Capítulo Oito
A mão dela soltou a colcha e foi para minha nuca, seus dedos puxando a parte de trás do meu cabelo. Meu rosto estava enterrado em seu pescoço, enquanto ela ofegava em minha orelha. Aquele novo estímulo me fez aumentar o ritmo e ela me acompanhou. Eu não queria que acabasse ainda, mas percebi que já havíamos cruzado aquela linha, seria impossível desacelerar agora. Senti seu corpo tensionar, ela estava quase lá. A pressão de suas pernas em volta de mim aumentou, chegando quase a ser desconfortável. Eu queria ver aquele momento em seus olhos. Ergui o rosto para olhá-la. Evans tinha os olhos fechados e a boca entreaberta, em um pedido silencioso. Sua visão foi o meu gatilho.
Acordei com o incômodo em minha boxer. Foi decepcionante notar que estava sozinho, então os detalhes do sonho encheram minha cabeça. Mas que porra foi essa? Evans?
Virei na cama, ficando de peito para cima e encarando o teto escuro. Nada ainda fazia sentido. Por que ela? O que havia com aquela menina? Lembrei os detalhes do sonho, as sensações, os sons, ela. Aquilo não estava ajudando com minha ereção.
Olhei para o relógio na cômoda, vendo que passava um pouco das duas da manhã. Me estiquei para alcançar o celular e liguei para Ashton. Ele não atendeu nem a primeira nem a segunda ligação. Tentei outra vez.
- Alguém não entende que está sendo ignorado. – ele respondeu, por fim. Eu podia ouvir muito barulho logo atrás.
- Ainda está na festa?
- E não pretendo sair daqui nunca mais! Lembra que era à fantasia?
- Esse foi o motivo que me fez não ir.
- Então, ninguém mais está usando fantasia. Agora é uma festa... espere... Ei! Venha até aqui dizer para o meu grande amigo, Luke Hemmings, qual a temática da festa!
Alguém se aproximou do celular rindo. Uma voz feminina falou comigo.
- Seu amigo tem uma linda American Apparel.
Então Ashton voltou para a linha.
- Estou dançando em cima de uma mesa de bilhar, só de cueca, enquanto jogam cerveja em mim! – ele gritou, sendo seguido por outras pessoas. – Venha para cá, seu filho da mãe preguiçoso, lamber um pouco de Jack Daniels do meu mamilo!
- Eu não estou tão bêbado quanto você, Irwin. – falei. – Espera, se você está só de cueca, onde está guardando seu celular?
- Na minha linda American Apparel.
Fiz um lembrete mental de não encostar no celular dele nunca mais.
Ashton começou uma conversa paralela, esquecendo o celular. Desliguei e liguei outra vez. Ele atendeu de primeira.
- Mano do céu! Isso é... wow... Cuidado, garota, não tão forte. Luke, você precisa vir pra cá!
- Onde diabos você está? Isso é uma orgia ou o quê?
- Tá todo mundo muito bêbado pra isso.
A música no fundo mudou, o pessoal passou a acompanhar a letra.
- A sua amiga não tem uma amiga? Traga elas para terminar a festa aqui. – pedi.
- But baby, I’ve been, I’ve been praying hard. Said, no more counting dollars. We’ll be counting stars!
Esperei que seu solo acabasse, impaciente.
- Tenho uma surpresa para você! – ele falou, depois de um minuto.
- Ah é?
- Uma surpresa que fará você me agradecer de joelhos.
- Você não teria esse tipo de agradecimento nem se me desse a Beyoncé.
Ashton gargalhou. Ele estava tão bêbado.
- Não era essa a intenção, Hemmo.
- Qual o nome dela?
- Garoto esperto. Andy, feições orientais, piercing na língua e contorcionista! Dá pra acreditar? Mas essa é a minha. A sua é a vaqueira Lynn.
- Vaqueira?
- Ela tem uma corda!
- Aliás, onde você conseguiu uma fantasia?
- Eu sou o Zorro, só precisei de uma máscara preta.
- Ah, claro, elas ainda não fugiram porque não viram a sua cara.
Ashton riu.
- Então, senhor nariz-pefeito-e-natural, devo levar as señoritas para o meu quarto ou para o seu?
- Traga elas pra cá. Mas você vai ter que alugar o quarto ao lado, eu sei que você tem tesão em mim, mas não vai rolar swing.
Ashton gargalhou.
- Você é muito gostoso, Hemmings!
Ele desligou.
Joguei o celular no colchão e voltei a encarar o teto. Preciso sair e comprar algumas bebidas, quanto dinheiro ainda tenho? Mas antes... deslizei a mão para dentro da minha boxer, não ia dar pra segurar até Ashton chegar.
Eu estava em uma estação antiga. Me sentia ansioso, batucando os dedos a espera do trem e de quem ele trairia. O relógio moveu-se com preguiça, e eu esperei. A ponta de meus sapatos não tocavam o chão. Olhei para eles, eram os mesmo que eu usei durante três anos para ir para a escola.
Por fim o chão vibrou e um apito estridente anunciou que o trem se aproximava. Fiquei de pé e o vi aparecer, aquela grande lagarta de ferro barulhenta e pesada, cuspindo fumaça. Ao parar, uma multidão jorrou pelas portas. Comecei a procurar pelos rostos quem eu estava esperando, meus olhos pulavam de cabeça para cabeça. O trem ficou vazio, as pessoas na estação também desapareceram. Voltei a sentar, com aquela já conhecida sensação na garganta, que descia até o peito. O trem partiu e eu fiquei sozinho.
Quando meus olhos se abriram, encontraram o teto mofado e com a tinta lascada do meu quarto. O sonho se transformou em um gosto ruim na minha boca. Ou talvez fosse apenas mau hálito.
Olhei para o lado, procurando por Lynn, mas ela não estava ali. A voz do Chris Brown vinha de algum lugar do quarto. Sentei, desorientado, até encontrar de onde saía a música, era do celular de Ashton. Vesti a camiseta que estava no chão e levantei.
Ashton babava no chão, sobre um edredom. Agradeci por ele estar usando pelo menos uma cueca. Como eu deixei ele me convencer a fazer a sua festinha aqui? Ele não tinha dinheiro para alugar um quarto, então acabou usando o chão com sua amiga contorcionista. Porque quando eles chegaram eu já estava meio bêbado também.
Minha cabeça latejava com cada batida do rap. Vá se foder, Brown, pensei enquanto desligava a música. Ashton se remexeu e acabou rolando para o chão frio, por cima das latas de cerveja vazias.
- Juro que não apaguei. – ele resmungou rolando para tirar a cara do chão. – Então, anjo, pode fazer aquele truque com a perna de novo?
- Eu vou usar a perna para chutar seu saco, anjo.
- Onde elas estão? Caralho, tô com um bafo dos infernos, parece que alguém morreu na minha boca. – ele sentou, com as costas apoiadas na poltrona e se espreguiçou.
- Elas foram embora. Já é dia.
Ele olhou ao redor, para ter certeza que a contorcionista não estava ali realmente.
- Você pode vestir suas roupas? – resmunguei.
Ashton levantou, gemendo. Começou a recolher suas coisas.
- Porra, cara, as filhas da puta roubaram a gente! – falou, mexendo no edredom.
Olhei para a mesinha, onde havia deixado a carteira na noite passada, e a encontrei vazia. Notei nossos documentos espalhados no chão. Ashton e eu trocamos um olhar e começamos a rir.
- Como se eu tivesse muito para roubar. – falei, sentindo minha cabeça rodar. Estava com uma ressacada da porra.
- Acha mesmo que vai encontrar um salão de jogos nesse bairro grã-fino? – Ashton perguntou. – Se quer dinheiro fácil a essa hora, vamos para o subúrbio.
As garotas haviam levado todo nosso dinheiro, que não era muito, mas nos deixou sem nada até para comer. Ashton quis apostar o carro alugado, algumas mãos de cartas ou bilhar, mas eu não quis arriscar, se a gente perdesse, colocariam a polícia na nossa cola. Rivers nos mataria.
- Vire à esquerda e pare na segunda casa. – falei, de mau humor. Só havia uma forma de conseguir dinheiro rápido. Meu estômago gritava, pedindo o café da manhã.
Ashton estacionou junto à calçada e olhou a casa Leicester, assoviando aprovativo. Depois me olhou.
- Não me diga que vai pedir dinheiro ao velho.
- Eu prefiro lamber as bolas dele.
Desci do carro e atravessei o jardim, sorrindo para os seguranças mau encarados. Aqueles caras definitivamente não gostavam de mim. Sorri e acenei para eles.
Entrei na casa sem cerimônia, esperando cruzar com a sra. Velha, mas quem encontrei foi Ben, junto ao pai. Os dois riam no sofá em forma de L. Tudo parecia uma cena de um seriado para TV. Ao me notarem ali, o humor sumiu e foi substituído por surpresa.
- Belo dia, não? – falei me jogando no sofá e cruzando as pernas na mesinha de vidro.
- Luke, como você está? – o velho perguntou, se recuperando do susto de me ver.
- Bem, bem.
- Pensamos que já havia viajado.
Oh, bem que você queria, velho.
- Fui roubado ontem e fiquei sem dinheiro.
- Minha nossa! E os ladrões fizeram algo com você? – aquilo era preocupação em seu rosto? Claro, e a Angelina Jolie vai entrar por aquela porta, me oferecendo uma de suas filhas em casamento.
- Ladrões? Ah, não, foram duas garotas fantasiadas e sexys que levei para o meu quarto. Quando acordei... – dei de ombros e peguei uma das revistas habilmente espalhadas em leque sobre a mesinha. Folheei e descobrir que era de vestido de noivas. – Escolha interessante de leitura. – comentei.
- É da Jacky. – o garoto esclareceu.
Jacky. Tinha quase esquecido de minha outra meia-irmã. Tínhamos a mesma idade, o velho engravidou minha mãe quando já estava casado com a sra. Leicester. A velha sempre manteve sua filhinha longe, como se ela fosse pegar gonorréia se encostasse em mim. Tive o prazer de receber olhares enojados da garota e nada mais.
- Não enviamos o seu convite porque pensávamos que já não estivesse na cidade. – o velho falou, puxando um lenço engomado para secar o suor da testa. – As, hum, moças levaram muito dinheiro?
- Eu não sou do tipo que tem muito dinheiro. Já passou por uma situação assim, Ben?
O garoto corou e desviou o olhar.
- Não.
- Nunca trouxe uma garota má para brincar? – cresci o sorriso, abrindo os braços nas costas do sofá.
- Eu tenho namorada, Julia, lembra?
- Bom, sorte sua, porque as ladras sairiam daqui com as mãos cheias.
- Posso ajudar você, Luke? – o velho puxou a carteira gorda do bolso e a abriu, ansioso para terminar com aquilo.
- Já disse que não quero o seu dinheiro.
- E então?
Fiquei de pé e andei pela sala, como que admirando o lugar. Havia a lareira moderna, sobre o aparador várias peças que custavam mais que minha alma cada uma.
- Isso é de cristal? – perguntei mirando um cinzeiro.
- Sim, da década de cinquenta. – o velho respondeu. – Pertenceu a sua tia-avó...
- É uma bela peça. – cortei o papo-família.
O velho se remexeu no sofá.
- Você fuma?
- Não em cinzeiros.
- Ele vai vende-lo, pai. – Ben me olhava nada feliz. Sorri.
O velho afrouxou o nó da gravata e limpou a garganta. Usou o lenço mais uma vez na testa.
- Há uma casa de antiguidades na London Avenue. – falou, ficando de pé. Ben o olhou descrente, mas não disse nada.
Peguei o cinzeiro e o coloquei na bolsa que havia levado.
- Obrigada pela dica. E, Ben, deveríamos sair outra vez antes que eu vá embora. Eu, você e Julia. A outra noite foi surpreendentemente agradável. – lancei um sorriso para o garoto e saí.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro