Capítulo 5 - Duas rosas
Segunda-feira, um dia bem mais frio que de costume para um inverno. Durante o intervalo das aulas, Edan estava sentado embaixo de uma arvore em sua escola, junto de Raquel, comendo alguns pães de queijo que havia comprado na cantina.
- Como assim não desenhou mais? – Raquel perguntava a Edan, no intervalo das aulas.
- Não é que não desenhei... É que não tive tempo... Nem inspiração.
- Não teve tempo... – diz colocando a mão na testa – Era domingo, e você não faz nada o dia inteiro, não conseguiu inventar algo melhor?
- Eu disse que estava sem inspiração, e ainda estou.
Raquel ri – vai precisar pensar em algo melhor quando a Anne perguntar. – Raquel encara o amigo – Ah Edan...
- O que?
- Bem... Por acaso você... Não, esqueça. Não é nada – comenta, sacudindo a cabeça, causando certa estranheza em Edan. O sinal toca, os colegas se levantam e retornam para sua sala. Durante todas as aulas restantes, Anne joga pequenas bolinhas de papel em Edan, evitando que o colega se deitasse em sua mesa. Leandro e Raquel viravam para encarar os dois com certa frequência, e notaram esse comportamento dos dois até mesmo depois de saírem da escola. Ao tocar do último sinal, Raquel puxa Leandro para longe das vistas de todos, perguntando se podiam caminhar juntos depois da aula. O rapaz concorda, e da à ideia de irem a uma pequena praça, para conversarem melhor, e assim o fazem. Escolhem um dos bancos e se sentam.
- E então, o que acha disso? – Leandro pergunta
- Edan ainda não percebeu sobre a Anne... E isso é um problema. – Raquel acenava com a cabeça
- Quanto tempo será que ela ainda tem?
- Não tenho ideia... Mas não acho que seja muito...
- Pelo menos, espero que possa ser o bastante...
Longe do parque onde Leandro e Raquel estavam, Edan caminha até sua casa, enquanto Anne o acompanha de maneira animada, um pouco atrás. Nenhum dos dois disse nada, apenas seguiram o caminho até chegarem em frente a casa do rapaz.
- Então... Me explique por que você veio para minha casa, ao invés de ir para a sua? – Edan perguntava, abrindo a porta de sua casa, sem se virar para Anne.
- É porque quero ver como você está indo. Acha que venho aqui por que gosto?
Edan suspira – Eu não avancei em nada, não acho que irá gostar dos resultados. – diz, entrando em casa, e abrindo espaço para a colega entrar. – Vai querer comer alguma coisa?
- Não, valeu. Hoje não estou com fome. – diz, enquanto Edan pegava um pacote de bolachas de maizena – Agora, pare de enrolar tanto e me mostra logo o que fez. – comentou, empurrando Edan para seu quarto.
Já sentado em sua cadeira, Edan pega algumas folhas rabiscadas, onde no topo estava o único desenho finalizado, entregando nas mãos de Anne. Durante exatos dois minutos, a garota olhou todos os desenhos, jogou a maioria deles no chão e amassou o desenho finalizado. – Está melhor... Mas ainda não está no seu nível. Tente mais uma vez Edan. Desta vez, desenhe... hm – comenta, olhando o que havia na estante do rapaz, escolhendo uma action figure – este personagem.
Edan suspira, e começa tudo novamente, desta vez, com Anne supervisionando o começo de Edan. – Pare! – disse, segurando a sua mão logo nos primeiros traços.
- O que foi agora?
- Você está pulando a etapa inicial, que são os primeiros traços... E indo direto para a criação final...
- São apenas traços ruins, que atrapalham e iram estragar o resultado final.
- Edan, uma vez, alguém me falou que do pior traço, pode nascer o melhor dos desenhos. – O rapaz a olha – Então, não se importe se for um traço ruim, ele pode dar um bom resultado se for bem usado.
Edan apenas concorda, e volta ao que estava fazendo, enquanto Anne se deita, e acaba cochilando pouco tempo depois. Cerca de uma hora depois, Edan termina, e se vira para encarar Anne, que ainda estava dormindo. Encostou no braço da colega com a costa da mão, sentindo sua pele macia e gelada. Pegou uma de suas cobertas e colocou na garota, se sentando ao lado da cama e a observando em silêncio. Olhou para o estado que seu quarto estava, a mesa de seu computador bagunçada, a mochila preta com pequenos desenhos de flores rosadas da colega jogada ao lado de sua cama, os tênis de Anne virados no chão, quase embolados no tapete, e a blusa da garota na sua cadeira. – Olha só a bagunça que Anne fez... Mas não estou bravo... Estranho, por que me sinto assim tão bem? – pensava, se levantando, ainda olhando para o rosto de Anne. Pegou sua chave e saltou a janela, começando a caminhar devagar pelo gramado até a estufa.
Pouco tempo depois, Anne começa a despertar. A garota se senta, se enrolando nas cobertas, sentindo o vento gelado que entrava pela janela. – Ah quanto tempo estou dormindo? E essas cobertas, o Edan me cobriu? – se perguntava, ainda muito sonolenta. Saiu da cama, cambaleando um pouco e caindo de joelhos. Se apoiando na cama, se levantou e caminhou até a porta do quarto, olhando ao redor procurando por Edan. A sala estava com a luz ligada, mas Edan não estava lá, olhou em seguida para a cozinha, mas lá estava tudo apagado. Anne olhou de volta para o quarto, na mesa de Edan estava seu desenho terminado. Com a ponta dos dedos, a garota pegou o desenho, e sorriu com o que viu, Edan finalmente havia acertado.
Anne foi até a janela, nunca prestou muita atenção na estufa nos fundos da casa, mas sabia que aquele lugar estava sempre trancado, e percebeu que desta vez, o pesado cadeado que lá havia estava destrancado, e as portas abertas. Guiada pela sua curiosidade, calçou seus tênis e colocou sua blusa, saltando a janela e indo até as portas da estufa. Aos poucos, o vento ficava mais forte, fazendo seus cabelos ruivos voarem livremente. Por alguma razão, sentiu que o vento a guiava para dentro daquele lugar.
Chegou as portas da imensa estufa, entrando devagar. Olhou ao redor, se impressionando com o que via, apesar de estarem em meio ao inverno, dentro daquele lugar parecia estar em plena primavera. Os vários corredores faziam aquela estufa parecer ainda maior por dentro. Por um momento, sentiu-se em outro lugar, estava sentindo seu espirito totalmente confortado. Caminhou por entre os corredores, tocando de leve cada uma das flores, sentindo a macies de suas pétalas, até finalmente encontrar Edan. O rapaz estava ajoelhado e de cabeça baixa, em frente a uma área que parecia reservada apenas para um único vaso de flores, e logo em frente, sobre uma pequena mesa, estava a imagem de uma pessoa.
- Edan...? – O rapaz levanta a cabeça, como se tivesse se assustado,
- Anne? Dormiu bem? – diz em voz baixa, quase parecendo um sussurro
- Eu diria que sim, sua cama é bem confortável... Está tudo bem? – perguntava, se abaixando ao seu lado.
- Está... Só estou matando um pouco da saudade... – diz, olhando para o quadro na mesa.
Anne levanta a cabeça, acompanhando os olhos de Edan para o quadro. – Ela é a sua mãe?
- É... Minha mãe amava muito essas flores, e sempre que tinha um tempo, vinha aqui vê-las... – Edan começou a olhar ao redor – Quando ela morreu, todas essas plantas começaram a secar e morrer também, de alguma forma sentiam a falta dela.
Anne permaneceu em silêncio.
- Eu não podia deixar as flores que ela tanto gostava morrerem. Tentei várias coisas, mas nada dava certo. Colocar esta imagem dela aqui foi o que pude fazer para que minha mãe continuasse junto de suas flores.
- Entendi... É como se a essência dela estivesse aqui... – Edan concorda com a cabeça. Anne entendia por que havia se sentido tão bem quando entrou naquele lugar. Olhou para o vaso de flores, que estava bem de frente com a foto. Ali haviam nascido uma rosa branca e uma negra. – Mas e esse vaso?
- Uma vez, minha mãe me disse que nesse vaso, iria nascer algo um pouco diferente das demais plantas... E o que nasceu aqui foram essas duas rosas.
Anne se aproxima um pouco – Eu já vi isso... É igual a uma lenda que existe na minha família...
- Lenda?
- Sim... minha família acredita que, quando duas pessoas encontram uma rosa branca e uma negra nascidas juntas, elas são a pessoa mais importante uma para a outra, e suas almas estão destinadas a ficarem juntas.
- Sua família acredita em coisas estranhas...
- É, mas fazer o que. Isso parece ter funcionado com muita gente da minha família a anos, mas não sei se acredito nisso.
- É, também não sei se acredito nisso – Edan ri, causando um certo espanto em Anne, que conhecendo Edan, sabia que ele mal sorria, mas mesmo assim sorri de volta. Não quis dizer a Anne, mas esperava que essa lenda fosse verdadeira.
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