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Capítulo 22

4695 palavras - Arco pós time-skip

Por Edan

Abro meus olhos, me encontrando em um espaço estranho. Um grande espaço vazio, o chão coberto de água, e um silêncio esmagador. Eu me lembro vagamente, eu já estive aqui antes. Olho para minhas roupas, são largas e acinzentadas, como antes. Olho em volta, tentando identificar alguma coisa, mas como antes, eu não vejo nada.

Eu sei bem o que vai acontecer se eu ficar aqui. As sombras irão emergir dessa escuridão e me atacar, como sempre fazem. Não, elas já estão aqui, dentro de mim. Começo a caminhar lentamente, sentindo as sombras emergindo de dentro de mim mesmo. Elas são turbulentas, ruidosas a ponto de abafar os meus passos neste chão coberto por água. A mesma coisa acontece, toda vez que passam por mim, eu sinto o frio delas penetrando meu corpo, roubando minhas energias, é como acontece sempre, elas roubam minha vida.

Algo diferente surge, uma pequena luz reluz a minha frente, me deixando surpreso. Uma luz em meio a esse emaranhado de escuridão. Eu avanço mais rápido, meus passos logo se transformam em uma corrida. Quero ver o que essa luz é. Ela está mais forte, mais intensa, espera... Ela está vindo até mim, cada vez mais rápido. Ofuscando meus olhos. Me cubro, tentando me proteger.

Abro os olhos novamente, olhando em volta, ainda ofuscado pela luz. Estou em um parque, um bem movimentado em pleno dia ensolarado, ele é familiar. Eu já estive aqui.

Sinto alto batendo na minha perna, o que atrai minha atenção. Uma bola de futebol? Eu tinha uma dessas, exatamente igual. Branca com marcar pretas, cinza e azul formando listras pela bola. Vejo um garoto vindo correndo até mim, pegando a bola em suas mãos - Me desculpe moço, te machuquei?

O que? Esse garoto... Sou eu?

Tento falar algo - Não... Está tudo bem, só tome cuidado.

Eu o vejo dando um largo sorriso, correndo de volta da direção que veio, onde é recebido por três pessoas. Posso ver bem quem são duas dessas pessoas. Meus pais.

Eu vejo como eles estão, me recepcionando e rindo comigo, que logo me afasto correndo chutando a bola outra vez. A última pessoas é uma outra criança de cabelos escuros comos os meus, que corre atrás de mim, rindo junto, mas eu não tenho a menor ideia de quem seja, eu nunca a vi antes, deve ser uma amiga de infância que não me lembro mais. Olho novamente aos meus pais. Seus olhos não saem de mim. Eles me incentivam a continuar brincando, ficam me olhando e rindo do mesmo jeito que minha pequena versão ri. Eu era assim antes. Eu sorria com eles, brincava e me divertia. Eles eram assim comigo, sempre presentes.

O espaço inteiro começa a se acinzentar, e eu estou sendo o epicentro de tudo. A grama no chão, as arvores, tudo vai morrendo. As pessoas em volta começam a se dissipar no ar, junto a todo o ambiente, retornando ao ambiente negro de antes. Tudo escurece como da primeira vez que estive aqui. Uma nova luz surge, se aproximando de mim e se tornando mais forte.

Novamente sou forçado a fechar meus olhos, ofuscado pela luminosidade. Quando abro novamente, estou em outro lugar. Vejo melhor ser uma lanchonete cheia, bem barulhenta. Muitas pessoas estão reunidas aqui. Ando em volta, olhando as mesas e as pessoas. Não reconheço ninguém, nem mesmo o lugar. Olho em uma mesa mais afastada, vendo algo familiar. Eu me vejo, muito diferente do que sou hoje. Vou até a mesa, encontrando rostos bem conhecidos. Raquel, Leandro, e Anne, além de mim mesmo, com um cabelo bem curto e roupas bem melhor alinhadas do que as que costumo usar... Apesar que não me lembro de ter vestido esse casaco ou essas roupas cinzas. Eu os escuto, mas ao mesmo tempo não sei o que falam, não consigo entender nenhum deles, nem a mim mesmo... Não deixo de perceber como estou sorrindo, como não sou alguém toxico, conseguiria ter todos a minha volta bem, todos animados, assim como meus amigos, estou claramente feliz com eles. Eu me conheço, sei identificar isso em mim mesmo...

Entendi, esse seria eu, caso as coisas tivessem sido diferentes, caso eu ainda tivesse vida em mim.

Algo começa a surgir do chão, as sombras de antes... Não, essas são diferentes. Elas não me atacam, mas me rodeiam... Olho em volta, nenhuma pessoa percebeu isso. Algo surge a minha frente. Imensas asas negras são abertas, e uma pessoa surge, ficando de pé sobre a mesa onde meu outro eu estava junto com todos os outros. Percebo haver mais uma pessoa, ela também está olhando para esse ser sobre a mesa, mas não consigo ver o rosto de nenhum dos dois. Posso ver somente um casaco negro e as mesmas asas, e na pessoa do outro lado, parecem ser longos cabelos ruivos... Parecidos com os de Anne.

Tudo se converte no mesmo espaço negro de antes, a pessoa se mantém pairando no ar, logo pousando a minha frente. Um enorme peso surge em meus olhos antes que eu possa ver quem são essas pessoas, meu corpo cede, me fazendo ficar de joelhos. Olho de relance, a outra pessoa também já caiu ao chão.

Antes que eu pense em mais algo, eu também caio.

Abro os olhos novamente, me erguendo de uma vez. Estou na sala de casa, está tudo escuro a minha volta.

Isso foi um sonho?

*****

Vou empurrando o carrinho pelo mercado com algumas poucas coisas. Preciso deixar algumas coisas no estoque para evitar voltar aqui tão cedo. Olho para o carrinho tirando alguns fios do meu cabelo da frente dos olhos, analisando o que peguei. Macarrão, pacotes de feijão, alguns pacotes de açúcar, saquinhos de temperos, sal, batatas e também couve... E quase isolados no canto do carrinho tem alguns pacotes de biscoitos, um pacote de pães de forma e um bolo que tem pronto, mas nada disso é para mim, e sim para o senhor que vi do lado de fora do mercado. Pela sua situação, ele não come a dias, então decidi fazer algo por ele. Olhar tudo isso me força a puxar na memória o que mais falta, acho ser apenas arroz. Preciso lembrar a trazer uma lista antes de fazer as compras.

- Olha quem encontro por aqui. - Escuto bem ao meu lado, olho na direção, estranhando a primeiro momento. Esse olhar e cabelo castanho, tão parecida com Anne nas feições... Para minha surpresa, é mesmo a mãe de Anne. - A quanto tempo não te vejo Edan.

- Faz muito tempo mesmo... - Digo, tentando me lembrar de seu nome. Regina! Consigo me lembrar em um estalo - A única vez que nos vimos foi quando fui na sua casa.

- É, quando estávamos largados na sala. - Ela diz rindo. Realmente, ela parece muito diferente aqui do que quando a vi na primeira vez. - Fazendo as compras do mês?

- Só reabastecendo algumas coisas... Por enquanto acho ser só isso que preciso pegar. - Digo, reavaliando meu carrinho. - E quanto a senhora?

- Obrigado pelo 'senhora', me senti alguns anos mais velha. - Ela diz em um largo sorriso, tão parecido ao da filha.

- Digo isso por ser casada, mais velha... - Ela me olha quase me repreendendo por tocar no termo 'velha'. Isso me faz parar de falar por um segundo, e mudar o que eu iria dizer. Não acho bom continuar com algo nesse sentido, vendo o olhar cerrado da mulher, mesmo que esteja com esse sorriso de canto - Enfim Regina, você entendeu onde quero chegar. Educação apenas.

- Sim entendi... Bom, eu estou comprando boa parte das coisas para casa, e algumas que o Carlos pediu antes de ir trabalhar - Ela diz, mas pela ausência de coisas que vejo, ela mal começou a explorar o mercado. - Alias, lembrei que tenho que pegar algumas coisas para aquele namorado chato dela.

Semicerro o olhar. Alguém que não gosta do namorado da Anne, algo bastante peculiar de se encontrar - Parece que alguém aqui não gosta dele... É de se impressionar, na escola todos admiram ele por ser quase universitário.

- Menino, eu não suporto esse Fabiano. Ele é um chato em tudo, todo cheio de frescuras e "não me toque". Além de não saber escutar os outros. Não sei como o pessoal da sua escola admira alguém como esse Fabiano. - Ela bufa e balança a cabeça em negação. Ver isso chega até a ter uma distante ponta de graça, então ela continua a falar. - Não sei o que deu na Anne para namorar com um rapaz igual ele. Deve ter sido algum amigo que fez a cabeça dela.

- É, vai saber. - Digo, arqueando as sobrancelhas, relembrando que basicamente fui eu quem ajudou a jogar a Anne dentro desse namoro. - Talvez eu e algumas outras pessoas tivemos um pouco de influência com isso.

Assim que paro de falar, Regina me olha, não sei decifrar o que se passa na sua cabeça, mas ela parece que está olhando através de mim. - Você tem alguma coisa haver com isso?

Dou de ombros em resposta.

- O que? Tem sim, não é? - Ela pergunta, e diante do meu silêncio, ela continua a falar - Eu tinha tanta certeza que seria você ou outra pessoa a namorar com a Anne, não ele.

- Espera, o que? - Questiono. Eu ouvi isso direito ou será que só imaginei coisas?

- Nada, esqueça isso. - Ela fala, balançando a mão. - A Anne te falou da viagem?

- Ahn... Bem, a viagem... - Começo, mas sem saber o que falar. Hesito um segundo, tentando afastar da cabeça o que Regina disse antes - ...Mais ou menos. É que não estamos nos falando muito ultimamente.

- Aconteceu algo? - Regina me encara, semicerrando o olhar.

- Não, não é nada demais. - Respondo. Eu falo demais, tenho que aprender a ficar mais quieto.

- Você é um péssimo mentiroso garoto. - Ela me diz, balançando a cabeça negativamente. Evito olhar em sua direção, esperando que ela não questione. Regina não diz mais nada.

- Bem, eu escutei ela falando da viagem... Convidou alguns poucos colegas para ir junto. - Digo com cautela.

Ela parece esperar que eu diga mais algo. Seu olhar transmite isso. - E ela te convidou também?

- Mais ou menos também... Pelo menos falou que eu também estava convidado, e não me disse mais nada depois. - Dou de ombros, para mim isso não é nada demais. - Mas não sei se vou.

A mulher me olha, parecendo estranhar minha resposta. - Você deveria ir, iremos para um lugar bem calmo no interior, tem algumas vistas muito bonitas. E se você e minha filha estão sem se falar, pode ser a chance de se reaproximarem.

- Mas... - Eu começo, mas hesito e paro na hora. Ela me olha, esperando que eu continue. Como eu vou falar que foi ela quem quis que nos afastássemos? Que eu quis o mesmo?

- Mas? - Ela me questiona. Ela está um pouco mais séria - Mas o que senhor Edan?

Hesito ainda mais, tentando escolher as palavras. Não sei o que dizer. - Talvez... Talvez nos manter afastados seja o que ela quer... O que nós dois queremos... O melhor para nós dois... - Não imaginei que falar isso poderia ser tão incomodo para mim. Muito menos que fosse doer tanto. Por que isso?

- Tem certeza do que está dizendo? - Ela questiona. Eu respondo com meu silêncio por alguns segundos. Regina então continua a falar - Se ela quisesse mesmo ficar afastada de você, então por que ela te convidaria?

Paro com o que ela diz. Regina tem razão. Por que? Por que Anne me convidaria também, ela mesma que quis que as coisas fossem assim. Eu não entendo.

- Agora eu te pergunto... - Ela volta a falar. - Você quer continuar afastado da Anne?

Eu quero? Desvio o olhar da mulher. Minha mente faz esse questionamento repetidas vezes, como já fez antes. Sim, eu quero... Mas... Será que eu realmente quero...?

Eu não sei... Realmente não sei. Quero mesmo continuar afastado dela?

- Foi... Uma coisa que decidimos... - Digo, sem olhar em sua direção.

A mulher solta um pesado suspiro, o que atrai minha atenção. Ela então começa a dizer, empurrando seu carrinho devagar, se afastando aos poucos de mim. - Se eu fosse você viria viajar conosco, sair e conhecer um lugar novo será bom para você... Não sei o que você e Anne decidiram, e não irei me meter... Ainda sim, eu gostaria que fosse viajar com todos nós, tenho certeza que iria gostar. Agora preciso ir, espero que pense melhor.

A vejo se afastando até virar para o próximo corredor, sem sequer me deixar falar mais algo. Acabo soltando uma das mãos do carrinho, levando até meu rosto. Eu sinceramente não sei.

Não sei o que responder.

Eu não sei o que eu quero.

Anne decidiu e eu concordei... Eu decidi parar de falar com ela. Decidi não ligar mais, decidi que não valia a pena pensar ou tentar qualquer coisa que seja. Eu decidi desistir. Eu só quero que tudo isso acabe.

Mais essa agora. Balanço a cabeça, tentando afastar tudo isso da minha cabeça, mas sem conseguir, retornando ao que eu estava fazendo. Com certeza esqueci qualquer outra coisa que precisava comprar.

*****

- E então, você vai? - Leandro me questiona assim que se senta no sofá de dois assentos, ao seu lado Iris digita algumas coisas no celular e se acomoda logo depois. Posso perceber que ela estava pausando a música que tocava no fone que Leandro sempre usa. Agora que parei para prestar atenção, já faz muito tempo que não vejo Leandro com seu fone, acho que Iris tomou posse. É bastante incomum receber visitas além do meu tio Marcos ou de Carol. Receber esses dois aqui em casa é uma surpresa completa.

- Ainda não me decidi sobre isso. Mas acho que não vou. - Digo, me aproximando e sentando no sofá mais longo. - Vocês vão?

- Eu irei, já avisei no trabalho e meu supervisor me liberou. Mas avisou que precisarei compensar muito no rendimento quando voltar. - Ele diz rindo. Conhecendo Leandro, ele não se importa em ter que trabalhar mais, afinal ele gosta do seu emprego. - E a Iris também vai.

- Foi difícil você convencer meus pais disso. - Ela diz rindo, mas na hora percebo que seu olhar ficou um pouco aflito. - Meu pai queria voar no seu pescoço quando falou da viagem.

- E sua mãe nos deu uma ótima ajuda pra convencer seu pai. - Leandro completa.

- O bom é que vão conseguir ir juntos. - Digo, sem me estender demais.

- E você deveria ir também. - Iris fala do nada, quase me pegando de surpresa. - A Anne te convidou também.

Balanço a cabeça, negando o que Iris disse - Eu não sei, já não nos falamos mais. Será melhor que eu não vá. Além do mais, eu vou sobreviver aqui.

- Você não vai ter muita companhia aqui. - Leandro comenta, e envolvendo Iris com um dos braços, ele contínua a falar - Não sei se você ta sabendo, mas a Raquel e o namorado dela também vão. A Tamires e a Carol também foram convidadas e já deram certeza. Todo mundo vai, só você vai ficar por aqui?

- É um bom plano. - Concordo com Leandro. - Ficar por aqui parece bem atrativo.

- Um plano que com certeza, a Anne não concordaria. - Ele rebate.

- Você deveria pensar melhor sobre isso Edan - Iris continua, pendendo o corpo para frente e juntando as mãos em sua frente.

Olho para os dois antes de responder. Por que tanta insistência desses dois? Vagamente estão me lembrando de como Raquel costuma insistir quando quer me convencer de algo, mas agora, por algum motivo acho que ela não deve ter nada haver com isso.

- Me deem um motivo pra reconsiderar. - Digo, semicerrando o olhar a eles - E independente do que falem, não garanto uma mudança na minha decisão.

Os dois se entreolham, Iris deu de ombros como se não soubesse o que falar.

- Eu sei como vocês dois pararam de se falar do nada, mas também vi muito bem ela te convidando. - Leandro olha de um lado ao outro, passou a mão pela testa e finalmente continua a falar. - Talvez ela queira se reaproximar, mas não sabe como. Se ela ainda te conhece como antes, provavelmente a Anne não está esperando que você vá mesmo.

Posso perceber como a voz de Leandro pareceu ter ficado diferente, talvez até mais hostil. Não sei, mas com certeza pareceu que algo o estava incomodando quando disse isso, e logo quando termina de falar, Iris o acertou uma cotovelada quase imperceptível. Logo em seguida, revirando o olhar, ele continua.

- O que quero dizer é que pode ser uma chance de se reaproximar dela. - Ele diz, recuperando o tom de voz de antes.

- E se eu não estiver interessado? - Rebato.

- Duvido que não esteja. Aquela garota te fazia bem, e hoje ela faz falta para você. - Ele diz de uma forma que parece convencido disso. - E não adianta negar, é uma coisa que ficava clara só de ver você perto dela. Você ficava bem com ela por perto.

- Pois bem, estou negando tudo isso! - Digo finalmente. - Eu vou dizer apenas uma vez. Ela não me faz falta nenhuma desde o dia que decidiu parar de falar comigo por sei lá qual motivo. Ela quis que eu a esquecesse e foi isso que fiz, e ela fez o mesmo.

- Você não tem ideia do quanto pode estar enganado. - Leandro diz, quase convicto. Tanta certeza vinda do tom de voz dele me incomoda.

- Fiz exatamente o que ela quis! - Digo, me lembrando das palavras de Anne. Eu lembro muito bem de como foi aquele dia.

- Você é quem sabe - Leandro diz rindo em deboche, se aconchegando no sofá. Passou os olhos de um lado ao outro pela sala, e gesticulando com a mão, ele continua a falar - Você sabe muito bem quem vem aqui tentar te convencer depois de mim.

Arqueio as sobrancelhas no mesmo segundo, entendendo a quem Leandro está se referindo assim que ele termina de falar. Sequer é preciso pensar para descobrir. É um problema e não estou nada afim de ter que lidar com ela. - Tudo bem então Leandro, se eu aceitar essa coisa, você me faz o favor de manter ela longe daqui?

- Tenha certeza que ela não virá aqui por esse motivo, e nem vai tocar nesse assunto. - Ele me responde, me causando certo alívio.

Iris olha para o namorado, e então para mim, tentando entender o que estamos falando - De quem estão falando?

- Raquel... - Respondo, passando a mão pelo rosto.

- Ela tem jeitos bem menos sutis de convencer o Edan... Ela é bem mais insistente e seu poder de convencimento é bem maior. - Leandro diz, olhando da Iris para mim e rindo.

Reviro o olhar só de pensar na possibilidade de Raquel aparecer por aqui só pra isso, e pelo jeito, se eu negar é certo que isso irá acontecer e vou ter muito mais encheção na minha cabeça. Saco, eu não quero ir, e só agora que me deu a idéia de mentir inventando algum compromisso aleatório. Eu deveria ter pensado melhor pra sair dessa, mas agora já foi. Mentalmente começo a praguejar comigo mesmo por essa falha, é inaceitável que eu não tenha pensado em nada. Quero gritar de raiva mas não consigo, o máximo que consigo é bufar com todo o fôlego que tenho.

- Saco! Que fique claro que eu NÃO ESTOU indo por causa da Anne. - Reclamo.

- Claro, tenho certeza que não. - Leandro ri com o que digo.

- E quando vai ser essa coisa? - Questiono, enquanto passo as mãos pelo rosto, tentando tomar coragem para essa viagem que me enfiaram.

- Nesse primeiro sábado das férias, vamos nos encontrar meio dia na casa da Anne, e iremos sair umas 13 horas. - Leandro diz, passando a mão no rosto.

- Vou ter que pensar no que fazer com o meu cachorro. - Resmungo sozinho.

- Deixa em um pet shop, ou alguém que você ache que vai cuidar dele. - Iris sugere enquanto olha na direção da porta. - Deixar ele sozinho não é uma boa ideia.

- Vou falar com meu tio sobre isso, talvez ele me ajude nisso.

- Ótima ideia, e olhe pelo lado bom, a Carol foi convidada e vai ir também. - Leandro diz, apontando para mim como sendo um motivo perfeito. - Não estará sozinho, vai estar lá com sua namorada.

- A Carol não é minha namorada. - Respondo de imediato.

- Não? - Iris questiona.

- Não, ela é só uma amiga que passa aqui em casa, e as vezes... Coisas acontecem. Mas não namoramos. - Balançando a mão na direção dos dois, tento afastar esse assunto de alguma forma. - Ela já falou muito que só quer amizade comigo e mais nada, se bem que ela sempre repete que não vai com minha cara.

- Tínhamos certeza de que haveria algo entre vocês. - Leandro fala, dando de ombros.

- Vocês criaram uma opinião errada. - Bufo comigo mesmo, esse assunto de novo. Penso rápido em um jeito de cortar esse assunto - Enfim, os dois não vieram aqui apenas para falar disso, não é?

- Um dos motivos foi esse, mas tem outra coisa. - Iris fala, tirando seu óculos e encarando a lente, acho que procurando manchas.

- O principal foi esse, além de fazer uma visita. - Leandro comenta, passando a mão no queixo - A tempos que não venho aqui, e a Iris nunca veio também.

- Falando assim, senti como se minha casa fosse um ponto turístico. - Respondo.

- Você entendeu, é bem isso mesmo. - Leandro ri sozinho. Iris acerta uma nova cotovelada no namorado, e quanto a mim sequer tenho reação. Por mais que tenha muitas piadas e seja hostil em alguns momentos, essa é a amizade que tenho com Leandro, de certa forma é um bom amigo que fiz nesses anos.

Enfim, acho que terei mesmo uma programação de férias.

*****

Meu tio Marcos acaba de se sentar, rindo alto como se acabasse de ouvir uma piada incrível. Ele ri tanto que leva a mão ao estômago, curvando o corpo para frente e tentando falar - Da pra me dizer que tipo de milagre divino fez você querer sair em uma viagem de férias?

- Eu não quero. - respondo, dando um tempo para que ele pare de rir, mas como isso não acontece, continuo a falar - Eu prefiro ficar, mas usaram de bons argumentos para me convencer.

- É tão incrível que parece mentira Edan. - Meu tio finalmente contém o riso.

Eu suspiro, ainda frustrado por não ter inventado uma desculpa a tempo. - Com certeza eu gostaria que fosse mentira, mas não é. Por causa disso, quero te pedir um favor.

- Pode falar, o que precisa? - Ele me pergunta.

- Até onde sei, essa viagem vai durar uma semana pelo menos, e não posso deixar o Mítico sozinho. - Digo, olhando para o cachorro parado bem ao lado da porta. Ele me olha como se fosse me atacar em qualquer segundo, apesar que já estou bem acostumado com isso, tem sido esse olhar estranho desde que ele invadiu minha casa meses atrás, e até agora eu não consegui tirar ele. O que consigo fazer é alimentar ele e sair de casa para a escola, mantendo uma distância que é possível ter segurança, ou pelo menos correr para dentro se for preciso.

- E você quer pedir que eu cuide dele, estou certo? - Ele pergunta, erguendo uma sobrancelha.

A primeiro momento, penso em responder que na verdade, eu queria saber se ele conhecia alguém, ou algum pet shop para deixar o cachorro, mas então mudo de ideia - É, mais ou menos isso.

- Mas nem precisa pedir duas vezes, cuido dele com prazer. Eu adoro cachorros. - Meu tio responde, batendo algumas palmas para o Mítico. Isso faz o cachorro entrar correndo todo animado, parando bem em frente ao meu tio, ganhando carinhos, balançando o rabo, brincando e lambendo as mãos do meu tio. Por que esse bicho não é assim comigo?

- Vai ser uma ótima ajuda, poderei ir mais tranquilo. - Digo.

- Será bem cuidado, não posso levar ele para o condomínio que estou morando, mas posso ficar por aqui cuidando dele, se não tiver problema para você Edan.

- Não tem problema nenhum ficar por aqui. - respondo. - Aliás, tenho uma pergunta, não que eu me importe, mas tem recebido notícias da Clarice ou da sua filha?

Meu tio balança a cabeça negativamente - A Clarice já não falava qualquer coisa comigo desde antes de eu me mudar, já sua prima Gisele ainda fala comigo as vezes. - o tio Marcos abre um largo sorriso, tão grande e tão sincero que parece até uma criança feliz. - A Gisele falou essa semana que está com saudades de mim, sente minha falta e gostaria que eu voltasse para casa. Minha filha nem ligava par mim, agora sente minha falta.

- Nossa, isso é... Legal, eu acho... - Tentei ao máximo possível não menosprezar o que meu tio acabou de falar ou o que está sentindo, mas acho que falhei nisso. Não sei exatamente o que responder, afinal eu nem me importo com isso. Penso rápido para contornar o que acabei de falar - Pelo lado bom, ao menos uma delas está sentindo sua falta, é uma grande mudança.

Ele curva os ombros para baixo - Eu tenho vontade de voltar para a antiga casa, porém se fizer isso minha vida vai desandar outra vez.

- Se fizer isso, o seu esforço vai ser jogado fora. - Respondo simplesmente.

- Eu tentarei continuar como estou, já tive uma boa melhora, apesar da minha vontade de ir beber estar me matando - Ele diz. Antes que eu abrisse a boca para contestar, meu tio continua a falar - Mas estou resistindo até bem... Enfim, você terá uma semana de viagem, já pensou o que fará no restante das férias?

- Parece até que não me conhece - Respondo, arqueando uma sobrancelha.

Ele ri, e dando de ombros continua - Não faz mal perguntar.

- Ainda estou pensando nisso, mas não tenho ideias. E não acho que a Carol vai passar muito tempo aqui nessas férias.

- Já que não tem ideias, quando voltar dessa viagem me ligue. - Por um segundo, tenho a impressão de ver um olhar melancólico no tio Marcos. - Você já está quase na idade de resolvermos algumas coisas.

- Coisas tipo?

Ele sorri, e então me diz - Ainda não. Por enquanto vá e aproveite sua viagem. Quando voltar eu mostrarei, é algo que seu pai pensou para você quando soube que sua mãe estava grávida.

Uma coisa que meu pai fez para mim?

Interessante. Tenho que admitir que agora estou curioso sobre isso. Quando o assunto é sobre meus pais, não tem como eu não me interessar. Olho para meu tio, pensando em perguntar mais algo, mas pela sua expressão, é certeza que não descobrirei nada. Enfim, controlo minha curiosidade e falo - Pelo jeito terei que esperar... Então tá, quando eu voltar iremos ver sobre isso.

Considerações Finais:
E aqui ficamos com mais um capítulo. Um capítulo até "rápido" se for feita a comparação com alguns anteriores e com certos capítulos futuros. Foi um capítulo bem leve e sem grandes acontecimentos, como uma... Transição.
Espero que tenham gostado, e que continuem acompanhando a história. Até o próximo capítulo.

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