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7 - O PRONUNCIAMENTO

❝𝑂 𝑒𝑔𝑜𝑖́𝑠𝑚𝑜 𝑡𝑎𝑚𝑏𝑒́𝑚 𝑓𝑎𝑧 𝑝𝑎𝑟𝑡𝑒 

𝑑𝑎 𝑛𝑎𝑡𝑢𝑟𝑒𝑧𝑎 𝘩𝑢𝑚𝑎𝑛𝑎, 𝑝𝑜𝑖𝑠, 𝑓𝑟𝑒𝑞𝑢𝑒𝑛𝑡𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 

𝑜𝑠 𝘩𝑜𝑚𝑒𝑛𝑠 𝑐𝑜𝑙𝑜𝑐𝑎𝑚 𝑠𝑒𝑢𝑠 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑗𝑜𝑠

𝑎̀ 𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑡𝑢𝑑𝑜 𝑒 𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 ❞.

— 𝕱𝖗𝖆𝖌𝖒𝖊𝖓𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖔𝖘 𝕽𝖊𝖌𝖎𝖘𝖙𝖗𝖔𝖘 𝕯𝖗𝖚𝖎𝖉𝖆𝖘,

533, ɗ. Ƈ. 


𝓐 RODA DA VIDA GIRA em um ciclo infinito, provocando mudanças a todo momento. Quando um ciclo termina, outro se inicia e tudo começa a, novamente, se transformar. Ora se está vivendo em um mar de absoluto sofrimento, e outrora, tudo se ajeita para que comece a se reerguer. A roda do tempo não para.

Guardo em minhas memórias, a primeira vez que a roda da vida girou ao meu favor. Foi numa noite fria — como de costume nas terras dos escandinavos — que comecei a caminhar por estradas menos tortuosas.

Naquele início de noite, um dos homens de Ragad, veio até a minha morada e escoltou-me até o grande salão onde o Jarl fazia seus pronunciamentos. Quando adentrei no ambiente, a multidão já estava a postos e preparada para ouvir o seu líder.

Ragad estava sentado em sua lustrosa cadeira de madeira e trajava seu costumeiro manto cinza de pele de lobo. Já Lanyr, ocupava o lugar ao seu lado. O Jarl abriu um grande sorriso ao me ver, no entanto, sua esposa que o observava atentamente, fechou a cara ao perceber a direção do olhar de seu esposo fixo em mim.

Notei também, que algumas pessoas torceram o nariz enquanto me lançavam olhares hostis, evidenciando, assim, que minha presença ali, não era nada bem-vinda.

Mas, ignorando a todos como eu sempre fazia, tomei um lugar mais afastado dos vikings e fiquei furtivamente espiando a movimentação ao lado de uma pilastra. Estava exausta demais para gastar minhas energias com aqueles bandos de esnobes que naquele momento apenas importavam-se com ouro e cerveja.

Ragad que desviara a atenção que me destinara, limpou a garganta indicando que começaria a falar. Todos os presentes rapidamente voltaram a atenção para ele.

— Meus amigos, fico feliz por contar com suas presenças na noite de hoje. — Iniciou o discurso como de habitual. — Sei que muitos devem estar se questionando o motivo dessa reunião e alguns já devem até ter traçado algumas apostas afirmando que anunciarei a chegada de mais um filho. — Todos riram da piada, eu fui a única a permanecer calada, achando tudo aquilo desnecessário. — Mas, sinto informar para aqueles que apostaram nisso, que, infelizmente, irão perder algumas moedas. Minha mulher não me abençoou novamente, o pronunciamento que irei fazer é totalmente o oposto e com toda certeza, inesperado. — Imediatamente, os murmúrios se instalaram pelo salão.

Ragad pôs-se em pé e adotou uma expressão severa em sua face. Algo ruim estava prestes a acontecer, eu sentia o perigo em meus ossos.

— Enquanto estive fora, ocorreram alguns fatos que me desagradaram imensamente. Nunca pensei que ficaria furioso com meu próprio povo, contudo, para minha infelicidade, eu fiquei. — Desferiu um olhar penetrante a sua plateia que parecia ter perdido a capacidade de respirar. — Dei uma ordem a todos antes de partir, uma única ordem... — Fez uma pausa para dar ênfase ao drama da situação. — Respeitem o que é meu, não destruam aquilo que me pertence. — Ele rugiu, e a magnitude de sua voz, assemelhou-se ao ressoado de um trovão antes da tempestade.

Naquele momento, meu coração disparou sob meu peito. Percebi que aquele pronunciamento estava diretamente ligado a mim.

— No entanto, vocês me desobedeceram. — Ragad prosseguiu, balançando a cabeça negativamente, enquanto deixou evidenciar em seu rosto, uma expressão de completo desgosto. — Erieanna! — chamou-me. — Venha aqui, querida. — pediu brandamente.

Todos os olhares se voltaram a minha direção. Não fazia ideia do propósito de Ragad ao me expor daquela forma, e nem tive muito tempo de pensar, já que o salão ficou espantosamente abismado, enquanto aguardavam que eu fosse ao encontro de seu líder. Portanto, não tive outra escolha a não ser estufar o peito, alinhar minhas costas da forma mais ereta possível e assim caminhar de cabeça erguida até Ragad. Não gostava de ter me tornado centro das atenções, no entanto, não permiti deixar transparecer o quanto eu estava apreensiva.

Tomei o lugar ao lado de Ragad que concentrou a atenção em meus olhos e depois, questionou:

— Querida, diga-me em alto e bom tom, quais foram as pessoas que te maltrataram?

Então eu soube exatamente quais eram as intenções de Ragad. Ele planejava punir aqueles que me maltrataram durante sua ausência.

Muitos tinham me feito mal, mas havia apenas um único homem que merecia morrer naquela noite. Completamente decidida a denunciá-lo, eu procurei pela multidão que estava espantosamente silenciosa, mas não encontrei o rosto do imundo que me estuprara. Dessa forma, apenas desviei meu olhar para Lanyr e falei:

— Se algo aconteceu durante sua ausência, foi por extrema incompatibilidade da convivência entre mim e sua esposa. Os demais, sempre me trataram pelo que sou: uma escrava. — respondi com firmeza.

Ragad semicerrou os olhos e eu arqueei a sobrancelha evidenciando que aquela seria minha única resposta.

Ele meneou a cabeça em direção a esposa, e sem que o povo notasse, lançou-lhe um olhar mortal. Lanyr sutilmente arregalou os olhos, mas por ser uma viking conseguiu controlar o pavor que a dominou.

E foi naquele exato momento, enquanto eu estava totalmente exposta aos penetrantes olhares dos escandinavos, que eu senti algo sussurrar em meu ouvido; um sussurro que me fez olhar imediatamente, para canto esquerdo da multidão, onde quase escondido ao lado da porta, havia um homem cujos cabelos, assim como sua barba muito bem aparada, tinha a coloração acobreada. O tom era bem parecido com os fios que encobriram a face do meu falecido pai. Ele era um belo homem, ouso dizer que ainda mais belo que Ragad. E também era um forasteiro, eu conhecia todos daquela maldita terra e tinha a certeza de que nunca havia o visto até aquele momento.

Por uma curta fração de tempo, nossos olhares se encontram. E a intensidade de seus olhos verdes olhando para mim, fez com que todos os pelos de meu corpo se arrepiassem em um medo primitivo. Senti a magia do fogo se agitar nas pontas dos meus dedos, na tentativa de me auto proteger. Então ele esboçou um sorriso cheio de malícia, e num piscar de olhos, desapareceu por completo.

A magia se assentou dentro do meu ser. Fiquei espantada olhando na direção em que o desconhecido estava e só voltei a realidade, quando Ragad segurou em minhas mãos, e me incitou a olhá-lo.

— O que passou já não mais importa. Hoje iniciaremos um novo caminho. Para tanto, deixo claro na noite de hoje que, Erieanna, por servir nosso povo com zelo por muitos anos, desse momento em diante, não é mais uma escrava. — Meu coração errou uma batida quando ouvi aquelas palavras saindo da boca de Ragad. Não podia acreditar que ele estava me concedendo a liberdade. Por um pequeno instante me permiti pensar que poderia deixar aquela maldita ilha; por um curto momento acreditei que deixaria tudo para trás. — Ela viverá como uma de nós, terá uma casa, um trabalho, contribuirá com nosso clã, entretanto... — Cravou seu olhar no meu. Aquilo não era um bom sinal. — Não poderá deixar essa ilha. Todos estão proibidos de ajudá-la a partir. — Então a esperança, da mesma forma que chegou de repente, se esvaiu como fumaça no ar.

Uma série de murmúrios tomou conta do salão. Com toda certeza, muitos não aprovavam a decisão do Jarl.

Ragad ciente do teor dos rumores carregados de discórdia, pegou seu machado que estava ao lado de sua cadeira, tirou o pesado casaco do corpo, deu alguns passos à frente do salão e bradou com ferocidade:

— Se há alguém aqui que deseje se pôr contra a mim, então que me enfrente e tome meu título de Jarl. — Seu rugido ecoou pelas quatros paredes do ambiente.

A multidão calou-se de repente. Ragad que parecia uma fera pronta para dar o bote, encarava, furiosamente, as pessoas a sua frente.

Ele aguardou por um bom tempo enquanto direcionava um demorado olhar para todos os guerreiros que ocupavam o salão. Mas. como ninguém se pronunciou contra ele disse por fim:

— Fico feliz que estejamos todos de acordo. — Depositou o machado no chão, tornou a vestir-se seu casaco e sentou-se confortavelmente em sua cadeira. — Agora bebam e se banqueteiem! Desfrutem do que os deuses nos proporcionaram.

Como se estivesse sido combinado, imediatamente alguém começou a tocar uma música e os barris de cerveja começaram a ser esvaziados.

Aproveitei a euforia do momento para sair sorrateiramente daquele lugar que estava me sufocando. Completamente imersa na confusão de meus pensamentos, eu iniciei uma caminhada apressada até a minha casa. Não olhei para trás em nenhum momento. Também não chorei, apenas prossegui com minhas passadas longas e seguras, tentando fugir de todo o caos que me cercava.

Achei que ninguém me seguira, porém antes que eu alcançasse a metade do caminho, notei que Ragad estava a meu encalço.

— Erieanna. — chamou-me com urgência, entretanto eu o ignorei e continuei a andar com demasiada pressa.

— Pequena! — chamou, novamente, em meio a respiração acelerada. Eu, mais uma vez, o ignorei.

Contudo, não tardou até que eu sentisse sua mão envolta do meu braço, ele me puxou com força o suficiente para que eu voltasse meu corpo de frente para si.

— Pensei que ficaria feliz por eu ter a libertado da escravidão. — ele disse, franzindo cenho numa expressão de pura confusão.

Soltei um riso irônico que ecoou pela noite escura e fria. Ragad era, de fato, um maldito tolo.

Então, sentindo um mar de fúria se agitando em meu interior, eu olhei diretamente em seus olhos e bradei:

— Você não me libertou, Ragad! Eu ainda estou presa nessa maldita ilha! Não serei mais uma escrava, mas também não serei livre. Seu egoísmo me deixa enojada. — minha voz soou repleta de repulsa.

— Tire essa ideia de liberdade da sua cabeça de uma vez por todas! Já te falei, mais de mil vezes, que nunca, enquanto eu viver, te deixarei partir. — revidou, com a mesma raiva que eu havia lhe desferido.

— Então creio que terei de te matar! — rosnei, cerrando os punhos ao lado de meu corpo.

— E morrerá, muito antes de conseguir chegar perto de um barco. Mate-me e todos te caçarão para me vingar! — Não poupou esforços para deixar claro que sua morte só pioraria toda a situação.

Aproximei meu rosto do seu, fazendo com que nossos narizes quase se tocassem, e o encarei com tanta fúria, que meu corpo todo estremeceu.

— Por que? Por que, Ragad, você faz tanta questão de me manter por perto? — indaguei, exasperada, sem saber o verdadeiro motivo de continuar presa naquela maldita ilha.

Ele se afastou, soltou um longo suspiro, andou de um lado para o outro, percorrendo bruscamente as mãos nos claros e compridos cabelos, e depois de algum tempo,  olhou-me com demasiada intensidade.

— Por que, Erieanna? Por que? — Mordeu os lábios e cerrou os punhos ao lado do corpo. — Por Odin! — exclamou, tornando a lançar seu olhar em direção ao céu noturno acima de nós. — Porque eu te amo! Pelos deuses! Eu não consigo te deixar livre, porque eu te amo! — Olhou-me como se estivesse sofrendo por finalmente libertar aquelas palavras que imploravam por liberdade, assim como eu.

Queria dizer que suas palavras mexeram comigo, mas talvez o bloco de gelo do meu coração fosse mais rígido do que eu imaginava, já que, sua declaração não surtiu qualquer efeito no sentido de fazer com geleira dentro de mim estava começasse a derreter. Assim, eu apenas o analisei por um longo momento. Encarei-o, em silêncio, tentando encontrar as palavras certas a serem ditas, e, depois de muito ponderar, eu disse por fim:

— Infelizmente, Ragad, o amor não é recíproco..

Não aguardei por qualquer réplica do viking egoísta, apenas dei as costas e retomei a caminhada para minha casa.

Em nenhum momento pensei em olhar para trás e vislumbrar a reação do homem cujo amor não fora correspondido. Pouco me importava o que ele estava sentido. Ragad tinha sorte por eu não brincar com seus sentimentos, é fácil demais manipular um homem apaixonado, tão fácil quanto tirar leite de uma cabra. O único problema que pode acarretar, é que mexer com o amor alheio, é perigoso demais. Há um risco enorme de se embolar em um emaranhado de armadilhas e nelas ficar, para sempre, presas. Só por isso decidi que ser sincera, era a melhor opção. Dadas às circunstâncias, ser sincera foi tudo o que me restou

☙ ● ❧

Os dias que se passaram após o grande pronunciamento, foram os mais tranquilos que eu já vivera naquele lugar. Ninguém ousava passar perto de minha casa e nas raras ocasiões em que isso acontecia, aqueles que por ali se aventuravam, nem ousavam a lançar qualquer olhar em minha direção.

Essa tranquilidade era tudo que eu necessitava. Eu precisava treinar minhas habilidades nas artes ocultas, algo dentro de mim clamava para que eu não negligenciadas em meus treinamentos, pois sentia que logo precisaria usar da magia para minha defesa. Também não conseguia esquecer o rosto do desconhecido que, como um espírito sombrio, desapareceu diante de meus olhos. Em algumas noites, sua face assombrava meus sonhos e eu escutava sua voz sussurrar meu nome como um mantra tenebroso. Nessas noites eu despertava flutuando em minha cama, com uma bolha de ar me envolvendo, era como se a magia estivesse tentando me proteger, pois sabia que alguém tentava invadir meus sonhos.

Pouco tempo depois, os dias foram ficando cada vez longos, tal característica indicava que em breve ocorreria o solstício de inverno e com ele aconteceria a mais duradoura comemoração dos escandinavos. Nesses dias eu me sentia nostálgica, pois meu povo também comemorava o Yule.

Com a aproximação da celebração, o clã sempre a ficava mais movimentado, bem como a animação tomava conta das pessoas. Foi nesse período que decidi pôr em prática uma arte recém adquirida, e depois de muito treino, finalmente fui capaz de controlar a habilidade de mudar de forma, de me passar por outra pessoa.

Sempre tive a curiosidade de saber como funcionava a festa do solstício de inverno dos vikings, mas sendo uma escrava, jamais permitiram que eu participasse de tal comemoração. No entanto, eu usaria todas minhas artimanhas e sanaria de uma vez por todas os mistérios por traz de tal festividade. Ninguém seria capaz de descobrir meu disfarce, nem mesmo Ragad.

E por cita-lo, devo confessar que acreditei que o líder do clã nunca mais me procuraria, porém, um par de semanas antes da grande celebração, ele apareceu em minha casa.

— Erieanna. — Ragad chamou, assim que invadiu minha cozinha com sua presença imponente.

Assustada com sua visita inesperada, derrubei a bacia que segurava na mão e as ervas que nela estavam caíram desajeitadas sobre o chão.

— Ragad! — exclamei e franzi o cenho. Fazia um tempo desde que eu o tinha visto pela última vez. — Pensei que havia esquecido o caminho para minha casa. — completei com uma pitada de humor, pois não era de meu desejo entrar em mais um conflito.

O viking esforçou-se o máximo para não ser contagiado pela minha piada, mas por fim, acabou sorrindo.

— Devia ter esquecido, já que você destruiu meu coração. — proferiu, claramente magoado.

— Você pode me obrigar a muitas coisas, Ragad, mas nunca poderá me obrigar a te amar. — afirmei brandamente, porque não queria iniciar uma discussão.

Ragad me encarou contemplativo. Observei atentamente quando ele soltou o ar lentamente e pronunciou em tom calmo:

— Às vezes somos abençoados pelos deuses e o amor simplesmente acontece, outras temos que conquistá-lo. No seu caso, creio que estou falando da segunda hipótese. Vou lutar até o Ragnarök pelo seu amor. Enquanto meu coração bater e minha alma existir, eu lutarei por você, lutarei por nós.

Sua obstinação deixava claro que só eu possuiria seu coração e saber disso, ao invés de me fazer sentir poderosa, deixava-me com pena. Por mais que tivéssemos nossos desentendimentos, eu gostava de Ragad; gostava de sua companhia.

— E vejo que veio preparado para sua primeira batalha. — Indiquei as armas que ele carregava nas costas.

— Um guerreiro deve estar sempre preparado para a luta. — Abriu um largo sorriso. — Entretanto, hoje vim apenas cumprir com minha parte do acordo... Vim para te ensinar a guerrear.

Nosso acordo. Ele estava cumprindo com sua parte da barganha. Não consegui evitar a esboçar um largo sorriso antes de declarar:

— Estava ansiosa por isso.

Então, interrompi tudo que eu estava fazendo e rapidamente parti para meus aposentos de modo a substitui meu vestido por uma calça, assim como me enfiei numa camisa de manga comprida. Com extrema agilidade, arrumei o meu cabelo em uma trança simples e parti de encontro a Ragad, que nos levou para dentro da floresta.

Ao chegarmos em nosso destino, ele depositou a bolsa com as armas no chão e, em seguida, jogou-me uma machadinha que eu instintivamente peguei no ar.

— Mostre-me o que sabe fazer. — ordenou sem delongas.

Sorri de forma maliciosa. Eu sabia como usar qualquer arma. Assim, comecei a estruturar em minha mente tudo que tinha aprendido sobre as lutas e os treinamentos que já observara.

Com muita prudência empunhei o machado com as duas mãos, fixei meu olhar em Ragad e me concentrei na energia da floresta a minha volta.

Cautelosamente, eu andava em círculos prestando atenção nos movimentos de Ragad que me acompanhava em alerta. Sentia o vento passar por mim e indicar exatamente qual seria o próximo passo do viking. Meus dons eram de grande vantagem no momento de batalhas.

— Ande! Ataque-me! — Ragad ordenou, impaciente.

Mais uma vez ostentei um sorriso malicioso em meus lábios e nada disse. Tinha plena consciência de que estava o desconcentrando, os vikings nunca foram bons em jogos mentais. Mas eu era. Então, quando senti que o guerreiro baixou a guarda, corri em sua direção e o ataquei.

Ele levantou o escudo à meia altura pensando que eu tentaria um golpe contra seu tronco, no entanto, no último momento, escorreguei no chão e acertei o cabo do machado nas costas de seus joelhos. Ragad se desequilibrou e caiu de joelhos no chão. Rapidamente me coloquei em pé e pus a lâmina do machado rente ao seu pescoço.

— Erieanna um. Ragad zero. — declarei vitoriosa.

Pegando-me desprevenida, ele segurou minhas mãos bloqueando o machado e me lançou por cima de si, fazendo com que eu caísse de costas no chão. Depois, com estrema agilidade, colocou-se em pé ao meu lado e falou:

— Ragad um. Erieanna um. — Sorriu com deboche.

Esbocei uma careta de dor por conta do impacto da queda e fiquei estirada contra a terra fria, até que ele estendeu sua mão e me ajudou a me pôr em pé.

— Você parece uma cobra até quando luta. Enfeitiçou-me com esses seus belos olhos e logo depois me golpeou. — o modo como falou, não pareceu ser uma acusação.

— Apenas dei uma assinatura minha em seus modos de combates. Achei que seria mais eficaz. — Dei de ombros.

— Por que aceitou o acordo se claramente não precisa de minha ajuda? — questionou intrigado.

— Nunca disse que precisava de sua ajuda. Só pensei que, por conta de ser um grande guerreiro, pudesse me levar além do que eu já sei. — respondi com indiferença.

Ele franziu o cenho e me fez mais uma pergunta:

— E por que não reagiu todas as vezes que te maltrataram?

— Porque se eu reagisse, os mataria e isso levaria a minha morte. Nem mesmo você poderia salvar uma escrava da justiça de seu povo. — respondi enfática.

— Por alguns momentos quando olho para os traços suaves de sua face, esqueço-me de que és a mulher mais astuta que conheço. Fico feliz que os deuses me colocaram em seu caminho. Sinto que tenho uma boa vida, porque te conheci. — ele assegurou, enquanto me olhava com intensidade.

Não queria adentrar naquele assunto tão espinhoso. Portanto, joguei o escudo para si, e ele imediatamente o pegou no ar.

— Vamos grande guerreiro, ensine-me tudo que sabe. — Posicionei-me em modo de batalha e Ragad fez o mesmo.

Treinamos o resto do dia e então voltamos para minha casa. Quando o Sol começou a ceder seu lugar para noite, preparei um ensopado, sentamo-nos em minha pequena cozinha e nos alimentamos para repor as energias gastas durante o árduo treinamento. Aquele foi um momento de calmaria e descontração. Não tinha percebido o quanto sentia falta de uma companhia, até notar o quanto apreciava jogar conversa fora com Ragad.

Concluímos a refeição e o Jarl me ajudou a encher a grande bacia com água quente para nos banharmos. Por sorte, ela era grande o suficiente para que coubesse a ambos, ficaríamos um pouco apertados, mas ainda assim, podíamos permanecer juntos na água quente.

Ragad me devorou com os olhos no momento em que eu me despia e adentrava na água. Não tardou muito para que ele se juntasse a mim e me acompanhasse no banho. Pensei que o viking me tomaria ali mesmo enquanto estávamos nus, no entanto, para minha completa surpresa, ele apenas passou sabão no meu corpo para me lavar.

Seus dedos calejados por empunhar armas, flechas e escudos, massagearam um pouco forte demais meus ombros, sei que estava tentando ser gentil, por isso não reclamei. Naquela altura, já tinha aprendido que os vikings são por essência brutos.

Não me recordava qual foi a última vez que alguém me tratara com carinho. Tinha a sensação de que eu vivera por séculos em apenas algumas décadas. O sofrimento envelhece. Eu parecia ser jovem em carne, mas em espírito, não passava de uma anciã que acumulou espinhos na alma. Estava calejada, sentia-me forte.

Apreciei aquele pequeno momento de paz. Permiti, pela primeira vez em anos, gozar da tranquilidade de uma noite fria ao lado de uma companhia. Mas a água começou a esfriar e essa foi a deixa para que eu vestisse mais uma vez, minha armadura de frieza.

Nós saímos do banho e eu levei meu amante até a cama onde — mais uma vez — cumpri com minha parte do acordo.

Não permiti que Ragad passasse a noite ao meu lado. Algumas barreiras jamais deveriam ser transpostas. Dessa forma, a contragosto, ele partiu solitário envolto na noite gelada das frias terras escandinavas.

Os dias que viveram por seguinte, foram uma repetição dos demais. Nós criamos uma rotina que pouco sofria alteração: treinávamos durante o dia e a noite eu lhe dava prazer. Nosso acordo era bom para ambos, ele tinha o que mais desejava e eu me tornava a cada dia mais habilidosa na luta corpórea.

A vida tinha seguido seu curso. Mas como sempre, a roda da vida gira e tudo se renova, tudo se transforma. Finalmente o dia da grande celebração chegou e com ele, a segunda etapa de meu destino começou a se delimitar.

Ergam as velas, preparem os remos, pois agora o vento nos levará ao início da mais inesperada viagem. Nem mesmo eu estava preparada para o desenrolar dos acontecimentos da minha própria vida e talvez, mesmo que voltasse ao passado, não poderia me preparar para aquilo que aconteceu a seguir.

O mundo é um grande labirinto repleto de surpresas. Não importa o caminho que siga, ele sempre dará um jeito de te surpreender. O destino é simplesmente, imprevisível

Espero que estejam apreciando a viagem nas frias terras escandinavas!

É isso! Por favor, não se esqueçam de votar! :)

Ragad quando vocês clicam na estrelinha:

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