Crianças mal criadas
Carmen Zabinni sempre odiou mudanças. Desde quando era criança, seus pais, uns tremendos de uns aventureiros, nunca conseguiam se aquietar por tempo demais em um lugar só. Sempre apareciam problemas com os vizinhos, com a casa, ou com a localização e então eles tem que correr dali o mais rápido possível, arrume as coisas, despeça-se de seus amigos e dê adeus às pessoas que poderiam ter mais relevância na sua vida!
Depois de um tempo sobrevivendo de tanta instabilidade, meio que vira rotina. Por isso ela não se importa tanto quanto antes. Carmen respira fundo enquanto mais um ciclo se inicia e só quer saber como está sua grade escolar depois dessa virada drástica, a mudança foi de continente dessa vez. O lugar parece fantástico, mas ela não confia que poderá ficar por mais que seis meses. É sempre assim...
Está bem, talvez ela esteja com um pouco de raiva também, mas não é algo que ela pode conter. Ela só queria poder criar raízes em um lugar, mas sabe que enquanto viver com seus pais, não será tão fácil.
Ela pensa em como precisa mudar isso urgentemente. Imediatamente.
Como sempre, as pessoas a cercam como se ela fosse a mais nova atração. Tão empolgante! Um bando de garotas estranhas ficam a tocando, sua pele, seu cabelo, suas vestes. Carmen não se importa muito com isso mesmo que seu subconsciente a projete como um animalzinho preso em uma gaiola. Uma atração de circo.
— Uau, seu cabelo é macio, que feitiço você usa?— pergunta uma garota atraindo o olhar de Carmen.
Ela só queria seguir aquela tal monitora como todas as novas crianças, encontrar seu mais novo quarto e finalmente descansar. Ela se sente emocionalmente cansada, precisa de uma pausa mesmo que tenha certeza que não vai conseguir dormir.
As primeiras noites sempre são as piores, não é nunca o mesmo colchão nem o mesmo travesseiro, nem os mesmos lençóis. Adaptações são necessárias para ter aptidão em sobrevivência.
— Eu não preciso usar magia no meu cabelo.— ela diz com um forte sotaque francês. Fora criada na França até os sete anos de idade, que foi a época que seus pais decidiram que ela já estava grande o suficiente para os acompanhar ao redor do mundo. Ela gosta de visitar os avós lá de vez em quando.
— Ah, claro que não.— a garota sorri como se não acreditasse nem um pouco e soltou a mecha do rabo de cavalo de Carmen. A novata se segurou para não revirar os olhos e as perguntas continuaram enquanto elas subiam incontáveis lances de escadas.
Carmen estava começando a se irritar. Não costuma praticar muitos exercícios então estava entrando em um verdadeiro teste de sanidade. Estava ofegante, mas lutou para manter alguma postura digna. Suas pernas começaram a protestar, o suor começou a brotar e as vozes das estranhas eram altas e pareciam ecoar para todos os lados. Já que ela não era objetiva em nenhuma resposta, suas abelhinhas começaram a deduzir.
— Esse lugar não chega nunca?— ela reclama, para ninguém em especial.
— Estamos quase lá, bobinha!— uma das garotas ri e empurra o seu ombro com uma força desnecessária que quase a faz cair, tropeçando nos degraus que nem uma idiota.
A Zabinni congela no meio da escada e se volta para a garota que a empurrou a encarando inexpressiva, porém, com tanta intensidade que a outra se sentiu coagida. O grupo de seis garotas parou no caminho causando uma certa comoção. Zabinni odeia ser o centro das atenções, foi tudo muito breve, mas bastou para que criasse um clima de merda.
Carmen tem lá seus problemas em lidar com sua raiva, e um ótimo gatilho para que ela chegue muito perto de estourar é ser empurrada. Em quesito de paciência, ela puxou seu pai.
Ela respirou fundo e ergueu a barra de sua capa, continuou a subir as escadas sem mais nenhuma companhia. Finalmente.
No topo das escadas, os mais novos alunos foram colocados na frente para que pudessem ouvir a monitora, então alguns bons colegas de casa abriram espaço para que ela passasse. Para amenizar as encaradas que recebia, ela esboçou um pequeno sorriso amarelo olhando ao redor e focou os olhos na monitora loira de cabelos cacheados que estava na frente de um grande quadro de uma mulher gorda vestida como se estivesse tirando férias na Grécia Antiga.
— Boa noite aos mais novos alunos, eu me chamo Marlene Mckinnon e sou a monitora chefe da Grifinória.— começou a cacheada— E, sim, infelizmente vocês vão ter que subir todos esses lances de escada e descê-los todos os dias. Repetidamente.
Carmen se sentiu murchando.
A loira, Marlene, ofereceu um sorriso e a encarou.
— Sejam mais do que bem vindos à Grifinória, espero que se divirtam conosco assim como esperamos nos divertir com vocês. Qualquer duvida ou problema que vierem a ter, podem vir até mim.— ela apontou o quadro atrás de si e a grande mulher do quadro ajeitou os cabelos negros como se fosse necessário deixá-los ainda mais perfeitos.— Esta é a Mulher Gorda, é para ela que vocês terão que dar a senha se quiserem ir para o seu dormitório e nossa comunal. A senha mudará periodicamente, de mês em mês, e a Mulher Gorda não lhes dará dicas, tentem sempre se manter atualizados! A senha atual é "pão de banana".
Carmen levantou a sobrancelha e olhou ao redor se perguntando quem que dava aquelas senhas tão criativas. Se bem que... é, ela não pode ser tão dura, ficaria triplamente mais irritada se tivesse que subir todas essas escadas e ainda ter que resolver um enigma no fim de cada dia. A passagem se abriu e de repente aquele espaço pareceu pequeno demais para todos passarem ao mesmo tempo. Ela preferiu se resguardar a distância por um tempinho até todos passarem.
— Não.— Remus diz pegando James pela nuca assim que o Potter ameaçou mudar de curso da fila que haviam se enfiado para serem uns dos primeiros a entrar na comunal. James bufou e obedeceu, lançou mais uma olhada na direção de Carmen Zabinni que estava ocupada em olhar ao redor enquanto todos entravam na comunal.
— O que foi?— ele bateu no braço do amigo para se soltar.
— Você não vai fazer a garota odiar nossa escola logo na primeira noite dela, Potter.— ralhou o Lupin aos sussurros, não precisava que os outros ouvissem tal vexame que seus amigos estavam prestes a causar.
— O que demais eu estaria fazendo? Eu acho que ela me deve desculpas.— diz o Potter, indignado. Ele poderia deixar a história de lado, mas claro que não tomaria tal decisão madura. É pedir muito dele. Como é a primeira noite do ano, os alunos em geral não quiseram demorar demais na comunal, o trafego se dividiu nas escadas que levariam aos dormitórios dos meninos e aos que levariam ao dormitório das meninas. Os Marotos ficaram.
— E é culpa dela se você usa um repelente natural para afastar as garotas mais gatas? Não se preocupe, amigo, como você não conseguiu, eu posso tentar conquistá-la no seu lugar, sabe como é, é mais fácil para mim.— provocou Sirius Black girando e sentando-se no suporte do sofá vermelho. James olha torto e o dá um puxão de cabelo fazendo com que o Black tombasse para o lado, estabanado.— Au! Ei!— o moreno esfregou o couro cabeludo, ficando irritado.
— Ela foi extremamente rude, me deve desculpas!— diz o Potter. Sirius se aproxima e devolve o puxão de cabelo. Eles começam a se empurrar.
— Parem com isso.— Remus pede, impaciente. Está de barriga cheia e só quer ter uma boa noite de sono, é pedir demais que seus amigos não hajam como crianças mal criadas?
— Talvez tenha sido extremamente rude porque você é extremamente feio!— ria o Black insolente, provocando a ira do seu amigo.— Ela sabia que não valia a pena dar atenção a um trocinho que nem você.
— Trocinho?!— o Potter se ofendeu e pulou encima do amigo, os dois caíram no carpete vermelho e fino.
— Ah, que seja.— suspirou Remus Lupin passando por cima deles e simplesmente se dirigindo para o seu dormitório, ele desiste muito facilmente. Peter o seguiu, bocejando.
— Boa noite, rapazes!— ele se despediu, era rotina ter esses dois se estapeando. Minutos depois eles voltariam a rir juntos, seus amigos sabiam.
— Seu seboso nojento! Eu sou lindo!— James ficou por cima na briga empurrando a cara do melhor amigo para o lado, queria esfregar a cara dele no chão— Admite, admite que eu sou lindo!
— Nunca!— o Black não conseguia parar de rir, estava começando a ficar vermelho.
— Retire o que disse, seu bastardo!
— Prefiro ser pisoteado por um bando de centauros, seu cego desgraçado!— e dizendo isto, Sirius tirou os óculos do amigo e os jogou para longe. Muito amorosos, francamente. Os óculos do Potter voam para os pés de Carmen Zabinni, mal ela entra na comunal, tendo optado por ser a última exatamente para evitar esse tipo de coisa. Ela olha os garotos no chão que ficaram imóveis ao notar sua chegada e depois olha os óculos nos seus pés. Ela se abaixa para pegá-los pelas hastes para não manchar as lentes. Sua mãe nunca viveria sem os dela. James cerra os olhos forçando a visão e sai de cima do amigo ao ser empurrado, sentando-se com as costas no sofá. Só sabia que tinha alguém ali, mas estava tudo embaçado demais para que ele reconhecesse daquela distância e com aquela iluminação. A sombra se aproximou revelando aos poucos sua forma. Oh.
— Talvez isso seja seu.— Carmen se inclina na direção dele e o estende os óculos que James não demora em pegar de sua mão para colocar no rosto. Ele pode vê-la com clareza depois. Ela consegue ficar mais bonita ainda de perto.
— Hã, valeu.— ele respondeu e ela assentiu, procurando pelo lado que as garotas deveriam ir e logo se afastando sem olhar para trás. James franziu a testa, confuso. Por que ela o ajuda em um momento e no outro age como se ele nem tivesse falado com ela?
— Já acabou de babar?— Sirius bateu em seu peitoral, se sentando e atraindo seu olhar. O Black sorria maliciosamente— Você estava com a maior cara de idiota, tinha como se entregar mais?
— Fica na sua, cachorrinho!— o Potter riu e empurrou a cabeleira do seu melhor amigo, levantando-se em um pulo pouco charmoso. Ele encarou a porta que Carmen havia atravessado e cerrou os olhos azuis— Ah, ela não é tão malvada assim.— ele olha para Black no chão como se tivesse sido ele quem o deu tal ideia. Sirius revira os olhos e se levanta como um gato se espreguiçando.
— James Potter, senhoras e senhores, o ser mais sugestionável da face da terra!— ironizou o Black batendo no ombro do outro e se encaminhando para o dormitório também.
James mordeu o lábio e processou aquilo por uns segundos.
— O que você quis dizer?— perguntou, seguindo o amigo com pressa.
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