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Capítulo 4 - A força para se levantar

Sob o Ilustre "pedido" de Anne, Edan havia organizado todos os seus matérias de desenho, retirou a poeira de seu computador e mesa gráfica, e se sentou em sua cadeira. A garota lhe entregou uma folha em branco e um lápis, pedindo para que fizesse o que bem entendesse, pegando um pequeno livro na estante e se deitando na cama do rapaz para ler. O único som no quarto era o do vento que entrava pela janela e o atrito do grafite do lápis com o papel. Durante alguns minutos, Edan se manteve concentrado no que fazia.

- Acabei. – dizia, encarando Anne.

A garota se levantou e pegou o desenho e observou por alguns segundos. – Não está bom. – falou de repente.

- Ei, é o que consigo fazer depois de tanto tempo sem desenhar.

- Você diz que consegue fazer apenas traços tortos e pressões irregulares? É... Acho que vou ter muito trabalho... – dizia colocando a mão na testa.

Edan suspira. – Tudo bem, o que você quer que eu faça?

Anne pega uma nova folha em branco e a coloca em frente do rapaz – Quero que você tente de novo. – Diz, se deitando outra vez em voltando a ler.

Edan encara a folha a sua frente, e tenta começar novamente, mas agora, sem nenhuma inspiração. Com o canto dos olhos, começa a observar Anne. Desde que a garota chegou em sua casa, só começou a prestar melhor atenção em Anne a partir daquele momento. Seus cabelos ruivos, seu corpo magro, além de ser um pouco mais baixa. Vestia-se com um colete preto aberto, uma regata branca, calça jeans escura com pequenos cintos presos na cintura, meias brancas com detalhes rosas, e tênis brancos. Mesmo com apenas esse simples visual da colega, Edan conseguiu a inspiração que precisava, mas mesmo assim, continuou a observando com o canto dos olhos. Quando Anne notou, o rapaz retornou seu olhar de forma rápida para a folha em branco, começando a desenhar imediatamente.

- O que estava olhando?

- Não... Nada demais...

Anne fecha o livro – É um livro pequeno, e de leitura rápida, mas tem uma história interessante. – olha o nome do autor na capa – É difícil imaginar que foi você quem escreveu isso.

- Eu tenho algumas ideias e deixo anotada, mas nunca as escrevo. – comenta, sem olhar para a garota.

- Você só escreveu esse?

- Não, tem mais alguns nessa estante, e mais alguns guardados ali, naquela última gaveta. – comenta apontando – pode pegar se quiser.

- Legal! – comenta, saltando da cama. – O que vou ler agora? – diz, semelhante a uma doce e meiga criança, enquanto Edan a observa. Quando termina de escolher um dos livros, Anne ouve seu celular tocando e o atende, enquanto Edan se vira para continuar seu desenho. – Oi mãe... Eu to bem sim... Fica tranquila, eu estou na casa do Edan... Sim, ele mesmo... Não, só vou ficar mais um pouco e já vou para casa... Ta bom, eu ligo sim. Até depois mãe.

- Anne já falou de mim para seus pais? – pensa enquanto ouvia a conversa – É um pouco estranho, por que ela faria isso?

A garota se aproxima da janela e olha fixamente para a estufa que havia nos fundos, mas não diz nada. Pega seu celular novamente e começa a digitar uma mensagem. Pouco tempo depois, parece receber duas respostas, sorrindo depois. – Edan, já vou para casa. Depois você me mostra como ficou.

- Tudo bem então.

- Vou levar esse livro, quando eu terminar, te entrego.

Edan concorda com a cabeça, e a acompanha até a porta, e lá permaneceu até Anne sumir de sua vista. Retornou para seu quarto e se sentou em sua cadeira, deixou os braços suspensos, fora do suporte da cadeira, levantou a cabeça e fechou os olhos, sem saber se conseguia continuar. Mesmo querendo, não sabia se teria força para continuar sozinho.

- Você ainda gosta e tem vontade de desenhar, não é? – Edan abre os olhos, se lembrando do que Anne havia lhe dito. - Agora se levante, e volte a fazer o que gosta. – O sorriso de Anne veio em sua cabeça, o fazendo fechar o punho com força, até o momento que algo mais surge em sua mente.

- Edan... Eu sempre estarei com você meu filho...

- Eu sei que sim mãe... Obrigado... – diz em voz baixa, enquanto chorava, com a imagem de sua mãe em sua mente.

*****

Manhã de sábado, o quarto de Edan está iluminado apenas pela luz de seu computador. Edan dormiu em sua cadeira, debruçado sobre a mesa de seu computador, pois virou a noite tentando desenhar. Acorda aos poucos, esfregando os olhos e observando ao redor, tentando identificar onde estava. Pegou seu celular e olhou as horas, 8:49h. Esfregou os olhos novamente, se levantando para ir comer algo. Colocou seu celular sobre a mesa e foi vasculhar os armários. O que mais lhe atraiu foi um pacote de torradas, pegou maionese na geladeira e preparou algumas, separou um copo de suco e se sentou no sofá para comer seu café da manhã. Antes de morder a primeira torrada, seu celular vibra sobre a mesa, pegou e leu a mensagem: "abra a porta!".

Edan estranhou, mas foi até a porta de sua casa para ver o que se tratava. Esperava que fosse apenas uma mensagem enviada por engano. O que poderia ser? Informação de algum game ou anime novo? Ou um encontro de assassinos? Quem iria saber? Quando abriu, lá estava Anne, acompanhada de Leandro e Raquel. Naquele momento, soube para quem Anne estava mandando aquelas mensagens.

- O que estão fazendo aqui a essa hora da manhã? – perguntava

- Ontem os chamei para virem aqui, antes de voltar para casa. Tenho quase certeza que iria passar o dia todo sozinho dentro de casa. – Anne comenta, entrando em casa e tomando a torrada da mão de Edan, a mordendo logo em seguida.

- Fiquei sabendo que alguém voltou a desenhar – Raquel comenta – Estou curiosa para ver o que você conseguiu.

- Agora só falta voltar a escrever para minhas animações. – Leandro caçoa

- Calem a boca e entrem logo – comenta, dando um leve sorriso no canto da boca, fazendo Leandro e Raquel se entreolharem.

Ao fechar a porta, Edan se lembra que Anne foi a primeira a entrar, e também havia deixado suas torradas sobre a mesa da sala. Nem teve pressa, entrou na sala e viu Anne devorando a última torrada do prato e o copo de suco já vazio.

- Minhas torradas...

- Sim, estavam ótimas! – diz sorrindo, limpando o canto da boca sujo de maionese.

- Ah, a Anne. Sempre uma graça de pessoa. – Leandro comenta, dando uns tapas de leve no ombro de Edan.

- Minhas... Torradas... – se aproxima de Anne, colocando sua mão esquerda sobre a sua cabeça e fechando a outra mão, e em seu rosto, carregava um sorriso distorcido – Você não come na sua casa?

- Claro que sim, mas como acha que mantenho esse corpinho? – diz, fazendo pose para Edan, que ficou parado, sem saber como responder aquilo. A garota ri e se levanta. – E então, terminou?

Edan confirma com a cabeça, se dirigindo até seu quarto. Mal entra e corre até seu computador, fechando o programa aberto, escondendo de todos.

- O que estava aprontando ai?

- Não é nada importante. É só um projeto meu. – responde, pegando a folha desenhada, e entrega para os amigos. – Aqui está.

Todos começam a analisar o desenho, enquanto Edan aguardava o julgamento de seus amigos.

- Ruim – Raquel comenta primeiro. – Horrível – Leandro continua. – Está pior que o de ontem. Tenta de novo – Anne finaliza, amassando e jogando o papel para trás.

Resmungando, Edan pega uma nova folha e se debruça sobre sua mesa, pensando o que desenharia a seguir. Raquel chama Anne para assistirem algum anime na sala, enquanto Leandro permanece ao lado do amigo, observando as garotas saírem pela porta.

- Mano... o que te fez voltar a desenhar? – Leandro pergunta, se aproximando da janela.

- Não sei... Apenas estou tentando outra vez

- Será que foi por causa da Anne? – pergunta, já sabendo a resposta pelo silêncio de Edan. – Eu sabia...

- Anne só me fez ter a coragem que faltava.

- Ela te fez voltar a fazer o que curtia, por pior que seja seu desempenho atual. – Edan respondeu com cara de poucos amigos. Leandro fica em silêncio e caminha até a porta, observando as garotas, que já começaram a jogar na sala, e encara Anne por alguns segundos – Claro... A verdade é que só a Anne podia fazer isso por você Edan... Te fazer ter força para levantar e tentar outra vez. Nenhum de nós conseguiria fazer o mesmo que ela. Só espero que Anne ainda tenha tempo o bastante com você, que ainda possam recuperar o tempo perdido... 

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