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Capítulo Dezessete

Eles pretendiam matar um dos sacerdotes e os guerreiros mortos suspeitavam que fosse não um exatamente já no posto, mas alguém que ainda Ascenderia: um de nós sete. Eu não acreditava naquilo com plena convicção, embora respeitasse as suspeitas deles e tentasse enfiar em minha cabeça que agora eu teria que redobrar minha atenção. Depois de retornar ao mundo dos vivos, corri para o antigo quarto de Alafer e me deixando ser guiada pelas pelo instinto, encontrei a pequena caixa de madeira embaixo de sua cama.

Como ela dissera, eu saberia.

Dentro, havia algo parecido com uma noz, que eu supus ser algum tipo de semente e quando tentei voltar ao coração da mata, para enterrá-la ali, acabei parando em um santuário. Era um tanto irônico, já que ela mal havia me pedido para parar e rezar aos nossos deuses; decidi fazê-lo.

Uma mulher de cabelos negros estava ajoelhada em frente ao pequeno altar, em silêncio ― devia ser uma das funcionárias do palácio ― e para não a atrapalhar, movi-me sem muito estardalhaço. O chão estava enlameado e eu me arrependi de não ter colocado minhas botas, mas continuei caminhando até o pequeno altar de pedra; foi naquele curto percurso que percebi que já tinha estado ali muitas vezes, principalmente nas minhas consagrações, quando Alafer me levava para fazer uma oração. Ao me ajoelhar no chão, precisei usar meu calor para aquecer meus joelhos, ou eles congelariam em pouco tempo.

No altar havia uma estatueta simples na forma de árvore, que se dividia em três galhos adornados, cada um, por um guizo minúsculo, e se encontrava como o único objeto, além de velas derretidas, ali. Respirei fundo o ar acolhedor da natureza, encarando fixamente aquela representação da tríade adorada pelo nosso povo ― um dos pequenos detalhes que ainda nos mantinha ligados aos Vroisi ― e buscando uma forma de iniciar algo que eu não fazia desde que Alafer se fora.

"Deuses," comecei em voz baixa, tentando não atrapalhar a mulher ao lado e achando que estava indo um tanto mal... "eu poderia fingir que sou uma sacerdotisa como as dos costumes antigos, que vocês escolheram, mas eu não sou. E eu, apesar de acreditar em sua existência, não tenho sentimentos muito bons em relação à vocês. Ushiohni, Vida, eu não sei se deveria te agradecer pelo grande dom de poder estar aqui, porque não tenho coisas boas a dizer para os outros dois. Então, dessa vez, me absterei. Errhedon, Destino, por mais que todos digam que é a Morte quem leva a todos, a verdade é que você traça os caminhos, não é? Você é a verdadeira Morte e a Ahshara apenas faz o seu trabalho sujo, então, por que agradecê-los? Ah, sim, obrigada por levarem o meu pai e minha mãe, cedo demais. Eu não sei se poderia pedir para que guardem a mim e meus companheiros nesse momento difícil, porque vocês são manipuladores e no fim das contas, vão fazer o que querem. É isso."

Sinahai.

― Uma velinha para vocês, espero que apreciem esse gesto ― encostei a ponta do meu indicador no pavio e uma chama fraca começou a queimá-lo.

Então, uma gargalhada abafada ecoou ao meu lado, vindo da direção... da mulher. Encarei-a; não estava mais fazendo sua oração, mas me olhando com um pequeno sorriso divertido nos lábios.

― Me desculpe por te atrapalhar ― suspirei, fazendo menção em levantar e sair de uma vez dali. No entanto, ela ergueu uma das mãos, num sinal para que eu não o fizesse.

― Você não atrapalhou. Sua oração foi um tanto... espirituosa, Katherine. Tenho certeza de que os deuses se divertiram, ainda que não fosse a sua intenção, acredito. A parte final, sobre eles serem manipuladores, em especial, foi minha favorita. E acho que é até verdade, no fim das contas.

― Eu achei que você veio prestar sua homenagem aos deuses, não zombar deles ― coloquei minha melhor cara de confusão; ainda precisava ir enterrar a semente, realmente não queria ficar conversando naquele momento.

― Não creio que eles esperem que as pessoas venham para santuários como esse; o que eles provavelmente querem é que os desafiem ― ela limpou os flocos de neve que caíram na manga do seu vestido azul e abriu um sorriso gentil para mim; algo nela parecia fora do comum, ainda que agradável.

― O que isso quer dizer? ― agora havia mesmo começado a nevar; eu tinha que fazer logo o que era para ser feito antes que ficasse completamente molhada.

― O que você quiser que signifique, pequena sacerdotisa. Você, de todas as pessoas, deve entender. Estar tão perto da Morte e ainda assim, tão longe é uma benção e maldição; não me surpreende que você sinta tanta raiva. Mas esse é um bom combustível para fazer o que deve ser feito ― e suspirou, levantando-se. Antes de entrar pela mata e desaparecer, fixou seus olhos negros nos meus e disse: ― Boa sorte.

Definitivamente, as florestas estavam repletas de pessoas estranhas e que costumavam não fazer sentido nenhum.

Soprei a vela e extingui a chama: ainda tinha mais uma missão a cumprir.

À apenas alguns metros do altar havia uma área onde nenhuma planta crescera. E algo ― numa voz parecida com a de Alafer ― me dizia que era exatamente ali onde eu deveria colocar a semente.

Puxei a terra com as mãos até abrir um buraco que escondia metade do meu braço e a coloquei sob o manto marrom, tampando-a sem muito esforço. Esperei que algo acontecesse, como um terremoto, ou raízes crescendo desordenadamente até se formar uma árvore ao algo do tipo, mas tive que me contentar com um nada. Não sabia se era só isso; se eu tivesse o dom de minha mãe, poderia tentar fazer com que a semente crescesse no mesmo momento. Quis tentar, como uma brincadeira e coloquei as mãos sobre o ponto onde ela estava enterrada e me concentrei em fazer o mesmo que costumava com o fogo, mas dessa vez, na terra.

Não era nem preciso comentar que nada aconteceu...

Cansada, com as pernas sujas de lama e a neve molhando a minha cabeça, entendi que poderia esperar eternamente por aquilo. Enfim, decidi que voltaria para o palácio e me banharia na fonte, dessa vez, sem me preocupar em ir para lugares indesejados. Ergui meu corpo e fiz o caminho para fora da floresta, na torcida por um pouco de paz e sossego na minha vida.

― Você não deveria andar pelo Bosque Sagrado sozinha ― uma voz sinistra ecoou perto de mim e eu me virei, completamente assustada, apenas para dar de cara com Darin de Sila, pai de... Lucien. Claro que eu não teria paz e sossego. ― Pode ser perigoso.

― Eu estou bem ― esqueci que estava com as mãos completamente sujas de terra e passei os dedos por meus cabelos, colocando uma mecha atrás da orelha. Ele reparou, mas não ousou falar nada sobre meu estado deplorável.

― Eu poderia esperar e tentar falar com você numa hora mais conveniente, porém, não acho que chegaremos a ter uma oportunidade como essa tão cedo. Até lá, talvez, o estrago já vai ter ganhado proporções incontroláveis, porque eu sei como isso funciona. ― ele sorriu, sem sequer mostrar os dentes; um sorriso falso e cruel que demonstrava o quanto parecia insatisfeito comigo. Aquele homem tinha a incrível capacidade de ser assustador demais quando assim o desejava... ― Sua mãe era uma pessoa ótima. Só que eu não acredito que esse adjetivo possa te qualificar da mesma forma que fez jus a ela. Não me entenda mal. Você não é uma pessoa horrível, mas em comparação com Alafer... ― Pareceu revirar os olhos levemente e tudo que eu queria fazer era incinerá-lo até que só restassem cinzas: ele seria carregado pelo vento e ninguém saberia sobre como eu havia o matado. ― O que você faz pode não ser de propósito e eu sei que Lucien também não é o rapaz mais adorável do mundo; ele tem seus momentos e são muitos. Eu preferia que não fosse assim e que vocês dois fossem menos complicados do que isso, no entanto... vocês não são, então eu acho mais do que justo avisar isso a você, que pode entender melhor do que ele. ― Seus olhos negros estavam fixos em mim e eu me sentia presa ao chão; engolida, sufocada. ― Meu filho gosta de você. Ouso até dizer que está apaixonado. Mas nós dois sabemos que a recíproca é inexistente e que você vai partir o coração dele, mais cedo ou mais tarde. Só não precisa ser mais tarde. E que quando isso acontecer... Bem, ele é mais sensível do que aparenta.

― O que você espera de mim? ― perguntei, engolindo a seco aquela revelação que, lá no fundo, eu já sabia.

― Você sabe muito bem o que eu espero, Katherine. Eu não preciso dizer ― e ele simplesmente girou sobre seus calcanhares e se afastou, enquanto eu ainda digeria o que havia acabado de me contar e pedir.

Eu precisava partir o coração de Lucien. Que tipo de pai pede para alguém ferir os sentimentos de seu próprio filho?

Nos dias que seguiram, fiz o que pude para ficar longe de Lucien e seu pai; as palavras de cuidado dos guerreiros começaram a voar para longe, como um papel em cinzas. Com a comemoração do fim do ciclo, o termo "Filhos do Éden" já não significava nada para mim ― ainda que devesse, sim, eu sabia; só era descuidada demais. E até o retorno para a Academia, uma sensação de paz já me dominara sem a intenção de partir tão cedo. E eu não queria que se fosse.

Tal como outras coisas.

― Jason! Kate! ― Freddie acenou assim que nos avistou. Eu não o teria reconhecido se não tivesse gritado nossos nomes: ele havia cortado o cabelo, que antes caia sobre os olhos, um tanto rente. Quanto mais perto nós chegávamos um do outro, mais belo ele parecia... E eu precisei respirar fundo para não fazer nada inapropriado.

― Você cortou o cabelo ― Jason disse, estranhando.

― É, já estava na hora. Eu quero que ele fique ideal para a nossa formatura na Academia no meio do ciclo. ― passou as mãos pelo cabelo, um pouquinho envergonhado.

― Ficou bom ― dei de ombros. ― Acentuou os seus olhos.

Jason concordou, ajustando a mala no ombro. As minhas também estavam começando a pesar e claro que com Frederick ali, isso não passaria desapercebido. De mesma forma que fez quando eu ia embora, ele as pegou sem nem pedir permissão e a pendurou nos ombros, fixando o olhar no meu de uma forma tão profunda que chegou a doer.

― O que você achou do meu hanir? ― ele perguntou quando nós já estávamos caminhando em direção ao meu quarto. Jason havia ido guardar suas coisas e eu não sabia se voltaria a vê-lo naquele dia.

― Eu ainda não o abri ― respirei fundo, e ele franziu a testa.

― Por que?

― Porque eu queria fazer isso do seu lado para poder te queimar caso fosse alguma brincadeira de mal gosto ― e eu quase não mentira: na manhã do meu aniversário, antes de ir para os preparativos, eu ponderei durante alguns minutos enquanto encarava o envelope vermelho. No fim, havia decidido que queria abrir junto a ele, não para queimá-lo, mas sim agradecê-lo apropriadamente caso fosse algo especial de alguma forma.

Nunca, em nenhum momento da minha vida, eu me arriscaria em admitir isso. Mas do que importava? Ele vasculharia meus pensamentos de qualquer forma.

Alcancei o bolso da calça e puxei seu hanir, meus dedos o apertavam com força; minha boca ressecou. No entanto, eu não disse mais nada até que entramos no quarto.

― Eu senti sua falta ― ele sussurrou, assim que bateu a porta atrás de nós.

― Eu sei ― ergui as sobrancelhas e sorri, sem mostrar os dentes. Enquanto ele sentava na cama, eu arrebentei o lacre dourado com o carimbo da Academia Ahnkalov. ― Como foram os dias de folga?

Dentro do envelope haviam dois objetos, o primeiro, era um papel de carta que deixei sobre a cama, o outro era um cartãozinho escrito "1 (um) desejo*" e embaixo "*QUALQUER desejo"; aquilo me fez rir. Depois, resolvi ver o que havia na carta, mas logo que a abri, joguei-a para qualquer canto, assustada com o que estava escrito na primeira linha.

― Um pouco entediantes. E os seus?

Era de Peter. A carta era dele.

E por mais que eu sentisse sua falta mais do que qualquer coisa no mundo, eu me assustei e fugi disso ― eu não estava pronta para abrir a represa de sentimentos mais uma vez e chorar na frente do outro ahnkalov.

Freddie notou meu sobressalto e pegou o papel do chão, sem dizer uma palavra.

Quando encontrei aqueles olhos azuis, um flash de todas as coisas que haviam acontecido passou pela minha cabeça. O modo como a testa se franziu fez parecer com que algo ele tinha visto... Eu não poderia esconder aquilo por muito tempo, pelo menos não de um rapaz que não tinha problema algum em ler meus pensamentos.

― Acho que vou usar o seu hanir para poder te contar ― segurei o cartão com o polegar e o indicador, e o ergui em sua direção. Minha respiração estava completamente fora do compasso.

― Você já tem um desejo? ― ele guardou a carta de Peter no bolso da calça e eu o agradeci mentalmente ― sua resposta foi um sorriso. Pegou o cartãozinho.

― Acho que sim ― ele levantou as sobrancelhas assim que eu falei, como um pedido para que eu prosseguisse; obedeci. ― Eu quero... que você guarde um segredo. E se não fosse importante, eu não pediria, e eu só estou pedindo porque eu sei que uma hora ou outra eu vou trazer ele à tona na minha cabeça e você vai ler e vai ficar confuso. Então é melhor que você saiba por mim e guarde.

― Um segredo.

― É e eu não quero que você conte ao Jason ― dei um passo em sua direção, diminuindo consideravelmente a distância entre nós dois; não contive minha vontade de acariciar sua barba por fazer. ― Vocês contam tudo um ao outro, não contam? ― O modo como desviou o olhar foi a única confirmação que eu precisei. ― Eu preciso contar isso à alguém, Freddie, e esperava que fosse você. Você disse que uma hora eu ia perceber que você não é meu inimigo. Nunca foi.

― Posso prometer que não vou contar a qualquer pessoa. Só não posso prometer que não vou contar a ele. E eu disse que nós, como Jason e eu ― ele aproximou nossos lábios e trocamos respiração. ― Eu não sei guardar segredos dele.

― Eu não tenho um vale-desejo para o Jason, só você ― e me afastei, um tanto decepcionada. Queria muito que ele acatasse meu pedido.

― Se eu fizer ele prometer que não vai contar nada você pode relevar esse segre... ― no instante em que ele disse "revelar", a porta se escancarou.

Era Jason com uma expressão curiosa.

― Revelar que segredo?

― Não tem nenhum segredo. Eu só quero dormir, por favor ― o olhar frio que lancei a ele não foi o bastante para afastá-lo. Muito pelo contrário, de repente, estávamos de frente um ao outro, os olhares fixos, como se estivéssemos... nos conectando.

Freddie me assustava. Eu era um palácio de vidro perto dele e não podia pensar em nada; nem no que aconteceu com Helena, com minha mãe, Peter. Éden.

― O que houve lá, Kate? Jason, fecha a porta e fica quieto ― Freddie apontou para a porta, mas ainda estava fixo em mim e não parecia querer desviar tão cedo.

Jason bateu a porta, o encarei por dois segundos antes que seu companheiro fizesse minha atenção se voltar a ele. Estava preocupado, embora isso não importasse. Preocupada era eu, que fui encurralada por Frederick, insistente.

― Do que vocês estão falando?

Frederick estava tentando entrar, no entanto, tudo que eu queria fazer era me jogar na cama e chorar pelo tempo que pudesse. Minha respiração estava mais pesada do que de costume; a dele também, refletida como uma droga de um espelho. O máximo que eu podia fazer era tentar me segurar para ficar quieta, e ainda assim, as palavras ardiam em minha garganta em um fogo que não era meu e que queimava pior.

― Eu entrei no vaso ― eu sabia que não tinha escapatória ― que em algum momento tudo explodiria ― e a lágrima escorreu pelo canto do meu nariz. Quis me enfiar em um buraco, sumir desse universo e de todos os outros existentes.

A notícia confundiu Freddie, que deu um passo para trás e tentou decifrar o que aquilo significava, contudo acho que quem entendeu melhor foi Jason. Tão melhor que ele entrou na frente do amigo, segurou meus ombros e com um olhar preocupado e a respiração quase falhando, perguntou: ― Como você entrou no vaso? O que aconteceu lá?

As palavras começaram a ser ditas como uma torneira quebrada, cada uma delas para cada um dos momentos. Falei sobre Helena e a poção; sobre Éden e sua mentira; contei da minha ida à Lancart e a habilidade de viajar para lá; e daqueles que se intitulavam "Filhos do Éden". Depois, disse-lhes sobre minha conversa com Donovan e os olhos laranja e o medo daquilo ser verdade. E quando terminei de contar, Freddie me envolveu em seus braços e me segurou até que eu parasse de chorar e dormisse, tal como Peter fazia.

Agora eu já não me importava se eles fossem ser me enganar e iriam revelar meu segredo aos seus superiores ou Kalanova. Eu queria um pouco de honestidade e não havia ninguém naquele lugar em quem eu confiasse a ponto de revelar aquilo: eu estava evitando Lucien, e não queria arrastar Helena para a confusão. Eles também não seriam meus candidatos número um. Mas era o que tinha.

As semanas que seguiram a minha revelação tiveram tudo para serem calmas: Jason e Freddie mantiveram a distância do assunto e definitivamente não haviam contado a ninguém. Eles me tratavam do jeito sério de sempre quando estávamos em público, mas logo que ficávamos a sós, parecíamos apenas amigos. O clima também se amenizara ― não haviam mais sinais na neve ― e calor voltava aos poucos. O universo estava retomando seu lugar, a normalidade era a minha principal aliada.

Flertes inocentes com os ahnkalov ― e alguns nem tanto ―, encontros com os sacerdotes e sacerdotisas, e aulas definitivamente chatas.

E eu adorava tudo aquilo, por incrível que pudesse parecer.

Bem, isso pelo menos até a noite em que o colégio todo foi acordado em plena madrugada porque alguém havia... tentado matar Filia.

No fim das contas, os guerreiros mortos estavam errados e a visão de Pietro, certa, de alguma forma. Não soubemos o que sucedera, afinal, a única notícia que viera fora a da tentativa. Se ela estava bem ou não, era um mistério.

― Eu preciso saber como ela está! ― Helena estava andando de um lado para o outro na sala onde os professores e os futuros representante lunares se encontravam, depois de termos sido convocados por Kalanova.

Nossa reunião de portas fechadas era a pior espera de qualquer notícia de todos os tempos. Nós íamos para lá sempre que algo importante acontecia e aquela era exatamente a situação; um silêncio incomodo nos afogava e o som dos passos... estava me deixando louca.

Ninguém havia lhe respondido porque ninguém sabia o que se passava lá e sem respostas, Helena só conseguia esperar o pior e se desesperar. Parecia que a qualquer momento iria hiperventilar e desmaiar; seu olhar cruzou com o de cada um que estava na sala, mas só parou mesmo quando chegou a mim. E quando percebi que ela iria chorar, vi a mim mesma, logo depois que Alafer havia morrido; como eu não poderia ir abraçá-la naquele momento?

Ela tomou meu ombro como travesseiro e ali deitou a cabeça. Acariciei seus cabelos como desejava que alguém tivesse feito por mim naquela situação e não contei quanto tempo ficamos daquele jeito. Helena só conseguiu me soltar mesmo quando Jason invadiu a sala sem nem pedir licença e falou com a respiração cortada: ― Ela está bem.

Na mesma hora, a filha cessou as lágrimas, em um alivio evidente diante de tão amedrontadora situação. Não pude evitar sorrir por ela e por sua sorte, mas algo dentro de mim dizia que aquela não seria uma tentativa única.

Se os responsáveis pelo ataque fossem realmente os "Filhos do Éden", eu duvidava muito que desistissem por causa de apenas uma falha.

― Eu preciso de um ar. ― Helena se afastou de mim e caminhou até a porta. Antes de atravessá-la, encarou-me. ― Você vem comigo, Kate?

Assenti e fui até ela, apenas virando para trás quando notei que Jason fizera menção em ir conosco; definitivamente não. Com um sinal com a mão, eu pedi que ele ficasse ali e por mais incrível que aquilo pudesse parecer, Kalanova concordou comigo.

Assim, Helena e eu encontramos paz e silêncio no lado leste da Academia, um pouco depois de atravessarmos o rio de Fogo. Ali se encontrava as ruinas do que antigamente era um santuário, mas que por ser um tanto afastado do prédio principal, acabou sendo abandonado. Agora, eram somente pedras quebradas e desorganizadas pelo tempo, tomadas pelo musgo e a vegetação, já que ninguém cuidava daquela parte do campus. Por mais que fosse um local de culto aos deuses, havia uma aura sombria rodeando e quando nos sentamos onde pudemos, um arrepio correu a minha espinha.

Ela definitivamente não me chamara para que tivéssemos uma conversa, creio que ar era mesmo o que queria. E a única vez, depois do que me pareceram horas, que Helena abriu a boca para dizer algo foi quando eu bocejei e me acomodei no tronco da árvore que se encontrava atrás de mim.

― Pode voltar a dormir, se quiser. Eu já estou bem, só não queria ficar sozinha aqui, esse lugar me dá arrepios. Mas agora nem tanto. ― e deu de ombros. Parecia bem mais tranquila do que eu, mas bem, provável que fosse o alivio por saber que não perdera a mãe.

― Tem certeza? ― não sabia se queria a deixar só ali, então cruzei os braços. Ela me devolveu um sorriso, assentindo.

Desejei boa noite a ela e voltei para meu quarto e minha cama. Tive um sono sem qualquer sonho, talvez porque mal tivera tempo de entrar na fase rem e alguém me chamando pelo nome fez com que eu acordasse.

Aquilo estava ficando chato.

No entanto, quando abri os olhos estava sozinha no quarto quase escuro ― as três luas que ainda apareciam no céu faziam questão de iluminá-lo um pouco. Sentada na cama, com os lábios secos e um gosto amargo dentro da boca, acabei tendo que levantar para ir beber um copo de água. Logo iria amanhecer e voltar para cama seria a única coisa que não conseguiria fazer, uma vez que meu cérebro insistiu em se preocupar com a volta de Helena. Da janela aberta, um vento frio entrou e passou pela minha nuca: se não fosse loucura, eu poderia ter jurado que ouvi um nome ecoar baixinho junto a ele.

Uma sensação opressora me dominou e a ideia de que eu deveria descer e conferir Helena se fixou como um parasita em mim; obedeci-a.

Depois de colocar apenas um casaco e calçar as botas, desci rapidamente as escadas do dormitório em pisadas tão fortes que o barulho ecoou pelo vazio do local. No lado de fora, pisei com firmeza sobre a cama fina de neve que cobria o chão. Havia um cheiro estranho de queimado que fez com que meus olhos ardessem e o coração, acelerasse em um ritmo fora do comum; um enjoo, um nervoso, uma sensação me atingiu como um soco na cara. Logo que alcancei a metade do caminho, percebi que já estava correndo, o frio assustador quase congelando a pele e o cheiro ficando cada vez mais forte. Nem senti quando as folhas bateram no meu corpo, passando pela mata antes de chegar ao Rio de Fogo.

Num instante, o mundo parou, os polos se inverteram e a noite se tornou dia; uma fina camada de luz fez parecer como se aquele cenário tivesse sido milimétricamente pensado. Era como se houvessem cronometrado a hora que eu chegaria, mas no fim, era apenas uma coincidência. Horrível, mas coincidência. Com a ponte iluminada, cai de joelhos ao chão, chocada demais para acreditar que fosse assim que terminaria (ou apenas começaria...) aquilo.

Não era Filia de Andora quem havia sido marcada para a morte durante o transe de Pietro. As coisas não costumavam ser tão simples assim ― visões se concretizavam, de uma forma ou de outra. E, no final, você não podia mudar a vontade do Destino.

Só que ninguém torcia pelo pior.

E nesse caso, foi justo o pior a acontecer; os guerreiros mortos estavam certos.

Eu não me lembro do que vi exatamente (e talvez não quisesse mesmo lembrar...), me curvei para vomitar e por fim, minhas memórias se bloquearam como pura medida protecionista. Só conseguia recordar da aura de podridão que rondeava e a neve sobre a ponte tingida. De início, eu não entendi do que se tratava aquele choque de tom escarlate que escapava pelas frestas da madeira. Mas, de alguma forma, eu soube.

O sangue e a carne — muita... — eram de Helena, junto com o cheiro, que assumi ser da morte: estava ali para buscá-la. Entretanto, era apenas o que exalava a sua carne queimada. Não poderia dizer se alguém confirmaria que aquilo, espalhado pela ponte, havia sido mesmo a próxima sacerdotisa de Andora...

Quando cai em mim e meu primeiro grito rasgou minha garganta para ecoar no silêncio gélido das terras da Academia Real, eu havia acabado de entrar — de verdade — em estado de choque. Era um corpo, afinal. Era mais que um corpo: era de Helena; o terceiro que eu havia visto com precisão em toda a minha vida. E o único tão... animalescamente irreconhecível que eu jamais saberei dizer como pude identificá-la. Algo somente me sussurrava que aquela era a herdeira de Andora morta sobre o Rio de Fogo.

Eu não poderia afirmar com certeza quem havia sido o bom samaritano a me segurar no instante em que quase desmaiei e então, arrastar para longe daquela cena... desfigurada. Mas certamente essa pessoa seria alvo de minha gratidão eterna.

Nós deveríamos ao menos ter cogitado esta possibilidade, certo? Nem sempre a resposta óbvia é a resposta correta. A previsão só advertia sobre a queda de Andora, porém nunca dissera quem viria a cair. Nós simplesmente assumimos que seria Filia, por ser a atual representante da lua. E no fim das contas... era Helena e seus sorrisos, modos dignos e tudo necessário para a futura principal conselheira da Rainha Elai.

Helena, minha amiga. A garota que eu conhecia desde criança, que tentava me alegrar quando eu estava triste, que... que...

Ela vítima de uma morte assustadora e que acabara por levantar uma questão: se Andora era a primeira... quem seria a próxima?


=H_

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