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1- PRESSÁGIO

❝E todos lembrarão o seu nome, pois todos os sacrifícios são eternizados❞.

𝕱𝖗𝖆𝖌𝖒𝖊𝖓𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖔𝖘 𝕽𝖊𝖌𝖎𝖘𝖙𝖗𝖔𝖘 𝕯𝖗𝖚𝖎𝖉𝖆𝖘,

533 ɗ. Ƈ..

𝑰𝒓𝒍𝒂𝒏𝒅𝒂, 𝒂𝒏𝒐 𝟖𝟒𝟔 𝒅. 𝑪.

ASSIM COMO ACONTECE com os deuses, ninguém sabe quais são as origens das lendas. Na maioria das vezes ela é passada de boca a boca como uma tradição oral. O que se tem certeza é que nelas, sempre há existência de feitos heroicos, batalhas, e a todo momento, ressaltam a soberania dos deuses perante os mortais.

Talvez deus algum exista e tudo seja apenas uma invenção dos homens para mantê-los unidos e fiéis ao seu povo. Tudo pode se resumir somente ao fato da fé. E o que seria de nós, meros mortais, sem a fé? Era isso que meu pai, um sábio druida, sempre me questionava. Ele dizia que devíamos crer em algo e que até mesmo para manipular a magia, era preciso acreditar nela. Eu acredito na magia, pois vi tal poder ser usado por meu pai em inúmeras vezes. Porém, não acredito nos deuses porque eles nunca ouviram minhas preces, nem mesmo quando os impiedosos vikings invadiram meu lar e mataram minha família de forma brutal e impiedosa.

Eu implorei a Morrighan — deusa da guerra e das batalhas — para que ela viesse ao nosso socorro e dilacerasse nossos inimigos. Entretanto, a resposta de minha prece não passou do uivo do vento gelado do inverno, beijando minha pele de forma agressiva, enquanto um homem selvagem de cabelos claros como o Sol, degolava meu pai e depois, sem qualquer resquício de compaixão, estuprou minha mãe.

Lembro-me desse dia claramente e acho que jamais conseguirei esquecê-lo. Já que, todas as noites, incansavelmente, esse pesadelo se repete e ele só termina quando vejo os olhos sem vida de minha mãe fixos nos meus.

Recordo-me que naquele dia frio, logo pela manhã, meu pai sentou-se à mesa comigo e minha mãe e nos olhou com tamanha intensidade, que um pequeno temor se abateu sobre mim. Ele estava calado demais, e seu olhos verdes que outrora refletiam o brilho de uma aquecida manhã de verão, naquele momento estavam completamente desprovidos de luz. Havia preocupações esgueirando a sua mente; algo ruim estava por vir, o clima mudara de repente, até o vento parecia mais denso, como se soubesse que sangue seria derramado nos solos das antigas terras irlandesas que abrigaram nossos antepassados, e que mesmo sob ameaças de invasores, continuavam a nos abrigar; ainda pertenciam a nós, assim como o Sol pertence ao céu.

Em completo silêncio, papai olhou fixamente para os olhos azuis de minha querida mãe cuja coloração lembrava o céu em um dia quente de verão, e ele, com muita delicadeza, levou sua mão em direção a face de sua esposa que o fitava com tanta ternura, alheia aos perigos que a espreitava.

Observei com atenção os longos dedos de meu pai percorrerem a extensão dos cumpridos e negros fios de cabelos de minha mãe que escorriam livremente pelas  costas. Depois, com demasiada suavidade, ele acariciou sua pele tão branca como o leite,  contemplando cada traço do rosto da mulher que ambos amávamos; a bela mulher cujas heranças genéticas eu herdara.

O sábio druida, como todo patriarca da família, tomara o lugar ao topo da mesa, e após deleitar-se com nossa companhia, de forma serena, depositou uma de suas mãos sobre a minha e a outra na de sua esposa e nos olhou, com um pesar profundo esboçado em seus olhos verdes como as folhas no auge de um novo ciclo de florescimento. Naquele momento, pude sentir um mal presságio vindo do olhar cheio de segredos do meu pai. Mas como tinha apenas doze anos, permaneci em silêncio, eu ainda não passava de uma criança.

— Minhas mulheres, meus dois tesouros  — começou ele e sua voz oscilou por um breve momento. Pela primeira vez, seu rosto carregou um semblante preocupado. Algo que nunca, até então, eu não tinha visto. — Independentemente do que acontecer nesse dia de hoje, quero que saibam que eu amo muito vocês. — Intensificou o aperto de sua mão, portanto senti que meus pequenos dedos começaram a doer.

— Donyr, qual o motivo dessa conversa estranha logo pela manhã? — minha mãe indagou, preocupada.

Meu pai soltou nossas mãos e dirigiu um olhar intenso à esposa.

— Minha querida Evany, o mal está a caminho. — Fez uma breve pausa, tentando, eu presumi, procurar as palavras certas para se expressar. — Os deuses enviaram uma visão nessa madrugada, e nela vi, claramente, nossa morte no dia de hoje. — explicou com profunda tristeza.

Eu e minha mãe arregalamos os olhos em um pânico evidente. As visões de meu pai jamais falharam e se ele viu nossa morte, então ela ocorrerá. Nada poderia ser feito, até eu, uma criança sabia.

— Por que os deuses nos avisariam sobre tal presságio? Por que te mostrariam nossa morte?

Notei, naquele momento, que mamãe não conseguia compreender as razões dos deuses. Assim como eu também não compreendia.

— Porque eles não querem que lutemos. Não querem que fujamos. — respondeu, ele, tranquilamente.

— Isso é pura hipocrisia! — mamãe bradou, furiosa, enquanto apertava os talheres da mesa até que os nós dos dedos ficaram esbranquiçados.

Eu acompanhava a situação calada, já que, mesmo que estivesse apavorada, não sabia ao certo o tamanho da gravidade das palavras que saíram dos lábios de meu querido pai.

— Sei que está furiosa, meu amor, mas hoje finda nosso ciclo de vida. Até aqui os deuses nos protegeram, nos deram alimentos, tranquilidade e sabedoria. Agora chegou o momento de retribuirmos suas benevolências. Foi esse o plano que eles traçaram para nós, portanto ficaremos aqui e aguardaremos nossa morte. Está tudo entrelaçado querida, Evany. Tudo entrelaçado. — pronunciou as últimas palavras com um olhar contemplativo para o nada, talvez recordando as lembranças da fatídica premonição.

— Não quero morrer, pai! — sussurrei em uma espécie de súplica.

Seu olhar carregado de seriedade concentrou-se em meu rosto. Um olhar que eu jamais esquecerei.

— Não tema a morte, pequena Erieanna, ela vem para todos. — replicou,  em um tom de voz repleto de resignação.

Meus olhos se encheram de água. Eu estava completamente apavorada.

Os grossos dedos de meu pai se aproximaram de meu rosto e enxugaram o rastro das minhas lágrimas.

— Vamos comer — comandou — Esta pode ser nossa última refeição. — proferiu, com demasiada tristeza que fez meu coração se apertar.

— Não estou mais com fome. A notícia da proximidade de minha morte acabou com qualquer necessidade mortal. — minha mãe retrucou, de forma grosseira, e levantou-se abruptamente da mesa.

— Você sempre pode fugir, Evany, mas os deuses não serão misericordiosos contigo em sua jornada. — papai alertou, severamente.

Ela meneou a cabeça para o lado, lançou lhe um olhar ríspido, soltou uma bufada e saiu pisando duro rumo a manhã gelada.

Meu pai, por sua vez, aproveitou a saída de minha mãe e falou-me algo que até hoje não descobri o verdadeiro significado:

— Erieanna, minha pequena — começou, em tom baixo — Seu nome significa princesa dos deuses, foram eles que o mostraram a mim. — Soltou um longo suspiro e molhou os lábios ressecados com a língua. — Minha filha, ouça com atenção tudo que vou lhe falar... Dias terríveis virão pela frente, mas você vai ter de ser forte, querida, tão forte quanto a rocha! Isso tudo está além da vontade dos deuses, muito além. E tudo depende de você. Hoje, é o início do fim. — Fixou seus olhos verdes nos meus por um longo momento, e então tive medo; temi a culpa que se escondia no íntimo de seu olhar. — Seja forte, Erieanna. Leve essas palavras junto ao seu coração e um dia descobrirá o verdadeiro significado delas. — Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto sem nenhuma ruga. Ele ainda não era velho o bastante para morrer.

Não acenei com cabeça concordando e nem esbocei qualquer reação. Apenas permaneci com medo de viver em um mundo sem a proteção de meus pais.

Um bom tempo depois, mamãe retornou a nossa casa no alto da colina próximo ao mar. Assim que adentrou em nosso humilde casebre, pude notar que suas bochechas estavam vermelhas por conta da exposição ao frio. Seus olhos também estavam avermelhados, mas o motivo era o choro.

A bela Evany correu desesperada em direção ao esposo que a segurou em um abraço apertado. Então minha mãe chorou como eu nunca jamais havia visto. Seus soluços histéricos ecoaram pela casa e eu fiquei apavorada. Tinha profundo receio do que estava por vir.

Naquele dia, o tempo correu depressa, como se os deuses quisessem adiantar os acontecimentos... E logo eles chegaram.

O Sol estava no meio do céu, quando avistei suas embarcações desbravando o mar como se fossem bestas marinhas. Eram três no total. Ávida, corri avisar papai sobre a chegada dos desconhecidos. Ele ficou pálido e imóvel feito uma escultura de barro, por fim, pediu para que eu me escondesse embaixo da cama. Naquela época, não entendi o motivo do pedido, mas obedeci. Certo tempo depois, nosso presságio da morte invadiu nossa casa. E não teve diálogo — nem haveria de ter — nós não falávamos sua língua e nem eles a nossa. De dentro do meu quarto ouvia os sons desconexos das palavras saindo da boca dos homens. Apenas ouvia, pois estava escondida.

Penso que um deles deve ter tocado minha mãe de forma imprudente, pois logo meu pai se tornou furioso e invocou a magia sobre os homens. Ele queimou cinco deles. Sei disso, porque essa foi a quantidade de corpos incinerados que encontrei no cômodo assim que me juntei a minha família.

Papai ficou ensandecido ao notar minha presença no meio daquela batalha e rapidamente me escondeu no baú onde guardávamos os grãos de cevada. Pela fresta entre a tampa, vi dezenas de homens de cabelos dourados como Sol, invadirem a nossa casa rugindo feito feras, empunhando machados e escudos. Alguns usavam capacete com pinturas estranhas e fiquei admirada ao ver mulheres entre eles buscando a mesma gana de sangue.

Papai — o druida — conjurou várias labaredas de fogo e lançou-as contra seus adversários, queimando uma porção deles. Porém, como homem seu poder era limitado e sua energia falhou. Não mais capaz de usar a magia, o líder da tropa o pegou pelos cabelos acobreados, obrigando-o a prostrar seus joelhos no chão e passou uma adaga afiada em sua garganta, cortando-a sem receio. Mordi os lábios para não gritar de pavor quando uma densa quantidade de sangue jorrou do pescoço de meu pai e inundou o chão.

Ainda posso ouvir o grito de dor de minha mãe ao ver seu amado ser morto diante de seus olhos.

Em questão de instantes, Evany se tornou uma fera raivosa e lançou-se em direção do assassino de meu pai para matá-lo. Entretanto, ela era pequena demais para enfrentá-lo. A montanha loira simplesmente a pegou no ar, segurou-lhe os braços e depois, bruscamente, jogou-a contra o chão frio. O assassino habilmente baixou as calças e a possuiu, ali, na frente de todos, sem nenhum pudor.

Fiquei abismada, porque ninguém se mostrou espantado diante de tal cena, era como se aquele fosse apenas mais um dia normal na vida dos bárbaros.

Minha mãe, então, deixou seu sangue irlandês tomar conta de seus atos e arrancou boa parte da orelha de seu possuidor com uma única mordida raivosa.

O homem urrou de dor e com um único movimento, segurou o fino pescoço de minha mãe em suas enormes mãos e o torceu bruscamente. Instantes depois, a vida deixou seu corpo e tudo dela restou, foi apenas um olhar petrificado, cravado em mim.

Ainda não sei de onde veio, mas um grito ensurdecedor saiu de minha boca no momento em que me dei conta que meus pais estavam mortos. Devo ter ficado em estado de pânico, pois gritava e esperneava no ar após o assassino de meus pais me encontrar em meu esconderijo.  O bárbaro segurava-me pelos cabelos, quando colocou a lâmina gelada de seu machado rente ao meu pescoço. Senti o aço rasgar minha pele e fechei os olhos com força. Definitivamente, estava pronta para morrer. Queria me juntar a minha família naquele dia. Só que, infelizmente, um outro viking, o verdadeiro líder do bando, salvou-me.

O grande homem loiro, de cabelos trançados até a altura do ombro, vestido com um grosso manto de pele de lobo, depositou seus olhos azuis cheios de ira no assassino de minha mãe e gritou comandos enfurecidos ao homem que me colocou no chão de imediato.

O sangue do meu pai tocou meus pés descalços e meu vômito se juntou a ele.

A partir daquele dia, a ruína se iniciou em minha vida. Eu deveria ter sido morta, teria sido muito mais misericordioso. Isso porque, ter me tornado escrava dos vikings, foi claramente a minha destruição.

Naquele dia cinzento, naquela casa à beira-mar, foram enterradas três pessoas: minha mãe, meu pai e eu — a pequena garota irlandesa. Deixei de ser quem eu era, assim que fui arrancada de meu lar e cruzei o outro lado do mar em um barco viking. Deixei de pertencer a mim mesma e passei a pertencer aos escandinavos. E, então, descobri que o mundo é um grande e maldito caos.

Espero que estejam apreciando a aventura!

Não se esqueça de deixar seu voto!

Bjus Tia Lua

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