Capítulo 5
- Ainda sem sinal do Kreacher? - perguntou Ashley, sentando-se à mesa com a sua chávena de chá fumegante.
Harry abanou a cabeça, desanimado. Era a terceira noite que Kreacher se ausentava e a tensão aumentava consideravelmente entre todos eles a cada minuto que passava. Harry e Ashley mal se falavam, ao passo que Ron e Hermione passavam o dia a implicar um com o outro, com Ron cada vez mais irritadiço e nervoso por não ter notícias da sua família. Os dias eram longos e frios e Ashley passava-os no quarto de Regulus, à procura de sabe-se lá o quê. Informações sobre ele? Sobre Cora? Sobre Sarah?
Com os gritos de Ron e Hermione, o Potter pôs-se de pé, claramente irritado. Ley procurou respirar fundo, tentando organizar as ideias em silêncio. A procura por mais Horcruxes estava estagnada por parte de Harry devido à espera que Kreacher regressasse com o ladrão que roubara o medalhão de Slytherin mas Ley não conseguia simplesmente ficar sem fazer nada.
Ela precisava encontrar a taça de Hufflepuff.
A sua taça.
- Não se mexa! - exclamou Harry no corredor.
Ashley pôs-se imediatamente de pé, de varinha em riste. Hermione e Ron seguiram-na pela cozinha fora, os três colocando-se atrás de Harry, protegendo-o.
- Poupem a munição, sou eu, o Remus!
A figura de Lupin fez-se ver na escuridão. Ashley semicerrou os olhos, sabendo que o verdadeiro Remus lhe diria para não baixar a guarda de imediato, não antes de confirmar que era mesmo ele.
- Oh, que grande alívio. - disse Hermione, baixando a varinha juntamente com Ron.
- Mostre-se! - ordenou Harry, firme.
- Remus? - chamou Ley, incerta.
Lupin deu outro passo em frente, deixando que o seu corpo fosse iluminado pela luz do candeeiro, as mãos erguidas no alto em sinal de rendição.
- Chamo-me Remus John Lupin, sou um lobisomem, tenho uma filha adotiva chamada Laurel Black Ravenclaw, sou conhecido por Moony e sou um dos quatro fundadores do Mapa do Salteador, casado com a Nymphadora, conhecida por Tonks, e fui eu que te ensinou a produzir um Patronus, Harry, que toma a forma de um veado. Ashley, fui eu que te ensinei a maior parte da técnica de duelar e o teu Patronus é um texugo, foi a própria Laurel que mo disse uma noite ao jantar.
- Oh, assim está bem mas eu tinha de verificar, não era? - perguntou Harry, meio envergonhado.
A Hufflepuff correu ao encontro do seu antigo professor, envolvendo-o num abraço apertado. Remus abraçou-a de volta, soltando um suspiro de alívio ao vê-la sã e salva.
- Encontraste-a? - perguntou, baixinho.
Ashley abanou a cabeça, triste. Ao longo dos anos, desenvolvera a capacidade de encontrar Laurel estivesse ela onde estivesse. Em Hogwarts, conseguia dizer exatamente em que parte do castelo ela se encontrava. Sabia perfeitamente que isso estava relacionado com ser a Herdeira de Hufflepuff e há muito que aceitara o seu papel naquele jogo.
Laurel era a Rainha Branca.
Harry o Cavalo Branco.
E Ashley era a Torre Branca, a peça na retaguarda pronta a dar a vida pela sua Rainha.
Agora, nada sentia. Sabia que Laurel estava viva, sentia as dores que ela sentia, mas não conseguia encontrá-la e isso frustrava-a.
- Nem sinal do Severus, então? - questionou Remus, soltando-a.
- Não. - respondeu Harry, prontamente - O que é que se passa? Estão todos bem?
- Sim. - tranquilizou-os Remus, visivelmente exausto - Mas estamos todos a ser vigiados...
Ley deixou-os afastarem-se, permitindo-se ficar em silêncio. Fechou os olhos, procurando dentro de si o fio condutor que a ligava a Laurel.
Nada.
Respirou fundo, tentando de novo. E de novo. E de novo.
A Hufflepuff deu um murro na parede, frustrada. As lágrimas subiram-lhe aos olhos e Ashley deixou-se escorregar pela parede abaixo, o corpo sacudindo-se pelo tremor que sentia. Sentia saudades da sua melhor amiga, da sua namorada, do seu irmão...
- Eu só quero a minha vida de volta. - murmurou para si mesma, encostando a testa aos joelhos.
Ashley era um sopro, uma brisa suave numa tarde quente de Verão. Era a menina dos sorrisos felizes, dos abraços fortes, das cores nas suas roupas. Era feita das tardes com as suas amigas, das risadas com o seu irmão mais velho, do seu dormitório dourado em Hogwarts.
Esfregou a cara repetidamente, recompondo-se. Precisava continuar, precisava erguer-se e não desistir. A vida de Laurel dependia disso mas não só; a vida de Harry, de Meredith, de Hermione, de Ron...
- Nasci para curar e proteger. - sussurrou para a escuridão, pensando na sua mãe, no quão corajosa ela era - Morrerei a fazê-lo se for esse o meu destino.
Devagar, apoiou-se na parede, pondo-se de pé. Secou as lágrimas nas mangas da sua velha camisola vermelha e ajeitou os canudos rebeldes num rabo-de-cavalo apertado. Inspirou fundo, sentindo.se mais leve.
- Eu compreendo se não puderes confirmar isto, Harry, mas a Ordem está convencida de que o Dumbledore te encarregou de uma missão. - estava Remus a dizer, erguendo os olhos para a encarar brevemente.
Os olhos de Lupin hesitaram ao analisar a face de Ley, ainda com vestígios de choro. Ashley sorriu levemente e o lobisomem focou-se novamente em Harry, que lhe respondeu:
- É verdade e o Ron, a Hermione e a Ashley estão ao corrente e vão acompanhar-me.
- Podes revelar-me do que se trata essa missão?
- Infelizmente, Remus, não posso. Se o Dumbledore não o fez, acho que não me cabe a mim fazê-lo.
Remus passou as mãos pelo cabelo espesso, mas grisalho. Tinha novas cicatrizes no rosto e as olheiras estavam mais escuras que antes.
- Já estava à espera dessa reação. - disse Lupin com um ar desapontado - Mas talvez eu te possa ser útil. Tu conheces-me e sabes do que sou capaz. Eu podia ir convosco para assegurar a vossa proteção. Não haveria necessidade de me dizerem o que andam a fazer.
Harry hesitou. Parecia achar a proposta de Remus extremamente tentadora, ao passo que Ashley franziu o sobrolho. Hermione fitou o lobisomem, atónita.
- Mas então e a Tonks?
- O que tem? - retorquiu Lupin.
- Vocês são casados. - disse Ley, como se fosse óbvio - O que ela pensa de vires connosco?
- A Tonks vai ficar absolutamente segura em casa dos pais.
O coração de Ashley apertou-se. O rosto de Remus era indecifrável mas ele tinha o mesmo hábito que a filha quando escondia alguma coisa: encarar o chão e recusar-se a olhar alguém nos olhos.
- Remus... - chamou Hermione, num tom cauteloso- Está tudo bem... sabe o que quer dizer... entre si e a...?
- Está tudo ótimo, muito obrigado.
Ashley ergueu a sobrancelha.
- Claramente não está.
Lupin prensou os lábios, fitando Ashley com um semblante carregado.
- A Tonks vai ter um bebé.
Ley engasgou-se, surpreendida.
- Oh, que maravilha! - exclamou Hermione.
- Excelente! - concordou Ron.
- Parabéns. - disse Harry.
Os olhos de Lupin pairaram em Ashley, que nada disse. O lobisomem esboçou um sorriso artificial, dizendo em seguida:
- Então, aceitam a minha proposta? Os quatro passam a ser cinco? Não acredito que o Dumbledore se mostrasse contrário a isso, visto que, afinal de contas, me nomeou vosso professor de Defesa Contra as Artes Negras...
- E vais abandonar a Tonks?
A voz de Ley saiu mais ríspida do que pretendia. Ela confiava em Remus mas era excelente em ler pessoas, um dom que adquirira com todo o tempo que passara com Laurel. A Ravenclaw era a pessoa mais perspicaz que conhecia, principalmente no que tocava ao seu pai adotivo.
- A Tonks vai ficar a salvo na casa dos pais, eles tomam conta dela. - afirmou Lupin, resoluto - Harry, tenho a certeza de que o James haveria de me querer ao teu lado.
- Bom, pois eu não. - disse Harry, com firmeza - Para falar com franqueza, tenho a certeza que o meu pai haveria de querer saber porque é que não fica ao lado do seu filho.
Lupin ficou lívido, pondo-se de pé. Ashley virou-lhes as costas, tentando abstrair-se da discussão entre eles. A frustração de Remus era quase palpável, o medo de ter condenado o seu filho à doença que o atormentava desde criança toldando-lhe os seus valores e bons princípios.
- Nunca me teria passado pela cabeça. - insistiu Harry - O homem que ne ensinou a combater Dementors, afinal... Não passa de um cobarde.
- Harry! - exclamou Ashley, incrédula.
Remus ergueu a varinha, apontando-a a Harry, que imediatamente voou de encontro à parede da cozinha. O lobisomem deu as costas e saiu, enquanto Ashley corria atrás dele.
- Remus! Remus! - chamou, preocupada.
- Deixa-me em paz. - ordenou Lupin, irritado.
Ley segurou-o pelo braço, forçando-o a encará-la.
- O senhor criou a Laurel com todo o amor do mundo, mesmo com a sua doença. - disse, com carinho - Tenho a certeza que ela não aprovaria a sua atitude em relação ao seu filho.
- O meu filho vai ter vergonha de mim...
- A Laurel não tem, pois não?
Remus prensou os lábios, libertando-se o mais gentilmente que conseguiu do aperto de Ley. Os dois trocaram um olhar significativo, antes de Lupin sair porta fora, deixando Ashley sozinha no corredor. A morena soltou um suspiro, regressando lentamente à cozinha.
- ... Os pais não devem abandonar os filhos a menos... A menos que a isso sejam obrigados. - afirmou Harry, com o corpo a tremer.
Os olhos esmeralda fitaram os âmbar de Ley, que limitou-se a assentir.
Ninguém deveria ser abandonado como ela fora.
**
Na manhã seguinte, Ashley Aparatou suavemente na pedra macia da calçada, os cabelos encaracolados esvoaçando com o vento forte que a assolou.
Londres estava mergulhada numa tempestade.
A jovem olhou para os lados, vasculhando a Diagonal Alley com os olhos. Apenas os Muggles percorriam aquelas ruas, sem fazerem ideia do que acontecia verdadeiramente no seu mundo. Um ou outro feiticeiro destacava-se com os seus chapéus pontiagudos e as vestes compridas, mas mesmo os que se atreviam a viver a sua vida normal pareciam apreensivos, olhando para trás de si como se tivessem a ser perseguidos.
Os olhos âmbar de Ashley piscaram com tristeza ao olhar para a loja de varinhas de Ollivander, agora fechada. O velho homem era o responsável por fornecer varinhas aos novos alunos de Hogwarts há séculos e sempre fora bondoso com todos eles, incluindo Ashley. A jovem mulher suspirou, abanando a cabeça.
Quantos mais inocentes iriam sofrer?
A Hufflepuff abanou a cabeça, sacudindo os cabelos molhados da chuva miúda que caía. Em seguida, adentrou a grande loja onde se situava o gabinete oficial do Profeta Diário, um dos locais mais perigosos para ela se encontrar naquele momento.
Ainda assim, precisava arriscar.
O Profeta Diário era agora controlado por Voldemort, que se apossara de vez do Ministério da Magia. Fora o próprio Remus que lhes contara isso mas Ashley sabia passar despercebida quando queria e necessitava de informações que só iria encontrar em três sítios: Hogwarts, no Profeta Diário ou no próprio Ministério da Magia.
O Profeta Diário era claramente o lugar mais seguro dos três.
- Posso ajudá-la? - perguntou uma mulher ao vê-la entrar.
Ashley ajeitou os seus óculos falsos na cara, semicerrando os olhos ao reconhecer o rosto característico de Rita Skeeter. A jornalista parecia ter subido e muito na vida, tendo praticamente se tornado na Chefe de todos os departamentos da publicação do famoso jornal. Pelas vestes caras e sorriso pretensioso, Ley diria mesmo que Skeeter fora uma das pessoas que mais beneficiara com a morte de Dumbledore, o assunto sobre o qual mais falava nos último tempos.
- Boa tarde... A senhora é Rita Skeeter? - questionou, disfarçando o asco que sentia por aquela mulher.
- Não é óbvio? O meu rosto está em todo o lado agora, querida... Ou estará apenas a ser educada?
Ashley sorriu.
- Chama-se boas maneiras, senhora, não quis ser indelicada. Estava à sua procura porque com certeza poderá ajudar-me. Chamo-me Alisha Snape e sou jornalista...
- Snape? Como Severus Snape? - perguntou Skeeter, com os olhos muito brilhantes por detrás dos seus característicos óculos.
- Exatamente. - confirmou, com firmeza - Sou prima de Severus Snape, já ouviu falar?
- Claro! O futuro Diretor de Hogwarts, claro que sim! Em que posso ajudá-la?
- Eu gostaria de saber se existe algum artigo publicado sobre a Taça de Hufflepuff.
Rita Skeeter franziu o sobrolho, fitando a jovem à sua frente por cima dos óculos.
- Creio que sabe que os objetos dos fundadores de Hogwarts não passam de lendas, correto?
Ashley sorriu, artificialmente.
- Claro mas ouvi dizer que uma senhora chamada Hepzibah Smith tinha consigo a taça... Pensei que houvesse algum registo sobre isso... Afinal, vocês estão a par de todas as noticias mais importantes, correto?
- Do que me recordo, Hepzibah Smith era uma mulher muito rica mas muito misteriosa. Sabe-se muito pouco sobre ela...
- Obliviate.
Ashley virou-se para trás, erguendo a varinha. A mulher caiu no chão, os olhos revirando-se nas órbitas.
- Penso que posso ajudá-la melhor do que uma mera jornalista, Miss Diggory.
A morena sorriu, baixando a varinha.
- Hufflepuff, professor Snape. O meu nome é Ashley Hufflepuff.
Snape prensou os lábios.
- Um prazer voltar a vê-la, Miss Hufflepuff.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro