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Capítulo 3 - Traços do passado

Mais um dia de aula está acabando. Era uma sexta feira totalmente ensolarada. Cada um dos alunos planejava o que fazer no final de semana. Todos com exceção de Edan, que já se levantava para ir embora, despercebido de todos os outros alunos, menos de uma.

- Ei! Aonde pensa que vai? – Anne o segura pela gola da camisa com a ponta do dedo.

- Para casa, é claro. – responde, se virando para encará-la.

- Você não pensa em sair, ou fazer alguma coisa como todo mundo?

- Não. Eu prefiro ficar em casa, é melhor tanto para mim quanto para todo mundo. – comenta, enquanto retira a mão de Anne da forma mais gentil que conseguiu, e seguiu até a porta da sala.

Edan caminha de cabeça baixa até sua casa. Quando entrou, foi recebido pelo silêncio e o frio de uma casa vazia. Olhou para a sala, vendo todas as cobertas que deixou espalhadas pelo sofá, o travesseiro no chão, e o controle da televisão junto ao de seu game na mesa de centro, ao lado de um pequeno vaso de flores. Preparou um chocolate quente, ligou a televisão, apagou as luzes e se instalou no sofá ainda bagunçado para assistir televisão. Apesar de ser um dia ensolarado, a casa de Edan estava tão fria como um dia do mais pesado inverno. Cerca de 10 minutos depois, ou ve alguém tocando a campainha de sua casa. Hesitou um pouco, mas se levantou e foi abrir a porta. Para sua surpresa, lá estava Anne, com uma cara pouco amigável.

- Por que saiu daquele jeito da escola? Não conversa mais com os amigos? – diz enquanto aponta o dedo no peito de Edan, o fazendo recuar, aproveitando para entrar na casa do colega e fechar a porta com o calcanhar. – O que tem a dizer sobre isso?

- Ahn... Me desculpe? – responde olhando para o lado.

- Só "me desculpe"? Você é o pior – Anne comenta suspirando, colocando as mãos nos braços logo em seguida, tentando se esquentar. – Por que sua casa está tão apagada e fria?

- Eu não acho que esteja tão fria... Se quiser se esquentar, tem umas cobertas ali na sala...

- Serio mesmo? Sai da frente, vou me esquentar agora – diz correndo para a sala, jogando sua mochila no chão e se enrolando nas cobertas. – Ah, que quentinho, agora está bem melhor. Olha só, tem até chocolate quente, estava me esperando, né?

- Na verdade não... – responde, olhando suas cobertas e seu copo de chocolate quente já vazio.

- Essas cobertas já estavam quentes quando cheguei... – Anne aproxima as cobertas e parece sentir o cheiro delas – Você até cheira bem ara um garoto de 15 anos.

- Que tipo de coisa você tem na cabeça? – pensa, se sentando. – Então, por que veio aqui em plena sexta-feira?

- Eu trouxe meus desenhos. – pela expressão e sorriso que a garota fez, Edan sentiu como se Anne conseguisse ver sua alma – Era pra eu ter te mostrado na escola, mas como alguém saiu tão rápido, não tive tempo nem de lembrar. Por isso voltei aqui.

- P-Pode me mostrar então... – tentou forçar um sorriso – Onde estão?

- Estão ali na minha mochila – mudou novamente para a mesma garota meiga de antes.

- Que rápida mudança de humor... – pensa novamente, enquanto observa Anne tentando alcançar sua mochila, mas sem sair das cobertas. Edan suspira e pega a mochila da garota – Seria mais fácil se você se levantasse e tentasse de verdade.

- Besta, me deixa. – diz sorrindo – aqui estão meus desenhos.

Edan começa a folhear, observando atentamente cada traço feito. Fez um rápido olhar para Anne, que ficou de olhos fechados, como se estivesse se concentrando em algo. Terminou de observar tudo, e os organizou na mesa. – É, você desenha muito bem.

- Há quanto tempo você parou? – pergunta de repente

- Do que está falando?

- A quanto tempo você parou de desenhar? Eu percebi quando entrei no seu quarto... – Anne o encara de maneira séria – Pela poeira nos móveis e nos desenhos na parede, você não entra lá a muito tempo...

Edan olha para baixo – É verdade... Parei de desenhar a 7 anos...

- E por que?

- Depois daquilo, não consigo mais desenhar... Na verdade não tenho vontade de fazer mais nada – Anne para pensar um pouco, até acertar o rosto de Edan com o travesseiro. – Ei! Por que fez isso?

- Você ao menos tentou?

- O que? – diz, antes de ser puxado pela orelha pela garota e arrastado até seu quarto, o arremessando no chão.

- Edan, olhe para tudo isso. – diz, se abaixando ao seu lado e olhou o quarto. – Você tem habilidade, não pode ter desistido e parado assim tão fácil. Seja lá o que aconteceu, isso não pode te parar. Você ainda gosta e tem vontade de desenhar, não é? – diz, agora observando Edan

Edan responde com seu silêncio.

- Vou encarar isso como um sim...

- Anne... Por que se importa tanto?

- Uma vez, eu estava perto de desistir de viver, e alguém... Um antigo amigo... Não, o meu herói me deu coragem e devolveu a minha vontade de continuar. – Anne se levanta e abre a janela do quarto, deixando a luz bater no rosto de Edan. A garota se vira sorrindo, seus olhos estavam começando a se encher de lagrimas, mas mesmo assim sorria. Aos olhos do garoto, Anne e seus cabelos ruivos brilhavam com a luz do sol. Ela se aproxima e lhe estende a mão. – Vou fazer o mesmo que ele faria por um amigo. Agora se levante, e volte a fazer o que gosta. 

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