca, já que colocou um pé na frente do outro com facilidade.

- Esvazie os bolsos. - seguiu, em tom pragmático.

Luke estava começando a se irritar, eu podia sentir. Ele tirou a jaqueta, ergueu a blusa e deu uma volta completa. Depois tirou do bolso o celular, as chaves do apartamento e um maço de cigarros. O policial se virou para mim.

- Vou precisar dar uma olhada na sua bolsa.

Eu a passei para ele, tentando lembrar o que havia ali dentro. Um pouco de dinheiro, maquiagem, absorventes... O policial revistou tudo. Ele pegou um frasco com comprimidos e me olhou.

- Suplemento de ferro. - expliquei.

Ele concordou com um aceno e me devolveu a bolsa.

- Ao que parece, o único problema de vocês é a falta de um capacete. Sabiam que isso é ilegal aqui na Califórnia?

Eu não sabia. E seria presa por isso. Meu corpo começou a tremer.

- Como eu disse, foi uma emergência. - Luke enfiou a mão na minha bolsa e pegou o frasco de comprimidos - Ela precisou de um desses e... - ele balançou o frasco. Estava vazio. - Não quis deixá-la sozinha.

O policial Lanson pareceu me estudar. Eu deveria estar pálida, trêmula e suada. Ele lançou um olhar para a viatura, pensou um pouco e então falou:

- Ok, tudo bem. Eu não vou fichar vocês nem nada. Não hoje a noite. Entenderam?

Nós dois balançamos a cabeça.

- Muito obrigado. - falei, sentindo que iria chorar de alívio.

- Melhor providenciar outro capacete o mais rápido possível. - falou para Luke, em um tom ameaçador.

- Sim, senhor.

- Tudo bem, você pode ir.

Luke me entregou o capacete e começamos a subir na moto, mas o policial segurou meu braço.

- Você não. - falou. - Você é menor, vai precisar ligar para o seu responsável vir buscá-la.

O sangue, que começava a voltar a circular por meu corpo, escapou outra vez. Lancei um olhar desesperado para Luke.

- Eu posso levá-la para casa. - ele falou, depois completando: - Em um táxi.

- De forma alguma. - o tom do policial era conciso.

Sem outra opção, peguei meu celular e liguei para tia Becky.

- Ainda estou esperando você. - ela falou assim que atendeu.

- Houve um... problema.

- O que aconteceu?

Meus olhos foram para o policial.

- Você pode vir me buscar? Estou no cruzamento da escola do Max.

- O que aconteceu, Julia? - eu podia sentir a preocupação dela. Apertei os olhos, me sentindo mal. Talvez eu precisasse mesmo dos meus comprimidos.

- Fomos parados pela polícia.

Houve um silêncio curto.

- Já chego aí.

- Tudo bem.

Desliguei e me apoiei em Luke, ainda de olhos fechados. Ele passou um braço por meu ombro e me apertou contra ele.

- Vai ficar tudo bem. - prometeu, no meu ouvido.

- Não vai. - respondi. E lá estavam elas, as malditas lágrimas.

Luke usou o outro braço para me abraçar.

- Desculpe por colocar você nisso.

- Não foi culpa sua.

- Foi sim. Eu sou um imbecil.

- Acho que eu preciso sentar. - falei, sentindo que iria vomitar.

Luke me levou até a calçada e sentamos. Baixei a cabeça e fecheu os olhos.

- Talvez você devesse ir comprar o remédio dela. - ouvi a voz do policial. Havia algo de preocupação ali.

Apertei a mão de Luke.

- Por favor, não me deixe aqui sozinha.

- Eu não vou. Ei, está tudo bem. - ele secou meu rosto e voltou a me abraçar. - Está tudo bem.

Ficamos alguns minutos sentados e quietos. Descobri que o cheiro de Luke era um ótimo calmante. Apenas me afastei dele quando ouvi um carro parar perto de nós. Fiquei em pé, meio sem equilíbrio. Tia Becky desceu do carro e veio direto até mim.

- Você está bem? - ela perguntou, me examinando dos pés à cabeça. Eu me sentia tão mal. Ela havia largado sua vida para cuidar de mim, e lá estava eu, dando mais trabalho do que era necessário.

- Estou.

- O que aconteceu? - finalmente seus olhos encontraram Luke um passo atrás. - Onde está Patrick?

- Eu...

O policial Lanson se aproximou, oferecendo a mão para minha tia, que a pegou enquanto se apresentava. Fiquei ali parada, tentando prestar atenção nas palavras deles, mas meus ouvidos zumbiam um pouco.

Não levou muito tempo até o policial e tia Becky voltarem a apertar as mãos.

- Cuide-se, mocinha. - ele falou, acenando para mim.

Quis dizer alguma coisa, agradecer de novo por não passar aquela noite na cadeia, mas o máximo que consegui foi acenar de volta. Tia Becky se virou para mim.

- Entre no carro, Julia.

Lancei um olhar para Luke.

- Nos vemos amanhã. - ele falou, como uma promessa.

- Vamos ver isso. - minha tia resmungou, então colocou a mão em minhas costas e me levou para o carro.

Luke ficou na calçada, me olhando, até desaparecer pelo meu retrovisor. Suspirei e troquei o olhar para a frente.

- Quem é aquele cara? - tia Becky perguntou, após um minuto.

De repente a palavra namorado me pareceu muito assustadora.

- Ele é um... amigo.

- Eu acabei de livrar o seu "amigo" de ser preso por andar com uma menor. Acho que ganhei o direito de saber tudo sobre ele.

Tia Becky não parecia estar realmente brava, talvez surpresa, desapontada, mas não brava.

- Estou muito encrencada? - perguntei.

Ela manteve os olhos para a frente e segurou o volante com ambas as mãos.

- Ainda não sei. O policial disse que vocês não estavam com nada... errado.

- Claro que não! Foi só a droga do capacete.

- E você estar com um cara mais velho. - finalmente ela me lançou um olhar. - Você saiu de casa com o Patrick.

Olhei para minhas mãos.

- Patrick é só meu amigo.

- Você tem muitos amigos. - falou. - Onde conheceu aquele cara? Pelo amor de Deus, Jay, ele é um universitário!

Eu teria rido, imaginando Luke em algum campus, mas a situação era muito complicada para isso.

- Ele estava na banda do Cal.

- Calum apresentou vocês?

- Não, não... - mordi o lábio. Eu sabia que aquele momento chegaria, mas não esperava que fosse tão logo. - O nome dele é Luke. Ele é... meio-irmão do Ben.

Tia Becky ergueu as sobrancelhas.

- Não me julgue. - pedi, fazendo uma careta.

- Não, eu... mas, nossa.

- Eu sei.

- Não sabia que Ben tinha um irmão.

- É algo... complicado. A questão é, eu o conheci quando ainda namorava o Ben, mas nunca aconteceu nada, juro. Só começamos a sair oficialmente hoje.

- Oficialmente?

- Bom, é.

Chegamos ao nosso prédio. Tia Becky entrou na garagem e estacionou. Desligou o carro, tirou o cinto, mas continuou sentada. Ela se virou para ficar de frente para mim.

- Jay, você tem dezessete.

- Quase dezoito. Falta... uma semana?

- Quantos anos ele tem?

Mordi o lábio outra vez.

- Vinte e um. - soprei. - Na verdade, cinco dias, faltam cinco dias para o meu aniversário.

Ela me encarou.

- Eu sinceramente não sei o que fazer com você. Não quero te proibir de algo que não é exatamente errado e acabar com uma adolescente revoltada para vigiar.

- Então não me proiba de vê-lo. - pedi.

- Mas eu tenho medo. Quem é esse cara? De onde ele saiu? O que ele faz da vida? Você vai precisar me contar tudo.

Fingi recolher minha bolsa do chão para não precisar olhá-la nos olhos. Eu não tinha todas as respostas que ela queria.

- Você vai poder conhecer ele. - falei, finalmente.

- Ele é importante para você? De verdade?

Balancei a cabeça.

- Eu acho que a palavra com A está bem perto. - admiti, ficando vermelha.

- Oh.

- Eu sei. Foi muito rápido, mas...

- Não faz tanto tempo assim que eu fui adolescente, Jay, eu entendo. Mas... ah, querida, eu não quero que você se machuque. - tia Becky fez um carinho na minha bochecha. Peguei sua mão e a apertei contra minha pele.

- Eu confio nele. Já passamos por algumas coisas, se ele não sentisse o mesmo já teria dado o fora.

- Se você diz.

- E então? Como ficamos?

Tia Becky precisou pensar um pouco.

- Você não está de castigo.

- Jura?!

- Não posso castigar você por andar de moto com o seu namorado.

Precisei lhe dar um abraço.

- Você é a melhor tia do mundo!

- Calma aí, eu não acabei.

Eu a soltei e voltei para meu banco.

- Não?

- As regras vão mudar um pouco. Nada de visitas à casa dele.

- O quê?! Tia!

- Pelos próximos cinco dias.

- Mas isso é tão... nós não...

- Vocês não? - ela me olhou desafiadora. Desviei o olhar. - Você tem dezessete, Jay, se algum vizinho denunciar, ele vai ser preso.

- Leis estúpidas. - resmunguei.

- E espero que vocês estejam usando preservativos.

- Ok, ok, podemos subir? - perguntei, sentindo o sangue pulsar no meu rosto. Tia Becky era legal, mas eu não queria discutir minha vida sexual com ela, bem ali, após escapar da polícia.

- Vocês estão?

- Estamos! Juro!

- Ok.

- Ok.

- Ok, Julia Evans?

Eu ri.

- Ok, Rebecca Hood.

Pensei que meu martírio havia acabado por aquela noite, mas Calum estava esperando por nós no sofá da sala.

- Ela foi em cana? - Cal perguntou para tia Becky, mastigando o que parecia ser um burrito. Era quase uma da manhã e ele estava comendo comida mexicana.

- Eu tô bem aqui. - falei, revirando os olhos.

- E aí, o que aconteceu?

Lancei um olhar para tia Becky, pedindo ajuda. Ela ergueu as mãos.

- Sinto muito, você conta.

Eu só queria dormir por dois meses.

- Contar o quê? - Calum abandonou o burrito e me olhou. - Foi algo sério?

- Não foi nada demais, está tudo bem. - eu o acalmei.

- Então? Patrick não tinha licença ou algo assim?

- Na verdade... Na verdade eu não estava com Patrick.

- Mas você ia sair com ele. - Calum estava confuso.

- Eu saí com o Patrick, mas foi só como amigos, porque...

Parei. Eu não ia conseguir.

- Por quê?

- Porque ela já tem um namorado. - tia Becky falou, como se fosse uma grande revelação.

Calum me encarou, surpreso.

- Você voltou com o Ben?

- Quê? Não.

- Então, quem?

- Essa parte é com você. - Becky falou, sentando no sofá e massageando as têmporas. Eu havia lhe dado uma boa dor de cabeça.

- Vamos, Jay, quem é o cara? É da sua escola?

- Não, ele é... É o Luke.

Calum levou trinta segundos para associar o nome com o seu guitarrista.

- Luke Hemmings?

- Hum, é.

- Você tá tirando uma com a minha cara. - ele riu, esperando que alguém o acompanhasse. Quando percebeu que estava sozinho, sua expressão mudou. - Você não pode estar falando sério. Luke?

- Pensei que gostasse dele.

- Não para sair com a minha irmã! - gritou.

- Max está dormindo. - tia Becky lembrou.

- Você viu o cara, Becky? Ele tem a mesma idade que eu!

- Eu não sou mais criança, Calum. - falei, sentindo meu lado adolescente borbulhar.

- É criança sim! Porra, Jay, o que você tem na cabeça?

- Eu estou no último ano, prestes a fazer dezoito!

- Dezoito!

- Eu não preciso da sua permissão! - gritei de volta.

Ouvimos Max começar a chorar no quarto.

- Vocês conseguiram. - tia Becky reclamou, levantando. - Os vizinhos vão expulsar a gente.

Esperei que ela saísse e tentei controlar a voz.

- Eu não quero brigar com você, Cal.

Ele parecia pronto para brigar mais.

- Eu não gosto nada disso.

- Por que não?

- Porque ele é mais velho.

- Três anos!

- Três anos quer dizer muita coisa, acredite em mim. Como você sabe que ele não vai te largar e desaparecer amanhã? Pelo o que me falou, ele não é daqui.

Sem chance de eu entrar no assunto "Ben" naquele momento.

- Ele não vai.

- Você é tão inocente. - ele bufou.

Minha cabeça começou a latejar, meu corpo implorava por descanso.

- Escute, Cal, você vai ter que confiar em mim, ok?

- Eu confio, mas...

- Mas nada. Eu estou com o Luke. Não sei se ele vai me largar amanhã, assim como não sei se eu não vou acordar em dois dias e perceber que confundi as coisas. Todo relacionamento não corre esse risco?

Ele apenas apoiou as costas no sofá, evitando meu olhar.

- Boa noite, Cal.

Acordei com dezoito quilos sobre mim. Max já havia tomado banho, eu podia dizer aquilo pelo seu cheirinho de shampoo. Tateei até encontrar sua cabeça e fiz cosquinhas em seu pescoço. Ele riu até que se desequilibrou e caiu de costas no colchão. Sentei rapidamente e segui com meu ataque, agora com ambas as mãos.

- Eu vou fazer xixi! - ele gritou entre as gargalhadas. Parei imediatamente.

- Não molhe minha cama, seu pestinha! - falei, rindo também.

Max soltou mais alguns risinhos antes de parar. Passei a mão em seu cabelo para afasta-lo do rosto.

- Por que você e o Cal estavam brigando? - ele perguntou.

- Só estávamos conversando alto.

- Eu me assustei.

Senti uma onda de culpa.

- Desculpe, Max. Não vamos mais fazer aquilo.

Meu alarme tocou e me estiquei para desligar.

- Tudo bem, preciso me vestir. - falei puxando ele para fora da cama.

- Mas hoje não tem escola.

- Um amigo vem até aqui para fazermos um trabalho.

- Ben! - gritou animado.

- Não, não é o Ben. É o Michael.

Max pareceu estar tentando lembrar quem era Michael, mas quando falou, já estava em outro assunto.

- Boo, quando vamos fazer aquele passeio?

Quis me dar um tapa na testa. Havia esquecido completamente.

- Podemos ir depois do almoço, que tal? Mas só um pouco, preciso trabalhar.

- Sim! - ele começou a pular e mover os braços. Eram oito e meia, como ele já estava tão elétrico?

Max correu para contar sobre o passeio para tia Becky. Mexi no meu armário e escolhi minha blusa branca com os óculos e cicatriz do Harry Potter e short jeans claro. Encontrei meu all star debaixo da cama e o calcei. Fui até o espelho para dar uma arrumada no cabelo, imaginando se deveria cortar um pouco ou não. Peguei um lenço vermelho, passei por baixo do cabelo e amarrei no topo da cabeça. Depois peguei o material que iria precisar e levei tudo para a cozinha.

- Bom dia, Miss Sunshine. - tia Becky saudou. Daquela vez era realmente um elogio.

- Bom dia.

- Max anunciou os grandes planos de vocês.

- Não sabia que já tínhamos um plano. - falei, colocando uma panqueca no meu prato.

- Ele disse que vocês iriam ao parque, tomariam sorvete, depois passariam no salão de jogos e veriam um filme antes de voltar pra casa.

Eu ri, pegando o leite na geladeira.

- Que bom que eu avisei que teria que ser rápido, caso contrário ele teria adicionado uma passadinha na Disney.

Sentei e comecei a comer meu café da manhã.

- Melhor explicar que ele vai ter que escolher só uma dessas coisas antes que crie muita expectativa. Relaxe, já o preparei.

- Obrigada. - ri outra vez. - Mas vai ser o parque ou nada. Tenho que recompensa a falta da quinta no Comic's.

Fiquei surpresa ao perceber que tudo aquilo havia acontecido há apenas dois dias. Parecia que uma vida se passara. A briga com Luke no bar, a briga com ele no apartamento, a polícia... Tudo já estava bem distante.

- Como vão as coisas com o seu namorado? E quando eu vou conhecê-lo?

Coloquei mais calda sobre minha panqueca, cortei um pedaço e levei até a boca.

- Ainda não tivemos muito tempo. Com a escola e o trabalho, sabe. - era verdade. Eu mal o havia visto no Comic's, já que nas sextas os pedidos dobravam. Ele me levou para casa depois do trabalho, mas a calçada do meu prédio não era um bom lugar para namorar, ainda mais quando sua vizinha de oitenta anos está te esperando para ajudá-la a chegar a seu apartamento. Luke quis subir, mas eu não achei uma boa ideia, já que Calum ainda estava espumando de raiva.

- Deveria convidar ele. Para ir ao parque, digo.

Eu a olhei sorrindo.

- Você só diz isso porque Max vai estar com a gente. Assim tem certeza que não vamos acabar quebrando sua regra.

- Sou completamente inocente dessas acusações. - ela piscou ambos os olhos e riu.

- Mas é uma boa ideia. Vou fazer isso.

Peguei meu celular sobre os livros e mandei uma mensagem para Luke, com a proposta e o endereço do parque. Recebi a resposta logo em seguida.

Há arbustos nesse parque?

Fiz uma careta confusa e escrevi.

Arbustos?

Esqueça os arbustos. Todo parque tem banheiros. Vai ser um pouco desconfortável, mas damos um jeito ;)

Então eu entendi. Lancei um olhar para tia Becky, reprimindo uma risada.

Não seja pervertido. Max vai com a gente. E mais uma coisa: ECA!

Max, o matador de pantufas?

Veja isso como uma chance de conquistá-lo.

Wow, melhor eu passar na U-Toys.

Ouvi a campainha tocar.

- É para mim. - falei levantando e digitando.

Preciso ir, um amigo veio fazer um trabalho.

Que amigo?

Peguei os livros e fui abrir a porta. Michael havia mudado a cor de seu cabelo mais uma vez, agora estava verde.

- Oi, Mickey.

- Hey, Jay.

Ele entrou, arrastando sua mochila jeans surrada. Fomos até a mesinha da sala e nos acomodamos lá. Meu celular vibrou ao lado. Era Luke.

Que amigo?!

Revirei os olhos.

Um colega da turma de História. Preciso ir. Vamos sair depois do almoço. Xoxo.

Recebi um simples "Ok".

- Podemos começar? - falei, focando em Michael. Ele estava desenhando algo com chifres na capa do seu livro.

- Claro. - ele abandonou a caneta e me olhou, como um aluno esperando instruções.

- Hum, certo. Abra o seu livro no capítulo.

- Em qual?

- No quatro.

Ele folheou até encontrar, depois me olhou, esperando. Eu realmente cheguei a pensar que aquilo seria um trabalho em dupla?

- Você pode escrever os tópicos importantes até esse ponto, eu sigo daí. Depois passamos para a pesquisa, tudo bem?

- Claro.

Trabalhamos um pouco em silêncio. Li alguns parágrafos, fiz anotações, mas meus olhos não paravam de ir até o celular. Sentia falta do Luke.

- É verdade que seu irmão tem uma banda? - Michael perguntou, enquanto escrevia algo.

- É, mais ou menos.

- Eles não precisam de um guitarrista?

Na verdade, acho que precisavam sim. Cal provavelmente expulsaria Luke.

- Ahn, não sei. Por que você não fala com ele quando acabarmos?

Michael sorriu animado, seus olhos verdes se apertando. Ele era como um garotinho feliz.

- Ei, escute isso: Após a Guerra, a França recuperou alguns territórios, como as ilhas de Santa Lúcia, São Pedro e Tobago. - ele me olhou rindo.

- Hm. Isso é... interessante, Michael.

- Tobago, Jay, TOBAGO! - ele começou a rir, tanto que caiu de lado e acabou batendo a cabeça na mesinha.

- Michael! Você está bem?!

Ele continuou deitado, rindo até perder o ar.

- Agora estou com um tobago na cabeça! - falou, quando o puxei sentado.

- Você quer gelo?

- Não, valeu, tô legal. - ele massageou a barriga, dolorida por tantos risos.

Calum entrou na sala bem nesse momento. Estava usando a camisa com o logo da loja onde trabalhava.

- Cal, esse é o Michael. Michael, meu irmão, Calum. - apresentei, antes de virar uma página do livro.

- Ei, cara, ouvi dizer que você tem uma banda. - Michael abandonou nosso trabalho e levantou.

- Eu tinha, não existe mais. - deu de ombros, tentando parecer que não se importava tanto, mas eu sabia que deixar a banda havia sido um sacrifício e tanto. Um sacrifício feito por mim e Max.

- Vocês acabaram? Por quê? - Michael perguntou, decepcionado.

- Eu arranjei um emprego, nosso baterista vai ser pai, então precisou conseguir algo com mais grana também e o vocalista estava há meses pensando em aceitar uma bolsa para uma Universidade em Utah. Cada um foi para um lado.

Eu não sabia de nada daquilo. Quando éramos crianças, Calum e eu dividimos tudo o que acontecia em nossas vidas. Eu fui a primeira a ouvir todas suas composições e foi para ele que contei quando recebi meu primeiro beijo. Mas algo havia mudado nos últimos tempos. Eu lhe escondi Luke e ele o fim definitivo da banda.

- Eu sinto muito cara. - Michael falou. - Mas se pensar em montar outra, você já tem um guitarrista. - ele tocou um solo usando sua boca e uma guitarra imaginária.

Calum sorriu um pouco.

- Valeu, vou ter isso em mente. - deu um tapinha no ombro de Michael e foi até o móvel da TV. Os discos dos nossos pais ficavam ali. Calum pegou um deles e voltou para seu quarto.

- Melhor seguirmos. - falei, chamando a atenção de Michael.

Estava nos meus planos terminar aquele trabalho em uma hora, uma e meia no máximo, mas Michael fazia piada com cada palavra que lhe parecesse meramente engraçada. Garotos eram tão imaturos. Levou tanto tempo que nossas barrigas começaram a roncar. Fizemos uma pausa para o almoço e, depois, corri para terminar. Encarreguei meu parceiro de encontrar as datas exatas dos acontecimentos, pensando ser impossível que ele se distraísse com números, mas ele foi capaz.

- Ei, Jay...

- Não, Michael, pela terceira vez, eu não acho que a Guerra de Boxers recebeu esse nome porque os soldados lutavam só de cueca.

Eu estava a ponto de furar a mão dele com meu lápis.

- Na verdade, preciso usar o banheiro.

- Ah. Segunda porta no corredor, à esquerda.

Michael levantou e saiu. Voltei para os últimos detalhes do trabalho. Menos de um minuto depois o celular dele recebeu uma mensagem. Olhei por reflexo e vi o nome de Ben. Lancei um olhar para o corredor, não havia ninguém, então me inclinei para mais perto. A mensagem estava visível na barra de notificação.

Tô saindo do consultório. Onde você tá?

Consultório? Ben estava doente?

- Por que você tem o Nemo em cima da sua banheira? - Michael perguntou, me assustando.

- É para incentivar o Max a tomar banho. - falei, fingindo procurar algo no chão.

- Maneiro. - ele riu e pegou seu celular. - Merda! Não achei que a gente ia demorar tanto. Preciso ir. - ele começou a juntar suas coisas com pressa.

- Ele não sabe que você está aqui? - perguntei, antes que perdesse a coragem. Michael me olhou. - Eu vi a mensagem. Desculpe.

- Não, eu não contei. Você é meio que um assunto proibido.

Baixei a cabeça, imaginando o quanto havia machucado Ben.

- Ele está bem?

- Você fodeu o coração do cara. - o tom dele estava envolvido por um pouco de acusação mal disfarçada.

- Estou falando da mensagem. - esclareci, engolindo em seco. - Por que Ben foi ao médico?

Michael levantou e colocou a mochila nas costas. Ainda me olhava daquele jeito.

- Eu acho que isso não é mais da sua conta.

Balancei a cabeça, concordando.

- Você tem razão, não é, mas eu me preocupo com ele. Você sabe que sim.

Michael hesitou por um momento.

- Desculpe, Jay, mas não posso.

Sem esperar que eu o acompanhasse, ele foi até a porta e saiu.

Fiquei ali sentada, tentando entender o que tudo aquilo significava. Havia algo de errado com Ben, se fosse apenas uma visita de rotina, Michael não teria porque esconder de mim. Então, o que era? Seria grave? Meu estômago congelou. Oh, por favor, que não seja nada grave, por favor...

A campainha tocou, após um momento, me fazendo pular. Michael havia esquecido algo. Levantei e abri a porta, sendo tomada por uma visão de Luke Hemmings. Ele usava uma camisa cinza, sem estampa, cordão de prata, jeans escuros e um converse que eu nunca havia visto.

Quis perguntar o que ele fazia ali, já que eu havia lhe mandado endereço do parque mas, ao invés disso, me apoiei em sua barriga para me esticar, mesmo assim ele precisou se abaixar para que o beijo acontecesse. Tranquei os braços ao redor do seu pescoço para fazer durar mais.

- Olá. - ele falou, rindo, quando nos separamos.

- Oi. - eu estava com aquele sorriso bobo de novo. Não me importei. Entrelacei seus dedos nos meus e o fiz entrar.

- Vocês estão prontos? - ele perguntou, olhando a bagunça na mesinha.

- Eu só preciso organizar isso e pegar o Max.

- Eu posso guardar para você. - ele ofereceu.

Eu estava a ponto de dizer que não precisava quando vi Calum de volta, com o disco na mão. Ele congelou ao ver Luke ali, então sua expressão se fechou.

- Hey, Calum. - Luke cumprimentou sorrindo, como se o ambiente não estalasse de tensão.

Cal foi até o móvel guardar o disco, depois se virou para nós.

- Eu preciso falar com você. - ele mirava Luke.

- Hm, claro.

- Aqui não.

- Calum! - falei. Ele estava mesmo chamando Luke para, o quê, brigar? - Isso é ridículo.

- Não posso falar com ele?

- Fale de uma vez.

- Julia, tudo bem. - Luke interveio. - Por que você não vai ver se Max está pronto?

- Eu não vou...

- Pelo amor de Deus, Jay, eu só vou falar com ele. - Calum revirou os olhos.

Hesitei um pouco, mas acabei marchando para fora do caminho deles. Max estava com tia Becky no quarto dos meus pais, que agora era dela, temporariamente.

- Tudo pronto? - perguntei, com uma careta.

- Algum problema? - Becky perguntou.

- Só um ataque de testosterona da parte do Cal. Está conversando com o Luke lá na sala.

- Que fofo! - ela até fez uma carinha de ternura. - Ele está protegendo você, sua boba.

- Eu posso me proteger sozinha. - reclamei. - E se ele disser algo... constrangedor? Eu vou morrer!

- Relaxa, ele só deve estar dizendo para Luke ter cuidado com a irmãzinha dele.

- E isso não é constrangedor?

- Podemos ir agora, Jay? - Max havia perdido o interesse no livro de colorir na sua frente.

- Quanto antes acabarmos com aquela cena, melhor. - falei.

Max saiu em disparada para a sala, eu o segui atrás. Calum e Luke se viraram para me olhar.

- Tudo bem? - perguntei.

- Tudo. - os dois responderam.

- Hm, ok. Venha Max. - peguei a mão pequena dele e saímos do apartamento. Enquanto esperávamos o elevador, me virei para Luke.

- O que ele disse para você?

- Nada demais. - deu de ombros.

- Ele pediu que eu saísse para dizer "nada demais" para você?

- Ok, ele basicamente me avisou que, se eu magoar você, ele vai até o inferno atrás de mim, arrancará as bolas do diabo e me fará comê-las.

- Ele falou bolas! Jay, ele falou bolas! - Max não parava de rir.

Eu dei um tapa no ombro de Luke.

- Não fale essas coisas perto dele.

- Oh, desculpe.

Pegamos o elevador e precisei ameaçar cancelar o passeio para que Max parasse de cantar o jingle das bolas, que ele mesmo inventou.

Como o parque ficava a algumas quadras do prédio, fomos até lá caminhando. Ao chegarmos, Max correu direto para os brinquedos. Escolhi uma árvore onde eu poderia ficar de olho nele e nos sentamos. Luke com as costas no tronco e as minhas no peito dele.

- Quando começou a fazer isso? - perguntei pegando as mãos dele, olhando as unhas com esmalte vermelho. Senti ele dar de ombros.

- Talvez com uns dezessete.

- E por quê?

- Incomoda você?

- Não, claro que não. Eu só pensei se houve algum motivo.

- Na verdade, sim. Naquele ano, o velho ligou para a minha mãe. Ele estaria na cidade e queria me ver. Claro que eu não quis ir, mas ela me obrigou. Então, pintei as unhas ds preto, usei um pouco de lápis de olho, vesti minhas piores roupas e, antes de o encontrar no restaurante chique, passei em um amigo e ele furou meu lábio. Abandonei o lápis na mesma noite, mas mantive o piercing por anos.

Ergui a cabeça para olhar o furinho em seu lábio inferior. Claro que já o havia notado antes, mas nunca o imaginei realmente de piercing.

- Você tem alguma foto? De quando era mais novo?

Ele sorriu.

- Só em casa. Troco bastante de celular.

Ele estava falando da casa de sua mãe, claro. Na casa dele não havia nem mesmo uma mesa.

- E por que sua mãe te obrigou a ir encontrar seu pai?

- Minha mãe tinha muito medo que o velho me tirasse dela. Bobagem, claro que ele nunca esteve interessado em mim, mas poderia me mandar para um colégio na Suiça ou algo assim. Ela só realmente relaxou quando fiz dezoito.

- Ela é sua mãe, claro que iria ficar preocupada, mesmo que a possibilidade não existisse.

Luke começou a brincar com os meus dedos também. Os dele eram tão longos.

- Agora me fale algo sobre você. - ele pediu.

- Não é justo. Você já sabe tanto sobre mim, e eu não sei nada sobre você.

- Você pode perguntar o que quiser, mas ainda há muitas coisas que quero saber também.

- Ok, ok. Sua vez.

Ele pensou um pouco.

- Por que vocês têm dois sobrenomes?

Que pergunta mais... estranha.

- Só sou eu.

- Mesmo?

- Sim. Evans era o sobrenome da minha avó. Ela perdeu os dois irmãos na Guerra e soube que, quando casasse, o nome de sua família seria esquecido, então decidiu que nunca se casaria.

- Então, como você existe? - ele perguntou, rindo.

- Bom, ela teve relacionamentos, claro. Criou a filha sozinha, então deu apenas seu sobrenome para ela. Quando minha mãe revelou que iria se casar, foi uma grande angústia para a minha avó, o antigo medo voltou. Quando Calum nasceu, e foi registrado como Hood, as duas ficaram meses sem se falar. Alguns anos depois eu cheguei e meus pais decidiram usar o Evans.

Luke absorveu a história por um momento.

- Isso foi bem legal da parte deles.

- É, foi.

- Onde ela está? Sua avó, digo.

- Ela morreu há alguns anos.

- Sinto muito.

- Não é tão ruim agora. - soprei. - E os seus avós?

- Nunca conheci os paternos, eles me viam como uma mancha na linhagem perfeita dos Leicester.

- E os pais da sua mãe?

- Eu os vi algumas vezes, mas nunca criamos um vínculo. Eles abandonaram a minha mãe no pior momento da vida dela.

- Então, sempre foi só você e ela? Não tem tios, primos...

- Tem o tio Earl, o que me registrou, lembra?

- Ah, sim! - eu ri, lembrando da história.

- Mas ele nunca casou nem teve filhos. Às vezes eu o visito.

Refleti por um momento, tentando imaginar como havia sido a vida dele.

- Tivemos vidas tão diferentes.

- É, tivemos. Fico feliz que a sua tenha sido melhor que a minha.

- Eu sinto muito por tudo o que você precisou passar, Luke. Gostaria de arrancar todas essas lembranças ruins de você.

Eu detestava pensar nele como um garotinho se sentindo abandonado e desprezado, não só pelo pai, mas por toda a família.

- Eu tive uma infância de merda, é verdade, mas não sou totalmente livre de culpa. Eu mesmo fui responsável por muitas das coisas que me aconteceram. O sangue em minhas veias é feito de erros, Julia, mas eu não me arrependo de nenhum deles. Sabe o por quê?

- Por quê?

- Porque todos os meus erros me levaram até você.

Apertei sua mão na minha.

- Eu não quero que você se sinta assim, Luke. Não quero que ache que é... mau. Você não é.

Ele riu sombriamente.

- Eu já fiz muitas coisas, menina, coisas que você nem imagina.

Uma lista de coisas ruins passou por minha cabeça.

- Você precisa me contar. - falei, em um tom que era pouco mais que um sussurro. Eu gostaria mesmo de saber?

De repente, Luke voltou a rir, mas divertido daquela vez. Eu me virei para olhá-lo e percebi que ele estava zombando de mim.

- Você achou que eu fosse um vampiro assassino ou algo assim? - seu corpo todo vibrava com os risos.

- Você me assustou! - reclamei, meio rindo também.

Luke passou os braços ao meu redor e beijou minha testa.

- Eu nunca matei ninguém, relaxe. Sim, fiz coisas que não foram...

- Essas coisas ficaram no passado.

Luke baixou o olhar, voltando a estar sério.

- É algo que eu nunca vou conseguir me livrar.

- Não é. Todos nós temos esqueletos no armário.

- Não dá simplesmente para deixar isso para trás. As pessoas não esquecem. Eu vou ser sempre aquele que elas conheceram. Isso parece pairar sobre mim, e até mesmo quem me conhece hoje parece saber tudo sobre mim. Eu vi como sua tia me olhou, aposto que se a polícia já não estivesse ali, ela teria ligado. - ele ergueu um canto da boca.

- Isso não é verdade, Luke.

- É claro que é. Você acha que a implicância do seu irmão é só por conta da idade?

- Calum só é um pouco protetor.

- Qualquer um vira um super protetor quando eu estou por perto.

Segurei seu rosto e o obriguei a me olhar nos olhos.

- Se é o que você acha, e se isso incomoda você, mude.

- Como?

- Não sei. Mostre para as pessoas que elas estão erradas sobre você.

Luke me olhou de volta, seus olhos azuis estavam tristes.

- Você é a única que pode tornar esse homem mau melhor. - falou, por fim.

Agora eu percebia que não importava se eu ainda não conhecia cada sombra de seu passado, Luke não era mau. Ele não poderia ser. Eu já havia olhado por baixo de sua máscara vezes demais para saber aquilo.

Eu o abracei, usando todas as minhas forças. Você não é mau. Não é. Eu só precisava encontrar o jeito de fazer com que ele acreditasse naquilo.

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