Uma coisa só
— Eu não acho que entendi.— Jules franze a testa, confusa. Carmen sorri e toca o teclado de maneira teatral, brincando com a falta de noção da amiga. A música animada ecoou pelo quarto onde apenas as duas estavam presentes, sentadas lado a lado na cama de Carmen com um largo teclado trouxa em seus colos.
É domingo á tarde, oito de setembro, o sol brilha com fraca intensidade contra as janelas cujas cortinas estão escancaradas nos varões. Passou-se uma semana de estudo intenso, Carmen ainda está tentando se adaptar à árdua rotina de estudos que a acometem em Hogwarts, e para não ir a loucura tão cedo, Jules a sugeriu fazer uma pequena pausa.
Em sua primeira semana, tanto aconteceu que é difícil saber por onde começar, ela ficou confusa quando os professores mal se apresentavam e já falavam de trabalhos a serem feitos para o primeiro semestre. Essa pode ser a escola mais desafiadora em que Carmen colocou os pés, mas ela sempre adorou ser desafiada academicamente. Só precisava de um tempinho para se reajustar com um novo ritmo e estaria pronta para se tornar uma garota de destaque dentre todos os alunos.
A primeira semana se passou com um sopro. Houve muita comida, muita conversa jogada fora, muitos nomes apresentados e muitos, muitos, muitos lances de escada superados.
Sendo nova, ainda haviam alguns bravos soldados que se aproximavam dela para saber "qual é a de Carmen Zabinni", e ela está se cansando. Por muitos momentos constrangedores, ela teve que fugir com Jules de garotos idiotas, engraçadinhos demais para seu gosto ou simplesmente absurdamente metidos. Alguns britânicos são insuportáveis.
Ignorando pessoas que lhe dão dor de cabeça, a Zabinni se aproximou bastante de Jules Quinn, estando sempre perto da garota, quase que vinte e quatro horas por dia, elas se deram muito bem logo de cara. A amizade é leve, Quinn é uma pessoa natural, genuinamente boa e interessada em aprender coisas novas, escapando do estereótipo da casa para qual fora sorteada.
— Não, não ria de mim!— Jules censura estapeando o braço da amiga, o que só piora a resistência da mesma.
— Mas é tão simples!
— Você faz parecer que é, mas não é!— reclama a Quinn, saindo de perto de Zabinni. A última tira o teclado do colo e dá a volta na cama para abraçar a amiga que cruza os braços finos e faz uma careta de emburrada.
— Não chore.
— Ah, cale a boca.— Jules bufa, ficando vermelha. Carmen a solta e balança a cabeça.
— Vamos, não se chateie, a maioria das pessoas leva até seis meses para tocar o teclado com a mínima destreza.
Jules arqueia a sobrancelha e coloca as mãos na cintura.
— Quanto tempo você levou?— ela pergunta. Carmen recolhe os lábios querendo rir novamente. Quem cala, consente. Jules previu e seu semblante foi endurecendo.
— Meu pai é músico, eu aprendi quando criança, não me lembro exatamente quanto tempo levou— ela começa a se justificar enquanto Jules começa a sair do quarto com o queixo erguido. Ela não está chateada de verdade, em parte, ela quer apenas sair do quarto pelo menos um momentinho.
— Que exibida, jogando na minha cara que aprendeu a tocar mesmo antes de saber andar!— ela deixam o dormitório em passos apressados, descendo as escadas encaracoladas para a comunal praticamente cheia de estudantes.
— Não foi isso que eu disse!— Carmen diz, divertida. Jules a deixa envolver seu braço ao dela e as duas olham ao redor— Só estou dizendo que a prática leva à perfeição.
— A perfeição não existe, o amadorismo sim é feito para todos.
— Ah, a perfeição existe, eu mesma já a atingi.— Carmen se gaba, sarcástica. Jules a lança um olhar de tédio e a Zabinni esboça um sorriso largo e zombeteiro— Eu só estou brincando.
— É melhor mesmo.
— Você queria mesmo fugir do quarto, né?— Carmen inclina a cabeça para o lado. Jules sorri, desistindo de fazer cena.
— Droga, fui descoberta.— finge lamentar estalando a língua.
— Sua atuação é fraca, lamento ser a tal a te dizer isso.
— Você é terrível!— Jules ri e arrasta a amiga em direção a saída da comunal.
— Muitos me disseram isso.— Carmen finge pensar em voz alta. Jules revira os olhos e balança a cabeça.
— Vamos roubar alguma coisa da cozinha, meu corpo está pedindo por proteína!
Elas esperam pacientemente até que a passagem se abra, e quando isso acontece, por um incrível acaso do destino, James Potter está prestes a entrar junto de Peter Pettigrew. Os casais param de se mover e se encaram, James de frente para Jules e Peter de frente para Carmen.
O Potter logo encara a Zabinni e sorri.
— Ora, mas que prazer. Bom dia.— James levanta as sobrancelhas e puxa Peter para o lado para que as garotas tenham espaço para passar. Carmen bufa, impaciente. Teatralmente, o Potter faz uma reverência com os olhos fixos em Carmen.— Senhorita.— ele só tem um objetivo.
Carmen o olha com certo desprezo e solta uma risada nasalada. As garotas passam e vão descer as escadas. Peter encara James.
— Ela não está nem um pouco na sua.— comenta o loiro, sorrindo.
— Cale-se, seu virgem!— James dá um tapa no seu peito o arrancando uma risada e Peter vai para dentro do dormitório. James espera no corredor, os olhos cravados nas garotas degraus abaixo, ele só precisa de um sinal.— Vamos lá, vamos lá.— ele murmura para si mesmo, uma pequena torcida. Quer ter uma base no que se apoiar quando for fazer toda uma palestra para mostrar para os outros o quanto eles estavam enganados.
De cara é uma brincadeira boba. Um jogo de ego que James não se encontra nem que seja minimamente disposto a perder. Ele sabe que não são todas as garotas que vão cair no seu charme, já até está se acostumando com a ideia, depois de quase dezoito anos, um homem tem que saber lidar com rejeição. Tudo bem levar foras em uma festa e nunca mais ter que tentar nada com a garota, só que ele não levou um fora, ele sentiu como se suas asas tivessem sido cortadas antes mesmo que ele soubesse o que seria voar.
Carmen fizera exatamente como Lilian Evans. As duas previram que uma hora seriam seu alvo, por isso tão logo tentaram o fazer perder as esperanças. A maioria adia esse joguinho, mas não foi o que elas fizeram.
Ah, que erro.
Quando Carmen olha por cima do ombro para verificar se ele ainda está lá, o Potter sorri divertido, a garota vira o rosto para frente rapidinho, não gostando nada de ter sido pega no flagra. Era esse sinal que ele precisava.
— Ah, ela está na minha sim.— mumura Potter passando as mãos nos cabelos, dado por convencido, ele se põe para pensar em um plano de aproximação, James ajeita a gola da camisa social branca que veste e vai para dentro da comunal deslizando como um surfista nos ladrilhos frios.
— Gostaria de saber, Pontas— Peter Pettigrew estava esperando o amigo do lado de dentro, escorado em uma estante de livros que parecia intocada— qual parte das ondas de desprezo que ela irradia por você, você não entendeu?
— Ela não me odeia, mocinho.— Potter fala colocando as mãos nos bolsos da calça, ele soa como se estivesse conversando com alguém bem mais jovem— Nem tudo o que uma mulher diz, é o que ela quer dizer.— o moreno bate na própria testa e ri— Pra quem que eu estou falando? É que você não tem muita experiência com mulheres.— provoca.
Mas o ego de Peter não é tão frágil assim.
— Aham, e você tem muita.— a voz do loiro pesa em sarcasmo. Os dois se entreolham.
Por muitas vezes, entre os Marotos, falar é trivial, completamente dispensável. Eles gastam tanto tempo juntos que as vezes é como se dividissem o mesmo cérebro. Eles são todos uma coisa só, melhores amigos e almas gêmeas para sempre, eles prometeram, já que se entenderam tão bem logo do começo. Este momento é um dos que eles não precisam abrir a boca para se expressar, e agora James Potter está avisando que é melhor Peter Pettigrew correr.
Um grande sorriso ilumina o rosto do loiro e o mesmo acata imediatamente com a recomendação não verbalizada, ele tem amor à própria vida. Os dois disparam em direção ao dormitório, mas os pensamentos de James Potter ficam bem mais atrás.
Ele sabe que Carmen Zabinni não é uma fã sua, porém, tem mais certeza ainda que ela não o detesta porque se não, pra que mais ela olharia para trás? Tem alguma coisa ali, ele tem esse pressentimento.
James quer mesmo conhecer Carmen, mas por onde começar...?
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