IV | P O P C O R N
-VAI ISAAC! - gritou mais uma vez naquela tarde.
- Você sabe que isso não passa de um treino, não é mesmo?- as sobrancelhas claras chegavam quase em seu couro cabeludo, de tão arqueadas que se encontravam. A ironia em sua voz, demonstrava o quanto ele estava querendo ir embora.
- Claro que eu sei!- resmungou contrariada - Mas um incentivo sempre é bom.- sorriu tentando passar o bom humor para a amiga. Vendo que não daria certo, voltou sua concentração para a quadra, onde acontecia o jogo.
- Acontece que já é a décima vez que você grita- revelou cansada. Poderia estar em casa, jogada em sua enorme cama, e entre seus inúmeros bichinhos de pelúcia, enquanto uma das cozinheiras preparava um bom e enorme bolo de chocolate, com morangos vermelhos no topo. Mas, em vez de toda essa mordomia, estava escorada em um banco qualquer da quadra de basquete da escola, assistindo um jogo que ela nem se interessava, somente para fazer companhia para a melhor amiga. Estava começando a se arrepender de sua decisão de ter ficado até mais tarde na escola.- E você nem sabe o que estava acontecendo no jogo.
- Lógico que eu sei, meu irmão joga basquete desde quando tinha sete anos. Ele me ensinou muitas coisas- respondeu confiante. O saco de pipocas que usou para subornar Yas estava quase no fim. Os grãos brancos preenchia apenas uma parte no fundo do pacote de plástico. Mostrando o quanto o tempo já havia passado.
- Sério?! Então me conte o que está acontecendo neste exato momento.- um sorriso travesso formou-se em seus lábios desbotados. Depois de comer um pote cheio de brigadeiro e um grande saco de pipocas, precisava retocar o batom rosa.
- Eles, eles ...- ela tinha ciência que desde o começo estava mentindo. Não tinha um pingo de conhecimento sobre o que se passava no jogo e nem naqueles que passavam na televisão. Era verdade que seu irmão amava basquete, não ela. O garoto desde pequeno, amava passar a tarde no quintal, somente tentando acertar uma cesta, enquanto a morena nem ousava tocar na bola laranja. Achava bonito quem jogava, mas nunca tirou um pouco de seu tempo para aprender.- Eu não sei - admitiu envergonhada.
Na verdade, havia aceito ir assistir o treino somente para matar o tempo. Seu pai não estava esses dias em casa devido um trabalho no exterior, e a mesma não era fã de ficar sozinha em casa. Não que tivesse medo de um possível assalto. Até porque, a cidade era tão pacata, que ate de morte era difícil se ouvir falar. E se acontecesse, ou era de velhice ou uma doença muito ruim. Porém, mesmo que gostasse de ficar em casa, o tédio, por diversas vezes, a tomava de tal forma, que achava que iria enlouquecer no próximo segundo.
- O jogo acabou Sayara! - Não segurou o riso abalado, que logo se tornou uma gargalhada. O coitado do pacote de pipocas, que já estava findando, acabou indo ao chão devido as risadas da moça.
- Idiota.- respondeu tentado se manter seria, porém não conseguiu resistir a um sorriso.
- Sei que você me ama!- a declaração foi solta junto com um beijo lançado ao ar.
- Convencida- catou o pacote de plástico do chão, e vendo que ainda restava algumas pipocas, decidiu terminar o resto.
-Agora deixa eu apreciar a melhor parte- E pela primeira vez na tarde, a loira atrevida fixou sua atenção na quadra de basquete. Não era seu objetivo primário observar os músculos expostos dos jogadores depois do jogo. Porém, se não pode aproveitar o conforto de sua cama, aproveitaria a vista que lhe era apresentada.
O suor escorria pela pele dos jogadores mostrando o seu real esforço. As camisas ensopadas eram retiradas uma a uma, fisgando a real atenção da garota de olhos claros e um pequeno e mínimo interesse dos cabelos negros de Sayara.
Os rapazes conversavam alegremente sobre como o treino havia sido. Pareciam empolgados para a final que logo em breve chegaria e sem sombra de dúvidas, queriam muito ganhar. A rivalidade entre as escolas sempre fora muito grande. A cidades próximas eram rivais desde seu início e talvez a inveja era o maior motivo daquilo tudo. Era comum a rixa entre os Toronto e os Libertys, que todo ano disputavam um campeonato para mostrar quem era a melhor escola do ano. O combate era tão acirrado, que não era possível dizer qual escola estava na frente, mas os garotos amavam competir e esfregar na cara um do outro a vitória.
Algo que eu, narradora, aprecio muito na Liberty é o incentivo de atividades Extra curriculares. Por exemplo, os esportes. Os alunos, desde cedo são incentivados a praticar atividades físicas, e a variedade de escolhas era impressionante. Temos futebol americano e Soccer, vôlei, Hockey, tênis de quadra e mesa, natação e se não houver mais algum. A escola tinha uma boa infraestrutura para tudo aquilo e era reconhecida por isso.
Porém toda moeda tem dois lados. E o lado ruim poderia ser tão mal quanto o lado bom. Algumas alunas, aproveitando da quantidade de esportes que a escola tem, arrumaram a desculpa de que havia de ter líder de torcida para cada um dos esportes. Ou seja, na Liberty não tem somente um grupo de líderes, mais um monte de meninas com pompons nas mãos, vozes finas e perfumes exageradamente adocicados. Só de lembrar o quanto elas são metidas, me dá raiva.
- Aquele é Josh Matt's?! - apontou para a quadra cheia de garotos semi-nus- Uau! Ele tá um chuchuzinho. - A loira secava os garotos sem ao menos disfarçar. Os garotos logo sentiram seu olhar quente sobre a pele exposta deles, e alguns viraram e lhe mandaram olhares maliciosos, fazendo a mesma fazer questão de retribuir.
- Assim você me magoa gata - sussurrou perto de sua orelha.
A loira pode sentir seus pelos da nuca arrepiar com a voz rouca de Trevor Collins tão perto. O garoto não tinha medo de uma reação inesperada da garota, ou até mesmo uma rejeição. Com seu jeito esnobe e superior, o capitão do time de lacrosse parecia estar sempre certo sobre tudo ao redor de si.
- Desde quando estava me observando?- questionou alterada. Só de imaginar o babaca da Liberty a observando, fazia seus neurônios torrarem.
Ao lado, Sayara nem fazia questão de interferir, estava perdida em seus pensamentos em como conseguiria dinheiro o suficiente para bancar os gastos que teria para o show que queria tanto ir. Não queria ter que pedir dinheiro para seu pai. Sabia que ele acharia que era besteira e dinheiro jogado fora. Não sabia como convenceria o mais velho que aquele era seu maior sonho e que almejava muito realiza-lo.
Pensou em pedir dinheiro emprestado para Yasmin. Talvez a loira rica tivesse dinheiro sobrando para lhe emprestar. Deixar de comprar uma de suas bolas caras da Gucci e presentear a melhor amiga com um ingresso do show do Gallagher.
Só de lembrar do astro preferido sentia seu coração palpitar. Podia sentir os batimentos baterem acelerados em sua orelha e temia que o "casal" que discutia ao seu lado, pudesse ouvir. Sem dúvidas iria a aquele show.
Não importava o que ela deveria fazer.
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