Cap. 2 - Pistas
Karlayo coça a cabeça, hesita em falar por um momento, mas com o olhar de reprovação da avó ele finalmente desembucha.
- Eu não estava com o intuito de ir até sua casa. - Ele revira os olhos. - Mas confesso que o cheiro dos doces havia me chamado atenção. Pensei em bater na sua porta pra comprar alguns, mas estava sem uma moeda no bolso, se é que me entende. Fiquei por um tempo em cima de um pé de manga para me proteger da chuva e aproveitei para comer algumas frutas. - Ele fala agora aparentando estar envergonhado.
- E depois? - A garota questiona cruzando os braços.
- Estava exausto, não queria voltar para casa tão cedo. E já que estava protegido da chuva e de estômago cheio, resolvi tirar um cochilo ali mesmo para evitar a fadiga. Depois acordei de supetão, não sabia quanto tempo havia se passado, avistei ao longe o que parecia ser uma carroça daquelas cobertas, sabe? Vi duas pessoas indo até sua porta com lampiões e entrando. Achei que sua avó tivesse aberto a porta. Comecei a prestar mais atenção, mas não conseguia ouvir o que falavam por conta do barulho da chuva que ainda caía. Após alguns minutos, essas duas pessoas saíram e colocaram algo grande enrolado em um pano atrás da carroça. E foram embora apressados.
- Você viu para qual direção foram? - Rowenna pergunta aflita.
- Os segui com os olhos até a bifurcação que levava a cidade. Eles pegaram a entrada da direita.
- Maldição. - Ela diz enfurecida. - Eu só gostaria de saber por qual motivo alguém faria mal a minha avó. Ela não tinha nem inimigos, até onde eu sei. Terei que investigar por conta própria. Conte-me mais detalhes sobre estas pessoas se por um acaso se lembrar, por favor.
- Está pensando em procurá-la sozinha, menina?
- Estou sim, dona Dína. Ninguém vai me ajudar, não até ser tarde demais. Fico agradecida pelas informações, mas agora tenho que ir.
- Espere, menina. Karlayo pode ir com você pra ajudá-la.
- E-eu? - Ele diz espantado. - Porquê eu tenho que ir com ela? Peça ao Mutum que é muito mais forte que eu, como todos dizem.
- O Mutum até poderia acompanhá-la, mas ele não estava lá no momento em que Gertrudes foi levada, não é mesmo? - A senhorinha diz com olhar de reprovação para ele.
- Olha, dona Dína. Muito obrigada, mas não precisa. Sei me virar sozinha, e não preciso de homem pra me ajudar. - Ela diz pegando seu cavalo e entregando uma cesta com guloseimas para a anciã. - Fique com isto como forma de agradecimento. Foram quitandas feitas por minha avó. E espero que não sejam as últimas.
- E não serão, querida. Tome cuidado. - Ela diz pegando a cesta. - Ah, e da próxima vez que vier, diga ao seu amigo que não precisa ter medo de nós, não somos animais como ele pensa que somos.
- Está certo, me desculpem, ele não falou por mal. - Ela fala sorrindo. - Obrigada por tudo, dona Dína.
Rowenna coloca seu capuz vermelho, lança um olhar furioso para o tal Karlayo, monta em seu cavalo e segue para fora da vila. Roswell ainda a aguardava, com sua arma em punho.
- Row! O quê houve? - O rapaz questiona enquanto ela passa por ele cabisbaixa. - Como foi a conversa com essa gente?
- Foi tudo bem, Roswell. Tudo ótimo. - Ela diz com semblante chateado, por ter sido tratada com hostilidade por alguns dos Lupis.
Ela conta a Roswell tudo o quê lhe falaram sobre a noite do desaparecimento.
- Então é isso. - Ela diz parando em frente a sua casa e apeando. - Agora é aguardar as autoridades fazerem algo. E por enquanto o que me resta é limpar essa bagunça que está aqui.
- Você precisa de alguma coisa, uma ajuda, talvez? - Ele fica sem graça. - Olha, Row, estarei sempre ao seu lado se precisar. - Ele pega em suas mãos com um olhar apaixonado.
- Roswell, não. Me desculpe, mas não estou com cabeça pra isso, tá bem? Eu gosto muito de você, mas preciso de um tempo sozinha. - Ela diz se afastando.
- Irei me retirar então. Eu é que peço desculpas por forçar alguma coisa. - Ele monta em seu cavalo novamente. - Certeza de que vai ficar bem?
Ele recebe um aceno positivo de cabeça da ruiva, então segue para a cidade.
Após isto, Rowenna começa a arrumar a casa, o cheiro de sangue ainda estava impregnado no local. Ela se põe a limpar o chão e procurar por alguma coisa que lhe seria útil como pista. Mas após vários baldes de água e esfregões, acaba não encontrando nada.
Algumas horas se passaram, e ela ouve o cavalgar de vários cavalos. E espiando pela fresta da janela, ela observa passando pela estrada vários homens de autoridade, armados e com pressa.
- Que estranho. O quê será que houve? - Ela diz terminando seus afazeres.
Após tratar de suas criações e concluir todo o trabalho, Rowenna pega uma bolsa de couro marrom grande e a preeenche com várias quitandas empacotadas. Em outra bolsa, ela põe suas armas, moedas, um cantil feito de cabaça contendo água e um pequeno lampião. Com uma espingarda dependurada no ombro, uma de suas melhores facas na cintura e com ar destemido estampado no rosto, ela monta em seu cavalo preto e parte sozinha em busca de sua avó.
- Vamos Eclipse, temos muito o que caminhar.
Ela pega o trajeto que o rapaz lupis arrogante havia lhe informado. E enquanto adentrava mais a fundo no caminho de terra batida, ela ouvia o som de um piado ao longe e tinha uma leve impressão de estar sendo observada do alto por algum pássaro.
...
Chegando em uma pequena e pacata cidade, que não era onde seus conhecidos viviam, Rowenna chamava bastante atenção por onde passava, tanto dos homens quanto das mulheres do local. Primeiramente ela procurou uma hospedaria para deixar Eclipse e suas coisas. E por ali mesmo começava a fazer perguntas aos desconhecidos, mas não obtinha a resposta desejada. O sol já estava se pondo e a garota acaba por entrar em uma taverna, onde meretrizes se esfregavam nos homens em troca de um pouco de dinheiro. Porém, até os artistas que ali tocavam pararam com a música ao ver a garota de longa capa vermelha adentrar no local. Todos os olhares estavam voltados para ela que até então, estava com o rosto coberto.
- Com licença. - Ela diz ao dono do local que servia copos de cerveja para os marmanjos no balcão.
- Pois não, senhorita? - Ele diz colocando no ombro um pano de prato encardido e voltando seu olhar para ela. - O quê uma moça como você faz por aqui? - O homem negro, de meia idade e cabelos grisalhos questiona surpreso.
- Estou procurando por minha avó. - Ela retira o capuz. - Dona Gertrudes, a confeiteira.
- O quê houve com a dona Gertrudes? - O homem pára o quê estava fazendo e começa a dar mais atenção à garota.
- Ela desapareceu nesta madrugada. E pelas minhas fontes, a carroça das pessoas que a levaram veio nesta direção. - Ela se senta em uma das banquetas. - Gostaria de saber se acaso não viu passar por aqui alguma carroça coberta, meio suspeita?
- Olha, moça. Me desculpe, mas eu passo o tempo todo atrás deste balcão e quase nem saio lá para fora. Nem vejo como os meus clientes chegam aqui, se a pé, de cavalo, de carroça, enfim. - Ele diz pegando uma caneca de cerveja e entregando a ela. - Tome, é por conta da casa. Eu não posso lhe ajudar, mas podemos perguntar alguém aqui se a viu.
- Obrigada, senhor. Fico agradecida. - Ela diz pegando a caneca.
- Aí, cambada. Fechem as matracas por um minuto. A moça de capa vermelha gostaria de saber se algum dos patetas viram uma carroça coberta, um tanto quanto suspeita, passar por aqui nesta manhã? A avó dela desapareceu. A dona Gertrudes, a confeiteira.
Eles ouviram vários "nãos" como resposta, e seguiram bebendo.
- Desculpe, senhorita. Ninguém sabe de nada, são todos uns palermas. - Ele consegue arrancar um sorriso dela. - Beba sua cerveja antes de esquentar. Ela foi gelada dentro de um tonel de madeira que eu deixo no brejo a noite toda pra gelar, e tá óh! - Ele faz um sinal passando o dedo na boca e estalando a língua.
- Obrigada. - Ela começa a beber sua bebida e logo aparece um homem visivelmente bêbado e pára ao seu lado, a encarando.
- Boa noite, menina. - Ele fala mal se equilibrando em suas pernas. - Vamos dar uma vortinha, minha flô?
- Inácio. Olha os modos, deixe a moça em paz antes de eu dar um sopapo em você.
- Vozê e maizi quantos, tonto? - Ele diz pegando no braço de Rowenna.
- Quem está tonto aqui é você estrupício. Agora solte a menina!
- Senhor, me solta ou irá sofrer as consequências. - Ela diz calmamente olhando pra frente.
- Shiiuu... Muié foi feita pra ficar calada na frente de hômi, e fazê tudo que ele quisé. - Ele diz puxando-a, porém ela nem ao menos se mexia.
- Não estou vendo nenhum homem na minha frente, somente um bêbado que não sabe tratar uma mulher com respeito. - Ela termina de beber sua cerveja, pega sua faca e com agilidade faz um corte no braço do sujeito que a segurava, o fazendo se afastar assustado.
- Maz o quê? Ora, zua vagabun... - Antes dele terminar a palavra e ir pra cima dela, ela lhe nocauteia com um chute na pança e outro na fronte, fazendo-o cair no chão desacordado, enquanto o silêncio tomava conta do recinto novamente.
- Eu falei pra ele não mexer com ela. - O atendente diz balançando a cabeça negativamente e dando de ombros. - Quer mais uma cerveja, senhorita Rowenna?
- Claro. Mas desta vez eu pago. - Ela diz pegando uma moeda. - Como sabe meu nome?
- Como eu disse, eu conhecia sua avó. Conheço. E compro suas quitandas direto. Ela sempre fala de você, mas nunca havia lhe visto pessoalmente. Muito prazer, me chamo Carrel, ao seu dispor. - Ele diz estendendo a mão para ela a cumprimentando.
- Muito prazer em te conhecer, senhor Carrel. E me desculpe pelo seu amigo.
- Não seja por isso. Tem dias que ele é bastante inoportuno e acaba merecendo umas pauladas no pé da orelha, pra largar de ser inconveniente.
Rowenna sorri sem graça.
- Ah, tenho uma coisa pra você melhor do que cerveja. - Ele pega uma jarra de barro e coloca o líquido dela em uma taça de vidro. - Aqui está. Vinho tinto suave e geladinho, você só vai encontrar aqui, na Taverna do Carrel.
- Hummm... Muito obrigada! - Ela diz sorrindo e se deliciando com um gole do vinho, e lhe entrega uma moeda, logo após alguém se senta ao seu lado.
- Me vê uma cerveja, por favor. - Um rapaz de capuz negro e com um falcão no ombro pede. - Vejo que realmente sabe se virar sozinha, senhorita Rowenna. - O indivíduo fala enquanto ela o encara confusa. Ele retira o capuz e a observa com aqueles olhos alaranjados brilhantes.
- Ah, é você. - A ruiva diz revirando os olhos enquanto continua tomando sua bebida. - O quê você está fazendo aqui?
- Oras, vim lhe ajudar a encontrar sua avó.
- Eu não preciso da sua ajuda.
- Aqui está, garoto lobisomem. Sem bagunça na minha taverna. - Carrel fala ríspido com o jovem e de semblante fechado.
- É lupi. Lobisomem é muito grosseiro.
Carrel dá de ombros, e vai atender os outros clientes nas mesas e arrastar o bêbado desacordado para fora de seu estabelecimento. Enquanto isso, o casal continua conversando.
- Então, senhor... Ah, como é mesmo seu nome, garoto lupi? - Ela diz com deboche, enquanto ele toma sua cerveja praticamente num gole só.
- Engraçadinha. É claro que se lembra do meu nome. - Ele diz dando uma piscadela.
- Por qual motivo resolveu me ajudar nas buscas, senhor Cavalo? Ops, quer dizer Karlayo? - Ela diz colocando o cotovelo em cima do balcão e apoiando o rosto com a mão. - E a propósito, como foi que me achou?
- Intuição. Quando não a encontrei em sua casa, deduzi que poderia ter seguido o caminho que lhe indiquei. Então mandei Gael procurar por você. E ele lhe encontrou aqui.
- Espera, quem é Gael? - Ela questiona curiosa.
- Senhorita Rowenna, conheça Gael. - Ele se vira um pouco mais para o seu lado e aponta pro pequeno falcão em seu ombro. - Gael diga "oi" pra senhorita Rowenna. - A pequena ave dá um piado estridente abaixando e levantando a cabeça devagar, como se fizesse uma reverência.
- Ah, então era você que estava me seguindo mais cedo? Prazer em lhe conhecer Gael. - Ela diz indo com a mão em sua direção pra lhe fazer um cafuné.
- Cuidado. Eu não faria isso se fosse voc... - Antes dele poder falar algo mais a ave aceita o cafuné da ruiva e desce do ombro do rapaz até o balcão, indo de encontro com a mão da garota. - Cê... Gael? Seu traidor!
A ave apenas continua recebendo o carinho e Rowenna pega em sua bolsa um biscoito doce e dá para Gael se deliciar.
- Puxa, Gael. Me dá um pedacinho! - Ele tenta tirar um pedaço do biscoito da ave, porém leva uma bicada do mesmo. - Ai. Menino mal. Muito mal.
- Tadinho. Deixa ele comer em paz. Toma um pra você. - Rowenna pega um biscoito maior e entrega pro rapaz.
- Humm, obrigado.
- Então, senhor Karlayo. Continue o quê estava me dizendo.
- Ah sim. Algumas horas após você ter saído de nossa vila, os homens da lei chegaram armados e dizendo que haviam recebido uma denuncia anônima de que nós lupis tínhamos alguma coisa a ver com os desaparecimentos. E nos mandaram um decreto dizendo que nenhum lupi sairia da vila até eles encontrarem respostas e provarem que não foi nenhum de nós. Tentamos argumentar, mas não quiseram nos ouvir. Por isso vim lhe ajudar, mas com uma condição...
- E qual seria?
- Nos ajudar a provar que toda nossa vila é inocente.
- Está bem, senhor Karlayo. Eu tiro o de vocês da reta e você me ajuda a encontrar minha avó. Temos um acordo? - Ela diz lhe estendendo a mão, mas ele exita em um momento. - Temos ou não? - Ela ergue uma das sombrancelhas.
- Temos. - Ele aperta a mão da garota como se sentisse repulsa ao tocar sua pele.
Após alguns instantes, ela agradece à Carrel, e eles saem do estabelecimento observados por olhares curiosos. Mas antes de voltarem pra hospedaria, eles escutam alguém chamando em um beco escuro.
- Psiuuu... Garota da capa vermelha. - Ela vê se tratar de uma das meretrizes que estavam na taverna, que lhe chamava com a mão, olhando de um lado pro outro desconfiada como se fugisse de alguém.
- Pois não?
- Eu ouvi quando a senhorita perguntou sobre a carroça suspeita. Eu acho que posso lhe dar uma pista.
✷✷✷
Oie, pessoal! Tatu do Bem com Vocês?
Eu disse q seria um conto né?
Mudança de planos, notaram q até o título da história eu troquei? É porq o Livro tomou outras direções. Então adicionem a história na biblioteca pra não perderem nenhuma Atualização e comentem aí o q estão achando. (◠‿◠)
A capa por enquanto é provisória.
Um Abração a Todos e Até o Próximo Capítulo... 🧡
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