Capítulo 20
- Nem acredito que estás aqui... Estás mesmo aqui!
Os braços de Ashley rodearam o pescoço de Meredith com tanta força que o seu corpo cambaleou para trás. Não que ela se importasse com isso ou com o facto de mal conseguir respirar. Tudo o que lhe importava era o cheiro de Ley, o seu toque, o batimento do coração dela perto do seu.
- Onde mais eu estaria? - perguntou-lhe, com sinceridade.
Ley afastou-se, os olhos âmbar marejados de lágrimas. Assim que se viram sozinhos, ela revertera à sua forma humana, enquanto Harry retirava o Manto da Invisibilidade de cima de si e do goblin que o acompanhava. Hermione, disfarçada de Bellatrix, aproximou-se de Meredith com um sorriso no rosto, dando-lhe o abraço mais estranho que a Lovelace já recebera.
- Nunca pensei gostar de ser abraçada pela Bellatrix. - comentou, fazendo Hermione rir.
- Estou uma desgraça, não estou?
- Não é o teu melhor momento. Então, qual é o plano? - Hermione abriu a boca, fechando-a quando Meredith a interrompeu - Não preciso de saber o que vão roubar ao cofre dos Lestrange, só quero perceber como pretendem fazê-lo e como posso ajudar.
- Não vamos confiar em ti.
Com uma mão firme, Harry Potter puxou a figura de Bellatrix para trás. Ao seu lado, Ron aproximou-se ligeiramente de Meredith, olhando atarantado para o melhor amigo.
- Harry, eu sei que ela é uma Devoradora da Morte mas...
- Não existe nenhum mas, Ron.
- Ela salvou-nos a vida, a todos nós. Aquela adaga poderia ter acertado em qualquer um, podia ter-nos matado. - Ron abanou a cabeça, a barba comprida que Hermione criara para o seu disfarce fazendo-lhe cócegas no pescoço - Acho mesmo que ela está do nosso lado.
De braços cruzados, Ron fitou Hermione, como se procurasse a sua aprovação. Ashley trocou um olhar com Meredith, ambas surpreendidas. O Weasley era sempre o mais reluntante em confiar num Slytherin, anos de preconceito bem implantados no seu ser. Quando notou os olhos negros postos em si, Ron corou, sabendo que estava a ter uma atitude muito pouco caraterística de si. Suspirou, procurando endireitar-se e falar o mais firmemente que conseguiu:
- Não estamos em Hogwarts. Estamos presos no banco mais bem guardado do mundo, com o nosso pescoço em risco. Slytherin ou não, Meredith já deu provas suficientes de que não nos vai entregar ao Quem-Nós-Sabemos...
- Ela entregou a Laurel.
A frase pairou no ar, pesada. A morena engoliu em seco, vendo Ley fitar o chão, ciente de que aquilo não era mentira nenhuma. Fosse porque razão fosse, era por causa dela que Laurel fora feita prisioneira. Era por causa dela que Laurel não estava ali com eles. Entregara-a friamente, como tudo o que fazia.
- Acho que ela não o faria se tivesse outra escolha. - disse Ron, pousando a mão no ombro do melhor amigo - Eu sei o que a Laurel significa para ti...
Harry abanou a cabeça, afastando-se. A varinha que tinha em riste não estava firme, tremendo à medida que o Menino-Que-Sobreviveu lutava com o peso que tinha nos ombros. Ele sempre fora o herói, o Cavalo Branco da história. O Escolhido. O Herdeiro de Grynffindor.
Ainda assim, nunca conseguira salvar Laurel. Sempre fora o contrário. Na Câmara dos Segredos, ela protegera-o. No cemitério, ela ficara para trás, forçando-o a fugir. No Ministério, ela estava ao seu lado. Na Torre de Astronomia, ela fora levada, não ele.
Harry era o herói da história e nunca conseguira salvar os que mais amava. Os pais, Sirius, Dumbledore...
Laurel.
- Harry. - chamou Ashley, com suavidade - A Laurel confiou na Meredith. Foi ela que lhe pediu para ser uma agente dupla, sem sequer perguntar a Dumbledore o que ele achava. Vais mesmo duvidar do discerniemento dela?
Os olhos esmeralda suavizaram, a varinha baixando lentamente. O Herdeiro de Grynffindor fitou a Herdeira de Hufflepuff. Havia um entendimento entre eles, Meredith percebeu. Por pior que se dessem, por mais que discordassem, ambos sentiam o peso da culpa a esmagar-lhes o peito, todos os dias.
Ambos sentiam-se responsáveis por eles estarem ali e não Laurel.
- Ela está bem.
Ley arregalou os olhos âmbar na direção dela, observando-a assentir com firmeza.
- Tu viste-a.
Meredith sorriu.
- Ela está viva e pronta para continuar a lutar. Vamos fazer o mesmo ou continuar aqui na conversa?
A pergunta fora para todos mas os olhos negros da Lovelace focaram-se no moreno que a desafiara. Os lábios de Harry mantinham-se pressionados numa linha fina, duvidando, hesitando. Ela entendia. Se Meredith os traísse, a responsabilidade era de Harry, já que era o líder.
Ou pelo menos era nisso que ele acreditava, já que Ashley com certeza não o via assim.
- Vamos continuar. Eles desconfiam, continuamos à mesma?
- Já que viemos até aqui, acho que devemos continuar.
-Ótimo! - exclamou o goblin que Harry trouxera às costas e que se mantivera calado o tempo todo - Bom, precisamos de Bogrod para controlar a carreta; eu já não possuo autoridade, mas não há lugar para o feiticeiro.
- E tu és quem? - perguntou Meredith, vendo-o dirigir-se a ela.
- Griphook, Miss Lovelace. Levei-a muitas vezes ao cofre dos Lovelace, não se recorda?
Meredith encolheu os ombros.
- Estava ocupada a pensar onde ia gastar o dinheiro para reparar em quem me acompanhava. - girou a varinha na direção de Travers, que se afastou - Pronto, ele foi-se esconder. E agora?
- Agora... Descemos.
***
O cofre dos Lestrange estava cheio. Moedas, taças de ouro, poções em frascos cravejados de jóias...
- Achas que encontro aqui uma tiara? - perguntou Meredith a Ashley, que sorriu - Sempre quis uma tiara mas nunca vi nenhuma que me agradasse.
- Sempre foste muito exigente com as tuas jóias, Mer. - comentou a Hufflepuff, abanando a cabeça - Não tires nada daqui a não ser a taça.
- Procurem rápido! - ordenou Harry, e todos se apressaram a entrar no cofre.
- Acendam as vossas varinhas, está bem? - disse Griphook - E rápido, temos pouco tempo!
Meredith franziu o sobrolho, estranhando a forma ávida com que o goblin olhava para Harry. Não sabia que acordo eles teriam feito mas Griphook esfregou as mãos uma na outra quando os outros não estavam a olhar, os olhos pequenos e injetados de sangue brilhantes de ganância. Havia ali alguma coisa muito errada e a Lovelace não estava a gostar nem um pouco.
Quando se aproximou de Ashley para questioná-la, a voz de Hermione cortou o ar, atraindo a atenção de todos:
- Harry, será que isto poderá ser...? Aaaau!
Hermione gritou de dor. Um cálice cravejado de jóias caiu-lhe da mão, o qual se multiplicou em várias cópias do original, até não se saber distinguir o verdadeiro dos falsos.
- Queimou-me! - gemeu Hermione, com os dedos empolados.
- Acrescentaram-lhe as Maldições Gemino e Flagrante. - explicou Meredith, fitando atentamente os objetos - Tudo em que tocarem queimará e multiplicar-se-á.
- Mas as cópias não têm valor. - esclareceu Gruphook - E se continuarem a mexer no tesouro, acabarão por morrer esmagados pelo peso do ouro a expandir-se!
Os olhos negros de Meredith buscaram os de Ashley. Rodeando sobre si própria, apontou a varinha onde a figura dela se mantinha quieta, fitando o vazio.
- Consegues senti-la? - perguntou-lhe, num sussurro, sabendo o que eles tinham vindo ali buscar.
Estavam relativamente perto uma da outra e Meredith não se atreveu a mexer-se para se aproximar mais dela, não fosse tocar noutro objeto. Atrás dela, Harry parecia descrever a taça ao pormenor aos restantes mas Ley não precisava saber disso; aquela taça pertencia-lhe, estava ligada a ela. O sangue Hufflepuff corria-lhe nas veias dela e só dela.
- Sabias que ele matou a minha avó pela taça? - perguntou Ashley a Meredith, que arregalou os olhos, surpreendida - Harry viu quando estava com Dumbledore. O Quem-Nós-Sabemos usou uma elfa doméstica para envenenar Hepzibah Smith e roubar a taça e o medalhão de Slytherin. Ela tinha ambos na sua posse, embora tivesse mais orgulho em ter a taça. - Ley fechou os olhos, suspirando - Ele não tinha esse direito. É da minha família. A taça de Helga Hufflepuff é minha.
Um brilho dourado invadiu o cofre, forçando todos a ficarem paralisados a olhar. Para surpresa de Harry, a taça de Hufflepuff brilhava fortemente alguns metros acima de onde ele estava.
- Está ali! Está ali em cima! - exclamou ele, entusiasmado.
- Como diabos vamos conseguir lá chegar sem tocar em nada? - questionou Meredith, de sobrolho franzido.
- A espada. - respondeu Ashley, olhando enfeitiçada para a taça - Harry, a espada de Grynffindor pode tocar nas coisas.
Com rapidez, Hermione retirou a espada de dentro da sua mala de missangas, estendendo-a a Harry. O Herdeiro lançou imediatamente um olhar a Ley, como que permitindo permissão para alcançar algo que lhe pertencia a ela. A Hufflepuff assentiu, sorrindo de forma tranquila.
- Despacha-te. - foi o que lhe disse, ao que ele assentiu.
- Preciso chegar lá acima. Hermione....
A morena assentiu, apontando-lhe a varinha.
- Levicorpus!
O som de vozes e passos a aproximarem-se chamou a atenção de Meredith. Do lado de fora do cofre, uma horda de goblins parecia aproximar-se, encurralando-os. A Lovelace suspirou, entediada. Ashley olhou para ela, abanando freneticamente a cabeça assim que os seus olhos se encontraram.
- Nem te atrevas.
- O quê?
- Não vais lá para fora sozinha.
- Quem disse que eu ia a algum lado?
- Acho que ambas concordamos que andas muito na onda dos heroismos, não concordas?
- Nem por isso, sempre gostei mais dos vilões das histórias. - Meredith piscou-lhe o olho - Sou viciada em adrenalina, querida.
- Meredith, tu nem te...
O grito de Harry chamou-as à atenção. Como Meredith prevera, Griphook decidira traí-los à última hora e arrancava a espada de Grynffindor das mãos de Harry, erguendo-o alto para que ele não a alcançasse. Ao fazê-lo, a taça de Hufflepuff voou pelos ares, aterrando nas mãos de Harry.
No momento em que a taça se multiplicava, a porta do cofre foi aberta e uma avalanche de ouro e jóias caiu para fora dali, arrastando todos com ela.
- Meredith! - exclamou Ashley, vendo-a colocar-se de pé de imediato.
Uma multidão de goblins esperava-os, de punhais em riste. A bufar, Meredith endireitou-se, ajeitando o seu cabelo num gesto que rapidamente hipnotizou as pequenas criaturas à sua frente. Fingindo surpresa, Meredith sorriu, rezando para que o seu pouquíssimo sangue de Veela fizesse efeito pelo menos alguns minutos.
- Olá! Desculpem a confusão... Estava à procura da minha tiara, a minha querida tia Bellatrix Lestrange pediu-ma emprestada e nunca mais a devolveu, então achei que pudesse estar aqui no seu cofre.
Atrás de si, Ashley punha-se de pé, olhando descrente para os goblins imobilizados, enquanto Meredith encolhia os ombros, inocente.
- Alguém viu uma tiara?
- Ladrões! - berrou Griphook, correndo em direção à multidão com a espada de Grynffindor na mão - Ladrões! Socorro!
Meredith revirou os olhos, sentindo o efeito do seu charme desvanecer à medida que os goblins franziam o cenho, enfurecidos.
- Uma mulher já não pode querer a sua tiara de volta? Que tédio! - exclamou, erguendo a varinha - Atordoar!
Atrás dela, o resto do grupo juntou-se-lhe. Jactos vermelhos voavam em direção aos goblins, alguns tombando, outros não. O som de passos fez Meredith erguer a cabeça, vendo diversos guardas aparecerem a correr ao virar da esquina.
- Vocês precisam ir. - disse ela a Harry, que a olhou sem entender.
- Vocês?
- Sim, vocês. O que é que eu disse que não entendeste? - questionou ela, impaciente.
- Não te posso deixar para trás...
- Porque a Ashley te mata se o fizeres? Eu lido com ela depois. Harry, vai.
- Como...
- Não sei, inventa!
Harry arregalou os olhos, parecendo ter uma ideia.
- Relashio!
Meredith seguiu-lhe o olhar, engasgando-se ao ver as grilhetas do dragão que protegia Gringotts se abrirem com sonoros estalidos. Tinham passado por ele à entrada e Meredith nunca pensara sentir tanta pena de um animal como sentira. Cego e maltratado pelos goblins por anos, tinha a certeza que, se Laurel estivesse ali, aquele dragão com certeza já ali não estava.
Se havia alguém que amava aquelas criaturas, era a Ravenclaw.
- Por aqui! - gritou Harry, correndo em direção ao dragão cego.
- Harry, o que estás a fazer? - esganiçou-se Hermione.
- Subam, vamos lá!
Por esta altura, Ashley aproximara-se de Meredith, as duas costas com costas a tentarem acertar o máximo de goblins que conseguiam. Ver Ley em ação deixava Meredith orgulhosa; tinham treinado juntas a duelar, ensinadas por Remus e a Hufflepuff evoluíra imenso. Ao receber um olhar furtivo dela, percebeu que até se tornara um pouco assustadora, uma autêntica guerreira.
- Hora de ires, querida. - cantarolou Meredith, sem um pingo de medo na voz.
- Não vou sem ti, Meredith.
- A minha missão ainda não terminou, Ley.
- Vais morrer se te apanham aqui.
- Não vão apanhar, confia em mim. Agora vai.
Ashley abanou a cabeça, as lágrimas inundando-lhe os olhos âmbar.
- Estás sempre a arriscar-te por mim. Eu não sabia se estavas viva ou morta, Meredith! Não te posso deixar...
- Tu nunca me deixas, Ley. - Meredith pegou-lhe a mão num rápido segundo, apertando-a - Confia em mim.
Trocaram um olhar demorado. Um de luz, outro de trevas. O perfeito equilíbrio.
- Vai. - ordenou Meredith, com suavidade.
A Hufflepuff assentiu.
- Até já, Mer.
- Até já, Ley.
Voltou-lhe as costas, ouvindo o dragão rugir atrás de si. Assim que Ashley subiu para junto de Harry, o dragão apercebeu-se que já não estava preso, as asas abrindo-se imponentemente. Meredith baixou-se rapidamente, vendo com apreço os goblins serem derrubados sem querer pelo animal. Distraídos, os goblins tentavam atacar o dragão, que levantara voo e Meredith aproveitou a deixa para se esconder, a varinha apontada à multidão.
Sussurrou baixinho o feitiço várias e várias vezes, a varinha brilhando à medida que os lançava. Sabia que Ashley já não se encontrava em perigo e aquele era o momento certo para fazer o que precisava, mesmo que isso a desgastasse sobremaneira.
Instantes antes do dragão quebrar por completo o túnel e avançar pelo átrio de mármore, a maioria dos goblins fora atingido por algo que nem sabiam bem o que era. A confusão era demasiado grande para sequer notarem na bela mulher que saía tranquilamente dali, um sorriso preenchendo-lhe o rosto quando o dragão atingiu a liberdade quase ao mesmo tempo em que ela saía do banco como se nada fosse. Sequer a tinham visto a entrar e quem vira devia estar enganado. Uns lembravam-se, outros não.
Quem é que estava a dizer a verdade?
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