Capítulo 60
Os soldados tentaram vir atrás de nós, mas Gale voava como vento e nenhum outro animal era páreo para ela. Seu coração retumbava contra seu peito e sua respiração estava cada vez mais rápida, mas ela não diminuiu o ritmo em nenhum momento.
Eu me segurava na crina branca dela para não cair de suas costas, ela passava com destreza entre as construções dos vilarejos que ficavam ao redor da muralha externa de Dakar.
Não conseguia captar nenhuma imagem ao meu redor de tão rápido que Gale corria, já estávamos na saída do último vilarejo e então um campo extenso com colinas se deparava a nossa frente, e no final dele pude ver finalmente e floresta e Emlax.
Olhei para trás e vi que os soldados continuavam a nos perseguir, eles tinham conseguido se aproximar um pouco e agora atiravam flechas. Incitei Gale e ir mais rápido e assim que ela pisou na grama, ela acelerou mais ainda, não sabia como ela conseguia.
O caminho até a floresta não era perto, mas no ritmo que estávamos logo chegaríamos. As flechas voavam, mas chegavam tarde, Gale já tinha saído do ponto onde caiam a muito tempo.
Não podíamos diminuir, eles estavam na nossa cola, armados e prontos para nos matar, a única esperança era ela aguentar aquele ritmo insano até a cobertura das árvores.
Já podia ver com clareza as árvores da floresta, elas eram imensas e imponentes, uma barreira verde que escondia seus segredos a sete chaves. Senti o ritmo da égua diminuir, ela estava ficando cansada, um sentimento de medo e desespero se apoderaram de mim.
- Vamos lá garota, aguente só mais um pouco. – Acariciei seu pescoço.
Ela estava se esforçando, precisávamos chegar logo naquelas árvores. Eu não tinha condições de lutar com todos os soldados que nos perseguiam, a dor da flechada que levei irradiava a cada galope que Gale dava.
Estava com meus dentes trincados, mantendo o foco no nosso destino, Gale se cansava a cada trote que dava e os soldados estavam chegando cada vez mais perto. Uma flecha passou de raspão pelo flanco direito dela, olhei para trás e então comecei a faze-la correr em ziguezague.
Já estávamos bem próximas, já podia sentir o cheiro inebriante da mata, e então uma névoa que surgiu do nada bloqueava a nossa passagem. Puxei a crina dela a fazendo parar, olhei para os dois lados, estávamos encurraladas entre os soldados e a névoa estranha que saia da floresta.
Os soldados também diminuíram, mas não pararam, decidi enfrentar a névoa, se fosse na direção dos soldados com certeza morreria, já na névoa era um ponto de interrogação.
Assim que entramos na névoa senti um frio bater na minha pele, mas nada me fazia mal, não parei de cavalgar, e ao longe escutei os gritos e reclamações dos soldados que pararam de nos perseguir, assim que adentramos a névoa e a floresta.
Diminui a corrida frenética por um galope calmo, Gale estava ofegante, eu agradeci, minha ferida estava sangrando horrores. Não tive muito por onde me guiar, apenas estava tentando nos tirar do meio daquele nevoeiro e das árvores que eram tão altas que a luz quase não penetrava.
Vi ao longe uma luz e a névoa se dissipar um pouco através dela, segui naquela direção e quando sai, me deparei com uma das visões mais lindas que já tive em toda a minha vida.
O lago era gigantesco, eu não conseguia ver o seu final, me encontrava numa clareira cercada por árvores e montanhas ao fundo, a água era verde água clarinha, eu conseguia ver as profundezas do lago, e em seu reflexo as árvores e montanhas que o cercavam.
Em sua borda, pedrinhas que brilhavam como mil estrelas quando a luz as tocava, os pássaros cantavam, um casal de arara azul passou voando cortando um arco-íris que se formava sobre as águas. Esse lugar era especial, ele era mágico.
Desmontei de Gale pisando nas pedrinhas que rangeram contra minha bota, dei um tapinha carinhoso no lombo da égua, e a liberei para descansar.
- Boa menina, descanse agora.
Ela foi até o lago para beber água e depois se deitou em sua borda, eu caminhava lentamente ao longo de sua margem admirando a paisagem. Sentia as fisgadas da flecha na minha pele, então ao ver um tronco caído perto da água, me encostei nele.
- Muito bem Lia, você vai ter que fazer isso sozinha.
Olhei ao meu redor procurando algo para morder e quando não encontrei nada, retirei uma das minhas luvas e coloquei na minha boca. Respirando pesadamente, agarrei o resto de flecha com as duas mãos, e num movimento rápido a arranquei da minha cintura.
Mordi com força a luva e meu grito foi abafado, olhei para a ponta da flecha com raiva, pressionei a ferida que jorrava sangue e fui até a água, colocando uma das mãos dentro do lago, invoque uma bola de água que flutuou até o machucado e ali ficou girando com um leve brilho.
Comecei a sentir o ferimento se fechar e o alivio se instalar pelo meu corpo, a flecha tinha entrado profundamente então estava tendo cuidado para concertar cada nervo, músculo e partes internas que foram danificadas.
Escutei um barulho atrás de mim, me virei rapidamente procurando a fonte do som, mas nada vi. Com o susto deixei a água sair de controle e molhar minha roupa, tinha a sensação que não estava sozinha, mas a floresta continuava da mesma forma que antes.
- Deve ser coisa da minha cabeça.
Me virei novamente para o lago para voltar a curar minha ferida, estava ajoelhada diante da água e não percebi quando alguém se aproximou pelas minhas costas, colocando uma lâmina contra a minha garganta.
No mesmo instante vi a água que eu manipulava virar gelo, e todo o resto do lago começou a congelar. Gale estava dormindo longe de mim, e ela não ia conseguir fugir nas condições que estava de cansaço.
- Como conseguiu entrar na floresta? Onde encontrou as coordenadas para o lago soldado?
Uma voz feminina soou em meus ouvidos, e estava me chamando de soldado. Olhei devagar para baixo e então percebi que ainda usava a armadura de Dakar, tentei me levantar, mas a lâmina foi pressionada com mais força na minha garganta.
- Não se mexa, você vai morrer de uma forma ou de outra, se tentar algo terá uma morte bem lenta e dolorosa, caso coopere, prometo que será quase indolor.
-Quem é você?
- Alguém que você nunca mais verá na sua vida.
A mulher não estava brincando e eu não sabia com quem estava lidando, não conseguia vê-la pelo reflexo do lago que virou gelo, e ainda por cima, estava com uma ferida mau cuidada, que se eu tentasse lutar provavelmente ia me deixar em muita desvantagem.
A mulher era um felino de silencioso, eu não a escutei se aproximar, o que significava que ela era rápida e silenciosa e muito provavelmente mortal. Terei só uma chance de explicar o que estava acontecendo, levantei minhas mãos em sinal de rendição.
- Eu não sou um soldado de Dakar.
- Você pensa que sou idiota homem? Estou vendo sua armadura.
- Eu sei, mas é uma história longa e bastante complicada.
- Muito bem, minha paciência não é muito longa e nem complicada, tenho mais o que fazer do que perder o meu tempo com você.
Senti o clima ficar mais frio, as pontas dos meus dedos começaram a congelar. A mulher retirou a lâmina do meu pescoço, me levantei, mas mau conseguia andar por causa do frio. Quando me virei para encarar minha julgadora, vi uma das criaturas mais belas do mundo.
Uma mulher alta e magra, com os cabelos loiros ondulados quase brancos que passavam dos seus combros, lábios rosados e olhos azuis cor de gelo, que me olhavam com uma expressão assassina.
Suas feições finas deixavam sua beleza quase etérea, ela usava um vestido cinza com um decote moderado, em sua cintura um bordado com um fio prateado traçava a imagem de vários cristais e desenhos sem formas, e para completar a sua beleza uma capa fina quase transparente que parecia ser feita de flocos de neve, se prendia num colar em seu pescoço.
Eu fiquei sem reação com tamanha beleza, nunca tinha visto uma mulher assim, com exceção de minha mãe. Como alguém tão bela poderia ter um olhar tão mortal.
Eu estava congelando e a mulher somente me olhava sem fazer nada. Era ela que estava fazendo isso comigo, eu não sabia como me defender de outros seres mágicos, e nada que eu falasse ela iria acreditar, foi então que escutei uma voz que saiu por detrás das árvores.
- Ansal, pare com isso!
A mulher se virou na direção que veio a voz e a vi arregalar os seus olhos. Senti o frio diminuir e então vi o vulto sair do meio das árvores, usando um manto azul claro.
Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar, o vulto se aproximou da mulher loira, levou as mãos a cabeça e retirou o capuz e bem na minha frente estava Ani, me salvando mais uma vez.
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