Capítulo Treze
- I’m trippin’, I’m caught up in the moment right? ‘Cause it’s Louis Vuitton Don night. So we goin’ do everything that Kan like. - Ashton cantava junto com Kanye West, seus olhos fixos nas cartas em suas mãos.
Soltei uma carta, avaliando as minhas. Quase consegui ver uma oportunidade. Quase.
- Rivers ligou. – ele falou, também soltando uma carta. – Nosso servicinho foi uma maravilha. O resto do dinheiro estará em nossa conta na terça. – empurrou algumas fichas para o centro da mesa, quando se deu por vencido.
- Ele falou algo mais? – perguntei.
- Estamos livres. Podemos voltar para casa.
Meu celular tocou antes que eu pudesse falar alguma coisa.
- Alô? – não houve resposta. Lancei um olhar para o visor e vi que era Ben. – Garoto, estou prestes a ganhar trezentos dólares, então cospe logo. – mostrei minhas cartas para Ashton, sorrindo. Ainda não tínhamos feito nenhuma jogada.
- Merda! – ele reclamou, jogando as dele na mesa.
Nenhum som me respondeu do outro lado. Um pensamento me ocorreu.
- Evans?
A ligação terminou. Fiquei olhando para o celular com cara de idiota.
- Recebendo ligações da amiguinha, meu garoto?
- Cala a boca. – ordenei.
- Poxa, vai ferir meus sentimentos.
- Por que você não vai brincar com a sua baqueta?
- Porque eu quero recuperar meu dinheiro.
Preparei outra jogada e distribui as cartas. Ao dar uma olhada nas suas, Ashton soltou sua risadinha esquisita. Nos concentramos no jogo, até que o meu celular voltou a tocar.
- Que droga, o quê? – atendi.
- Hey, é o Ben.
- Que sorte a minha! O que você quer?
- Jay falou sobre a praia.
- Falou é?
- E então? Hoje é domingo, podemos ir.
Peguei uma carta, coloquei mais fichas na mesa e encarei Ashton. Algo me dizia que aquela sua animação era um blefe.
- Vamos, mostre o que você tem. – pedi, sorrindo.
- Ainda não, garoto da palheta.
- O quê? – Ben perguntou.
- Você não. Fique pronto, já chego aí. – desliguei e puxei as fichas para mim.
- Ei, ei, ei! O que tá fazendo?
- Admita, você não tem nada aí.
Ele baixou suas cartas, mostrando um flush de espadas. Também mostrei o meu, comparando os valores. A minha carta mais alta era um sete, o desgraçado tinha um nove.
- Merda! – gritei.
- Devolva essas belezinhas. – ele recuperou as fichas. – Mais uma?
- Não, vamos para a praia.
- Vamos, é?
- Qual é, vai ser legal.
- Nós dois sabemos que seu interesse não é o Ben de sunga.
- Cara, Evans deve usar um daqueles tipo de maiô que cobre tudo. Que graça teria?
- Quem sabe? Talvez a danadinha goste de biquínis sexys.
Será?
- Vamos apostar. Eu digo maiô de freira.
- Fio dental sexy.
Apertamos as mãos.
- É tão fácil tirar dinheiro de você, Irwin.
Quase não se podia dizer que a praia era a mesma. Toda a calmaria do outro dia, em que encontramos o contato de Rivers, havia desaparecido completamente. O barulho de conversas, brincadeiras e música chegavam até o estacionamento, e quando Ashton e eu nos aproximamos da multidão quase desejei voltar para o carro. A faixa de areia estava tomada por toalhas, guarda-sóis, espreguiçadeiras e castelos de areia. A água era aproveitada por banhistas e alguns que se arriscavam com esportes aquáticos.
Ben estacionou ao lado do jeep e logo apareceu, carregando uma bolsa florida. Evans estava ao seu lado. As apresentações haviam sido feitas em territórios Leicester. Ben e Evans pareceram surpresos por eu ter um amigo.
- Vamos procurar um espaço antes que não sobre nenhum. – falei, mal humorado. A combinação de sol forte e multidão nunca me deixava feliz.
- Isso aqui tá um inferno. – Ashton comentou quando encontramos um lugar espremido entre uma família de ruivos e uma churrasqueira.
- Pelo menos você não trouxe Ka-zar nessa viagem. – falei, sentando na areia.
- Ka-zar? Como o da Marvel? – Ben estava à minha esquerda.
- O boxer da família dele. O bicho ficaria louco aqui.
Ben acenou com a cabeça e virou-se para Evans.
Dei uma cotovelada em Ashton.
- Já era, cara, olha pra ela, acho que só esqueceu as luvas e os protetores de orelhas. – falei.
Ashton lançou um olhar para Evans e eu o imitei. A menina usava uma saída de praia florida, que descia até seus tornozelos, um chapéu de praia cobria sua cabeça e óculos escuros cobriam seus olhos.
- O que importa é o que está embaixo. – Ashton rebateu, mas parecia incerto.
- Não vão se proteger do sol? – falei, chamando a atenção dos dois. – A pele de vocês parece sensível.
- Passamos protetor antes de sair. – Ben respondeu, me fazendo rir.
- Claro que sim. Fator 500.
- Quer um pouco? – ofereceu, sem se importar.
- Não, valeu. Ashton?
- Fui criado em uma fazenda. Tenho proteção natural contra o sol.
Soltei uma gargalhada, imaginando aquele idiota com uma blusa xadrez, chapéu de palha e mastigando mato. O mais perto que ele havia chegado de uma vaca foi com um hambúrguer.
- Ei, olha lá, aluguel de itens esportivos. – Ashton falou, todo animado.
- Quer cair de uma prancha e se afogar? – perguntei.
- Eles alugam bolas. Alguém quer jogar? Ben?
O garoto pareceu surpreso por um minuto. Já havia notado que ele ainda estava incerto sobre Ashton.
- Hum, claro.
- Vamos até lá alugar. – os dois ficaram de pé. Ashton se inclinou e sussurrou para mim. – Faça a sua mágica. – então, saíram.
Ignorei ele e encarei o mar agitado. Eu estava usando a única camiseta que havia levado e shorts. O sol queimava minha pele exposta.
- Luke, eu gostaria de conversar com você. – Evans se aproximou, sentando ao meu lado.
- Conversar não está no topo das minhas vontades agora.
Sim, eu havia aceitado ir até ali para vê-la. Aquela garota tinha um certo poder sobre mim, que me fazia desejar estar no mesmo lugar que ela. Mas eu ainda não havia engolido aquele papo de você-parece-com-o-seu-papai.
- Apenas escute, por favor. – eu não a olhava, mas pelo canto do olho vi que ela havia tirado os óculos. – Eu sinto muito pelo o que falei. Não sei o que deu em mim, eu... Desculpe, não quis chatear você.
- Uma mosca me chateia, Evans, ser comparado com eles é algo que me deixa fodidamente...
Ela torceu os lábios.
- Eu consigo enxergar o seu lado.
- Mesmo? – agora eu a olhava de frente. – O que você sabe, garota? O que você imagina?
- Que deve ser difícil ser comparado com alguém que lhe fez muito mal, alguém de quem você não pode se deslaçar.
Ela havia acertado bem no centro. Cem pontos para Evans.
- Eu prometo que não vou mais tocar no assunto. Podemos voltar a ser, hum, amigos?
Encarei seus olhos, observando o marrom com aqueles traços de verde. Abri um sorriso.
- Nunca entrei nem pretendo entrar na zona da amizade com você, Evans.
– O que quer dizer?
- Meu alvo é outro. – puxei minha camisa pela cabeça. Não deixei de notar seu olhar preso em mim por um segundo. – Quer mesmo que tudo seja como antes?
- Não gosto de estar brigada, com ninguém.
- Bem, presentes sempre melhoram meu humor.
Ela juntou as sobrancelhas.
- Quer que eu compre algo para você?
- Eu prefiro os presentes simbólicos, sabe?
- Tipo o quê?
Fingi pensar por um minuto.
- Você poderia encontrar uma concha para mim, lá na água.
- Uma concha? Você quer uma concha? – dei de ombros. A garota me olhava como se tivessem crescido chifres em minha cabeça. – Tudo bem, então. – ela levantou, ainda duvidosa, e começou a ir para a água.
- Ei, Evans, você vai molhar sua roupa! – gritei.
Ela olhou para si mesma, depois para mim. Pensei que ela desistiria mas, depois de um minuto, tirou o chapéu, as sandálias e a saída de praia. Meus olhos acompanharam seus movimentos. Seu biquíni era listrado, branco e azul, combinava com ela. A parte de baixo parecia com as versões antigas que vi em fotos, ia até o umbigo.
- Pare de me olhar! – ela chiou, vermelha.
- E ela pede para o garoto não olhar a vitrine de doces! – gritei de volta.
Evans virou de costas, me dando a visão de sua bunda, e foi para a água.
Você não é tão menina como pensei.
- Vamos jogar?
Virei e encontrei Ben.
- Não sou muito fã de futebol. – voltei a olhar para Evans.
Ele se colocou bem na frente, atrapalhando tudo.
- Sabe, Luke, acho que deveríamos tentar fazer algo juntos. Quando éramos crianças nos dávamos bem. Você é meu irmão.
Eu o olhei em silêncio. Era verdade que nos dávamos bem antes, ele era uma criança legal.
- Já fizemos muitas coisas juntos. – falei.
- Mas não sozinhos.
- Eu faço mais a linha... grupal, sabe.
- Não quando saiu só com a Julia.
Aquilo me surpreendeu.
- Ela contou pra você.
- Claro que sim. – Ben lançou um olhar para a garota na beira da água. – Eu pedi para você ficar longe, Luke.
- Agora eu sei porquê. Os pais dela.
Ele concordou com a cabeça.
- Ela não tem deixado muitas pessoas se aproximarem depois do acidente. – Ben me olhou, um tanto curioso. – Mas ela deixou você. Por quê?
Dei de ombros, tentando esconder a satisfação que aquilo me dava. Veja, ela gosta de mim, no fim das contas.
- Se ela gosta de você, não desapareça, ok? – ele pediu.
- Eu vou embora logo, não sei quando vamos nos ver de novo.
Ben balançou a cabeça.
- Era disso que eu estava falando, Luke.
Nós dois olhamos para Evans mais uma vez. Ben disse que iria comprar bebidas e se afastou. Ashton voltou segurando uma bola e se jogou ao meu lado. Ele já estava suado.
- Já pode me passar a grana. – falou.
- O quê? Sem chance.
- Ela está de biquíni.
- Aquilo está mais para maiô cortado. Eu disse que ela iria usar algo tapa-tudo.
- Não cobriu o suficiente para evitar que sua baba escorresse.
- Babar por aquela menininha?
- A menininha até que tem seus atrativos. – Ashton olhava para Evans, que saia do mar e vinha em nossa direção. Bati em sua cabeça para que ele parasse.
- Aqui está. – ela me passou uma concha pequena, quase um círculo perfeito, com tons esverdeados e marrons, como seus olhos.
- Obrigada.
- E Ben?
- Foi pegar bebidas.
Evans tirou uma toalha de sua bolsa mágica e se secou antes de sentar.
- Então, Julia, não é? Você e Ben são o tipo de casal que se conhece desde a época das fraldas? – Ashton puxou conversa, ignorando o fato de eu estar entre eles dois.
- Não. A gente só está junto há um ano, nem éramos amigos antes de ele mudar para minha escola. E vocês dois?
- Você acha que eu namoraria esse cara feio? – perguntei, fingindo horror.
Ashton pegou uma mão cheia de areia e jogou bem na minha cara.
- Que filho da puta, Irwin! Eu tava com a boca aberta! – cuspi a areia nos pés dele. Evans gargalhava ao lado.
- Voltando ao assunto, Julia, nosso amor aqui começou há muito tempo, desde moleques. – Ashton falou. - Luke era campeão em corrida.
Evans me olhou interessada.
- Você estava no time de corrida da escola?
- Ah, não, ele costumava apertar a campainha dos vizinhos e corria como se o diabo estivesse atrás.
Sorri para ele, ainda havia areia na minha língua.
- Ashton preferia brincar de se esconder. Uma vez o encontrei dentro do armário do zelador com a sra. Perkins.
- Cala a boca, imbecil. – ele estava rindo.
- Quem era a sra. Perkins? – a garota perguntou.
- A professora de História.
Evans olhou para Ashton.
- Bem, é normal que crianças se apaixonem pela professora, mas...
- Ela já tinha netos. – esclareci.
- Foi para pegar experiência, ok? Ela era professora, seu dever era ensinar.
- Oh, meu Deus. – Evans caiu na gargalhada.
- Luke não fica muito para trás, uma vez ele pegou uma de cinquenta.
- Eu estava bêbado, e estava escuro. Vi as rugas quando acordei no dia seguinte.
Evans fez uma careta, depois riu.
- Sabe, Ashton, se você continuar me contando esse tipo de coisa, podemos sair mais vezes.
- Combinado, garota.
Lancei um olhar para os dois, me perguntando de onde havia saído aquilo.
- Por que você não vai procurar Ben, Ashton? Aposto que ele vai aparecer aqui com umas latinhas de Coca-cola. – falei.
- Coca, credo. – ele levantou e se afastou.
- Você não devia flertar com aquele cara. – avisei.
- Eu não estava flertando.
- Só estou dizendo que ele pode entender errado.
Evans balançou a cabeça e deixou o assunto para lá.
- Você sabe algumas coisas sobre mim agora. – ela comentou.
- Só algumas.
- É a minha vez de fazer perguntas.
- Não estamos jogando sinuca.
- Vamos lá, esse lance de mistério cansa.
- O que você quer saber?
Ela pensou um pouco.
- Sempre foi só você e sua mãe?
Peguei areia com ambas as mãos e assisti ela descer entre meus dedos.
- Não, houveram alguns caras.
- Caras legais?
- Minha mãe os encontrava em bares imundos, geralmente, o que você acha?
- Mas a sua mãe... Como ela é?
- Nunca foi a melhor mãe do mundo, mas porque não tínhamos uma vida muito equilibrada.
- Eu não entendo.
Claro que não entende. Agradeça por isso.
- Não tínhamos uma casa fixa, às vezes morávamos com os namorados dela, às vezes ficávamos em quartos de hotéis. Mas eu ia para a mesma escola, isso era legal. – parei para pegar mais areia. – Não entenda mal, ela fazia o melhor que podia. Eu sempre ficava com a melhor cama e se só havia comida suficiente para um, ela dizia que não estava com fome. Ela nunca deixou que os caras me batessem ou... Podia ter me deixado na porta dos Leicester ou com o sistema, mas sempre lutou para ficar comigo.
- É o que as boas mães fazem. Onde ela está agora?
- Com o novo namorado, eles têm um apartamento. Esse parece ser... decente.
- Você não sente falta dela? Digo, já que viaja tanto.
- A gente acostuma a estar longe dos pais.
Ela baixou a cabeça e mexeu os pés na areia.
- Acostumamos?
Percebi o que havia falado e quis me chutar.
- Desculpe.
- Tudo bem. Comigo é diferente.
- Seu irmão já conseguiu um emprego?
- Ainda não.
- Ele vai encontrar alguma coisa, não se preocupe.
- Espero que sim.
Ben e Ashton voltaram, carregando latas de refrigerante e cerveja. Bebemos para afastar o calor enquanto Ben contava alguma história engraçada. Depois tivemos que usar a bola para não desperdiçar os cinco dólares de Ashton, foi mais divertido do que eu pensei que poderia ser. Quando caminhamos de volta para os carros, suados e cansados, no fim da tarde, eu percebi que aquela era uma vida que eu poderia me acostumar.
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