Cap. 5 - Lambida Lupi
Karlayo ampara Rowenna, enquanto ela tenta se recuperar do mal-estar.
- Eu estou bem. Não se preocupem. Só preciso descansar um pouquinho.
- Não precisa fazer pose de durona pra mim. Está ferida, e iremos cuidar destes teus ferimentos. - Ele fala deitando-a na cama. - Cassandra, volte à recepção e peça outra bacia com água morna, por favor.
A loira balança a cabeça positivamente, saindo logo em seguida.
- Olha só, ele sabe ser educadinho. - Ela sorri com expressão de dor enquanto ele levanta parte de sua blusa. - Hey, olha a saliência seu moço!
- Pára com isso. Só estou tentando te ajudar.
- Isso dói muito. Achei que tinha sido apenas de raspão, mas me enganei. - Ela coloca sua mão em cima do abdômen, abaixo das costelas e à um palmo do umbigo. - Por qual motivo não senti a dor antes?
- Provavelmente porque seu sangue estava quente, e no calor do momento seu corpo nem havia percebido o estrago. Agora que está de repouso, e o sangue está esfriando, começou a sentir as consequências. - Ele diz colocando sua mão em cima da dela e apertando um pouco mais para tentar estancar o sangramento.
- É verdade. Tenho a sensação de que esmurrei uma árvore. Tudo dói. - Ela diz enquanto retira sua mão do local, deixando somente a dele. Ela observa todo o sangue que escorre até seu antebraço. - Ora, agora você perdeu o nojo de mim, senhor Karlayo? Pareço menos repugnante? Ai. Ui.
- Você não é repugnante. Porquê acha isso? - Ele questiona.
- Se não é isso, é o quê então? Porquê recusar um simples aperto de mão? Eu não sou digna? - Ela dá risadas como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. - É uma ironia, pois agora está aqui, coberto pelo meu sangue hediondo.
- Você ainda está chateada por causa disso? - Ele sorri de canto de boca.
- Porquê eu estaria chateada? Eu nem te conheço. Mas achei muito grosseiro da sua parte não me cumprimentar, seja lá na sua aldeia ou na taverna. - Ela o observa com semblante sério. - Desculpa se não sou uma lobisoma, lobisgóia, loba ou lupis, e não ser digna de um simples aperto de mão seu.
Karlayo ri com suas falas atrapalhadas, que ele não sabia se era por conta do nervosismo ou da dor que ela sentia, ou ambos.
- O problema não é você. É só esse seu cheiro.
- Ah, então pra você eu sou fedida? Que ótimo, dois banhos por dia pra nada. - Ela revira os olhos enquanto tenta afastá-lo.
- Não. Você... - Ele sussurra as palavras, quase inaudível. - Você emana uma doçura de sua pele que eu nunca havia sentido antes, e isso me causa incômodo. Não de uma forma ruim, mas de uma forma boa. E eu odeio isso. - Ele dá um longo suspiro e encara seus lindos olhos castanhos, que neste momento estavam confusos. - Você é semelhante a uma guloseima açucarada ambulante.
Rowenna fica calada por alguns segundos, observando com cara de incógnita o rapaz em sua frente.
Karlayo não era do tipo super másculo, como o outro rapaz arrogante de sua vila, o tal Mutum. Não era tão alto, poderia ser alguns centímetros maior do que Rowenna. Ele possuía cabelos negros bagunçados, não eram curtos nem longos. Uma pele bronzeada de sol que destacava bastante aquele par de olhos alaranjados que pareciam o queimar contínuo de uma fogueira. Ele era bonito e de certa forma, atraente também, e Rowenna havia percebido esses pequenos detalhes somente agora. Sua voz não era tão grave, mas era gostosa de se ouvir. Seus lábios não eram carnudos, mas eram tentadores, e Rowenna nunca esteve tão perto assim de um rapaz, recebendo tamanha atenção. Também nunca havia se interessado por alguém, nem em Roswell que vivia flertando com ela, mas Karlayo era diferente. Ele despertou algo nela, desde o momento em que se conheceram.
- Nossa. - Ela diz o encarando.
- O quê?
- Precisei levar um tiro pra ser digna? - Ela sorri enquanto ele volta a pressionar as mãos em seu abdômen. - Ou eu acho que estou delirando. É isso, eu perdi muito sangue e tô delirando. Perfeito.
- Tente ficar quieta. Olha pra todo esse sangue. - Ele diz se controlando pra não experimentar um pouquinho daquele sangue adocicado. Gael observando o comportamento dele, intervém dando uma bicada na cabeça do rapaz. - Eu sei Gael, não vou fazer nada. Eu só preciso comer alguma coisa antes de fazer uma besteira. Preciso de outro tipo de açúcar.
- Besteira, tipo tentar me devorar? Ainda tem alguns doces na minha bolsa. Pode comer eles ao invés de mim. - Ela diz lhe entregando.
Karlayo pressiona a ruiva com uma mão e com a outra devora cada guloseima doce que ela havia dado a ele. Após este episódio, a vontade de provar o sangue dela havia findado. Cassandra chega com uma bacia de água morna, e alguns panos limpos no ombro e um lençol debaixo do braço.
- Me desculpem a demora. Houve um probleminha com um dos hóspedes que tentou me expulsar. - Ela diz com o rosto ruborizado. - Eu trouxe um lençol limpo também, e expliquei pra recepcionista o motivo. Antes dela pensar coisas desonrosas à respeito da senhorita Rowenna, se acaso ver os lençóis sujos de sangue.
- Está tudo bem. Obrigado, Cassandra. - O rapaz agradece pegando um dos panos e o umedecendo para passar no ferimento da ruiva.
- Hummm... Isso arde muito. - Ela geme fazendo careta.
- Deixe-me ver isto. - Karlayo ilumina melhor com a luz do lampião e se espanta. - Você não vai acreditar.
- Ah, pronto. Não vem me dizer que minhas tripas estão saindo pra fora?
- Não. Mas aparentemente a bala ainda está alojada e teremos que removê-la.
- Só me faltava essa agora. - Ela suspira cansada.
- Não prefere ir a algum médico ou curandeiro?
- Não. Eu aguento. A menos que você esteja com medo de fazer o procedimento. Mas se preferir, Cassandra pode tirar.
- Medo? Não me faz rir, garota. Desconheço tal palavra.
- Então retira a bala, macho alfa. - Rowenna arqueia uma das sombrancelhas.
- Não consigo fazer isso com eles aqui. Senhorita Cassandra, poderia ir com Gael para fora do quarto por alguns minutos, por favor? Vocês dois estão me desconcentrando.
- Está bem. Vamos Gael? - Ele pia e pousa no ombro da loira, que se espanta e depois sorri. E os dois saem, deixando o casal à sós.
- Agora, tente não gritar. Apenas confie em mim e não me apunhale com alguma coisa novamente. É pro seu próprio bem. - Karlayo enfia cuidadosamente dois dedos no ferimento dela, procurando o projétil. Enquanto isso, Rowenna cerra os dentes e prende a respiração até que ele consegue, com muito custo sentir e retirar de vez o objeto do corpo dela.
A ruiva suspira aliviada, enquanto ele enxagua as mãos e a tal bala para observar melhor.
- É, você teve sorte. Além de não ter perfurado nenhum órgão interno, a munição é bastante vagabunda e não poderia fazer estragos maiores. - Ele enxuga as mãos e logo após o rosto dela que pingava suor.
- Você conseguiu. Obrigada.
- Não me agradeça ainda. Temos que fazer só mais uma coisa. Mas não precisa ter medo. - Ele recebe um aceno positivo dela.
Karlayo aproxima o rosto de seu ferimento e sem qualquer aviso prévio, lhe dá uma lambida no local.
- QUÊ ISSO KARLAYO? - Ela recua assustada. - Ficou louco?
- Calma. - Ele diz fechando os olhos e se afastando dela, como se fosse perder o controle do próprio corpo a qualquer instante. - Você vai ficar bem agora. - Ele fala com uma voz grossa, quase animalesca.
- VOCÊ ME LAMBEU? Explique-se agora mesmo ou eu meto uma bala na sua cabeça. - Ela esbraveja procurando por sua espingarda.
- Está procurando isto daqui? - Ele diz lhe entregando a arma.
- Você vai se transmutar? Olha, eu nunca atirei em ninguém, mas se me atacar eu atiro. Eu juro que atiro em você. SE AFASTA! - Ela vocifera apontando pra ele.
- Calma, Row. Me desculpe se lhe assustei. Não irei lhe atacar. Lupis não atacam pessoas. - Ele fala calmamente, se afastando com as mãos para cima, pois sabia que ela atiraria nele sem pensar duas vezes se acaso fizesse algum movimento brusco. - A dor, está passando, não está? - Ele questiona.
- Está sim, mas isso não explica porquê diabos me lambeu. - Ela responde furiosa. - Você não pode sair por aí lambendo as pessoas, sabia?
Karlayo sorri de canto de boca, enquanto seus olhos diminuíam aquele brilho intenso.
- Eu... - Ele diz passando a língua nos lábios, eliminando os resquícios de sangue. - Eu fiz isto porquê nossa saliva têm propriedades de cura. E dado o seu estado, resolvi fazer isto pro seu machucado cicatrizar mais rápido. Isto é algo bem pessoal dos lupis, mas creio que sua avó sabia. Ela nunca te contou?
- Na verdade não. - Ela abaixa a arma e explica ao rapaz que sua avó sempre foi muito reservada nessa questão de falar sobre quem ela conhecia, por isso quase não falava dos Lupis ou de seus conhecidos. Ela sempre dizia que quando Rowenna estivesse pronta, apresentaria ela pessoalmente para todos e que a ruiva deveria tirar suas próprias conclusões.
- Talvez ela só quisesse lhe proteger, sei lá. - Ele se senta na cama dela. - Existe muita gente ruim nesse mundo, Row, como pôde perceber hoje.
- Sim, talvez. - Ela sorri pensativa. - É verdade, deve ser por isso que ela colocava meu avô pra me treinar a auto-defesa desde pequena. E com o tempo fui melhorando, estudando e aprendendo mais sobre as coisas. Ela queria que eu não fosse uma mulher tão frágil e delicada, sabe?
- E você não é. Digo, é incrível o quê fez hoje. Quem dera os Lupis tivessem alguém como você pra nos defender como defendeu a prostituta. - Ele corrige a palavra. - Digo, a senhorita Cassandra.
Eles sorriem e ela o agradece pela ajuda. O rapaz vai até a porta para chamar Gael e Cassandra. E logo após ele desce até a recepção para devolver a bacia e os panos sujos.
- Então, está tudo certo. Vamos dormir porque amanhã começamos cedo. - Rowenna fala enquanto Cassandra ajuda ela a trocar os lençóis da cama de solteiro. - Venha Cassandra, pode se deitar aqui do meu lado. - Ela fala se ajeitando de uma forma mais confortável.
- Mas senhorita Rowenna, não acho que seja prudente uma mulher impura como eu me deitar ao lado de uma moça pura como a senhorita. - Ela diz corando o rosto, com sua voz angelical.
- Deixe de bobagem, menina. Eu não tenho essas frescuras não. Dê um tempo pra sua mente e seu corpo. Tente por uma noite dormir tranquila e não se preocupar com aqueles vermes que lhe usaram.
- Fico agradecida por sua bondade, senhorita. Estou sem palavras.
- Imagina. Só durma tranquila. Está a salvo conosco. E amanhã veremos o quê fazer com sua situação. - Rowenna entrega um cobertor pra ela. - Boa noite. Durmam bem.
- Boa noite. - Eles respondem a ruiva em uníssono.
Cassandra desaperta seu corpete que sempre foi obrigada a usar, e deixa algumas lágrimas rolarem de seu rosto. Nunca foi tratada desta maneira desde o dia em que havia sido raptada. E nesta noite ela se sentia realmente segura pela primeira vez desde então.
Karlayo apaga o lampião, enquanto o quarto ficava no mais completo breu, a não ser pela claridade advinda da janela, o céu estava limpo e a lua clara. O rapaz retira sua camisa e se deita também. Gael já estava no segundo sono aninhado ao lado de seu travesseiro.
Karlayo sentia que alguém estava o observando, e não se tratava de Cassandra, que a esta altura já havia se virado para a parede e começado a cair no sono. Mas ele sentia um par de olhos castanhos o observando na escuridão, naquele completo silêncio. Ele notou que Rowenna o contemplava com um semblante enigmático. E ele queria muito saber, a qualquer custo, o que estava se passando na cabeça dela naquele momento. E assim, distantes, mas olhando um para o outro, eles adormeceram.
✷✷✷
Oie, pessoal! (✿^‿^)
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Um Abração e Até o Próximo Capítulo... 🐺
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