Capítulo 6
Agora tô numa pausa na escrita, porque eu faço isso, escrevo muito em poucos dias, daí canso e paro. E eu reescrevi quase toda a minha outra história "Cansei de ser bonita" em uma semana, história que agora vai ficar só mais um mês aqui e vai para a Amazon. Para quem gosta de comédia, ela é muito divertida.
Então... acho que nessa sexta ainda tem capítulos, mas duas vezes por semana só garanto se eu voltar a escrever logo. ;)
Capítulo 6
Ele estava de braços cruzados olhando direto para mim, o que me fez sair da água e seguir direto para ele. Isso e também o fato dele estar no caminho. Havia apenas uma trilha que levava de volta ao bar, e o policial gato estava parado na frente do acesso a ela.
Eu já me sentia mais calma. Havia algo de relaxante, apesar de imprudente, em mergulhar no mar no meio da noite em uma praia vazia. Além de vazia, a iluminação ali não era das melhores. Mas, como eu já expliquei, eu estava puta da cara demais para ligar. E mesmo agora, apesar da raiva já ter amansado, eu continuava não ligando. O banho tinha sido bom, mesmo que as minhas roupas molhadas estivessem desconfortáveis agora grudadas ao corpo.
Eu não tinha um espelho, mas das duas uma: ou eu estava sexy ou patética. E eu esperava que fosse a primeira opção. Afinal, não há nada de errado em desejar que um cara que a gente ache gato nos ache, pelo menos, um pouco interessante.
Mas não. Ele não estava me olhando como se estivesse agradado pela visão. Bem pelo contrário, o que ele ressaltou ao dizer, olhando direto para o rosto e ignorando o resto do meu corpo:
- Você faz ideia de quantos bêbados eu já tive que salvar no meio da noite, por que resolveram nadar como você?
Ele não soou rude. Quero dizer, talvez um pouco. Mas eu estava contente por estar finalmente a sós com ele. Pelo mesmo, era a primeira vez que isso acontecia desde que eu o vira correndo sem camisa na beira da praia. E isso tinha mudado o meu modo de vê-lo.
Por isso, fiquei inicialmente sem palavras. Porque era difícil ignorar a forma como os músculos dos seus braços saltavam quando ele os cruzava sobre o peito. E era difícil de ignorar aquele mesmo peito que eu já tinha visto sem roupas. E era difícil de...
- Ah... – eu disse, barrando meus pensamentos. – Eu não estou bêbada.
- Se importaria então de fazer um teste de bafômetro? Eu tenho no meu carro.
E isso me fez parar de pensar nos braços e no peito dele, porque... era sério? Fiz uma careta. Não pude evitar, e a raiva, a mesma que tinha amansado na água do mar, ameaçou voltar.
Eu me exaltei e acabei respondendo a ele de um modo que agitou todo o meu corpo. De um modo que fez com que, inclusive, eu descruzasse os meus braços que eu, mesmo sem perceber, mantinha cruzado sobre o meu peito como o policial fazia.
- Também é proibido nadar bêbada por aqui? – eu exclamei, mesmo não sendo o meu caso. Eu não tinha consumido uma mísera gota de álcool. Só que aquilo era tão ridículo... Mas tão ridículo...!
Por que mesmo eu escolhi essa cidade? Não pode prostituição, não pode tomar banho de mar, não pode... O que mais? Provavelmente assediar policiais esteja no topo da lista de proibições. Não que eu esteja fazendo isso agora, porque pensamentos não contam.
- Não. – ele disse e eu percebi um pequeno sorriso no canto dos seus lábios. – Não é proibido.
- E você quer fazer um teste de bafômetro comigo mesmo assim?
- Não. – ele repetiu, e manteve o sorrisinho. Era tão discreto que alguém que não estivesse prestando atenção talvez não percebesse. Mas eu estava . – Mesmo assim, é perigoso estar aqui sozinha. Ainda mais...
Ele ia dizer alguma coisa e parou. Ele parou, também, de olhar para o meu rosto e então pareceu constrangido com algo que viu em mim. E eu... Oh, meu Deus! Eu baixei os meus olhos, como ele fez, e a minha blusa... mesmo com o meu sutiã... estava totalmente transparente! E ele viu os meus seios! Oh, meu Deus! Que vergonha!
Essa constatação fez com que eu, num impulso, voltasse a cruzar os braços para cobrir a minha suposta nudez. Esse sutiã de merda que eu comprei hoje (oba, eu posso usar a palavra merda!) foi tão baratinho, e agora eu percebi o motivo!
- Sutiã de merda... – eu resmunguei em voz baixa.
- O que você disse?
- Eu? Nada.
Ele me olhou, como se não tivesse acreditado, mas não insistiu. Talvez porque não estivesse interessado mesmo em mim, nem no que eu tinha a dizer. O que me fez me arrepender de ter cruzado os braços, eu devia ter deixado que ele olhasse mais, se quisesse.
Quer dizer, ele era policial, então talvez seguisse a lei, não ia abusar de mim nem nada... Se bem que isso não seria tão ruim. Iria fazer com que eu esquecesse, com certeza, da conversa com o merda do meu ex.
É, merda de novo. Acho que usar palavrões é de certa forma viciante.
- Acho que não é uma boa você voltar para o bar assim. – ele disse.
- Assim molhada? – perguntei. A minha saia preta até que estava decente, um pouco mais colada ao corpo. Mas pelo menos não transparente.
- É. Nem todos os caras, ainda mais os bêbados, são gentis.
- Hum... sei.
Eu entendi o que ele queria dizer. Ele estava querendo me salvar, de novo. Ele era fofo. Ou talvez estivesse apenas cumprido o seu dever. Se bem que salvar moças que resolvem nadar no mar em plena noite usando blusas brancas que ficam transparentes de assédios não deve ser exatamente o dever de um policial. Talvez ele fosse mesmo fofo.
O que me levou a olhar para ele e não dizer nada, e esperar para ver o que ele tinha em mente. Se ele quisesse me salvar, eu podia me fazer de donzela indefesa. Só dessa vez. Só por alguns minutos. Porque não era um papel que eu quisesse voltar a ter. Mesmo assim... ele valia a pena.
Os olhos deles eram muito azuis. Mesmo com a pouca iluminação não dava para ignorar esse fato. E eu não conseguia parar de olhar para eles, nem me mover do lugar.
Acho que eu nunca tinha me sentindo assim antes. Não com essa vontade doida que eu estava de me jogar sobre o policial. Não foi assim com o Jonatas, pelo menos. Com ele a atração, e o amor, chegaram lentamente. A cada dia de convivência.
Minha vida podia estar uma merda, eu não tinha casa, nem família, mas eu não descartaria um sexo casual com aquele cara. Se ele me quisesse. Justo eu, que nunca fiz sexo casual na vida.
Por isso mesmo que eu deveria me conter. Pois isso só queria dizer que eu não estava em pleno domínio de mim.
E, provavelmente, seria um erro. Mas, também, quem se importaria? Eu era livre agora, até para cometer erros. E eu era livre para continuar olhando para o Samuel, enquanto eu esperava para ver o que ele pretendia fazer por mim.
Ele estava pensativo, mas acabou perguntando:
- Quer que eu te leve para casa? Meu turno está acabando.
Eu fiquei pensando naquela proposta. E não vou negar que fiquei tentada.
- Não. Obrigada, mas não. É cedo, a Iris vai cantar, falou nisso o dia inteiro. E acho que ela me mata se eu perder.
E depois, eu não queria voltar mesmo para aquele quartinho. Era deprimente, além de quente. Eu tinha suado muito nas últimas noites, porque não havia nem um pequeno ventilador. E se eu abrisse a janela minúscula não refrescava e ainda entravam mosquitos. As mordidas da primeira noite em que eu a abri me lembrava disso a cada vez em que coçavam. Acho que eu preferia o calor...
Ou talvez... eu devesse ter aceitado a carona, para passar mais tempo com ele e tentar conhecê-lo. Mas eu sabia, do jeito como ele desviou os olhos constrangido do meu corpo, que ele não tentaria nada. Então não fazia o menor sentido perder o resto da noite em troca de alguns minutinhos. Até porque eu sabia que, no instante em que eu ficasse sozinha, toda a raiva que eu sentira pelo cachorro do meu ex voltaria.
- Entendo. A Iris adora cantar, mas ela gosta mais ainda de uma plateia.
- Ela é boa?
- Razoável. Mas ela é divertida, então sempre recebe muitos aplausos.
- Eu imagino – sorri. Além do que ela era bonita e espontânea, e isso devia contar ao seu favor no ganho do público. - Foi meu primeiro banho de mar, sabia? – eu acabei falando de forma natural, sem pensar muito. – O primeiro da minha vida.
Eu não era de falar sobre a minha vida, mas ali, sozinha com ele, algo me deixou à vontade. Pelo menos, depois que eu fiquei ao lado dele e parei de olhar para o seu peito, para seus braços, seus olhos...
A gente ficou parado bem perto, lado a lado, olhando para a lua crescente ou minguante (eu nunca sei se ela está aumentando ou diminuindo), e para o céu com algumas estrelas. Mas não um para o outro, o que facilitava bastante pensar.
- É sério? E por que você escolheu justamente a noite e a praia vazia? Não é seguro.
- Eu sei. Mas... – eu podia ter dito que a noite me acalmava, mas optei por falar a verdade. Ou parte dela. – Eu estava meio puta da cara demais para pensar.
- Com o que? – ele perguntou. Mas eu demorei para responder, tanto que ele acabou acrescentando: – Não que seja da minha conta, mas... Fiquei curioso.
Eu podia ter dito que a culpa era do meu ex. Mas eu não queria falar sobre a minha vida amorosa... Ou ex vida amorosa. Não por ele ser um estranho... Quero dizer, um pouco por isso também, mas havia algo no estar ali com ele que me deixava à vontade. Eu só não queria falar de outro cara para ele, mesmo que isso não fizesse o menor sentido.
Então acabei falando outra coisa, para mudar de assunto:
- A gente nunca veio para a praia, eu e o meu pai. – preferi evitar falar sobre a nossa situação financeira também – Nunca dava para viajar, mas mesmo que desse, eu duvido que meu pai me deixasse chegar perto da água. Sabe... – eu movimentei um dos meus pés, que ainda estava descalço, e enterrei o dedão na areia. – Às vezes, a gente precisa aprender a superar nossos medos sozinha. E tentar fazer isso evita que a gente pense tanto.
Ele olhou para mim, talvez tentando entender melhor o significado da minha última frase. Era uma conversa profunda demais para dois desconhecidos.
- Seu nome é Ane, não é? – ele acabou dizendo e eu o olhei com um pouco de surpresa - Eu não perguntei no dia em que te dei carona, mas a Iris me contou.
- É. – não quis dizer que eu sabia o nome dele também. Até porque achei que não fizesse diferença.
- Eu entendo. – ele falou, após dar uma espécie de suspiro – É difícil superar os medos, mas isso precisa ser feito. E não pensar às vezes é bom. Muito bom.
Tudo o que ele disse me soou meio enigmático. Podia significar várias coisas, mas eu não me atrevi a perguntar.
- Você vai ficar quanto tempo aqui? Vai ficar até o fim do verão? – dessa vez, foi ele quem optou por mudar de assunto.
- Eu... Não sei.
- Amanhã é o último dia do ano. – ele falou, enquanto me observava . – Você vai passar a virada do ano aqui?
Talvez ele também quisesse saber mais sobre mim, só que não se atrevia a perguntar. Como eu. Talvez ele soubesse que eu estava sozinha, e que não tinha com quem passar a virada.
- Vou. – respondi com uma única palavra, e então percebi que não queria pensar nessas coisas, não nesse momento. Eu ainda sentia a calma vinda do mar. Não queria pensar na minha vida, na minha merda de vida. Mesmo eu estando livre, era ruim estar sozinha. – Acho que eu vou voltar ao bar, a Iris deve estar a minha procura.
- É. Sua roupa já secou? – ele perguntou, apontando na direção dos meus braços cruzados, até porque não fazia sentido negar o óbvio.
- Hum... – eu espiei por cima dos braços, afastando-os do meu corpo discretamente, mesmo sabendo que o Samuel não olharia. O que era uma pena. Mas ele não parecia, mesmo, interessado em mim. Pelo menos, em nada além da minha segurança. – Não secou.
- Então você não devia voltar ainda.
- É... Talvez você tenha razão.
- Tive uma ideia. – ele falou, ao mesmo tempo em que ele começou a tirar a blusa dele.
Será que ele iria me dar o uniforme para eu colocar? Com o cheiro dele? E ele ia...?Tipo... Ficar sem blusa de novo na minha frente...? E, ai meu Deus!
Porque, ao contrário dele, eu não desviei o olhar, não conseguia. Eu não era forte, nem gentil o suficiente, para fazer isso. Eu só conseguia... olhar. E esperar... ainda olhando.
- Ganhei essa regata branca de natal, e hoje me forçaram a usá-la por baixo, mesmo fazendo calor... – ele explicou, enquanto tirava a blusa marrom do uniforme, ignorando o meu estado, o meu entorpecimento e os meus olhos fixos nele. – Eu não pude dizer nada, para não magoar quem me deu, então tive que colocá-la. Pelo menos, pode ser útil agora...
Ele tirou a blusa do uniforme, e ficou só com uma do tipo física, que era toda branca... E justa... E que deixava os braços gostosos dele de fora... Então ele começou a tirá-la também...
Ainda ignorando o efeito que estava causando em mim, ele continuou dizendo:
- Você pode usá-la por cima da sua, ela é branca, mas não está transparente e... O que você pensa que está fazendo?!
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