22 - O SACRFÍCIO
❝Ela não temerá a morte, pois em seus braços encontrará a paz.❞.
—𝕱𝖗𝖆𝖌𝖒𝖊𝖓𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖔𝖘 𝕽𝖊𝖌𝖎𝖘𝖙𝖗𝖔𝖘 𝕯𝖗𝖚𝖎𝖉𝖆𝖘,
533 ɗ. Ƈ
Lembro da primeira vez em que me deparei com a morte. Eu ainda era uma criança, não tão pequena que não compreendesse a grande dimensão de tal fatalidade, apenas uma criança na idade em que a curiosidade sobre o mundo é demasiada aguçada.
Minha família morava em um lugar afastado da maioria das civilizações. Papai costumava a dizer que ser um druida solitário não era algo bem visto pelas pessoas que o temiam alegando que ele não passava de um feiticeiro cruel e disparavam severos rumores afirmando que ele estava preparado para matar a todos que ousassem a se aproximar dele e sua família. Então vivíamos afastados e em paz conosco e com aqueles que ainda não nos temiam.
Nossa subsistência era baseada no que éramos capazes de produzir com nossas mãos: comíamos o que plantávamos, criávamos algumas galinhas, possuíamos duas vacas e também dois cavalos que ajudavam a arar as terras. Entretanto, em determinado ciclo da roda da vida, um inverno rigoroso se abateu sobre o local em que habitávamos, e nós, assim como as demais famílias que viviam aos arredores, quase definhamos com a falta de alimentos. O pouco que tínhamos não era o bastante para alimentar os animais, portanto, um de nossos potros infelizmente sucumbiu com a fome.
Recordo-me desse dia com muito pesar...
O Sol acabara de surgir na imensidão do céu quando segui meu pai até o celeiro e nos deparamos com o com aquele grande animal estirado ao chão, agoniando em seu sofrimento. Ele estava tão magro, que já não era capaz de se manter em pé. Sua respiração lenta e entrecortada saia de sua boca com um esforço sofrido, e em seus olhos, havia uma tristeza que só aqueles que estão à beira da morte conseguem exibir.
Papai se abaixou perto do cavalo e afagou sua crina marrom. O animal olhou com atenção para homem ao seu lado. Seus grandes olhos negros deram a impressão de que poderia falar, ainda que não se comunicasse com humanos.
— Pode curá-lo? — indaguei ao meu pai, pois sempre o via usar a magia para curar os animais quando estes se machucavam.
— Não! — ele respondeu sem desviar os olhos do cavalo. — Posso curar uma pata quebrada, um corte na perna ou na barriga. Mas não posso acabar com sua fome e creio que seja tarde demais para salvá-lo. — Concluiu em tom de lamento.
Também me aproximei do cavalo e fiquei ao seu lado.
— Ele está sofrendo. — sussurrei com tristeza, percorrendo os meus pequenos dedos nas costelas expostas do animal.
— Eu sei. — Suspirou profundamente — Há apenas um jeito de acabar com seu sofrimento. — Papai tirou uma adaga da bainha do cinto, segurou-a firme em sua mão e a levou próximo ao coração do cavalo.
— Vai matá-lo? — perguntei alarmada.
— Sim! Pode fechar os olhos se achar que isso é demais para presenciar. — aconselhou como um aviso de que algo ruim iria suceder.
Eu não fechei os olhos. Em completo silêncio observei a adaga invadir a carne do cavalo e vi o sangue derramar sobre o chão. O animal se debateu, arregalou os olhos, soltou um longo suspiro e depois morreu.
Não havia mais dor, nem fome. Somente um corpo vazio
— Descanse agora, meu querido! – eu sussurrei, traçando minhas mãos pela extensão do corpo do cavalo morto. Por fim, fechei seus olhos petrificados e desejei que estivesse em paz.
Meu pai limpou o sangue da adaga em suas vestes. Suor pingava de sua testa. Ele claramente não sentiu prazer ao tirar a vida do animal.
— Pai... Morrer, dói? — Olhei diretamente em seus olhos verdes.
Papai nunca me escondeu nada, sempre me disse a verdade, não importava quão dura ela fosse. Por isso, o druida respondeu:
— Tudo depende das circunstâncias em que a morte ocorreu. Há pessoas que morrem agonizando, outras sufocadas, algumas rápidas e praticamente indolor e um pequeno grupo tem o privilégio de morrer tranquilamente enquanto dormem. Então sim, às vezes, a morte pode ser dolorosa. — Um vinco de expressão acentuou no centro de sua testa.
— E o que acontece depois? — questionei curiosa.
Papai soltou uma curta risada rouca.
— Ah! pequena Erieanna, isso é um mistério que todos desejam desvendar. Nem mesmo nós, os druidas, sabemos com exatidão o que se sucede após a morte. Algumas das poucas pessoas que passaram por tal experiência e voltaram a vida, recordam-se muito pouco do que aconteceu enquanto estiveram mortas. No entanto, nenhuma delas alegaram afirmar que sentiram dor enquanto estavam no outro plano. — Papai afagou meus cabelos carinhosamente.
— Espero que ele não esteja mais sentido dor e nem fome. — Percorri a crina do cavalo com meus pequenos dedos.
— Você é uma pessoa muito boa, filha. Desejo de todo meu coração, que o mundo não tire essa bondade de dentro de ti. — Meu pai apertou minhas bochechas e esboçou um largo sorriso que eu retribui.
Naquele momento, muitos anos depois, cheguei a conclusão de que ele teria ficado desapontado se visse o que o mundo fez comigo. Mas no fundo, creio que antes de morrer, o velho sábio soube que eu seria destruída.
***
No dia do meu sacrifício, pouco tempo depois do raiar do Sol, Ragad veio a minha cela acompanhado de seus homens. Não olhei em sua direção quando adentrou no ambiente, apenas continuei sentada, encolhida num canto em que a penumbra da luz do dia cobria boa parte de meu rosto.
— Erieanna... — ele começou a falar num tom sério. — Chegou o momento de te preparar para o... — As palavras ficaram engasgadas em sua garganta. Ele trincou o maxilar antes de concluir a frase: — Para seu sacrifício. — sua voz soou baixa e um tanto insegura.
— Imaginei que não tivesse mudado de ideia. — Coloquei-me em pé e andei até sua direção.
Ragad se espantou ao deparar com minha caótica imagem. Sangue ainda cobria boa parte de meu corpo, assim como as marcas da luta com a velha ainda estavam evidentes em minha pele.
— Sumoko? — Arqueou sua sobrancelha loira.
Apenas exibi um sorriso de canto em resposta à sua pergunta.
— Como escapou daqui? — indagou nitidamente confuso.
— E isso importa? — rebati de forma áspera — Estou aqui agora, não é?
Jarl me encarou por um bom tempo. Depois, passou a mão na extensão da barba e disse finalmente:
— Sim, está. Creio que isso é tudo que importa.
Não falamos mais nada. O viking indicou a saída da cela e eu caminhei até ela. Contudo, antes de alcançar meu destino, Ragad me interrompeu com seu questionamento:
— Estava chorando? — Franziu o cenho ao analisar meu rosto com atenção.
— Reservo-me ao direito de não responder essa pergunta. — Ergui o queixo em sinal de ousadia.
Ele tentou levar os dedos a minha face, porém eu não permiti que me tocasse.
— Não ouse encostar em mim. Prometi que não o mataria, mas isso não me impede de queimar suas mãos. — ameacei entredentes.
Astuto como sempre, Ragad rapidamente recolheu sua mão para si.
Voltei a andar rumo a saída e passei por seus homens de cabeça erguida.
O Jarl logo tomou as rédeas do caminho e levou-me até sua morada onde um quarto havia sido preparado para receber-me. Uma banheira já estava pronta e aquecida para limpar-me. Havia duas criadas aguardando-me, elas não eram escravas, por isso continuavam a servir a casa do Jarl . Naquele momento dei por conta que ninguém havia sentido falta dos escravos. Provavelmente, todo o clã só pensava em meu sacrifício que ocorreria muito em breve.
As mulheres tiveram o cuidado de me banhar tirando todo sangue impregnado em minha pele. Por seguinte, enxugaram-me, e contra minha vontade, fui obrigada vestir uma veste branca que cobria toda extensão de meu corpo e terminava em meus pés. A roupa era demasiada larga e o tecido grosso não era o suficiente para me proteger do frio das terras nórdicas.
Terminado o serviço, as criadas saíram enquanto eu fiquei encolhida no meio do quarto, com os braços apertados ao meu redor, tentando inutilmente, aquecer-me.
Não tardou para que Ragad retornasse ao cômodo trazendo consigo seis homens trajando de longos mantos brancos, assim como eu. A única diferença, é que eles possuíam peles de animais ao redor dos ombros que cumpria com a função de aquecê-los do frio.
Um dos homens se aproximou de mim como uma adaga e fez menção de segurar meus punhos. Recuei dois passos para trás, deixando claro que não seria tocada pelo desconhecido.
— Calma, Erieanna, ele não vai te machucar. Apenas quer desenhar algo em seus braços. — Ragad assegurou, tentando me tranquilizar.
Fitei-o com raiva.
— Ninguém tocará em mim, até que eu veja Thorn. — declarei enfática.
Os homens voltaram o olhar para Ragad que trincou o maxilar. Eu continuei a sustentar meus olhos no seu, evidenciando que não mudaria de ideia.
— Deixarei que o veja, depois que fizer os símbolos em seus braços. — advertiu, sério.
— Acho que temos um impasse aqui, pois eu quero justamente o contrário. — Argumentei.
O viking diminuiu a distância entre nós e olhou diretamente em meus olhos. Seus olhos azuis nunca estiveram tão apagados como naquele dia
— Tem minha palavra que deixarei vê-lo se fizer o que eu pedi. — Seu tom de voz demonstrava a segurança de alguém que supostamente dizia a verdade.
Mas não podia confiar nas palavras de um homem que estava prestes a me matar.
Em um ato habilidoso, segurei seu antebraço, e com a outra mão, peguei faca que ele carregava ao lado de sua cintura. Os homens deram um passo à frente, se preparando para me atacar. Entretanto, eu apenas cortei uma pequena parte da pele que cobria o punho de Ragad e fiz o mesmo em mim.
Juntei nossos membros sangrando e sussurrei as palavras do feitiço que ligou o seu sangue ao meu.
— Quero que jure que me deixará ver Thorn. Mas jure somente se for a verdade, pois quando fizer isso, o feitiço estará selado. Não poderá voltar atrás, caso contrário, morrerá por sua mentira. — Fixei meus olhos nos seus, tentando demostrar a real seriedade da situação em que nos encontrávamos. — É um feitiço de sangue e nem minha morte pode desfazê-lo.
Ragad engoliu a seco antes de tomar sua decisão:
— Eu juro que deixarei que o veja. É o mínimo que eu devo a você. — Suas narinas se dilataram quando proferiu aquelas palavras.
— Agora jure que o libertará assim que tudo estiver acabado. — Continuei segurar seu braço.
— Eu juro que o libertarei. — ele declarou sem titubear.
O juramento fora selado, assim como a nossa pele que já não mais sangrava.
Ragad passou os dedos no punho e pude notar que ficou incerto e um tanto incrédulo com o viu diante dos seus olhos. Logo a seguir, o líder do clã fez um sinal com a cabeça e o homem que segurava a adaga voltou a se aproximar de mim. Estendi meus braços em sua direção. O desconhecido o segurou com uma das mãos e com a outra manuseou a adaga e começou a desenhar o símbolo um pouco acima da linha do meu punho. Creio que eu estava muito abalada, pois não senti a dor do corte em minha pele, eu via o sangue escorrer, mas nada sentia. O homem repetiu o desenho no outro braço e quando concluiu, proferiu uma série de palavras que fez os pelos de minha nuca se arrepiarem.
De imediato, senti um vazio dentro de mim, aquele poder antigo deixado por meu pai em meu sangue, havia sido bloqueado. A magia e toda sua força assombrosa, já não rugia dentro de mim. Olhei para os símbolos em meus braços e notei que se tratavam de runas. Naquela altura eu já conhecia muito daquela simbologia: o presente deixado pelo próprio Odin — o deus supremo — para que os vikings pudessem se comunicar. Entretanto, aquele padrão desenhado em meu braço, era totalmente estranho para mim.
— O que você fez comigo? — rosnei indignada.
— Isso é um tipo de runa que tem o único propósito de bloquear seu poder temporariamente. Não podia correr o risco de te levar completamente munida de seus dons e colocar todos do meu clã em risco. — Ele continuou a me encarar com intensidade. — Não espero que me entenda. Creio que se não conseguimos avançar em algum ponto até agora, não avançaremos mais. — Soltou um pesado suspiro que fez seus ombros se inclinarem para frente.
— Nosso tempo acabou Ragad. Vamos acabar com isso de uma vez por todas. — proferi, demostrando total resignação.
O Jarl apenas acenou em gesto de afirmação. Depois deu o comando a um dos homens de branco que permaneciam no quarto:
— Traga o prisioneiro!
O viking prontamente obedeceu a ordem do líder a saiu rapidamente pela porta.
Meu coração começou a bater acelerado, pois tinha certeza de que Ragad ordenou para que fossem buscar Thorn. Pelo que tudo indicava, ele ainda continuava vivo.
Não demorou muito para que o responsável trouxesse o prisioneiro. Ambos adentraram novamente no quarto acompanhado de mais dois guardas que arrastavam Thorn pelos braços e logo notei que ele estava muito machucado. De onde eu estava, não conseguia confirmar se o prisioneiro era realmente Thorn, pois ele estava com a cabeça baixa e o cabelo desgrenhado de tonalidade acobreada cobria parte de seu rosto.
Fiz menção de ir de encontro ao prisioneiro, no entanto, Ragad me interrompeu se aproximando do homem, e a seguir, colocou uma faca rente ao seu pescoço.
— Não ouse se aproximar dele! — Ameaçou o Jarl de forma sombria e lançou-me um olhar mortal.
— Preciso saber se ele é realmente o homem que deve libertar! — rebati com obstinação.
Ragad puxou os cabelos do prisioneiro e o fez erguer. Era ele. Ainda que estivesse muito ferido, ele era o homem que eu procurava. Marcas arroxeadas cobriam sua pele, o nariz estava quebrado, um corte profundo fazia com que seus lábios sangrassem. Mas mesmo que os olhos verdes estivessem inchados e avermelhados, eu reconheceria aquele olhar em qualquer lugar do mundo, ou em qualquer circunstância. Malditamente destruído, Thorn estava diante de mim.
— Solte-o! — supliquei.
Aquilo se parecia cada vez mais com o pesadelo que tive onde Ragad o matou diante de meus olhos e eu não pude fazer nada para evitar sua morte.
O Jarl continuou a pressionar a adaga ao pescoço de Thorn e eu sentia que meu coração poderia sair pela boca a qualquer momento.
— Solte-o, por favor! — Já não tinha mais forças para enfrentar o desenrolar daquela situação que parecia nunca ter fim.
Então, ainda receoso, Ragad tirou a lâmina do pescoço de meu amigo e ordenou a um dos guardas:
— Leve-o! Mandem que o limpe. Depois dê-o comida e água o suficiente para completar sua jornada e o libertem.
O guarda acatou a ordem e levou Thorn embora.
Eu não pude me despedir, nem lhe dar um último abraço, ou talvez um último beijo. E de tudo que aconteceria comigo dali em diante, aquilo era o que eu mais lamentava.
— Vamos, Erieanna! Já perdemos muito tempo. — ordenou o viking que seria responsável por minha morte iminente.
Eu nada disse. Somente ajeitei minha postura e o segui até o local em que seria sacrificada.
***
Conforme caminhava por entre as árvores, o vento frio uivou em meus ouvidos e o sangue dos cortes em meus braços escorreu por minha pele. Minha veste branca já não estava impecavelmente limpa, pois o mesmo sangue que sujava as terras vikings enquanto eu caminhava, havia manchado o tecido na altura dos meus ombros. Uma multidão de pessoas nos seguia cantando uma canção melancólica que ironicamente falava sobre o caminho até a morte:
Kven skal synge meg (Quem irá cantar para mim)
I daudsvevna slynge meg (No sonho da morte em que fui deixado)
Når eg helvegen går (Quando eu ando no Caminho para Hel)
Og dei spora eg trår (E a trilha em que piso)
Er kalde så kalde (É tão fria, tão fria)
Quanto a mim, não estava triste e nem com medo. Fiz tudo que pude para partir dessas terras sem deixar pendências para trás. Encontrava-me pronta para morrer.
Descemos a ribanceira e paramos às margens do mar. Até o as águas que sempre estavam revoltas, pareciam que tinha se aquietado para ver minha partida.
Ragad e os seis homens de branco levaram-me até as águas salgadas tão geladas quanto meu coração naquele momento. Um dos vikings colocou um ramo de frutos vermelhos preso ao meu pescoço e cabeça, sussurrando a minha volta palavras desconhecidas.
Dois homens seguraram firme meus braços, no momento em que Ragad perguntou:
— Deseja proferir suas últimas palavras? — Ele estava espantosamente sério, e pelo que vi no fundo de seu olhar, também estava triste.
Um silêncio se apossou da multidão e de todo local em que nos encontrávamos. Apenas o mar chiou em torno de nós. Dois corvos sobrevoaram o céu grasnando e eu me lembrei do que Thorn me disse sobre Odin observar o mundo através dos olhos daquelas aves negras. Esperava que o deus supremo dos escandinavos estivesse presenciando aquilo; queria que pudesse ouvir as palavras que saíram dos meus lábios naquele fatídico dia:
— Espero, para o bem de todos vocês, que esse realmente seja meu fim... Porque, se não for, eu juro que voltarei a acabarei com cada maldito viking que vive nesse lugar! — Meu tom de voz saiu alto e ameaçador o suficiente, para manter a multidão calada e com medo.
Mães abraçaram os filhos. Homens levaram as mãos as armas que empunhavam e Ragad arregalou os olhos diante da minha ameaça.
— Estou pronta para morrer. — Cravei meu olhar no Jarl, demostrando que já podia pôr um fim na minha vida.
Ragad não proferiu uma palavra sequer quando começou a debruçar meu corpo nas águas do mar. O sal fez com que meus olhos ardessem. Prendi minha respiração tentando evitar que o líquido entrasse em meu pulmão, no entanto, não fui capaz de resistir por muito tempo. Senti o exato momento em que a água salgada do mar penetrou em minha boca e nariz. Meu pulmão ardeu como se eu tivesse engolido brasas de fogo. Tentei me debater, mas mãos prendiam meus braços, assim como também imobilizaram minhas pernas. Ragad, sem fraquejar, manteve firme suas mãos em meu pescoço. Olhei adiante de seus ombros e vi um clarão seguido de fumaça. Parei de lutar e exibi um largo sorriso malicioso ao Jarl que tirava a minha vida. Ele ainda não sabia, mas logo se daria conta do que acontecia com seu clã enquanto me matava.
No íntimo do meu ser, senti a morte se aproximar e levar cada parte da minha alma. Minhas lágrimas juntaram-se ao mar, e a última imagem que vi antes de morrer, foram os olhos azuis banhados em águas, do homem que erroneamente dizia me amar.
***
Escuridão, silêncio, vazio. Foi tudo que senti após meu coração parar de bater.
Então, isso é a morte! Pensei à medida que percorri completamente sozinha pelo breu escuro que me cercava.
Não me lembro de sentir paz, mas também não senti medo nem dor. Era apenas uma solidão sem fim. Talvez a morte fosse aquilo: eu e o peso dos meus erros, sozinha por toda a eternidade. Ou, provavelmente, apenas tinha que encontrar o caminho até meus pais. Tudo que sempre quis foi ver minha família novamente, entretanto a morte não me deu esse conforto. Tudo que me concedeu entre os véus do mundo foi a escuridão e um vazio sem fim. Nada — absolutamente nada — além disso.
***
Nunca estive tão confusa quanto no momento em que recobrei a consciência, bem como o sentido de meu corpo. Lembro-me de ter ouvido o barulho suave de uma correnteza de água que me guiavam suavemente por um percurso desconhecido. Não havia o frio nórdico me atormentando, tampouco calor. Tudo parecia estar em perfeito equilíbrio e eu tive medo de abrir os olhos, não queria que aquela prazerosa sensação se dissipasse. Poderia flutuar para sempre naquelas águas serenas. Entretanto, o curto momento de tranquilidade foi interrompido quando meu corpo se chocou em algo sólido. Inesperadamente, alguém me tirou das águas plácidas em que eu repousava.
Nos braços do desconhecido, pude escutar perfeitamente as batidas forte de um coração. Apesar da curiosidade, lutei contra a vontade de abrir os olhos. Contudo, não tive escolha a não ser encarar o mistério ao meu redor. No fundo do meu coração ingênuo, eu nutri a esperança de que estivesse sendo carregada por meu pai.
A claridade do Sol ofuscou minhas vistas impedindo que eu visse com clareza a feição da pessoa que havia me tirado da água. Semicerrei os olhos e tentei me concentrar no aspecto físico de seu rosto que aos poucos começou a tomar forma.
Não era meu pai!
Tratava-se de um homem cujos cabelos loiros curtos estavam devidamente penteados para trás. Havia uma barba bem-feita cobrindo seu rosto e ela não era tão longa quanto a que os escandinavos costumavam usar. Sua pele apresentava um tom dourado de alguém que costumava se banhar a luz do Sol com certeza frequência. Já seus olhos eram tão azuis quanto o céu acima de nós. E de uma coisa eu tinha certeza, jamais o tinha visto em toda minha vida.
— Quem é você? — sussurrei, franzindo o cenho, sentido o calor do seu corpo junto ao meu.
O estranho abriu um largo sorriso exibindo seus dentes bem alinhados e depois respondeu:
— Alguns me chamam de deus da trapaça, outros de pai da mentira... — Sorriu novamente. Aquele maldito sorriso que parecia zombar de mim.
— Prazer, eu sou o Loki e você... — Sorri mais uma vez — E você é o meu sacrifício. — explicou por fim.
E com aquelas simples palavras, tudo se tornou um verdadeiro caos.
Fim.
Continua...
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E esse foi o final do primeiro livro, mas não se preocupem! claro que já tem a continuação.
A história sem revisão está sendo postada no perfil @LuanaMaurineAutora saber o que Erienna vai aprontar no segundo livro, corre lá acompanhar! Nós já estamos na reta final do segundo livro, junte-se a nós e viva grandes emoções em Asgard!
Mas se você prefere esperar e acompanhar uma história revisada, fique tranquilo! Em breve volto com o segundo livro que contém mais uma parte da história de Erieanna!
É isso... vou deixar o link da continuação da história no meu perfil! Espero que, até aqui, vocês tenham gostado da história!
Um beijo enorme!
Tia Lua
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