Capítulo 27
Aviso: contém cenas que podem ser desconfortáveis para algumas pessoas, podem passar à frente, não vai afetar a história.
*não é hot mas anda lá perto*
Ela sonhava.
Não era bem um sonho, mas sim uma memória, uma das últimas que tinha antes do seu mundo desabar.
Revivia aquela memória com tanta intensidade que sentia a respiração de Draco na sua nuca, como se estivesse novamente deitada ao seu lado. Os braços dele rodeavam-na pela cintura, o queixo perfeitamente encaixado na curvatura do seu pescoço. Ela era pequena, ele altíssimo, a seu ver. Deitados juntos, faziam a conchinha perfeita e Laurel não podia estar mais feliz.
- Não estás a dormir. - resmungou ele contra a sua pele, arrepiando-a.
- Claro que estou. - replicou ela, prontamente.
Mesmo de costas, conseguia sentir o sorriso dele, quase conseguindo imaginar o seu revirar de olhos impaciente.
- Como é que estás a dormir e a responder-me?
- Acordaste-me com a tua pergunta...
- Então já não estás a dormir. Se te acordei...
Laurel virou-se para ele, deitando-lhe a língua de fora. Com o seu habitual ar de superioridade, Draco abanou a cabeça, desdenhoso.
- Foste apanhada. Não tens vergonha em mentir-me?
Os olhos cinzentos dele fitavam-na, como se memorizasse cada detalhe do seu rosto. Um sorriso gentil formou-se lentamente, emoldurando-lhe a face bela e dando a Draco a possibilidade de ver novamente o porquê de se ter apaixonado por ela.
Nunca ninguém sorrira para ele como ela fazia.
Nunca ninguém fora bondoso com ele como ela era.
Muito antes de serem namorados ou sequer amigos, Laurel preocupara-se. Fora gentil o suficiente tantos anos antes, à beira da lareira da Sala Comum dos Slytherin, quando tudo o que ele lhe fazia era infernizar-lhe a vida.
Ela ouvira-o e fora das poucas a saber o quanto Draco detestava ir a casa.
- Perdeste aqui alguma coisa? - questionou-o, beijando-lhe a ponta do nariz.
Draco recuou, surpreendido. O gesto de carinho fora tão natural e espontâneo que o rapaz sentiu-se corar, sem saber o que fazer. Laurel fitou-o, num misto de curiosidade e compaixão. Não querendo embaraçá-lo, aconchegou-se a ele, as mãos afagando-lhe o peito, acariciando-lhe a pele a descoberto.
O toque dela era fogo para ele. Com apenas a sua camisa entreaberta, Laurel conseguia ver-lhe o peito subir e descer, o coração dele batendo com força contra a palma da sua mão. Inclinou-se para depositar um beijo casto exatamente onde o coração dele batia, erguendo os olhos para ver a sua reacção.
As pupilas negras de desejo de Draco fizeram-na corar.
- Estás a testar-me, Laurel?
A ruiva engoliu em seco, os olhos safira perscrutando-lhe o rosto. Namoravam fazia muito pouco tempo mas ambos sabiam que o sentimento que partilhavam não era novo. Pertenciam a mundos diferentes, lados opostos na Guerra que estava por vir. O tempo escasseava e Laurel sabia muito pouco sobre si mesma, sobre o seu futuro, sobre o amanhã.
Estaria viva?
O dormitório dos Slytherin onde Laurel vivera nos últimos dezasseis anos estava mergulhado no silêncio, iluminado pelo luar. Estavam sozinhos e o único som que se fazia ouvir era a respiração entrecortada de Draco à medida que ela se erguia, colocando-se no seu colo enquanto desabotoava o resto da camisa branca que ele usava. Com um gesto da sua mão direita, a camisa desapareceu, caindo no chão algures, bem longe da sua vista.
Draco ergueu uma sobrancelha.
- O que estás a fazer? - perguntou-lhe, a voz saindo-lhe rouca.
- Estou a despir-te. - sussurrou a ruiva, os olhos safira brilhantes - Gostava que fizesses o mesmo comigo.
O rapaz à sua frente fitou-a, estático. Laurel não era a primeira rapariga com quem faria o que ela queria fazer, mas não era a mesma coisa. Apenas o olhar de desejo dela sobre si era o suficiente para Draco querer perder-se nela, os lábios entreabertos dela apenas aguardando que ele a tomasse. Seria a primeira vez dela, ele sabia disso.
- Acho que não devíamos...
Laurel inclinou-se, colando os lábios nos dele. O corpo pequeno dela remexeu-se sobre si e Draco grunhiu, levando as mãos à sua nuca e puxando-a para si, sem gentileza.
Esse era o seu medo. Draco Malfoy nada tinha de gentil ou romântico e Laurel era tão pequena, tão bondosa que ele tinha medo de a magoar. De não lhe dar tudo o que ela merecia. De perder o controlo.
Pela primeira vez na vida, Draco Malfoy sentia-se inseguro com uma mulher.
Quando ela se afastou e despiu a camisa de pijama que vestia, deixando o seu corpo nu visível para ele e só para ele, Draco recordou-se que aquela não era qualquer mulher.
Era Laurel.
- Por Merlim... - rosnou ele quando ela se inclinou, as mãos acariciando a pele marfim com receio - Laurel, não sei se devo... É a tua primeira vez e...
- E quero que sejas tu. - afirmou ela, resoluta - Sempre foste tu, mesmo que eu não quisesse. Não escolhemos quem amamos. - Laurel afagou-lhe a face, com carinho - Ama-me como és, Draco Malfoy, e eu serei a mulher mais feliz do mundo.
- Eu não sou...
- Bom rapaz? O meu príncipe encantado? - Laurel riu, o corpo vibrando em cima dele, deixando-o ainda mais desnorteado - Deixaste isso bem claro há uns anos atrás. Não quero que sejas. Sou gentil e romântica pelos dois. Eu quero-te a ti. - os olhos safira fitaram-no, perigosos, provocadores, como se ela soubesse exatamente o quão perto de perder o controlo ele se sentia - Eu amo-te, Draco Malfoy.
Por instantes, Draco permaneceu quieto, a respiração de ambos misturando-se, os corações batendo em sincronia.
Depois, ele puxou-a para si, num beijo faminto.
Firme, rolou por cima dela, a mão esquerda segurando-lhe a nuca enquanto a direita lhe percorria o corpo, arrepiando-a. Quando sentiu a palma da mão de Draco arrebatar-lhe o seio desnudo, Laurel gemeu contra os lábios dele, sentindo o seu íntimo pulsar ao ouvi-lo rosnar enquanto se afastava. Sem demoras, abocanhou-lhe o mamilo sensível, apreciando a sua pele suave, o seu cheiro, o seu corpo.
- Draco...
Com brusquidão, ele arrancou-lhe as peças de roupa que ainda a cobriam, fazendo o mesmo com as dele. Não iria apressar nada; queria saboreá-la, beijar cada canto do seu corpo, levá-la à loucura. Quantas vezes Laurel o desafiara? Quantas vezes ela lhe provara que nada nem ninguém a controlava, que ela era dona e senhora de si mesma?
Lentamente, Draco afastou-lhe as pernas, os olhos cinzentos buscando os dela. Arfante, Laurel abriu os olhos safira, enevoados pelo prazer e pelas sensações que ele lhe provocava.
O Malfoy procurava o consentimento dela.
Ela sabia muito bem o que queria, por isso assentiu.
E quando a língua dele a envolveu no seu lugar mais íntimo, Laurel segurou-lhe os cabelos, os olhos revirando-se dentro das pálpebras, prazer e amor trespassando-lhe a alma e o corpo.
E quando ela se desmanchou, gritou o nome dele, até ele a beijar, esfomeado, sedento, apaixonado.
No último segundo, Draco voltou a olhar para ela, pedindo, os olhos cinzentos mais do que desejosos. Com um beijo casto, ela consentiu e o homem que ela amava preencheu-a, o fogo que ardia entre eles intensificando-se.
**
Ela acordou, sobressaltada.
Arfou, levando a mão ao peito, onde o seu coração batia desenfreado.
O seu íntimo pulsava, as últimas imagens daquela memória desvanecendo-se lentamente, para seu desespero. Queria ficar ali, na sua bolha de felicidade e amor. Afagou a barriga, sentindo as lágrimas acumularem-se nos olhos ao recordar que nunca estaria ali nada.
Não que quisesse, não para já. Ela e Draco tinham falado sobre isso, pois era algo importante para ambos. Sendo um Malfoy, era importante para Draco ter um descendente, tal como Laurel desejava ter alguém para a suceder. O legado Ravenclaw, por mais conturbado que fosse, fazia parte de si e de quem era e a maternidade fazia parte disso. Todas as mulheres Ravenclaw tinham sentido o chamamento da maternidade, algo tão importante para elas como a inteligência e a sabedoria.
Laurel não teria nada disso e Draco nunca se poderia casar com ela nessas circunstâncias.
- A chorar como um bebé? Que patética.
A Ravenclaw rangeu os dentes, puxando as roupas da cama para o lado. Colocou-se pé com irritação, passando pela miragem que a atormentava à alguns dias.
Tom Riddle sorriu-lhe, seguindo-a com os olhos mortos e gélidos.
- Bom dia, minha Laurel.
- Sai daqui. - resmungou ela, pegando na escova de cabelo que necessitava - Não estou com paciência para ti.
- Pena que eu faça parte de ti, não é?
Laurel suspirou, enfrentando a memória. Não estranhara quando a figura mais nova de Voldemort se materializara perante si. Tom Riddle sempre a atormentara, quer em sonhos quer em alucinações e a solidão provavelmente forçara a sua mente a conjura-lo para lhe fazer companhia. Odiava-o, claro. Tom recordava-a da Magia Negra que estava dentro dela, sedutora, imprevisível, inevitável.
- Deixa-me em paz. - ordenou, friamente.
- Não posso, lamento. Com que então estavas a sonhar com aquele Malfoy? Minha Prometida, sabes que não lhe pertences, não sabes? Nunca mais o verás, nunca mais lhe tocarás...
- Neste momento se lhe tocasse era para matá-lo. - resmungou Laurel, embora não fosse verdade - Sai da minha cabeça, está bem? E tira essa ideia idiota de que sou tua Prometida... Ou de Voldemort, qualquer um de vocês sabe que isso nunca vai acontecer.
- Ambos sabemos que já aconteceu, não é? Leste o livro, conheces a verdade.
Laurel engoliu em seco, fitando o Livro dos Fundadores. Não era um tomo grande e revelera-se algo muito diferente do esperava. Não era um livro que um historiador escrevera; não era apenas um relato contado na terceira pessoa.
Aquele era o diário de Rowena Ravenclaw.
A sua Herdeira sentou-se à beira da cama, abrindo o livro na primeira página. Um retrato da própria Rowena fora pintado na primeira página e Laurel finalmente soube que Matthew Lovelace tinha razão. Na única vez que o vira, tantos anos antes, o historiador reconhecera-a de imediato como uma Ravenclaw.
A razão?
Ela era igualzinha a Rowena.
A fundadora tinha os olhos safira das Ravenclaw, emoldurados por cabelos ruivos ondulados com algumas madeixas douradas, tal como Laurel. O rosto de boneca, as bochechas redondas, o nariz arrebitado... Nem Cora era tão parecida a Laurel como a própria Rowena. Helena Ravenclaw, a própria filha de Rowena e fantasma dos Ravenclaw, nada herdara da mãe. A sua pele não era da cor do marfim e os seus cabelos eram escuros e lisos.
Talvez por isso Helena não gostara dela de imediato. Ela e Rowena não tinham uma boa relação e ver uma miúda, tantas gerações depois, com a beleza e a inteligência que a sua mãe tinha... Talvez fosse demais para Helena Ravenclaw suportar.
- Já leste a parte em que ela se junta a Salazar? - perguntou Tom, aproximando-se dela.
A ruiva assentiu, passando as páginas, parando no dia em que Rowena contava a sua admiração por Salazar.
- Os fundadores eram amigos de infância. - disse Laurel, sabendo que seria escusado guardar os pensamentos para si - Cresceram juntos. Rowena e Helga, Salazar e Godric. Completavam-se, como eu e Ashley.
- Até Godric e Salazar se apaixonarem pela mesma mulher. - continuou Tom Riddle, caminhando lentamente pela penumbra do aposento - Todos adoravam Godric; ele era o fogo dos quatro fundadores, o líder nato, o carismático. Mas Salazar era o crente; a sua paixão ardia mais discretamente, com laivos de frieza e mergulhados num orgulho pelo sangue e pela magia. Rowena foi quem sonhou com Hogwarts, foi ela que quis criar a escola junto com os restantes...
- E foi Salazar quem mais a apoiou. - Laurel assentiu, seguindo as linhas manuscritas com a ponta dos dedos - Ficou apaixonado pela ideia de ensinar magia, de transmitir o conhecimento que tinham aos que não a conheciam. Apaixonou-se pelo ensino, pela transmissão de magia...
- E Rowena por ele. Enquanto a comunidade bruxa via em Godric o herói, Rowena viu em Salazar a mesma sede de conhecimento que ela possuía. Partilhavam os mesmos sonhos, a mesma inteligência voraz, até Salazar...
- Até ele ir longe demais na sua busca por conhecimento.
- Salazar sucumbiu aos encantos da Magia Negra e Rowena seguiu-o, de espontânea vontade. Ele escolheu ensinar os ambiciosos, ela os inteligentes, mas os dois eram iguais. - os olhos de Tom Riddle brilharam de malícia, fitando Laurel, cujos olhos safira esmoreciam - Ela juntou-se a ele, por poder, por conhecimento. Rowena Ravenclaw juntou-se a Salazar Slytherin num ponto da sua vida, mergulhando no que era proibido, em busca de poder.
- Mas ela viu a verdade... Se não fosse Godric...
Tom estalou a língua, desenhoso.
- Se Godric não tivesse metido o bedelho, eles teriam dominado o mundo bruxo. Eles queriam combater a morte, viver para sempre, ressuscitar quem já se fora e quase conseguiam.
Laurel ergueu o queixo, em desafio.
- Quase. Mas Godric e Helga fizeram Rowena ver a verdade, forçaram-na a abrir os olhos e ela escolheu a Luz...
- Ela escolheu as Trevas primeiro.
- Não interessa! - Laurel colocou-se de pé, os punhos cerrados - No final, ela escolheu Godric. Ela escolheu a Luz. Se não fosse pela obsessão de Salazar, o ciclo não estaria viciado e os seus Herdeiros não teriam de sofrer as consequências...
- O ciclo está viciado e por isso tu sabes o que vai acontecer. Pela tua sede de poder, sucumbirás ao chamamento da Magia Negra e serás completamente minha. - Tom aproximou-se dela, a face antiga como o diário de onde ele saíra - Não tens uma escolha, querida.
Os olhos safira de Laurel iluminaram-se. O medalhão de Rowena Ravenclaw brilhou no seu peito, inundando-lhe o rosto com laivos de safira e diamante.
- Tenho. Tenho uma escolha. - fez uma pausa, enfrentando a memória - Escolho Ashley, a minha Herdeira de Hufflepuff. Escolho Harry, o meu Herdeiro de Gryffindor. Escolho-os a eles, sempre.
- E o Malfoy?
Laurel recuou, de sobrolho franzido.
- O que tem o Draco?
Tom Riddle sorriu. Por instantes, o seu olhar pousou na Cobra dos Puros, a serpente de prata sibilando ao senti-lo.
- Porque razão haveria Salazar de criar uma jóia tão poderosa e entregá-la a um Malfoy? Aliás... - ele fez uma pausa, o seu rosto mortífero e belo desvanecendo-se lentamente - A uma Malfoy?
Laurel pestanejou e a memória do Herdeiro de Slytherin desvaneceu-se, regressando ao interior da sua mente.
Atormentando-a, como sempre.
**
Dúvidas? Teorias? Se precisarem, é só dizer!
Para quem queria saber mais informações sobre #Malenclaw.... Aí têm! Eheheheh ❤
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro