Capítulo 21
4052 palavras - Arco pós time-skip
Por Edan
Tudo em volta de mim está escuro. Não sei que dia é hoje, e também não tenho ideia de que horas são. Tateio em volta tentando descobrir alguma coisa, ou pelo menos meu celular. Lembro-me aos poucos de sempre deixar debaixo do meu travesseiro, principalmente por ser um modelo com relatos de explosão, pelo menos é isso que sempre dizem, mas até hoje nunca aconteceu nada. Acho que isso deve ser bom, mas não deixo de me sentir levemente decepcionado de certo modo. Olho as horas, não são nem 4 da manhã, cedo demais até para me levantar para a escola, mas ainda sim me sento na cama. Direcionando meu olhar para minha esquerda, vejo Carol dormindo agarrada em boa parte das cobertas e tentando puxar tudo para si, ela faz isso em quase todas as vezes que dorme aqui.
Me empurro para fora da cama para me esticar um pouco, além de ir para a cozinha beber alguma coisa. Avanço em passos curtos pelo meu quarto, esfregando a mão no rosto para poder despertar. Meu corpo me condena, o cansaço recai com força sobre mim, dores vindas de dentro de mim surgem gradualmente. Ao passar pela porta sinto o frio da sala batendo no meu corpo quase que de imediato, de uma maneira que eu pudesse sentir meu corpo e minhas roupas esfriando. Era justamente esse contraste de temperaturas que eu precisava para despertar.
Continuo até a cozinha, agarrando o primeiro copo que vejo no armário, encho de água e bebi em poucos goles, dando um longo suspiro quando termino. Esfrego os olhos por um tempo, então retorno para a cama. Se eu demorar muito para voltar, ou se fazer muito barulho é certeza que Carol vai acordar, e pelo menos ela precisa ter uma noite de descanso no mínimo decente. Já basta eu com praticamente todas as noites mal dormidas. Deixo o copo na pia e volto para o quarto.
*****
Acordo novamente mais cedo do que deveria, mas pelo menos agora me sinto mais disposto do que de madrugada. Olho para meu celular querendo saber das horas. Não faltam nem cinco minutos para o celular despertar, e eu pensar em me levantar. Na verdade, mesmo se eu quisesse levantar agora eu não poderia. Carol acabou deitando em cima de mim em algum momento da noite, e agora eu não tenho jeito de conseguir me mexer sem acordar ela. Suspiro e balanço a cabeça para mim mesmo, não tenho saída. O jeito é esperar ela acordar. Mentalmente, começo uma contagem regressiva até o celular despertar, mas antes disso, Carol começa a despertar sozinha. Ela então acorda, levantando um pouco o rosto e olhando em volta.
- Bom dia... – Ela me diz, com a voz bem preguiçosa, e já bocejando em sequência.
- Bom dia Carol, dormiu bem?
- Acho que sim, dormi como uma anjinha, mas quero dormir mais. – Diz me olhando. Ela se aproxima, me dando um longo e suave beijo de bom dia. Deitando a cabeça em mim outra vez.
- É, mas não podemos. – Digo logo em seguida, mas sem esboçar vontade de me levantar.
- Só mais dez minutinhos vai... Eu prometo levantar depois disso – Ela insiste contendo o riso.
- Infelizmente não... Já estamos no horário de levantar... – Respondo.
Resmungando, Carol se levanta, sentando na borda da cama. Ela esfrega os olhos, se espreguiçando por algum tempo. Ela continua – Adoraria se ainda fosse uma da madrugada...
- Não reclame. Você termina o colegial daqui a poucos meses. Ainda tenho dois anos e alguma coisa pela frente. – Digo, me empurrando para fora da cama e indo ao guarda-roupa pegar minhas roupas para a aula. O celular finalmente desperta, mas Carol o desliga de imediato e o deixa sobre a cama.
Ela solta um riso seco – Se esqueceu que farei faculdade?
Balanço a cabeça negativamente, e não a respondo de imediato. Acho que o sono me impede de pensar em qualquer resposta decente para ela. Ando pelo quarto, pescando algumas roupas na gaveta, então quando finalmente penso em algo, eu falo – Te conforta saber que estaremos de férias nessa sexta-feira de tarde?
- Sim, isso é muito mais confortante, até me sinto melhor humorada. – Ela diz, com o canto dos olhos a vejo com um largo sorriso.
- E não esqueça que você ainda terá alguns meses podendo ficar acordada até tarde vendo filmes igual fez ontem... – Termino de falar, avaliando se isso é realmente algo tão bom assim.
- Você me falando para ver o lado bom de alguma coisa? Isso é incrível de se ver. – Carol para ao meu lado, me dando um abraço e um suave beijo.
- É uma coisa tão rara assim de acontecer? – Admito, essa foi uma pergunta bem idiota.
- É sério que preciso responder? – Carol ri para mim.
Olho em sua direção, refletindo em como essa foi uma coisa desnecessária de se perguntar – Acho que não precisa.
Ela mantem o sorriso, se afastando de mim. – Bem, eu irei pegar alguma coisa para comer na cozinha. – Ela se espreguiça esticando os braços para o alto, e então deixa o quarto. Aproveito e me visto para a aula, finalmente são os últimos dias de aula antes das férias.
Tão merecidas férias, apesar de eu não planejar nada, eu acho que preciso desse tempo. Esse ano ainda está na metade, e está muito pior do que eu poderia imaginar... Ou talvez eu esteja superestimando esse ano letivo. Só de imaginar mais alguns anos assim me fazem querer enlouquecer, isso se eu já não tiver enlouquecido. Carol retorna, deixando um pacote de bolachas aberto na cama. Olho em sua direção, ela está claramente hesitando entre comer ou ir se vestir, mas ela acaba cedendo em comer as bolachas.
- Eu posso ficar por aqui? Não estou afim de ir para a aula hoje. – Ela me pergunta, se sentando outra vez na cama.
- Poder até pode, mas não reclame quando te perguntarem de faltas. – Respondo. Olho em sua direção, pela sua cara de sono, ela pode dormir a qualquer segundo.
Contrariando o que sempre ouvi falar sobre mulheres demorarem para se vestir, Carol se veste muito rápido, terminando de se arrumar quase no mesmo tempo que eu. Tamanha a velocidade que quase me impressionou. A vejo ajeitando seu cabelo com algumas passadas de mão, e assim que pegou seu celular, ela me puxa pela mão para sairmos. Agarro minha mochila e me deixo ser puxado por essa maluca. Acho que não tenho muito motivo para resistir.
*****
Por debaixo do capuz, eu olho em volta, essas ruas vazias pela manhã são uma das poucas coisas que me agradam. Ao meu lado, Carol aproveita uma música alta em seus fones, me esforçando um pouco, consigo ouvir e chutar que seja algum desses sertanejos atuais. Balanço a cabeça negativamente, sentindo o vento frio da manhã. Normalmente não costuma estar tão frio assim de manhã, mas acho que essas coisas acontecem. Bem, melhor assim, prefiro bem mais o frio do que o calor.
Olho na direção de Carol de novo, o que me faz refletir sobre os últimos tempos. Não namoramos, tudo que temos é uma amizade bem estranha, onde mais temos alguns desentendimentos por motivos aleatórios, longas conversas pelos mesmos assuntos aleatórios, um falar para o outro que não nos gostamos nem um pouco, e também em vezes que acabam rolando algumas coisas entre nós. Penso em como ela não tem nenhuma obrigação em ficar perto de mim, mas ainda assim, ela tem sido uma das principais companhias que tenho a quase uns 3 ou 4 meses, pelo menos uma vez na semana ela vai lá em casa passar a tarde, conversar ou dormir lá. Para ser exato, ela vai lá em casa desde o dia que adotei o Mítico, aquele cachorro invasor, que não sabe se gosta de mim ou se é um bicho totalmente ranzinza. Pelo menos ele nunca mais me mordeu, acho que isso é algum avanço. Lembro no dia que Carol estava em casa me ajudando a dar um nome, e ela riu quando fiz a escolha... Agora que me lembrei, esse também é o mesmo dia em que Anne e eu deixamos de nos falar...
Durante as aulas ela sequer olha em minha direção, como se eu não existisse... Todas as vezes que está falando com Raquel ou Leandro e me aproximo, ela simplesmente se afasta e mal olha na minha direção. Isso acontece até nas vezes em que estou andando pela escola e a vejo com amigos em comum, ou com o seu grupo de alunos do terceiro ano. Todas as vezes ela se afasta, como se fugisse de mim. Chegou um momento em que desisti de tentar falar com ela, e deixei que se afastasse... E eu ainda tentei me manter próximo.
- Ei, estou falando com você! – Percebo Carol estalando os dedos na frente do meu rosto, me fazendo voltar a mim mesmo. – Você estava na lua.
- Desculpe, minha mente estava em outro lugar... O que é?
- Tinha perguntado do seu tio. Ele deu alguma notícia? – Ela diz, passando as mãos nos braços tentando se aquecer.
Ainda tem isso do meu tio. A exato um mês ele saiu de casa definitivamente, conseguindo guardar parte de seu salário lá em casa. – Desde o dia que ele me disse que iria comprar um sofá novo, ele não me deu mais notícias.
- E como sua tia maluca está reagindo?
- Desde o dia da mudança, não sei nada nem dela e nem da minha prima. – Passo a mão pelo queixo – As coisas poderiam ter sido melhores para eles.
Carol ri – Talvez as coisas aconteçam por que devem acontecer para uma melhora. Eles precisam passar por isso.
Fico em silêncio por um segundo. – De certa forma, seria tão mais fácil que as coisas dessem certo para eles de uma vez.
- Gostaria de te perguntar uma coisa... – Ela diz, segurando uma mecha do seu cabelo entre os dedos – Você se preocupa com eles, ou gostaria mesmo que as coisas dessem certo para eles?
A pergunta dela me pega quase desprevenido. Já pensei nisso várias vezes antes, em toda a situação que meus tios passam. Acho que todas as vezes que tive essa discussão interna, acabei desistindo por perder o interesse. É cansativo demais pensar nisso, mas preciso dar uma resposta a ela – Acho que não.
- Você acha ou tem certeza? – Carol insiste. Onde ela quer chegar?
- Apenas acho... Eu... Gostaria que desse certo para eles. Não ligo para nenhum dos dois, não me importo se ambos desaparecessem... Mas também me incomoda saber que estão tendo que passar por problemas assim... Posso ver como meu tio sofre com tudo isso, minha prima Gisele não demonstra, mas enxergo que ela também sente dor em ver seus pais dessa maneira... Eu não gosto, e nem consigo ver outras pessoas sofrendo, não importa quem seja... Queria poder ajudar esses dois a ficarem bem de algum jeito, ao invés de só desejar que desaparecessem...
Ela me olha por algum tempo, então começando a rir baixo. – Você é cheio de surpresas. Acho que você não tem um coração tão ruim quanto pensa.
- Está enganada. Eu não estou nem aí pra esses dois. Eles não são importantes em absolutamente nada para mim. – Respondo mais direto do que eu mesmo imaginava – Quero que as coisas se resolvessem logo, para que eu não precise pensar nisso.
- Sim, seria bom mesmo. Tantos problemas resolvidos de uma só maneira, só estalando os dedos. Mas é uma pena que as coisas não sejam assim...– Ela dá um sorriso, acho que se conformando de como as coisas são. Olho em sua direção, mas eu sequer consigo imaginar o que Carol está pensando agora. Será que falei alguma coisa estranha? Acho que não devo pensar nisso, nem tentar entender.
Pelo restante das duas últimas ruas não falamos nada, chegamos na escola juntos, e assim cada um segue para uma direção oposta, ela segue para perto da quadra enquanto eu vou em direção do refeitório, me sentando na primeira mesa vazia que encontro, jogo minha mochila de lado e espero dar a hora para ir para as salas. Leandro é o primeiro que aparece na minha vista, e Iris vem com ele. Eles me lançam um cumprimento de longe e se aproximam. Pelo que vejo, Iris está com o fone que Leandro costumava usar no pescoço. Ou ele cedeu esse fone que era quase um filho, ou então Iris tomou posse. Acho que fico com a primeira opção.
- Bom dia Edan! – Iris fala primeiro enquanto Leandro estende a mão para um aperto simples.
- Sozinho por aqui como sempre. – Leandro comenta, olhando de um lado ao outro. De vez em quando ele me diz isso, quase como se não me conhecesse. Ele então continua – Animado para as férias?
- Estou do mesmo jeito que as férias do começo do ano. – Respondo.
- Preparado para fazer vários nadas? – Iris pergunta, apontando o indicador para mim.
Olho para ela balançando a cabeça confirmando. Nisso, olho para Leandro – Sabe, as vezes eu acho que é a Iris quem me conhece a mais tempo, e não você.
- Nunca se sabe quando terá uma mudança. Acho que o importante é não perder as esperanças meu caro amigo. – Leandro me responde com risos curtos. Tenho que admitir, ele espera mesmo que exista algum tipo de mudança nos meus "planos para todos os dias". Acho que esse ponto de vista otimista dele é o que nos torna amigos.
- É, acho que está certo, mas essa mudança não será hoje. – Tento deixar claro meu ponto de vista, só espero que eu esteja sendo convincente o bastante – Por falta de opções, meus planos continuam sendo ficar em casa.
- Foi o que pensei. – Leandro me responde, dando de ombros. – Bem, nós vamos comprar algo para comer. Quando estivermos na sala, nós conversamos.
Dando um passo a frente, Iris parece querer falar algo, mas ela logo então desiste. Estranho sua reação, mas logo ignoro. Se virando para Leandro como se não fosse nada, os dois se afastam de mim, rumo a cantina.
O sinal toca finalmente, agarro minha mochila e me levanto para ir até a sala. Só de pensar que ficarei longe de tanto barulho aqui da escola é uma coisa bem relaxante. Me faz querer ter um mês de aulas e um mês de férias logo em seguida para ter essa sensação mais vezes.
Chego na sala e vou para minha mesa, deixando minhas coisas no chão, me sentando na minha cadeira. Mal me ajeito e vejo Anne vindo e se sentando na mesa ao lado, mas sequer olhar na minha direção, como costuma fazer. Logo atrás dela está Fabiano, que me ignora do mesmo jeito que ela faz. Esse tipo de coisa vem acontecendo a muito tempo, tanto que nem tenho mais certeza de quanto é exatamente. Penso em cumprimenta-los por educação, mas eu desisto. Coisas aconteceram apenas de eu dar bom dia... Se estando bem do lado desses dois eles já não cumprimentam, então por que devo me dar ao trabalho de dizer qualquer coisa a eles? Simplesmente já desisti de falar com eles mesmo.
Vejo que Raquel aparece na porta logo na sequência, ela vem em minha direção, me cumprimentando com um toque no ombro e se juntando com o casal ao lado, o que me faz ignora-la da mesma forma que fiz com os outros. Eles conversam em voz alta por algum tempo de coisas que mal me dou ao trabalho de querer ouvir, mas infelizmente sou obrigado. Ignoro praticamente tudo que falam. Quem me dera se eu tivesse um fone de ouvido. Acho que meu celular veio com um fone de ouvido na caixa. Quando eu chegar em casa irei ver isso, talvez seja de grande ajuda.
Por enquanto, apenas me concentro na janela e tento escapar daqui como posso.
Mas se eu escapar, para onde irei?
*****
- Está nos convidando para uma viagem? – Escuto Raquel quase gritando algumas mesas a frente, isso arranca minha atenção do caderno onde eu seguia uma série de rabiscos. Do jeito que falou alto, parece que as conversas em volta foram sobrepostas como se mal existissem, e por estar perto torna mais fácil de distinguir o que falou. Vejo reunidos mais a frente Raquel sentada em sua cadeira, Leandro sentado na cadeira ao lado, e Anne encostada na mesa de Raquel, todos parecendo bem interessados no assunto.
- Não é um lugar muito incrível, é só uma casa de campo que meu pai tem de herança. – Anne diz, balançando as mãos para Raquel falar mais baixo. – Pelas fotos é um lugar bonito e é muito calmo, e acho que a casa é grande.
- Quanto tempo querem ficar lá? – Leandro questiona, batendo a mão na mesa repetidamente simulando alguma música que não sei qual é.
- Pelo menos uma semana, e no máximo duas – Anne pensa, olhando de um lado ao outro e soltando uma risada para si própria – Acho que esse é o tempo que podemos ficar sem nenhuma tecnologia sem surtar de vez.
- E vocês já tem uma data pra ir? – Novamente é Leandro quem pergunta.
- Seria agora nessa primeira semana de férias, ficou decidido bem em cima da hora, ou era o interior ou ir para a praia. – Anne deu de ombros, claramente demonstrando não ligar para qual fosse a escolha.
- Acho que gostei da ideia, só preciso da autorização dos meus pais pra isso – Raquel diz, a vejo brincando com o cabelo enquanto diz isso.
- Eu gostei da ideia, com meus pais não tem problema nenhum. Só preciso falar com o pessoal do trabalho para avisar que ficarei ausente por alguns dias. – Leandro então para de falar, parece até que pensou em algo de forma súbita. – E falar com a Iris também.
- Se quiser pode chamar a Iris para vir junto. – Anne disse, recebendo um olhar questionador de Leandro. Ela então continua. – Foi o que meu pai disse, que eu podia convidar quem eu quisesse. E a mesma coisa com você Raquel, se quiser chamar o Ricardo pode ficar a vontade.
- Uau, seus pais estão podendo amiga – Raquel diz rindo, ela até da alguns pulinhos de animação – Já eu mandarei uma mensagem para convidar o Ricardo.
Nesse momento largo meu lápis na mesa, desvio meu olhar em direção a janela, apoiando o rosto na mão. Quero poder só parar de prestar atenção nisso, talvez fugir para algum lugar em que não possa mais ouvir essa conversa, tentar escapar dessa maldita curiosidade que estou sentindo em saber mais. Afasto alguns fios de cabelo para longe dos meus olhos, direciono meu olhar de um lado ao outro em busca de algo que possa me distrair dessa conversa, a única coisa que parece me chamar atenção é uma figura escura parada em frente ao portão, olhando na direção do andar em que estou, quase que olhando na minha direção, mas assim que presto atenção não tem mais nada lá. Estranho de imediato, mas ignoro, provável que eu tenha só imaginado... Mas isso me faz lembrar do ocorrido que teve na escola, das luzes apagando e a aparição rápida daquela coisa na frente da sala...
Não, não foi uma coisa, parecia muito com uma pessoa. Talvez seria o tal "cara do casaco" que anda aparecendo... Mas isso não importa, e minha atenção volta para a conversa.
- Espero que a Iris possa ir, será nossa primeira viagem juntos. – Leandro diz quase eufórico.
- Vai ter gente lá, não vão ficar sozinhos por muito tempo. – Escuto Anne rindo logo depois de falar. Sem mudar minha posição, meus olhos são atraídos em sua direção, mas logo desviam novamente.
- E daí, vai ser uma viagem. Iremos viajar, ver um lugar novo. – Leandro também ri. – E o melhor, teremos uma ótima memória juntos. Eu ficarei te devendo uma com certeza Anne.
- Olha só, temos alguém apaixonado aqui! – Raquel ri alto. – Onde será que está aquele carinha que falava que só queria amizade com a Iris?
Mais e mais risos de todos eles – Todo mundo fala besteira as vezes! – Leandro diz – Acho que esse carinha não existe mais garotas, e eu falo convicto que estou adorando cada momento com a Iris.
- Não vai se empolgar agora. – Anne devolve entre risadas – Não queremos ouvir uma declaração de amor agora.
- Pode ficar tranquila que não farei uma declaração, pelo menos não para vocês ouvirem. – Escuto mais risos de todos eles. Realmente estão animados – E olha que quem me deu o empurrão que eu precisava na hora foi o Edan. Eu tenho que agradecer ele.
As vozes deles se calam junto com os risos. De um segundo ao outro a bagunça deles é engolida pelos barulhos dos outros alunos.
Que reação inesperada. Eu sabia que consigo afetar as pessoas negativamente, mas até quando não estou por perto eu tenho esse efeito?
Tento prestar atenção a ponto de prender a respiração por alguns segundos, minha curiosidade pede isso, mas não ouço nada. Me permito dar um leve e disfarçado suspiro, conformado em não ouvir mais nada. Não sei o que fazem ou se falam em voz baixa por se lembrarem que estou aqui. Não. Na verdade isso não importa, sequer devo me preocupar com isso, não tenho motivos para pensar com algo que nem da minha conta é. Isso não é da minha conta. Isso não me interessa em nada, não ligo nada para o que falam. Só preciso ignorar, como se não existissem. Ignorar como sempre fiz. Nada disso importa...
Nada importa.
Me distraio finalmente segurando uma mecha do meu cabelo entre os dedos mas logo solto por não me entreter. Agarro meu celular no bolso, o desbloqueando e olhando a mesma tela padrão de quando o comprei. Dou alguns toques, olhando alguns dos ícones de aplicativos e jogos que baixei apenas por baixar, e nunca sequer abrir. Nem isso consegue prender minha atenção. Bloqueio o celular novamente e o solto na mesa, me virando novamente para a janela, bufando sozinho. Sinto então um toque leve no meu ombro, tão suave que foi quase imperceptível. A sala está barulhenta, mas posso ouvir um longo suspiro. Isso atraí um pouco da minha atenção, mas não o suficiente para me fazer querer olhar. Mal me viro, apenas ignoro.
- Você está convidado também... – Essa voz familiar. Hesitante mas tão familiar. Anne.
Espera.
Anne?
Me viro em sua direção quase na hora, ela está ao meu lado, mas não me olha de volta. Anne se afasta, sentando em sua cadeira e vira o rosto para o lado, sacando seu celular do bolso da calça e começando a digitar alguma coisa. Olho em sua direção por alguns segundos, sem sequer saber como reagir ou o que falar para ela, eu não sei. Me viro então para Raquel e Leandro, questiono com o olhar, mas eles não fazem nada além de me olhar de volta sem me dar uma resposta. Raquel da um sorriso de canto e se vira para frente, e Leandro arqueia as sobrancelhas e também se vira para outro lado. Olho para Anne uma última vez, e ela continua olhando seu celular. Balanço a cabeça, pegando meu lápis e voltando aos rabiscos, me sentindo estranho de alguma forma.
Considerações Finais:
E aqui acabamos mais esse capítulo. O 21 começou com essa principal mudança. Agora a história por inteira seguirá com o ponto de vista do Edan, sendo em toda a sua visão e pensamentos, justamente para verem melhor o que realmente esconde em sua mente, cada pensamento único dele.
Neste momento passaram-se 3 meses dentro da história, muitas coisas aconteceram entre esse tempo, varias coisas mesmo.
O que acharam desse capítulo? Gostaram da mudança? Tem ideias, teorias? Compartilhe, adoro ler tudo. Sem mais, até o próximo capítulo.
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