Capítulo 18
7254 palavras - Arco casais
- Não acho que eu precise disso. – Resmungou Edan, enquanto Anne passeavam pelo celular do colega.
- É claro que precisa – Ela retruca, dando alguns toques de leve na tela. Apesar do barulho da classe, conseguia ouvir bem o som dos dedos da garota tocando de leve na tela, e ao que via, a garota acabara de fazer as unhas. Se perguntou mais uma vez, desde quando reparava tanto em sua colega?
- Ela está certa. Como pensa em manter contato com todo mundo se não tem o mesmo aplicativo de mensagens? – Raquel concordou, parada atrás de Edan passeando as mãos nos ombros do rapaz.
- Não pensando? Sequer cogitei a ideia de ficar mantendo contato com alguém, são vocês que entendem disso. – Ele deu de ombros, abrindo seu livro e o folheando. Passou a noite inteira em claro fazendo pesquisas utilizando seu celular, que acabou por esquecer de estudar para a prova de segunda. Por mais que não quisesse admitir, o celular que o fizeram comprar estava sendo realmente útil para ele, era mais rápido que seu velho computador, por mais que tenha causado o pequeno inconveniente de não estudar para seu teste.
- Mas deve pensar, afinal se tivermos contato, poderemos te incomodar o dia todo – Raquel rebate, enquanto começa a mexer no cabelo do colega, dando alguns puxões de leve. Mesmo sem entender o que Raquel estava fazendo, ele deixou que continuasse.
- E ajudar também, quem sabe teríamos te avisado também do teste de hoje? – Anne diz rindo, agora tanto com o próprio celular e o de Edan em mãos. Digitou mais algumas coisas, e então disse olhando para os colegas – Pronto, já coloquei o que precisava, também anotei nossos números e... O que você está aprontando Raquel?
Ela riu, sinalizou para Anne se aproximar. Assim que a garota o fez, começaram a soltar pequenos risos quase que de satisfação. – Ficou legal de cabelo preso Edan. Está diferente. – Anne comentou mostrando a ponta do cabelo amarrado em um único prendedor preto.
O rapaz não respondeu. Apenas olhou fixamente para a "obra de arte" das garotas. Sua reação foi olhar por alguns poucos segundos antes de ignorar como se não fosse nada, e voltar aos seus estudos. Ele sequer piscou.
- Ele com certeza adorou, apesar dessa cara feia. – Raquel diz enquanto segue de volta ao seu lugar – Bem, tanto faz, você fica sério assim até quando dorme.
- É mesmo, eu já vi e concordo. É emburrado naturalmente mas deve ter adorado. – Anne devolveu o celular de Edan, puxando sua cadeira e sentando próxima. Enrolou uma mecha de cabelo no dedo, e então disse – Sabe, quero te perguntar algo já faz um tempo.
- Pode perguntar a vontade... – Respondeu simplesmente. Não ouviu nada, porém teve seu olhar foi atraído para a garota, ou para o que ela estava mostrando.
Anne lhe mostra o seu próprio celular com uma foto. A princípio não reconheceu as pessoas da foto, olhou para a garota, o cabelo liso e curto, as roupas que já havia visto antes, e o rapaz de cabelo negro e muito longo. Logo percebeu que eram ele mesmo e Carol. A foto que Tamires havia tirado. Anne erguia uma sobrancelha, e então disse. – Pode me explicar?
- Apenas a Carol demonstrando como estaria se realmente estivesse dando em cima de mim. – Respondeu passando a mão no queixo. Recebeu um olhar severo, mas essa era a verdade.
- Ah, é mesmo? – Reclamou com calma na voz, por mais que sua expressão mostrasse o contrário – Ela estava "demonstrando", eu acho é que ela estava dando em cima de você, vai saber o que fizeram depois que essa foto foi tirada.
Semicerrando o olhar sem entender onde a colega queria chegar, Edan tenta pensar em algo no último segundo, mas sem sucesso – Absolutamente nada, ela parou assim que a Tamires tirou essa foto. Eu também não sei até onde ela pretendia ir com isso.
Olhando de novo a foto, Anne parece ainda mais insatisfeita com a explicação recebida. Os seus olhos azuis que poderiam lembrar um lago calmo agora ferviam enquanto se tornavam mais tempestuosos. – Não parece ser só isso, olhando do jeito que estão próximos, do jeito que você está tocando ela... Não parece que vocês pararam.
- Te garanto que foi isso que aconteceu, não acho que eu teria algum motivo pra mentir. – disse tentando se defender. Edan tocou o celular de Anne com a ponta do indicador e a fez abaixar gentilmente na mesa. Acompanhando o movimento que o colega fez, Anne volta a encara-lo sem dizer nada. Com isso Edan passa a mão no rosto e então continua – Me escute, se realmente tivesse acontecido alguma coisa, tenho certeza que você ficaria sabendo em muito pouco tempo. Se não soube é porquê não aconteceu nada.
Seu olhar se mantém firme e penetrante. Anne não acredita no colega, e claramente demonstra isso. Ela quer questionar algo, quer reclamar, seu corpo e sua boca mostram precisar disso, soltar algo sufocante. Algo que Edan não tinha a menor ideia do que poderia ser – Como vou saber se está falando a verdade?
- Acreditando no que falei, o que eu ganharia te enganando?
- Não sei, me diga você. – Anne bufa – Não consigo acreditar que tenha sido só isso, você e essa Carol devem ter feito algo mais.
- Foi só uma foto que a Tamires mandou para o seu namorado, porque ele estava nos mandando fotos de vocês dois primeiro. – Passou a mão na testa enquanto pensava no que dizer. Anne realmente estava incomodada com isso? Por causa de uma única foto? – Se alguma coisa tivesse acontecido, a Raquel já teria te contado, ou a própria Carol já teria espalhado para sabe-se lá quem, e você ficaria sabendo antes.
O olhar dela se enfraquece, talvez estivesse acreditando, talvez quisesse só esquecer. Ela parecia estar confusa sobre o que falar. Pendendo um pouco a cabeça para frente a ponto de encostar no ombro de Edan, ela continua, tentando disfarçar. – Desculpa, não sei o que deu em mim... Não deveria agir assim.
- O que foi que aconteceu com você?
- Eu não sei... Acho que só incomodada de ver o jeito que ela fica agindo – Ela responde, com a voz pesada.
- Apenas isso? – Edan questionou.
- É, eu acho que sim...
- Então iremos só fingir que nada disso aconteceu. Eu não conto para ninguém e você também não. – Disse da forma mais simples que pode. Se o motivo que Anne acabou de dar for a verdade, então acreditou que essa era a melhor solução para o momento.
Anne ergue a cabeça, sua expressão e sua voz pareciam indecifráveis, como se quisessem falar algo mais – Será que deixar pra lá é assim tão fácil?
- Talvez não, mas devemos concordar que é deve ser mais agradável que você ficar irritada sem ter uma certeza do motivo. – Edan balança a cabeça enquanto fecha o livro de repente. Abaixando os ombros ele diz – Não vou conseguir aprender nada, já me conformei com o zero que vou tomar. Me diga, como está seu namoro, talvez isso te distraia.
- Até que está indo muito bem, melhor do que eu esperava. – Ela diz, enquanto passa a mão no cabelo e endireita a postura. Sua voz e expressão se aliviaram muito de um assunto a outro, tanto que nem mesmo parecia a garota com péssimo humor de poucos segundos atrás. – Ele é muito fofo comigo, carinhoso, ótimo companheiro, vive me adulando e fazendo algumas das minhas vontades... Me leva para casa todos os dias, o Fabiano tem sido alguém muito bom para mim nessas últimas semanas, e estamos só no começo.
- Estou vendo, está sendo um ótimo namorado. – Disse, tentando sem sucesso disfarçar o sono na voz. Demonstrar algum pingo de interesse era um ponto que Edan se destaca por ser horrível, por mais que "esteja interessado". – Acho que fez certo em dar uma chance a ele.
Anne torce a boca, respirando fundo antes de falar, e então solta uma cursa risada – A única coisa que me irrita um pouco é a competitividade que ele faz com todo mundo. Pra tudo ele quer ser o melhor, ou então quer estar em primeiro lugar.
Pensando, o rapaz deu de ombros – Sempre existe algum defeito, mas esse não parece ser algo que realmente incomoda.
- Se fossem coisas pequenas até que tudo bem, mas ele faz com tudo. E mais, por algum motivo estranho o Fabiano tem uma cisma com você.
- Ah não, ele ainda continua com isso? Ele já está namorando você a sei lá quanto tempo, e isso ainda não basta? – Edan leva a mão a testa, resmungando com o que ouviu. – Por acaso ele já não me "venceu"?
- Não sei, mas em tudo que pode o Fabiano compete com você e com outras pessoas. É a única coisa mesmo que me irrita.
- Apenas ignore e aproveite o que ele tem de melhor, se for possível claro. – Edan ergue a cabeça, coçando o queixo. – Até quando saem ele fica com isso de competir?
- Principalmente quando saímos. Acredita que uma vez ele fez eu andar mais rápido com ele só para chegar em um poste antes de outro casal?
- Eu não ouvi isso. – disse, revirando os olhos para a janela – Que belo namorado Anne.
A garota volta para sua mesa, abrindo seus cadernos assim que notou a professora de física jogando uma pilha de pesados livros na mesa. A garota olhou para o Edan, como se estivesse se perguntando como uma professora tão mais velha conseguia carregar tantos livros pesados como se não fossem nada pesados. – Mas deixa pra lá. É o jeito dele. Aliás, sabe que teremos outro teste na terceira aula né?
- Claro, estou muito animado para tomar dois zeros em um dia.
- Você não sabia? – Anne faz uma expressão de surpresa. – Filosofia, acho que sobre o mito da caverna de Platão.
- Não lembrei, e não sei se conseguirei estudar... – A professora interrompe tanto Edan quando o restante das conversas da sala, raspando um giz de maneira estridente no quadro negro. Edan olha de volta para Anne, que sinaliza com os dedos para conversar depois.
Caminhando em volta de sua mesa, a professora retira uma pequena pilha de folhas sulfite, e um menor de folhas almaço. Passou distribuindo as folhas para os primeiros do corredor que já repassavam para trás, enquanto instruía com uma voz menos cansada do que parecia ter. – Vocês terão 40 minutos para realizar esse teste. São 15 questões dissertativas abrangendo como tema a tabela periódica, com detalhamento de formulas pré-detalhadas!
- Ei Edan! – Anne sussurra, chamando a atenção do colega – Boa sorte na prova.
- Vou precisar... – respondeu quando a última folha chega em sua mesa.
*****
Definitivamente foram as duas piores notas do ano. Esse era o pensamento que Edan tinha. Tanto física quanto filosofia acabaram por ser muito mais difíceis do que já estava esperando e, se havia alguma resposta certa, significava que foi um palpite de muita sorte. Sentado em um banco de concreto perto da quadra, Edan escutava os gritos daqueles que aproveitavam a curta pausa para uma partida de futebol. Próximo a ele estavam Anne, Raquel e Ricardo observando ao jogo que Fabiano participava. Afastados do barulho e preso em um assunto só deles estavam Leandro e Iris. Um a um Edan olhou para seus colegas e as pessoas que agora faziam parte do grupo, essa distração fez com que não notasse Tamires se aproximando de repente. – Pensando na pós-vida Fantasma Edan?
Tirado de sua bolha, o rapaz pensa em como responder – Não, só estou olhando em volta.
- Está ocupado? – Ela questiona, levando uma mão a cintura. A garota parecia apressada, e talvez levemente incomodada com algo. Balançando a cabeça, Tamires continua – Preciso da sua ajuda. Vem comigo que eu explico! – Assim dizendo, a garota puxa Edan pelo antebraço, assim o afastando da parte mais barulhenta.
Cortando por entre alguns alunos, a garota alcança as escadas que levavam para as salas e as sobe imediatamente, Edan se manteve logo atrás acompanhando o passo da garota até atingir o quarto andar, onde ficavam as primeiras salas do terceiro ano e laboratórios de informática, que naquele momento devia estar vazio. Edan sentia suas pernas pesadas e estava começando a suar, apesar daquele andar estar gélido por causa dos ar-condicionado espalhados. Deslizaram por pelos corredores até alcançar a porta do almoxarifado daquele andar, na parte detrás do prédio, ele ficava afastado em um corredor sem janelas atrás de todas as salas. Nos rápidos segundos que a garota se aproxima da porta e a examina, Edan tenta ouvir vozes que denunciavam algum outro aluno ali, somente sons ao longe.
Sua atenção volta a garota que acabara de desferir dois fortes socos na porta. A mesma se abre revelando um cômodo escuro e empoeirado, ali encostada em uma estante, Carol os aguardava de braços cruzados. – Você chegou rápido!
- E não vim sozinha. – Tamires diz entrando primeiro na sala, tentando recuperar o fôlego. Carol olha para Edan, erguendo as sobrancelhas em surpresa. – Conseguiu achar?
- Não. Olhei nas estantes, atrás das caixas mas não consegui ver nada. – Carol se abana, quando faz isso Edan percebe como a garota estava molhada de suor.
- Do que vocês estão falando? – Edan questiona.
Carol olha para o jovem, caminha em sua direção e fecha a porta do lugar. Aquela sala apertada estava quente. Muito quente, tão quente, que Edan voltou a suar quase que de imediato. Além disso, o lugar era apertado demais, o que os deixavam muito próximos, e a bagunça ali não ajudava em nada – Vou tentar explicar. O Diego nos disse que o irmão mais velho dele já estudou aqui anos atrás, e pelo que seu irmão disse, a escola tinha um espaço muito maior para os alunos mas acabou sendo bloqueado por aquele muro imenso do lado do estacionamento.
Edan caminha olhando as várias caixas espalhadas nas estantes, vendo a pesada camada de poeira, que quase lembrava seu quarto. O almoxarifado quase o fazia se sentir em casa – Isso explica aquele corredor sem saída antes de entrar no estacionamento, mas também não explica em nada o que vocês duas estão tentando.
- É ai que está a coisa – Carol disse erguendo um dedo. – Ele também disse que em cada almoxarifado tinha uma passagem, e essas passagens tinham um corredor que saem no antigo sistema de escadas de trás do prédio, e também tem passagens para outros pontos da escola. Queremos explorar esses lugares e ver o que achamos
- Entendi. Parece ser algo diferente a se fazer. – Responde, tentando enxergar algo. – E até agora não encontraram a tal passagem?
- Esse é o segundo almoxarifado que tentamos. – Tamires diz, soltando gemidos do esforço por empurrar algumas pesadas caixas para os cantos. Tentando enxergar se havia algo escondido, a garota bufa por não ver nada. – No primeiro encontramos a passagem atrás de uma estante, estava escondida com um lençol velho mas ela foi parcialmente cimentada. Está muito apertada e ainda não da para passarmos por ali. Então partimos para esse aqui. Se não acharmos tem mais três salas dessas para vasculharmos.
- Interessante... E tudo isso que estão fazendo é apenas para explorar uma área, até então desconhecida da escola. – Respondeu, tentando olhar para as garotas no meio da penumbra.
- Exatamente isso, por que? – Carol questiona enquanto puxa uma caixa – Está pensando em nos entregar para alguém? Se for isso, pode sair daqui agora!
Edan balança a cabeça negativamente. – Não pensei em entregar vocês. Pelo contrário, eu acho que gostei disso.
- Acha? – Tamires questiona.
- É, eu acho. Se não tivesse aparecido com essa ideia, eu continuaria sem fazer nada.
- Ainda bem que gostou, pensei que iria só sair andando. – Tamires tentou ajudar Carol com a caixa que a amiga puxou. – Pode nos ajudar com isso?
- Poderiam ter chamado o Leandro para ajudar. Ele é mais forte que eu, e seria uma ajuda bem melhor com essas coisas. – Disse tomando todo o peso que as garotas carregavam.
- Pensamos nele e no Fabiano, mas eles namoram... Sumir sem explicação não é uma coisa boa para esses dois. – Tamires bate as mãos uma na outra, preparando para tentar puxar a estante para frente.
- E bem, digamos apenas que você não tem esse problema por ser um sozinho. – Carol zomba, se posicionando para ajudar. Edan e Tamires se entreolham, o rapaz ergueu as sobrancelhas.
- Precisava falar assim Carol? – Tamires retrucou. – Quero dizer... Na situação atual, você é nossa melhor escolha para isso.
- Não se preocupe quanto a isso, não me importo. – Edan largou a caixa de canto e logo assumiu a posição das garotas que mal moveram a estante do lugar. Edan posicionou as mãos e se preparou.
- Antes de continuarmos aqui... – Carol questiona, batendo as mãos de leve – Existe alguma coisa que você se importa?
- Não existe absolutamente nada com o que eu ligue ou me importe, e o pessoal da minha sala costuma não gostar quando digo isso... Fizeram uma aposta de que conseguiriam fazer eu me importar com algo, mas até agora só fracassaram... – Edan respirou fundo. O ferro rangeu e balançou assim que Edan puxou, ameaçando cair, mas por sorte tudo ficou no lugar. – Parece que não tem nada aqui atrás.
- Tomara que a passagem daqui não esteja fechada. – Tamires reclamou.
- Será que não está escondido debaixo do chão? – Carol disse, dando chutes no piso com a ponta de seu tênis mas sem sucesso – É... parece que não tem nada.
- Um piso falso? – Edan pensa, levando a mão a parede, acertando leves golpes – Acho que não, mas... E uma parede falsa?
- Acha que teria uma? – Tamires questiona.
- Não sei, é um palpite... Não uma parede falsa, mas terem erguido uma... – Disse enquanto analisava a parede. Após um minuto vasculhando, também não achou nada. – Aliás, nem sabemos em qual direção essa tal escada está.
- Na boa, eu acho que estamos perdendo tempo aqui. – Carol resmunga, encostando na parede bruscamente. De todos, ela parecia estar perdendo a paciência. Vasculhando sem nem olhar, Carol continua – Acho que aqui não tem nada.
- Eu também estou achando isso – Tamires concorda, relaxando os ombros.
- Eu não... Alguém me passe um martelo, ou qualquer coisa bem dura. Me veio uma ideia e quero tentar algo. – Edan comenta, estendendo uma das mãos. As garotas se entreolharam, Tamires alcançou um velho martelo em uma caixa e o entregou.
Com a parte de madeira, Edan bate em alguns pontos da parede. Estudou cada ponto com o olhar, prestando atenção em cada som das batidas. Deslizou pela parede, e então diz – Acho que encontrei alguma coisa. Escutem... Aqui parece ser mais oco que o resto da parede. – Bateu seguidas vezes na parede.
- Tem certeza? Isso pode render um buraco no prédio. – Carol disse, secando o suor do rosto.
- Não tenho certeza... Mas... – Acertou um golpe forte na parede, e como se fosse apenas feito de madeira velha, surge um buraco escuro na parede. Tamires comemora o descoberto, e Edan desfere mais um golpe na parede, e outro, e mais um. Todos com força o suficiente para abrir uma passagem grande o bastante para os três passarem, mas ainda sim sendo possível tentar disfarçar de algum modo. Largando a ferramenta no chão de forma ruidosa, Edan pensa quanto tempo ficaria suspenso caso alguém descobrisse o que acabou de fazer, além disso, torcia para ninguém ter ouvido o barulho. Olhando para a passagem recém-aberta, se ergue aos poucos, sentindo suas costas e seus braços reclamando, e fala – Está bem escuro. Vocês tem certeza que querem continuar? Se sairmos agora, dificilmente seremos culpados de alguma coisa.
- Agora que começamos, vamos ver o que podemos achar – Tamires fala, preparando a luz de seu celular.
- Vocês que sabem... – Edan diz, ligando a luz de seu celular e entrando no corredor escuro. A camada de poeira no chão se levantou com o primeiro passo. Alguns pedaços de madeira e panos velhos, caixas repletas de livros velhos estavam espalhados ali. Escutando Tamires vindo e logo atrás Carol, Edan foi em frente em direção a uma velha porta de madeira sem maçaneta. Um empurrão basta para abrir, e é isso que o rapaz faz. A dobradiça rangeu, a madeira raspou bruscamente no chão ao ponto de quase se partir, porém isso não aconteceu. Edan se viu em uma escadaria, para cima havia uma porta que, além de levar ao terraço também servia como a única fraca fonte de iluminação, e em contraparte, para baixo a escada mergulhava até desaparecer em um mar de escuridão, as sombras se arrastavam de maneira tão densa que poderiam ser sentidas ao toque. Edan olhou para o alto, desejando que Tamires e Carol escolhessem subir, até porque imaginava qual seria a vista do ponto mais alto da escola, e até onde poderia enxergar, mas desistiu ao vê-las iluminando as escadas com a lanterna dos celulares e começando a descer. Edan olhou para trás uma última vez, o caminho que fizeram era muito obvio, se alguém aparecesse, estariam em sérios problemas, mas agora já era tarde, e o que restava era ir atrás das garotas. Cada um dos andares que desciam, descobriam as outras portas, todas precariamente fechadas.
Seguiram descendo até finalmente terminarem as escadas e encontrar a última porta. Tamires não espera, a garota segura a maçaneta com força e empurrando a porta com a lateral do corpo, o barulho ecoa pela escadaria abandonada, uma forte luz ofusca os olhos dos adolescentes, e um golpe de ar fresco invade o ambiente fechado, aliviando o cheiro pesado preso ali por tanto tempo. Quando finalmente se adaptam a luz, percebem estar atrás do prédio da escola. O lugar claramente está abandonado a muito tempo, folhas mortas das árvores se acumulavam no chão junto ao mato que saia por entre as diversas aberturas de rachados do chão, vassouras velhas de madeira, rodos e várias ferramentas se espalhavam encostados pela parede e jogados ao chão, algumas intactas e outras quebradas. Edan notou que alguns pareciam ter sido partidos por alguém, mas não parecia ser recente. Debaixo de uma cobertura de ferro velha que resistia de pé, haviam várias caixas espalhadas, todas estando completamente cheias. Edan olhou em volta, curioso pelo novo lugar, haviam muitas arvores e plantas se estendendo por todo o lugar, e de fundo uma imensa quadra que agora servia como deposito de mais e mais caixas e mais tralhas.
- Agora que estamos aqui, o que vamos fazer? – Edan questiona, olhando para as garotas. Carol tentava afastar as folhas secas de seus pés enquanto Tamires começava a vasculhar as caixas.
- O que fazer? Vamos explorar é claro. – Ela disse aos sussurros, a garota transbordava de empolgação. – Só pela Carol ter entrado no almoxarifado sem autorização, você por ter sido um vândalo e ter quebrado a parede, e eu de estar vasculhando e metendo meu nariz onde eu com certeza não deveria estar, com certeza nós três já ganhamos uma advertência e uma bela bronca se formos pegos, talvez até uma suspensão.
- Parece divertido – Carol ri, indo na direção da amiga para procurar alguma coisa. – Esse risco me empolga, já fizemos tudo isso, agora vamos ver se descobrimos algo de interessante por aqui, algo da história da escola... Vai que achamos alguma tranqueira histórica da escola.
- Torçam para não sermos pegos. – Edan comenta, olhando na direção das garotas. Por um segundo sentiu que estavam sendo observados por algo, ou alguém. Ele olhou de um lado ao outro mas não encontrou nada, pensou então em olhar na direção das janelas, porém assim que o fez, a luz do dia ofuscou sua visão. Ele piscou algumas vezes, se recuperando de tanta luminosidade, e comenta – Estou com uma sensação estranha. Será que tem mais alguém aqui?
A primeira a olhar para o rapaz foi Carol, arqueando as sobrancelhas, mas quem responde é Tamires – Também estou com uma sensação assim, mas é só por estarmos em um lugar vazio atrás do prédio da escola... Não acho que tenha mais alguém aqui. Desencana disso.
Incerto da resposta que teve, olhou em volta tentando achar qualquer coisa estranha, olhou para cima uma segunda vez, mas teve sua visão ofuscada pela luz novamente, não conseguiu enxergar absolutamente nada. Por algum motivo tinha certeza que tinha mais alguém com eles. Sentiu então seu celular vibrando em sua mão, se tratava de uma mensagem de Anne.
"Posso saber onde você se meteu!? A aula já começou!!!"
Edan olhou ao redor uma última vez. Sequer tinha ouvido o sinal tocando, ou não se lembrava de ter ouvido. antes de digitar uma resposta. "Estou andando por ai. Acho que logo estarei de volta.", e então clicou em enviar.
- Olha só, tem um álbum aqui, e fotos soltas! Até um troféu todo velho! – Tamires diz eufórica enquanto abre o álbum – E aqui estão as antigas turmas, será que tem foto de algum parente nosso aqui?
- Você tá procurando se tem algum parente, não tem nada melhor pra ver? – Carol rebate, apontando para uma foto – Por exemplo, imagina se tivesse um gato desses na nossa turma? Ou então esse aqui?
- Você fala de mim, mas só sabe pensar em homens... – Tamires devolve, estala os dedos e logo diz – E claro, em roupas caras.
- As vezes em adornos novos também... Por exemplo, olha essa medalha aqui! – Carol lança sua mão no fundo da caixa, de uma forma como se já houvesse mexido na caixa antes, trazendo uma medalha de forte tom dourado brilhante, e já coloca no pescoço – Acha que não fica ótima em mim? Um ouro falso, eu sei, mas é brilhante e está muito bem cuidada, além de ficar ótima em mim. Aqui, pega uma para você. – Alcança uma e joga para Tamires, outra idêntica a primeira, que a garota avalia se deve ficar ou não.
- Vocês estão furtando velharias da escola? – Edan questiona, pendendo a cabeça para o lado, com o olhar neutro.
- Tudo ta abandonado aqui, acha errado pegar as coisas mais agradáveis para nós? – Carol pergunta, levando as mãos a cintura, e antes que Edan ou Tamires dissessem algo, ela continua a falar – Eu sei, eu sei. É um furto, é errado, não deveria estar fazendo isso... Mas se está no fundo de uma caixa velha, significa que não está sendo usado, virou só lixo velho para a escola, mas e se eu pegar pra usar mesmo, e não só deixar guardado?
- Isso aqui ta ficando cada vez pior... – Tamires bufa, a garota guarda a medalha em seu bolso, cruzando os braços. – E não me olhe de cara feia Fantasma, o argumento dela é válido.
Edan revira os olhos, vai até a caixa, alcança uma das medalhas e a guarda no bolso sem sequer olhar, já planejando jogar fora na primeira chance, ele diz – Que isso não se repita!
- Pode deixar – Carol diz, dando de ombros com certa empolgação.
- Ótimo, temos mais coisas para ver aqui – Tamires avança em direção a quadra, onde por trás da grade mais coisas estavam espalhadas, e Carol segue logo atrás. Aproveitando deste momento sozinho, Edan joga o "achado" de volta na caixa. O portão enferrujado estava fechado por uma corrente, que mal se movia por causa do estrago causado pelo clima. O metal range, parecendo próximo de se romper quando as garotas forçam a entrada, mas isso não acontece. Tamires avança, e então diz – Vejamos agora o que tem aqui. Alguém pode me falar que horas são?
Carol passa os dedos pelo cabelo enquanto olha no seu celular – Agora são 10:21h. Por que?
- Então temos só mais meia hora para xeretar aqui e voltarmos a tempo da quinta aula. Acho bom não ficarmos tanto tempo sumidos.
- Não que eu concorde, mas é bom voltarmos logo. Não estou com vontade de me explicar para meu pai de novo. – Carol reclama. – Só vamos olhar por ai e voltar logo depois. Aliás, vocês ouviram o novo boato na cidade?
- Não soube de nenhum. Qual é esse? – Tamires questiona, abrindo uma caixa lotada com pesados livros de capa esfarrapada.
Batendo as mãos na calça, Carol prossegue – Estão falando que tem um cara estranho de casaco negro na cidade, parece que ele surge em alguns lugares e desaparece do nada...
- E qual o problema disso? – Edan questiona. – Não é nada preocupante ao meu ver.
- Os lugares em que ele aparece são estranhos. Sempre em cima de casas, de algum prédio, lojas, às vezes as pessoas vêem ele em locais restritos, e ele sempre parece estar observando, quase procurando alguém... E várias pessoas estão reclamando de estranhas imagens na mente toda vez que ele é visto. Cada vez mais pessoas estão vendo, isso está deixando muitos com medo. A polícia está caçando ele, mas nos lugares que ele é visto nunca tem nada roubado, não tem vandalismo, pichações... Nada, desaparece como se nunca estivesse lá... É alguém cercado de mistérios.
- Isso aí ta parecendo mais uma lenda urbana – Tamires zomba. – Acho que as pessoas estão vendo muito filme de terror.
- Ou alguém fazendo alguma pegadinha pela cidade. Pelo que escutei de conversas na escola, isso é algo que vem acontecendo. – Edan encosta na grade, porém ele fica pensativo, ao lembrar do dia em que as luzes da escola enlouqueceram, e teve a impressão de ter visto alguém com a mesma descrição bem em frente da sala. Balançou a cabeça, e continuou a falar – Isso é só um boato mesmo, tipo aqueles fantasmas maníacos que ficam olhando as pessoas dormindo.
- Se está falando – Carol da de ombros, olhando para Edan fixamente – Eu acredito, e prefiro nem ver ele...
- Já eu, adoraria encontrar com ele, seria ótimo ver por mim mesma se ele é tudo isso. Ele não deve ser nada, certeza que eu poderia socar ele se eu quisesse. – Tamires comenta em tom de deboche. – Aliás, vamos terminar por aqui. Temos muito para ver aqui, e pouco tempo para isso.
*****
- Você sumiu por uma aula inteira, e estava só "andando por ai"? – Anne bufa.
- Sabia que isso pode te colocar em problemas? – Leandro comenta, com a voz mais calma e batendo os dedos no caderno em um ritmo que só ele mesmo poderia entender.
Entediado pelos questionamentos, Edan pensa se deveria contar sobre o achado que ele e as duas garotas tiveram. Mas também tinha em mente que, se falasse algo, precisaria responder mais perguntas, e talvez um olhar julgador de Anne pincipalmente por saber que estava com Carol – Se alguém vier reclamar, eu invento uma desculpa mais criativa... Dor de barriga talvez, aliás, vai que eu estivesse mesmo com dor e só estou evitando falar?
- Você estava fazendo o quê não devia. – Raquel comentou, seu olhar era pesado, mas em seguida ela gesticula "E você não me chamou?" sem que os colegas percebessem. Naquele momento Edan soube que Raquel já suspeitava dele, mas de algum jeito gostou da clandestinidade que o colega cometeu.
- Não duvido – Anne reclama uma última vez, então virando o rosto – Agora vai saber o que estava fazendo.
- Então sabe-tudo, o que acha que eu estava fazendo?
- Eu não sei, mas não duvido que estava com aquela Carol – diz revirando os olhos.
- Ainda não entendi essa cisma toda com ela. – Edan reclama, tentando entender o motivo de Anne ter ido justamente na garota mais velha. – Mas tanto faz, isso é com você. Não irei ficar perguntando, com certeza você vai voltar nesse assunto.
- Não, se for esse o problema, eu não voltarei mais a assunto nenhum. – Anne se debruça em sua mesa.
Leandro coça a cabeça, tentando sem sucesso entender o que havia acontecido. Raquel fez uma expressão quase ilegível. Após isso o assunto desaparece, e cada um volta ao seu lugar.
*****
- Pode me explicar por que esta agarrada em mim? – Questiona. Edan já estava com o humor afetado pelo jeito que Anne o tratou nas últimas aulas, e justamente por causa de Carol. E agora na saída, a "causadora" do problema aparece.
- E não posso? – Carol pergunta. A garota segura seu braço de forma firme, parecendo aproveitar cada segundo. – É bom fazer isso, por mais que eu não goste de você, e nem vá tanto assim com essa sua cara.
- Isso apenas tornam as coisas mais confusas para mim. – Sua expressão endurece – Se não gosta, por que faz?
- Eu faço porque é bom, independente de ser alguém estranho igual você. – Ela responde com uma risada.
Balançando a cabeça sem entender o que se passava na mente da garota, Edan apenas deixa. Podia sentir de todos os lados vários olhares caindo sobre ele e Carol, porém não entendia o exato motivo disso. Edan realmente gostaria de entender o que está chamando tanta atenção, para justamente fazer o oposto e poder passar despercebido. Mas o que mais o preocupava era saber o que Anne faria se o visse. Raquel e Leandro sequer teriam alguma reação tão extrema, já com Anne não seria assim. Pensou então, por que se preocupar no que Anne iria pensar?
- Você parece distraído. Aconteceu algo? – A garota questiona, olhando por cima do mar de alunos.
- Não, só estou pensando em algumas coisas... Mas não é nada demais.
- Sabe... – ela começou, passando os dedos pelo cabelo – ...O Fabiano está planejando uma ida em uma lanchonete nesse domingo...
- Parece que será legal, ele que se divirta! – Edan diz imediatamente, sem deixar Carol continuar.
- Eu falei só uma parte, me deixa terminar. Ele disse que quer só algumas pessoas da nossa classe, e algumas da sua.
- É um pouco diferente, o que ele está pensando?
- Não sei, mas amanhã ele vai falar com as pessoas que quer chamar.
O rapaz balança a cabeça em forma de deboche – Agradeço a informação, mas sabemos bem que ele não irá me chamar. É na Anne que ele tem interesse, e talvez alguma amizade com a Raquel ou o Leandro.
- E você acha que eu não sei? É uma coisa que eu tive vontade de falar! – Carol pensa um pouco, e então fala – E sobre a tal competição de desenho que a Anne te falou a um tempo e você não faz nada nunca?
- Não vou negar, não faço nada. Por que quer saber?
- Só estou curiosa, vai participar?
- Talvez. – Ele deu de ombros.
- Deveria, Anne sempre fala que você tem talento nato, mas que não sabe aproveitar esse talento todo e vive largado no sofá. – Ela da de ombros – Se tem talento, deveria tentar. Falando nela, lá está ela e o Fabiano. Vou lá falar com eles, outra hora converso com você.
Carol solta Edan e vai na direção deles. O casal está no centro de uma roda de alunos mais velhos, e ao que dava para ver, Fabiano é quem controla a conversa de forma excepcional, com todos olhando em sua direção, até quem não estava na roda olhava para Fabiano, além da cobiça e olhares recebidos de várias garotas. Fabiano era, sem dúvidas, alguém que chama atenção para si, seja por seu porte grande, pela presença, aparência e personalidade, ou pela aparente autoconfiança que carrega consigo. Existia algo nele que, simplesmente, o transforma no centro das atenções e olhares, todos querem estar perto e sob o olhar de Fabiano. Ele até se assemelhava com os jogadores de futebol ou de basquete, que passa correndo batendo nas mãos dos torcedores em uma corrida.
Anne nota Carol se aproximando, e então olha para Edan logo atrás. O grupo desprende o olhar do casal e se vira para Carol, quase como se a garota possuísse o mesmo efeito de Fabiano, em uma escala praticamente igual. Como uma ação automática, Anne se agarra no namorado com força, ainda mantendo seu olhar cravado em seu colega e em resposta Fabiano a puxa para um beijo profundo, aos quais os únicos que puderam ver eram Carol e Edan.
Diferente do entrosamento rápido do grupo para com Carol, Edan ficou de fora e totalmente despercebido. Ele sequer havia se aproximado. Isso não era um problema para o rapaz, aliás preferia assim, isso só deixaria mais fácil quanto quisesse sair andando. Olhou para os lados, tentando achar um "caminho de fuga", checou se alguém estava olhando na sua direção, e então saiu andando.
O dia já havia sido movimentado demais, e tudo que poderia querer é um momento de silêncio, e claramente sua casa seria o melhor lugar para isso. Mas diferente do descanso que esperava ter, depois de andar um pouco encontrou na sua frente Tamires, encostada em um poste batendo a ponta de um skate no chão. Pela expressão que a garota fazia, estava chateada com algo.
- O que se passa? – Perguntou assim que se aproxima. Edan poderia muito bem ter optado em passar sem chamar atenção. Poderia, mas não o fez.
A garota o encara, pronta para falar uma porção de coisas que, pela expressão de fúria, deram a certeza que seriam bem agressivas. Mas assim que vê Edan, ela parece enfraquecer – E ai fantasma Edan... Só estou pensando sobre algumas coisas. Não é nada importante.
- Coisas? – Com está pergunta, Edan quis saber desde quando se tornou tão interessado na vida alheia. Mas já que sua curiosidade o fez perguntar, agora esperava saber a resposta de Tamires.
- Eu tive um desentendimento com um... "Amigo" meu, e agora ele não está nem querendo ver minha cara. – Ela bufa, sua voz carrega um tom misto de agonia e incomodo assim que menciona "amigo", batendo a ponta do tênis no chão.
- Seu namorado? – Edan questiona. Tamires torce a boca e revira o olhar. – Pela sua reação, sim. Eu tenho um tempo... Quer me falar melhor desse seu desentendimento com ele?
- Sinceramente não fantasma, mas estou de cabeça tão cheia com isso que talvez estou precisando desabafar com alguém... E minha pelúcia que costumava ser uma boa ouvinte agora é só um saco de pancadas fofinho.
- Bizarro saber que você tem uma pelúcia... – Edan passa o indicador no queixo enquanto Tamires lhe mostra o dedo – Então, o que acontece?
- Eu tinha chamado ele para ir em uma festa de aniversário de uns familiares, e esse pessoal não vai com a cara dele. Sempre inventam motivos idiotas para puxar briga com nós dois. Ele prometeu ir, mas desmarcou mais de uma semana antes porque queria evitar brigas com a minha família. – Tamires pausa para recuperar o ar – No dia da festa um grande amigo da minha primeira escola apareceu em casa pra me devolver uns filmes que emprestei, e então aproveitei e chamei ele para comer algo na festa.
Edan escuta cada palavra, balançando a cabeça mostrando estar acompanhando.
- Mas então deu o problema todo. Tiraram fotos em que eu estava com esse amigo, e postaram no Facebook com umas mensagens muito maldosas. Inventaram várias coisas no dia, de que a festa foi só o começo e "A noite prometia muito mais", além de falarem que eu e esse amigo sumimos a certa hora. Agora meu namorado acha que estou traindo e ele nem quer me ver nem deixar eu me explicar.
- Ciúmes... – Edan diz em baixo tom – Quando você tentou conversar, o que ele te disse?
- Ele nem me viu desde o dia da festa, só mandou várias mensagens reclamando e depois me bloqueou.
- Já tentou conversar pessoalmente?
Tamires pensa, ela abre a boca para dizer algo, mas desiste antes de falar. Ficou claro que ela já tentou. A garota levanta o olhar, e só então diz – Ainda não... E nem vou, ele já esta saindo com outras pessoas.
- Então tudo fica muito mais fácil. – Edan se espreguiça. A reação de Tamires denuncia o claro desagrado ao ouvir o que Edan disse – Se ele nem deixou você se explicar, e para piorar já está saindo com outras pessoas, então já queria qualquer motivo que fosse pra terminar.
- Como pode falar isso? Estamos juntos a quase cinco anos, ele não pode ter deixado tudo de lado assim. Não pode ter me esquecido desse jeito.
- Cinco anos não quer dizer nada. Pense assim, se ele não deixou você falar, então deve ter alguma outra pessoa... Ou no mínimo, algum motivo bem forte – Edan pensa um pouco. Tamires está batendo seu skate no chão menos vezes, mas com mais força. Pela reação da garota, imaginou que quando menos estivesse esperando, Tamires iria bater com o skate em seu rosto. Pensando em amenizar as coisas, tenta outra abordagem – Ou talvez ele percebeu que fez besteira com você, está com vergonha e não sabe como se desculpar, ou é orgulhoso demais para isso. Se quiser ter sua resposta, vá atrás dele no lugar onde você sabe que ele irá estar.
- E onde seria esse lugar? – Tamires questiona, sua voz sai dura, com um forte tom agressivo. A garota encara Edan como se ele soubesse a resposta. Seu olhar e seu tom de voz queriam, ou melhor, exigiam uma resposta.
- Não sei, na casa dele talvez? – Edan da de ombros e ergue as mãos – O namorado é seu, você é a melhor pessoa pra saber onde ele pode estar.
Tamires pensa em silêncio por um tempo. Por mais que mantenha baixo, seu olhar parece se clarear levemente. – É, eu sei sim... – diz, soltando um pesado suspiro e colocando o skate no chão.
- Ironia, irritação comigo ou realmente sabe? – Edan questiona.
- Irritação com você, mas ainda sim você acabou de me ajudar muito. Realmente sei onde ele vai estar, e acho que já sei o que vou fazer... – Tamires sobe no skate, deu alguns impulsos e se afastou, até sumir da vista de Edan.
Levando as mãos aos bolsos, Edan segue seu caminho de volta para casa.
Considerações Finais:
Ficamos por aqui com mais esse capítulo. Acredito que ele tenha sido bem descontraído, apesar de seu tamanho. Ele é bom para mostrar melhor algumas personalidades, amenizar algumas tensões de capítulos anteriores... Mas não se acostume com isso.
Espero que tenha gostado desse capítulo, que siga acompanhando. Tem teorias, opiniões? Compartilhe, adoro as teorias desenvolvidas. Até o próximo capítulo.
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