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Capítulo Doze

- Querida? – chamei, fechando a porta com o pé. Minhas mãos estavam ocupadas segurando algumas garrafas de cerveja.

Ashton estava desembalando a comida em sua cama.

- Pode me dar um pouco disso, amor? Estou faminto! – beijei sua bochecha e ele tentou me acertar com a colher de plástico. – Onde estão nossas crianças?

- No meu saco.

Soltei uma risada.

- Mantenha-as aí. – coloquei as garrafas na mesinha de luz e pulei na cama, puxando uma das embalagens para mim. Comida mexicana.

- E seu passeio em família? – Ashton perguntou, encaixando uma das garrafas na borda da mesa e batendo com a mão até a tapinha abrir. - Recebi sua mensagem.

Dei uma mordida generosa e mastiguei enquanto pensava.

- Não foi ruim. – conclui.

- Mesmo?

- Ben é um bunda rosa, eu fui encontrar Evans, que é mais divertida. Ela tem uma língua rápida.

- Rápida, hein? – ele sorriu e mexeu as sobrancelhas.

- Para responder. Não experimentei, infelizmente.

- Luke Hemmings não dispensa nem as namoradas da família.

- Passe os bolinhos pra cá. – falei, ignorando o que ele falou. O assunto Evans me lembrou da minha missão.

Peguei meu celular e entrei em uma loja online local. Não fazia a menor ideia de como encontrar o que procurava. Usei o filtro de pesquisa para facilitar a busca. Passei pelas opções rapidamente, até que algo me chamou a atenção. Realizei a compra, graças a Rivers já ter depositado metade do nosso dinheiro pude usar o cartão de crédito. Coloquei o endereço onde deixei Evans na outra noite, finalizei e coloquei o celular de lado. Reparei que minha embalagem estava vazia. Me estiquei para roubar um pouco da comida de Ashton. Só na terceira mordida percebi a cara dele.

- Que foi?

- Cara, você acabou de comprar um vestido. – ele me olhava como se eu tivesse me transformado na Oprah.

- É para a Evans. Ela precisa de um para o casamento.

Ashton ainda estava com aquela cara estúpida.

- Você gosta dela. Deus, você gosta dela.

- Você só pode estar brincando. – soltei uma risada.

- Ok, não digo gostar, apenas gostar.

Refleti um pouco. Sim, eu gostava dela. Não sentia indiferença, aquilo era gostar, não era? Dei de ombros.

- Cara...

- Cala a boca.

- Mas cara...

- Cala a boca.

Ashton alcançou suas baquetas.

- Eu gostaria de saber que merda está acontecendo.

Puxei os óculos escuros quando entrei na interestadual. O sol estava rente com a linha do horizonte e passou a refletir a água bem na minha cara.

Havíamos acabado de encontrar o contato de Rivers, um sujeito enorme, parecendo ter saído do exército. Foi algo bem rápido, a praia estava vazia, como Rivers havia previsto. Uma aproximação sutil, troca de informações rápidas, por segurança, e a maleta já estava no porta-malas, com a gente voltando para a cidade.

- Que merda, cara! Cuidado! – Ashton reclamou no banco do passageiro. Era ele quem dirigia normalmente, mas a comida mexicana havia feito um estrago com suas tripas.

- Tinha uma pedra no caminho. – me defendi, segurando o riso.

- Desvia da porra da pedra da próxima vez!

Lancei um olhar para o lado. O cara estava meio deitado, com a mão sobre o estômago. Ele gemia a cada dois minutos.

- Você está radiante. – falei. Ashton mostrou o dedo do meio para mim.

Resolvi ligar o som. Coloquei em uma estação de rock antiga e acompanhei as letras por um momento, tamborilando os dedos no volante. Estava tocando algo do Jimi Hendrix, uma que minha mãe costumava ouvir o tempo todo quando eu era criança. Fiz um lembrete mental de ligar pra ela depois.

- Para o carro! – Ashton sentou de repente, agarrando a maçaneta.

- O quê?

- Para a porra do carro! Agora!

- Eu não posso parar aqui!

Ele se virou e me deu um soco no ombro.

- Para a porra desse carro! – ele apertava a maçaneta do carro e segurava a barriga.

Diminui a velocidade, recebendo buzinadas dos outros carros. Ashton saiu antes mesmo de estar totalmente parado, pulou a mureta de proteção e desapareceu dentro do matagal.

Passei metade do corpo pela janela e gritei:

- Boa sorte para limpar a bunda, Irwin! – voltei para dentro do carro gargalhando.

Olhei ao redor, procurando algum lugar para levar o carro, mas só havia a estrada. Fechei a porta do passageiro, que Ashton havia deixado entreaberta e esperei.

Encarei o mar tranquilo. Um pesqueiro viajava ao longe no mar, parecendo de brinquedo pela distância. Pensei em minha mãe novamente, tentando adivinhar o que ela estava fazendo. Provavelmente cuidando de algum moleque no fim de semana para complementar o salário. Ela se matava como garçonete em um café sujo, e nos fins de semana servia de babá. Metade do que eu ganhar com esse serviço vou dar pra ela. Minha mãe vivia tão desesperada para pagar as contas que não se preocupava com a forma que eu ganhava a vida. Talvez ela desconfiasse, mães sabem de tudo. Ben cresceu sobre o olhar atento da velha, já que ela nunca precisou trabalhar. Quando ele era criança, provavelmente adorou isso, ter a mamãe para correr sempre que ganhava um machucado. Mas, agora, apostava que era um saco. O garoto nem mesmo poderia brincar com Evans sem que a velha aparecesse.

Onde você está, Evans? Lembrei da outra noite e do que havia descoberto sobre ela. A garota não tinha uma vida perfeitinha como eu imaginava. Afinal, todos têm seus demônios, pensei. Ela gostaria de estar aqui, pegar um sol na praia. Eu a jogaria na água e riria da sua cara.

Algumas batidinhas no carro me fizeram virar. A primeira coisa que notei foi um cara com bigode de morsa inclinado na minha janela, a segunda foram luzes piscando no meu retrovisor. Meu sangue gelou.

- Você não pode parar aqui. – o policial falou, ficando ereto.

Merda. Merda. Merda.

- Foi uma emergência. – eu parecia nervoso até mesmo para mim. Tentei um sorriso. – Meu amigo precisou... evacuar. – apontei para o mato.

O policial lançou um olhar para trás.

- Vou precisar ver sua carteira e os documentos do veículo.

Acenei uma vez com a cabeça e mexi no porta-luvas até encontrar tudo.

- É alugado. – expliquei.

O policial verificou tudo, coçando o bigode.

- Parece estar tudo certo.

Eu sentia o suor se acumular no meu corpo. Sorri.

- Talvez eu deva levar o carro até o posto mais a frente e esperar meu amigo lá. – coloquei uma mão nas chaves, mas o policial segurou o volante.

- Vou precisar dar uma olhada no carro.

Pensei que as minhas tripas iriam começar a trabalhar também. Meu corpo congelou completamente, apenas consegui olhar para o policial.

- Vamos lá, rapaz, desça do carro. – ele mesmo abriu a porta. Eu saí, sentindo que estava muito fodido.

O policial começou revistando a frente do carro. Mexeu nos bancos, no porta-luvas e no quebra-sol. Depois passou para a parte de trás. Comecei a pensar nas minhas opções, mas nenhuma era boa o suficiente. Eu poderia tentar fugir? Não, havia outro policial na viatura. Tentar rendê-lo? Dava no mesmo. Porra, Ashton!

O policial saiu do carro e deu a volta, parando em frente ao porta-malas. Ele me olhou.

- Essa placa é da cidade, mas os seus documentos são do Colorado.

- Só estou de visita. – falei, sentindo a boca seca.

- Ah, é? Família? – ele abriu o porta-malas, mas olhava para mim.

Busquei apoio na mureta casualmente. Havia um zumbido nos meus ouvidos.

- Meu pai. Leicester.

O policial parou.

- Leicester?

- Sim, senhor.

Ele me olhou por um segundo, então conferiu meu documento que ainda estava em sua mão.

- Aqui diz Hemmings.

- O sr. Leicester doou o esperma, mas não o sobrenome, se é que o senhor me entende. – dei de ombros. – Se me der um minuto, eu posso ligar para ele.

- E para quê?

- Bom, eu gostaria que meu pai soubesse como o senhor está fazendo um trabalho excelente. Sabe, com a influência que ele tem na cidade...

O policial ficou ereto e sorriu.

- Se você faz questão...

Peguei o celular e procurei o número do Ben. Esperei na linha por um minuto que pareceu uma eternidade, até que o garoto atendeu.

- Ben, é o Luke, por favor, diga que está em casa.

- Ei, Luke? Aconteceu alguma coisa? Você nunca...

- Você está em casa ou não? – cortei, impaciente. Lancei um olhar para o policial, ainda parado com o porta-malas aberto.

- É, estou.

- Preciso falar com... o pai. – apertei os dentes.

Ele ficou em silêncio.

- Você ouviu? Porra, cara, é urgente.

- Sim, sim. Ele está aqui. – eu ouvia que ele estava se movendo. – Algum problema? Você está bem?

- Estou ótimo. – só as minhas bolas que estão muito apertadas no momento.

Ouvi Ben falar alguma coisa e depois a voz do velho.

- Alô? Luke?

- Olá! – me virei para o policial, sorrindo. – Como o senhor está?

- Hm, bem, bem. E você?

- Eu estou voltando da praia, um tanto queimado.

- Fico feliz que esteja aproveitando. – o velho parecia muito confuso. – Posso ajudar com alguma coisa?

- Ah, sim. Acontece que eu fui parado pelo oficial... – ergui uma sobrancelha. O policial apontou para seu uniforme. – Parker. Ele foi extremamente prestativo.

- Isso é... ótimo.

Segurei o sorriso na cara. O velho idiota não estava entendendo o meu ponto.

- Eu estava pensando, talvez, o senhor não gostaria de entrar em contato com o departamento dele para, sabe, elogiar o bom trabalho feito.

- Claro, eu posso fazer isso.

- Vou colocá-lo na linha. – entreguei o celular e respirei aliviado ao vê-lo se afastar do porta-malas. Eu queria pular no carro e fugir, mas me controlei.

Esperei o bate-papo se arrastar por alguns minutos. Finalmente o policial Parker me devolveu o celular.

- Deveria ter dito de onde vinha desde o começo, meu rapaz, eu não teria revistado seu carro. – falou, me dando alguns tapinhas no ombro.

- Quem não deve, não teme. – encolhi os ombros.

- É isso aí. Bom, boa viagem para casa. Dê um abraço no seu pai por mim.

- Darei, com certeza.

- E tire o carro daí, não queremos um acidente.

- Sim, senhor.

O policial devolveu meu documento e voltou para a viatura com um grande sorriso de quem espera ser promovido. Assisti o carro ser ligado e se afastar.

Sentei no porta-malas, liberando toda a adrenalina de uma vez. Ainda estava me recuperando quando Ashton apareceu cambaleando.

- Acho que a comida mexicana também não te fez bem, você tá pálido. – ele comentou, parando ao meu lado.

Lancei um olhar assassino para ele.

- Você é um grande e gordo saco de merda, Irwin.

A Casa Leicester por fim havia sido modificada, eu só não conseguiria dizer se para melhor. Desde a calçada, uma fila de luzes pequenas e flores serpenteavam até os fundos. Arranjos foram espalhados pelo gramado, tudo cheirava a flores doces e um lugar especial foi montado para que os convidados tirassem fotos ao chegarem.

A festa em si estava rolando nos fundos. Pela música animada que tocava eu pude descobrir que a parte chata e inútil do “aceito” já havia passado. Peguei um champanhe de um dos garçons e comecei a cruzar o jardim, até que uma mão me parou.

- Seu convite, por favor.

Era um segurança, não do velho, provavelmente foi contratado apenas para a festa. Ao que parecia, eu era o única sem terno por ali, então é claro que ele pegaria no meu pé. Apalpei os bolsos dramaticamente até encontrar o convite enfiado na cintura do meu jeans.

- Está brincando, garoto? – o segurança falou, olhando para o convite remendado com fita adesiva.

- Foi um acidente horrível. Mas meu nome está aí.

- Seu documento, por favor.

Revirei os olhos e passei minha carteira de motorista. O homem comparou o nome com o do convite e a foto com minha cara.

- Eu costumo ficar mais bonito a cada dia. – falei, sorrindo.

- Passe um bom momento, senhor. – resmungou, se afastando.

No quintal, haviam ainda mais flores e luzes. O centro estava ocupado pelas cadeiras e o local do casamento. À direita estavam as mesas do jantar e à esquerda uma pista de dança foi montada, com DJ. Parei outro garçom para trocar a taça vazia por uma cheia.

A noiva estava na pista, agarrando a saia do vestido branco para poder dançar. Até mesmo seu jeito de se mover parecia falso, pré-ensaiado. O cara de “papai é milionário” que piscava e sorria para todo mundo deveria ser o noivo.

- Vamos lá, Luke, você não veio até aqui para encarar esses babacas. – virei o champanhe na boca e procurei outro garçom. Talvez eu fique bêbado.

Passei os olhos pelo espaço gigante lotado. Haviam pessoas para todos os lados, mulheres velhas com peles repuxadas, homens mais velhos ainda cheirando a notas de cem e jovens tentando bancar de herdeiros comportados. Evans era a única natural por ali. Eu a encontrei de pé, próximo a casa. Estava de costas para mim e olhava o céu enquanto Ben conversava com um senhor qualquer. Eu a observei de longe, o vestido lilás levemente caído na saia, mangas finas e um coque frouxo no cabelo. Pela primeira vez a vi de saltos, aquilo deixava sua postura mais atraente, com a bunda no ar. Sorri.

- O senhor deseja mais champanhe? – um garçom perguntou. A minha taça já estava vazia e eu nem havia notado. Aquela era uma bebida tão fraca que descia como água.

- Por que não? – coloquei a taça vazia na bandeja e peguei outra. A cor daquele era meio rosado. Engraçado.

Olhei para Evans outra vez e notei que o garoto havia desaparecido. Ela estava ali sozinha, parecendo distraída com seus pensamentos.

Cruzei o espaço, desviando dos outros convidados. Enquanto caminhava, mexi no cabelo para bagunçar um pouco e provei o champanhe. Doce. Aproximei-me por trás, tentando não chamar sua atenção, parei bem perto dela e soprei seu pescoço descoberto. Ela estremeceu e virou.

- Luke? Você me assustou.

- Eu soprei em você, não gritei bu.

- As pessoas não costumam soprar em mim.

- Ben nunca te deu uma soprada?

Sua cara quase me fez rir.

- Luke Hemmings, você é a educação em forma de pessoa.

Fiz uma reverência e sorri.

- Quer um pouco? – ofereci minha taça, já que ela não tinha nenhuma nas mãos.

- Eu não tomo álcool, tenho dezessete.

Dezessete? Hum...

- Vodka é álcool, isso é água. – dei um gole para provar.

- Diga isso para o seu fígado.

- Veja, é rosa como você. – ergui a taça para que ela conseguisse ver.

- Eu não sou rosa!

Ah, não? Abri um sorriso, me inclinei em sua direção e soprei sua franja que caía em seu olho. Evans piscou bobamente e corou.

- Você está rosa agora. – comentei. Sua expressão estava tão encantadora que não vi Ben chegar.

- Que bom que veio, Luke. – ele falou tocando meu ombro. Parecia sincero.

- Olá, irmãozinho! Grande festa.

- Jacky merece.

Ben não usava a parte de cima do terno, apenas blusa social e suspensórios ridículos. Dei um peteleco em sua gravata borboleta.

- Belo traje. – zombei.

Ele ficou vermelho e encolheu os ombros. Como pensei, nem foi ele quem escolheu a própria roupa. Foi a irmã, a mamãe ou um modista? Eu estava sorrindo com escárnio, mas revirei os olhos quando Evans o abraçou.

- Você está bonito.

- Você que está. É a mais bonita da festa. Só não conte para a minha irmã.

Alerta de vômito! Tossi.

- O sr. Leicester não estava se perguntando se o Luke havia aparecido? – Evans perguntou se afastando.

- Ah, sim. Ele estava logo após a pista de dança. – Ben comentou, procurando pelo velho.  

- Ele pode vir até aqui, se quer realmente me ver.

Meu irmão trocou o peso para o outro pé e coçou a cabeça.

- Hum, bem, eu vou chamá-lo. Fiquem bem aqui.

Virei para Evans quando ele se afastou.

- Você usa maiô ou biquíni?

A garota engasgou e levou todo um minuto para parar de tossir.

- O quê?

- Se você usa...

- Eu escutei! Fale baixo!

- Então, responda.

- Que coisa estranha de se perguntar. – reclamou. – Eu não vou muito à praia.

- Mas quando vai...

- Isso não é da sua conta, ok? – Evans começava a passar para a raiva.

- Um amigo meu disse que há uma praia legal não muito longe. Poderíamos ir.

- Para a praia? Você e eu?

- Eu estava pensando em convidar o Ben também, mas essa ideia me parece mais interessante. – pisquei e sorri.

- Com Ben, claro.

- Claro que sim?

- Não.

- Não vai sair comigo?

- Sim, quero dizer, não, eu, hum. – ela tomou a taça da minha mão e deu um gole. Depois de engolir fez uma careta de espanto, como se não soubesse o que havia acabado de fazer. – Você me deixa tonta.

- Mesmo? – peguei minha taça de volta. Ela ficou calada.

Antes que ela respondesse, notamos o trio que se aproximava de nós: o velho, suando, Ben, ansioso, e a noiva, lutando para manter um sorriso feio no rosto. Seus olhos queimavam em minha direção.

- O que você está fazendo aqui? – a noiva exigiu saber.

- Eu fui convidado. – falei, mostrando o convite. Jacky tomou o papel da minha mão e o conferiu.

- Eu não mandei isso. – falou.

- Querida, fui eu quem enviou. – o velho parecia prestes a ter uma parada cardíaca.

A noiva lançou um olhar feio para ele.

- É o meu casamento! – ela percebeu que estava quase gritando, então se recompôs. – Eu quero que ele vá embora.

- Querida...

- Papai...

- Por favor, seja razoável.

Jacky cruzou os braços e fez um biquinho, como se tivesse três anos de idade. O velho suspirou.

- Luke, eu notei sua cadeira vazia no jantar. Conheço um restaurante aqui perto, poderíamos...

- Você vai embora do meu casamento? – a garota estava vermelha e a ponto de chorar.

- Oh, Deus, eu não sei o que fazer! – o velho reclamou.

- Não se preocupem, eu só preciso usar o banheiro e vou embora. – falei.

Todos pareceram relaxar ao mesmo tempo.

- Desejo muitas felicidades. – que seu noivo esteja flácido na lua de mel. Sorri, entreguei a taça para a noiva e me afastei.

Os banheiros haviam sido montados afastados da festa. O fluxo de gente se estendia até ali, principalmente pessoas que queriam se agarrar em privacidade, pois as luzes eram mais escassas daquele lado.

Passei pelos banheiros e entrei na casa pela cozinha. O lugar parecia um formigueiro, cheio de pessoas vestidas de branco correndo, mexendo em panelas e preparando petiscos. Não seria mais fácil contratar um serviço de buffet? Ah, não, para o casamento da princesa de gelo foram contratados chefs. Eu estava tentado em cuspir em uma das panelas, mas a velha estava por ali, passando instruções para alguns garçons, então me aprecei para as portas.

A sala de jantar estava vazia e a de estar também. As luzes estavam apagadas, e eu conseguia ver a festa pelas janelas. Por um minuto, observei o cenário lá fora. Toda aquela gente com roupas e joias absurdamente caras, conversando apenas com quem consideravam estar em seu nível pessoal e dançando sem se tocarem. Quantos dos velhos deploráveis tinham bastardos como o sr. Leicester? Provavelmente muitos. E quantos daqueles jovens teriam um casamento gigante como aquele e em poucos anos estariam procurando diversão fora de casa? Quantas crianças teriam a mesma infância que eu tive, sabendo que papai estava “com sua família” e que não apareceria?

Passos soaram em algum lugar, então subi as escadas. Nunca havia conhecido o andar superior. Parecia estar completamente vazio. Checando os cômodos, encontrei uma sala de TV, o quarto dos velhos, um gabinete menor, o quarto de Ben e o que estava procurando.

O quarto em que Jacky viveu até aquele dia era espaçoso, branco e com tons rosados. Haviam quadros imensos com fotos suas nas paredes, móveis com detalhes dourados, cadeiras almofadadas e uma parede inteira com espelhos. Um degrau acima ficava o espaço para a cama ornamentada, as portas do closet e as que levavam à varanda.

- A idiota realmente acha que é uma princesa. – falei, olhando para suas coisas.

As malas estavam ao pé da cama, prontas para a lua de mel. O passaporte, os documentos e as passagens aéreas estavam na colcha creme, meio metidas em uma bolsa de mão. Peguei o passaporte e o escondi em minha cintura, cobrindo com a blusa. Verifiquei as passagens e vi que o destino era a França.

- Boa sorte com sua lua de mel em um hotelzinho na cidade, maninha. – sorri para mim mesmo e deixei o quarto.

Do lado de fora da casa, longe da festa, percebi que não queria ir a lugar algum, tampouco queria ficar ali e ser expulso outra vez. Caminhei até a calçada e desci a rua, passando pelas mansões impressionantes. Encontrei uma árvore robusta em frente a um casarão fechado e à venda. Sentei ali embaixo, com as pernas estiradas. Por que eu ainda estou aqui? Ashton e eu deveríamos voltar pra casa. Apalpei os bolsos até encontrar um cigarro e meu isqueiro e o acendi. Fechei os olhos, tentando não pensar em nada e apenas relaxar. Consegui ficar assim por meio minuto, até ouvir alguém chegar. Merda, tudo o que eu quero agora é um policial enchendo o saco. Mas, ao abrir os olhos, era Evans quem estava ali. Cara, ela está realmente bonita. Passei os olhos por seu vestido, o cabelo um pouco despenteado, me fazendo acreditar que havia dançado. Ou, talvez, foram as mãos do garoto que passearam por ali, e por outros lugares. Fiz uma careta. Ela tem um rosto bonito, mas, droga, parece zangada.

- Ah, que maravilha, você está fumando. – Evans falou me repreendendo. Me senti como uma criança sendo pega fazendo algo errado.

- Não é um hábito que adquiri há pouco tempo, Evans.

- Isso é maconha?

Quase sorri.

- O que você acha?

- Que sim.

- Então, não é.

- E se eu achar que não?

- Então, é.

Evans cruzou os braços e bufou. Ela estava brava, e parecia querer ir embora, mas acabou sentando ao meu lado, as costas retas.

- Vai sujar seu vestido.- avisei.

- Não me importo. – e parecia não se importar mesmo.

- Você conseguiu um, no fim.

Ela olhou para si mesma.

- Não sei como ele descobriu, eu não falei nada.

- O quê?

- Ben mandou entregar isso no meu apartamento. Eu tentei agradecer, mas ele fingiu que não sabia do que eu estava falando.

Ela pensa que foi o bastardo do Ben que comprou o vestido. Dei mais um trago no cigarro e soprei a fumaça para cima.

Evans tirou os sapatos e os colocou de lado antes de olhar para mim.

- Você pode apagar, por favor?

- Por quê?

- Não quero ficar cheirando a isso e não quero que uma viatura pare e nos prenda.

Encarei seu rosto, analisando os olhos bonitos. A pouca luz me fazia ver mais marrom do que verde. Dei mais um trago, soprei para longe e apaguei o cigarro na grama, deixando-o ali.

Ficamos em silêncio e eu percebi que estava cansado. O sol forte do dia havia drenado minha energia. Encostei as costas no tronco e suspirei.

- Consegue ver aquela estrela? – Evans perguntou apontando para o céu. – É o cinturão de Órion.

- Rapaz fashion. – comentei, fazendo-a rir.

- Quando eu era pequena, meu pai me contou uma história sobre ele. Quer ouvir?

- Você tem uma voz bonita, Evans, eu quero ouvi-la, mesmo que seja falando sobre o crescimento da grama na Patagônia.

Ela sorriu.

- Bem, Órion era muito bonito, tanto que foi o único a despertar a atenção de Ártemis, a deusa dos bosques, das ninfas e da castidade.

- Aposto que da feiura também.

- Por que acha isso?

- Ninguém quis pegar ela, por isso era a deusa da castidade.

- A castidade era por sua própria escolha. E ela era bonita.

- Bonita e pura? Prato cheio. – Como você, menina.

- Acontece que Apolo, irmão de Ártemis, ficou enciumado.

- Irmão enciumado é uma ameaça para as bolas de um cara.

- Quer ficar calado? – reclamou, outra vez me fazendo sentir uma criança. Sorri. – Apolo esperou, até que um dia viu Órion nadando no meio do mar, e colocou um escorpião gigante para persegui-lo. Depois, levou Ártemis até a praia e a desafiou a acertar o pontinho que se movia no mar. Ártemis, ótima arqueira, acertou. Ao descobrir que havia matado Órion, a deusa pediu que Zeus, seu pai, o transformasse em uma constelação. Então, ali está ele. – Evans finalizou com um leve sorriso.

Voltamos a ficar em silêncio, daquela vez por mais tempo. O ar estava agradável, mas começava a ventar. Pensei em lhe emprestar minha jaqueta. Foda-se, ela vai dar um jeito de pensar que foi o Ben também.

- Por que achava que eu estava fumando maconha? – perguntei.

- É uma válvula de escape conhecida, idiota, mas conhecida.

- E de que eu estava fugindo?

- Do que aconteceu na festa. Eu sinto muito, Jacky é difícil às vezes.

- Eu não me importo com eles, Evans, com nenhum deles. Jacky pode enfiar aquela maldita festa onde o sol não alcança.

- Nem mesmo se importa com Ben?

- Eu realmente não desejo para ele o mesmo que desejo para os outros, mesmo assim, ele é um deles.

- Você também é.

- Não sou. – minha voz saiu como um xingamento.

- Em parte, você é.

- Cale a droga da boca!

O queixo dela se ergueu um pouco, em desafio.

- E quer saber? Você se parece mais com o sr. Leicester que Ben e Jacky. Tem os olhos dele, e aposto que tinge o cabelo porque foi o único a sair loiro como o seu pai, não foi?

- Eu mandei você calar a boca, merda! – soquei o chão com força e a encarei. – Nunca mais volte a me colocar entre eles, ouviu? Eu não sou como eles, eu não sou um deles!

Nos encaramos nos olhos por um minuto. Evans estava firme, o descontrolado era eu. Sentia meu rosto quente e a raiva em meu sangue. Parecia que iríamos passar toda a noite ali, mas a garota, em algum momento, levantou, recolheu os sapatos e foi embora.

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