9 - O DESCONHECIDO
❝Ela viverá junto aos seus inimigos, mas nunca se tornará um deles. Todavia, umaparte de tal povo sempre permanecerá dento dela, tão firme e forte quanto asraízes dos antigos Carvalhos que sustentam o mundo❞.
—𝕱𝖗𝖆𝖌𝖒𝖊𝖓𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖔𝖘 𝕽𝖊𝖌𝖎𝖘𝖙𝖗𝖔𝖘 𝕯𝖗𝖚𝖎𝖉𝖆𝖘,
533 ɗ. Ƈ
Finalmente havia chegado o grande dia do Yule, e por mais que eu tivesse me preparado por meses para entrar furtivamente na festividade dos escandinavos, ainda nutria dentro de mim um certo de medo de que meu disfarce pudesse falhar e eu me visse acuada no meio dos bárbaros embriagados.
Por essa razão, antes de iniciar meus planos, realizei uma prece rogando por proteção.
— Natureza, minha mãe. Dê-me forças para suportar mais um inverno nessa terra tão gelada quanto meu coração. Dê-me calma e sabedoria para conviver entre meus inimigos, mas, sobretudo, fortaleça-me de resiliência para que eu possa perpassar qualquer sofrimento. Aqueça o meu coração e rogo para que anteceda minha vitória, pois não sei quanto mais sofrimento sou capaz de suportar. — Terminei minha oração em um sussurro que continha um misto de dor e súplica.
Levantei-me do chão de meus aposentos e me permiti ficar melancólica por um bom tempo. Repassei em minha cabeça todo meu plano por incontáveis vezes e fiquei feliz por Ragad ter ficado incapacitado de me procurar naquele dia.
Então começou a entardecer e o uivo do vento passou a se mesclar com o som dos tambores. Logo os rituais começariam e eu tinha a convicção de que não perderia nada.
Ansiosa pelos eventos que sucederiam, tranquei-me em meu quarto e tirei um tempo para organizar meus pensamentos, concentrando-me a magia no meu feitiço de metamorfose.
Ao sentir que estava devidamente preparada, as palavras vieram até a mim e eu, aos poucos, fui modificando minha aparência. Primeiro, vi meus cabelos passarem de negros para lustrosas mechas douradas, logo após, notei meu nariz se alongar, assim como os ossos de meu rosto ficarem mais alongados. Por último, quando percebi que as mudanças chegaram ao fim, eu me olhei no espelho e a imagem nele refletida era de uma verdadeira viking. Nem mesmo Ragad seria capaz de me reconhecer no meio de sua gente.
Após completar as alterações físicas, coloquei meu vestido mais quente e um casaco de pele de animal, lancei uma última olhada no meu reflexo e sorri para meus olhos verdes tão contrários dos meus tão acostumados tons azuis. Respirei fundo e sai de encontro à noite fria, rumo ao tão esperado Yule.
Embora nunca me permitiram que eu participasse dessa festividade, não demorei a encontrar o local em que as celebrações seriam realizadas, bastou apenas seguir o som dos tambores que ficaram mais altos à medida em que eu avançava em direção a eles.
Quando cheguei ao meu destino, quase todo o clã já estava presente, e pelos buchichos das conversas, ficou nítido que apenas aguardavam Ragad, o líder, para conceder o início a tão aguardada celebração.
Ninguém ali percebeu quem de fato eu era, portanto me senti segura em explorar o ambiente. Conforme caminhei por entre as pessoas, não pude evitar a ser contagiada com suas empolgações.
Havia várias fogueiras espalhadas pelo local situado no coração do vilarejo. E bem ao meio, cercado por um círculo protegido por runas, estava disposto uma fogueira maior que as demais. Dei a volta por de traz dela e de imediato meus olhos se depararam com uma espécie de altar. Senti os pelos dos meus braços se arrepiarem, sabia que os vikings eram bárbaros, mas tinha medo de pensar o que fariam comigo se, no calor da agitação, descobrissem que eu estava entre eles.
Encontrava-me absorta acompanhando toda a euforia ao meu redor, quando os ruídos foram cessando, indicando que Ragad e sua família havia chego para finalmente decretar o início do Yule.
Imediatamente, infiltrei-me no meio da multidão e observei atentamente Ragad que tomou o seu lugar atrás do altar. Em todos os anos em que convivi junto a ele, jamais o vi com a expressão tão séria. Sua fisionomia austera se acentuou com a claridade da enorme lavareda de fogo que iluminou seu rosto, deixando pouco espaço para a penumbra. Enquanto o encarava sem receio, nossos olhares se cruzaram, e uma leve espécie de temor me acometeu. Todavia, em nenhum momento Ragad deixou transparecer que me conhecia. Encontrei-me respirando aliviada quando seu foco desviou de meu rosto e ele começou o seu discurso:
— Meus irmãos, companheiros de sangue e carne, aqui estamos nós, graças a benevolência dos deuses, agradecendo-os por mais um ano de colheita — declarou, em tom de profundo agradecimento, enquanto o povo agradecia silenciosamente ou com murmúrios baixos.
— Vamos agraciar os deuses com uma canção. — Ragad olhou para os músicos que rapidamente começaram a tocar os instrumentos.
Um profundo silêncio se instalou sobre a multidão na medida em que o ressoar dos tambores se mesclaram com o uivo agressivo do vento. A magia dentro de mim rugiu, implorando para ser liberta, pois havia uma força sobrenatural assombrosa serpenteando ao redor, envolvendo a todos nos braços da noite fria e longa do solstício de inverno: era a incrível magia do Yule.
A canção teve seu início e um coro se formou jogando belas palavras de agradecimento ao ar, se os deuses desses homens e mulheres de fato existissem, aquela era a noite ideal para estarem junto a seus fiéis.
Eg såg og eg tydde (Eu vi e interpretei)
da soli snudde (Quando o sol mudou)
Jarteikn for fe og heim (Sinais de colheita para o gado e para a família)
Solhov (Solstício)
Svart natt (Noite sombria)
Dizia a letra da canção.
Todos unidos em um só corpo, mente e espírito cantaram em uníssono:
Til vordar og vetar (Para os espíritos protetores e para as criaturas sobrenaturais)
vi takk gjev med vår song (Nós agradecemos com nossa canção)
for ár og friða (Por anos de paz
Aquilo era belo. Nem pareciam ser os bárbaros que tanto me fizeram mal.
Ragad aguardou o fim da música e só então tornou a falar em tom sério:
— Agora, meus irmãos, agradeceremos a colheita abençoada pelos deuses. Mais uma vez fomos agraciados com um plantio que durará o inverno todo. — revelou, fazendo o seu povo vibrar animado.
Era uma sensação estranha estar ali, junto daquela gente, sem ter qualquer olhar de repulsa direcionado a mim.
— Aos deuses oferecemos nossos sacrifícios. — O Jarl pronunciou tão alto que sua voz se juntou ao vento. Creio que ela alcançou o abrigo recluso dos deuses; caso eles realmente existissem.
Ao longe vi as pessoas abrirem espaço a um grupo de homens carregando ovelhas gordas em seus braços. Todos estavam mudos em um clima de completa veneração.
Os seis homens vestidos com mantos brancos e rostos tingidos em padrões cor de sangue, depositaram solenemente os animais ao lado do altar.
Ragad, em silêncio, abaixou-se, carregou umas das ovelhas e colocou-a sobre o altar.
— Freya, grande deusa da fertilidade, receba nossos humildade sacrifício. —pronunciou, tão alto, que sua voz retumbou pela noite fria.
Em seguida, passou a adaga no pescoço da ovelha que soltou um último som de desespero e morreu sobre o altar que aos poucos foi banhado com seu sangue.
Posteriormente, Ragad clamou os nomes dos deuses e deusas: Gefjun, Höðr, Jörð, Sif e Skadi, enquanto degolava cada um dos animais, sacrificando-os em nome deles.
Eu estava hipnotizada com a meticulosidade e todo o encantamento dos rituais, quando ouvi uma voz sussurrar rente ao meu ouvido:
— É tão feio vir sem ser convidada a uma celebração tão especial quanto essa. — A respiração quente chegou até meu pescoço e com ela me veio um sentimento de temor.
Olhei para trás com o objetivo de verificar quem era o homem que descobriu o meu disfarce e fui surpreendida com a face do desconhecido que sumiu como fumaça no dia do grande pronunciamento de Ragad, em relação a minha suposta liberdade.
— Não sei do que está falando, sou uma escandinava como qualquer outra mulher aqui presente. Tenho o direito de estar aqui essa noite. — Ainda tinha a esperança de que ele estivesse blefando.
— Ah minha querida, sei que não é. Vejo muito bem através desse seu disfarce, um tanto medíocre, a bela mulher de cabelos tão negros quanto esse céu noturno acima de nós, também vejo seus olhos tão azuis quanto o céu diurno, tão resplandecente, tão estranhamente familiar. — Sorriu com malícia.
Instintivamente uma centelha de fogo apontou nas pontas de meus dedos, chamando atenção do olhar do desconhecido para eles.
— Fique tranquila, Erieanna, teu segredo está a salvo comigo. — Lançou-me uma piscadinha com seus olhos verdes como as folhas em plena primavera. — Não há motivos para chamarmos a atenção, não desejo que sejas o próximo sacrifício. — concluiu com seriedade.
Apesar de não confiar nele, sabia que tinha razão, e como não queria que Ragad me descobrisse, aquietei a magia dentro de mim.
— É uma garota prudente. — Exibiu um belo sorriso de canto. — Gosto disso. — Arqueou a sobrancelha que tinha a mesma tonalidade loiro acobreados dos cabelos.
— Creio que estou em desvantagem... Você sabe meu nome, mas eu não sei o seu. — pontuei um tanto ríspida.
— Eu me chamo Thorn. — Estendeu a mão em minha direção, porém fiz questão de ignorar seu gesto de cumplicidade.
— Thor, como o deus? — indaguei intrigada.
— Não! — Soltou um riso curto. — Thorn, como Thorn que termina com a pronúncia mais carregada. Um nome nada criativo da parte de meus pais, eu confesso. No entanto, em minha defesa esclareço que, infelizmente, não se pode escolher o próprio nome. — Chacoalhou os ombros, rido como se nos conhecemos há muito tempo; o que não era o caso.
Permaneci em silêncio, estudando as feições do homem que eram de uma beleza extraordinária. Os cabelos — como de costume dos vikings — eram na altura dos ombros. E sua face tinha um formato másculo que ficava mais acentuada com a barba acobreada que a emoldurava.
— Acho que perdemos o final do ritual. — ele anunciou, sem nem um pingo de desapontamento.
— Para alguém cujos pais são obviamente devotos a Thor, muito me admira o fato de que não carregue em seu pescoço o colar em forma de martelo que supostamente lhe deve conferir a proteção de tal deus. — Apontei o dedo indicando a abertura de seu manto que deixava uma parte se seu peito exposto.
Thorn baixou o olhar para o peito, depois o desviou em meu rosto e semicerrou os olhos.
— Você é bem observadora. — Encarou-me com seriedade. — Só tenho a dizer que prefiro outro deus, alguém menos egocêntrico e mais inteligente. — respondeu, de forma evasiva.
— Pouco me importo com sua preferência de divindade, apenas fiquei curiosa, pois é o primeiro homem que vejo não usar esse colar. És de fato um forasteiro, meu caro — Virei-me de costas, tencionando a concluir aquela conversa.
Como se estivesse sido planejado, uma caneca de cerveja chegou a minha mão e eu sorvi um longo gole da bebida um pouco amarga para meu paladar inexperiente.
A fim de me afastar de Thorn, comecei a me embrenhar pelo povo que dançavam e cantava, animadamente. Interrompi a caminhada ao me aproximar de algumas pessoas se alimentando de uma espécie de cogumelo e fiquei curiosa a respeito daquela atitude nada convencional.
— Se eu fosse você, não ousaria experimentar tal alimento... — A voz de Thorn soou atrás de mim, como um espirito maligno que me perseguia.
— São cogumelos que tem a capacidade de provocar estranhas visões naqueles que o ingerem. — Voltei meu rosto em sua direção. — Conheço a natureza e tudo que dela vem.
— Ah claro! É típico de sua gente essa ligação com a natureza. Por um momento quase me esqueci que és uma feiticeira, essas pessoas sabem o quanto é perigosa e leta? — Notei uma pitada de ironia em sua voz.
— Minha gente? — questionei confusa — O que mais sabe sobre mim, sobre minha gente? Por que está me seguindo? —proferi às indagações, incapaz de esconder a fúria em minhas palavras.
— Ah Erieanna... São tantas perguntas. No momento certo eu às responderei. Por hoje, vamos apenas aproveitar a celebração, não é esse o objetivo dessa noite?
Eu, como de costume, não confiava em Thorn assim como não confiava em ninguém. Queria que ele respondesse minhas perguntas naquele exato momento, mas pela expressão em seu rosto, sabia que seria uma missão impossível extrair dele qualquer informação. Ele era um homem astuto, soube disso assim que trocamos as primeiras palavras.
Lancei o olhar à minha volta e vi as pessoas se embebedando, aproveitando o Yule. Mais à frente, minha atenção recaiu em Ragad que tomava a esposa em seus braços e a beijava com intensidade, enquanto segurava uma enorme caneca de cerveja em sua outra mão. Toda aquela informação fez com que eu tomasse a decisão de aproveitar a noite, pois aquela foi meu objetivo ao sair de casa. Talvez o álcool já estivesse se manifestando em meu corpo, levando-me a chegar a tal escolha tão imprudente. Já não tinha certeza de mais nada. No fim, resignada, optei por passar a celebração na companhia de Thorn. E estranhamente não me arrependi de tal decisão.
***
Desde quando fui trazida à força pelos vikings para viver em suas terras, nunca havia me sentido tão leve como naquela noite, dançando junto de Thorn. O álcool fez descer abaixo todas minhas reservas. Dessa forma, eu ri todos os risos que estiveram, por anos, aprisionados dentro de mim. Gargalhei tão alto, fazendo me recordar que um dia, há muito tempo, eu de fato fui feliz.
Ao amanhecer, quando os primeiros indícios de luz ocuparam o céu, o desconhecido decidiu me acompanhar até minha morada. Enganchei meu braço no seu e ambos aquecemos um ao outro durante o caminho frio de uma manhã gelada da terra nórdica.
— Se pudesse ser qualquer deus, quem seria? — Thorn questionou, pegando-me desprevenida.
Como a bebida havia dissipado todo meu bom senso, eu respondi sem titubear:
— Loki, de todos os deuses ele é o que mais me chama atenção.
— Sério? Por que? — Arqueou a sobrancelha, nitidamente confuso.
— Por que de todos ele é o que mais me parece humano. Não é de todo certo e nem muito menos a personificação do mal. Ele age por escolha própria, não se importa com o que os outros deuses pensam dele, e além de disso, é considerado o pai da mentira. Eu admiro as pessoas que sabem mentir, pois elas podem ser o que desejam, quando bem entendem. Elas têm o poder de manipular todos ao seu redor e também sabem fingir ainda que que o mundo esteja as sufocando. — Cravei meu olhar no dele, percebendo que me olhava com muita atenção. — Todos temem a mentira, mas todos mentimos para nós mesmos e para os outros. Construímos um muro de mentira a nossa volta e lutamos todos os dias para não deixá-lo cair. Loki é o único que tem a decência de admitir que mente, portanto isso o torna o deus mais sincero de todos. — Ao concluir a frase, percebi que estava defendendo o deus da mentira.
— Se Loki pudesse te ouvir falar, ele se apaixonaria por ti. — Exibiu um sorriso provocativo.
— Se Loki estivesse aqui, mentiria que está apaixonado por mim. — Soltei um riso curto. — Ele pode ser o deus mais sincero, no entanto é também o mais egoísta. Ele não ama ninguém além de si mesmo. — Revirei os olhos.
— Assim como você! — Thorn me acusou de forma ríspida.
— Exatamente! Assim como eu. É isso o que nos faz forte. — rebati no mesmo tom.
Percorremos o restante do caminho em silêncio. Naquele começo de manhã, percebi que todas minhas conversas com homens acabavam com um clima pesado. Não era capaz de ser submissa, por essa razão todos se afastavam de mim. Menos Ragad que ironicamente me via como um desafio.
Chegamos até minha casa e ficamos parados ao lado de fora, ambos envoltos ao frio cortante da manhã gelada.
— Está entregue bela moça de coração de gelo. — Thorn levou minha mão aos lábios e o toque quente da sua boca contra minha pele gelada disparou um arrepio por todo meu corpo.
— Fique e me aqueça! — pedi, eu presumi, influenciada pela bebida.
Thorn me olhou com malícia e a intensidade de seu olhar aqueceu todo meu ser.
— Deixe cair seu disfarce e te aquecerei como o fogo que incendeia, mas não queima. — solicitou, encarando-me com seus perigosos olhos verdes que pareciam me devorar.
Imediatamente desfiz o feitiço de metamorfose e voltei a ser completamente a Erieanna.
— Muito melhor te ver nitidamente. — Sorriu satisfeito. — Deixe-me provar seus lábios.
Sem qualquer receio, ele diminuiu a distância entre nós , tomou-me em seus braços e devorou minha boca com urgência.
— Erieanna. —sussurrou contra minha boca. — Nem pense em assumir as rédeas dessa situação, hoje sou eu quem comando. — Abriu a porta e nos levou para o abrigo de minha casa, levando junto promessas indecentes que ecoaram em minha mente.
Ambos entregamos um ao outro como se o Ragnarök fosse ocorrer a qualquer instante. Entretanto, por inconveniência do destino, nosso beijo desesperado foi interrompido pelo grasnado de um corvo que pousou à beira da janela entreaberta e nos observou com seus olhos dourados.
Sem que eu pudesse prever, Thor me largou em sum sobressalto e partiu apressado rumo a janela. Completamente alarmado, ele fechou a janela, espantando a ave.
— Detesto esses pássaros! — Fechou a cara em um gesto de desgosto. — Dizem que Odin possuí dois dessas bestas que ficam observando a todos e reportando tudo a ele. — Percebi que estava zangado e achei aquilo tudo muito exagerado.
— Foda-se Odin! Foda-se a porra dos deuses! — rosnei, impaciente, partindo para meu quarto.
— Erieanna! — Interceptou-me antes que eu chegasse à porta — Ainda não me esqueci que devo te aquecer, querida. — Mordeu meu pescoço, desceu as mãos por minhas costas até chegar as minhas nádegas e apertou-as sem pudor.
Instintivamente senti uma chama se incendiar em meu interior. Envolvi minhas mãos em torno do seu pescoço, fazendo com que aprofundasse o beijo.
— Isso é tão bom! — Thorn sussurrou contra minha boca. — Mas precisamos de um banho. — Afastou-se, deixando-me frustrada.
— Para que tomar banho se logo ficaremos suados novamente. — pontuei provocativa.
Ele abriu um sorriso carregado de malícia e rebateu:
— Porque eu quero devorar cada pedaço teu, inclusive aqui. — Levou, indecentemente, a mão ao centro das minhas pernas.
Abri um sorriso travesso e sai apressada com o objetivo de colocar água na banheira. Pouco tempo depois, Thorn se juntou a mim com os baldes de água e a bacia num instante ela ficou cheia.
— Só falta isso. — Enfiei as mãos na água gelada e a aqueci rapidamente com o uso da minha magia que se tornava cada vez mais forte.
Não esperei que meu companheiro dissesse algo a respeito do que havia acabado de realizar, apenas me despi de minhas roupas e adentrei na banheira quente.
— Não se esqueça da sua promessa de me aquecer. — Fitei-o com intensidade.
Thorn esboçou um sorriso que indicava centenas de pensamentos carregados de profundos desejos e tomou o lugar à minha frente.
Desfrutamos do conforto de um banho quente. Suas mãos massagearam meus pés cansados, bem como minhas panturrilhas e aquele gesto me trouxe um misto de alívio e sedução. Eu me encontrei perdidamente hipnotizada pelos tentadores olhos verdes do belo homem a minha frente. Ávida para que nossos corpos se fundissem, diminui a distância entre nós e envolvi minhas pernas ao seu entorno. Ele prontamente lambeu a extensão de meu pescoço, chegando até o lóbulo da minha orelha e o mordiscou de leve.
— Calma, minha querida! — sussurrou em meu ouvido. — Deixe-me te lavar e logo te mostrarei o quanto prazer posso lhe dar. — Beijou-me de forma demorada.
Fiz uma careta de desgosto quanto nossos lábios se separaram, porém permiti que ele continuasse com o banho mais sensual que já havia tomado.
Ao sairmos da banheira, eu mal pude conter o desejo dentro de mim. Nunca, até aquele dia, um homem havia mexido tanto comigo a ponto de eu me fazer quase implorar para ser tomada. Mas Thorn, de alguma forma o despertou algo perigoso dentro de mim.
Apesar da tensão erótica que nos envolveu, formos capazes de nos secarmos, e no momento em que deixei o pano molhado cair aos meus pés, Thorn me devorou com seus sedutores olhos verdes, e sem receio algum, deitou-me na cama onde finalmente me tomou com sua língua habilidosa.
Seus lábios explorando em minhas partes íntimas foi um acalento para meus desejos íntimos que imploravam por liberdade. O ritmo frenético de sua língua entre minhas pernas pareceu ser uma tortura, mas ao mesmo tempo, era um prazer imensurável. Não demorou muito para que meu prazer eclodisse em seus lábios carnudos. Eu só me lembro de ter tido a sensação de que fui céu e voltei a terra. Estava tão leve quanto a pena de um pássaro solto ao ar.
Aquele foi o dia em que eu me deixei de fato ser possuída por um homem. Pela primeira vez não estive no controle da situação, muito pelo contrário, eu me permiti a ser submetida ao prazer e nunca me arrependeria por ter estado ali, com Thorn, naquele primeiro dia de Yule.
Quando o belo e másculo homem me tomou, desfrutei do prazer mais intenso que já havia provado. Ele não foi manso e eu nem desejei que fosse. Lembro-me que perdi o controle de minhas capacidades mentais quando tive mais uma explosão de desejo. Eu quase, literalmente, incendiei a cama enquanto queimando de tanto desejo. Thorn apenas riu zombeteiro do meu descontrole. Obviamente ficou satisfeito por ter conseguido que eu me entregasse completamente a ele.
Todavia, tudo em algum momento deve acabar e aquilo que é bom parece durar menos ainda. Assim, quando a urgência do desejo foi sanada, eu voltei a me sentir tão fria quanto as noites das terras nórdicas no auge do mais rigoroso inverno. Talvez todos os homens que passaram em minha vida tivessem me destruído, era bem provável que dentro de mim não existisse mais um coração para ser aquecido.
— Thorn! — chamei, virando-me para ficar de frente a ele.
— Sim! — Devolveu o olhar sobre mim.
— Tenha em mente que isso não vai mais se repetir, foi apenas uma exceção que abri para essa noite do Yule. — Minha voz se tornou mais intensa, fria e seca. — Nunca mais permitirei ser dominada por você! — enfatizei com seriedade.
— Talvez eu possa te deixar bêbada novamente e assim poderemos desfrutar de mais um delicioso momento de prazer. — Sorriu manhoso.
— Sinto em te desapontar, mas hoje foi apenas uma exceção. — Encarei-o com expressão austera. — Quando despertarmos, eu voltarei ser a fria Erieanna e você será apenas o desconhecido do vilarejo. O que tivemos hoje não muda o que somos um para o outro: eu sou prisioneira de seu povo e tu és somente mais um dos muitos homens com que já me deitei. — Olhei profundamente em seus olhos. — Fui clara? — questionei, arqueando a sobrancelha.
— Tão clara como a água e também tão fria quanto ela. — respondeu, ele, com certo desgosto.
— Ótimo! — Virei-me de costas para o homem e deixei que o cansaço da noite do Yule, bem como as energias gastas com o sexo desenfreado me dominasse.
Embora estivesse pronta para erguer o muro em torno de mim e me proteger de todos, eu estava feliz pelos acontecimentos do dia. Talvez, aquele tenha sido o único momento em que fui a verdadeira Erieanna: a mulher que eu seria se os vikings não tivessem me destruído. Só que, infelizmente, pouco sobrou da garota que outrora existiu ou que eu poderia ter me tornado. A única certeza que nutria, era o fato irrefutável de haver, cravad0 em minha essência, uma grande confusão de dor, medo, raiva e uma maldita esperança vazia. Tudo isso fez com que eu me tornasse tóxica; um veneno saboroso e letal.
Cuidado Thorn! Afaste-se de mim, antes que eu te envenene.
Eu, definitivamente, nunca era uma mulher para amar.
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