Capítulo 59
As cornetas soavam cada vez mais altas, as batidas na porta recomeçaram e estavam mais fortes, eu não sabia por quanto tempo aquele encantamento iria me proteger naquela sala.
No pátio vi os soldados se aglomerarem e bem no meio deles vi duas figuras que se destacavam, o subcomandante com sua armadura bronze que se inclinou e começou a falar, gesticulando para um homem vestido com uma armadura dourada e montado num cavalo branco.
Pela forma que o homem no cavalo dava ordens, distingui que ele deveria ser o comandante geral, e se ele estava ali, meu problema era bem maior do que eu pensava.
Não conseguia ver as feições do homem, pois estava tudo escuro e nem mesmo as luzes das tochas e da lua me ajudavam, tudo que consegui saber sobre ele é que tinha cabelos castanhos, um corpo atlético e com certeza era alto.
Desviei meu olhar dos homens e comecei a olhar envolta. Na direção da janela que eu estava, se encontrava a torre do portão aonde entrei, mas para eu chegar até ela teria que passar pelo pátio, e isso não era uma opção.
Voltei a explorar a sala, rezando para encontrar alguma passagem secreta, mas novamente falhei. Me joguei no chão apoiando minha cabeça na parede.
- Droga, droga, droga.... Como vou sair daqui agora!
Dei um chute num objeto que estava coberto por um pano branco. Debaixo do pano, vi de relance penas, estiquei minha mão para retirar o pano e então vi uma aljava prateada, com flechas transparentes e penas azuis.
- Uau...
Nunca tinha visto tal coisa, o arco que estava junto era prateado e brilhava refletindo a luz da lua, a arma era deslumbrante. O peso e a tensão da corda eram perfeitos, e ao contrário de tudo naquela sala, o arco não tinha uma poeira.
Não resisti a tentação, coloquei a aljava nas costas e estendi a corda do arco mirando a flecha em uma das paredes, a velocidade que ela cruzou a sala e a precisão foram fora do normal.
Fui até onde a flecha se fincou na parede, ela tinha aberto um buraco na pedra, tentei arranca-la, mas não consegui, seja qual fosse o material que eram feitas as flechas, era algo que eu nunca tinha visto na vida.
Por um breve momento, esqueci de tudo que estava acontecendo ao meu redor e fiquei admirando a arma. O arco tinha desenhos da lua e de ondas, o que me lembrou a ilha onde Ani morava.
Uma ideia louca me ocorreu, fui até a janela novamente, olhei para a torre que ficava no portão e então comecei a medir a distância entre as torres. O plano era louco, mas poderia funcionar se eu achasse uma corda longa o bastante.
Revirei aquele lugar de cima a baixo, e então dentro de um barril escorado num canto, achei metros e mais metros de corda. Eu sorri, mas comecei a trabalhar rapidamente, pois as batidas na porta não me deixavam ir devagar.
Amarrei a corda dando algumas voltas em uma pilastra de pedra que tinha na sala, peguei a outra ponta e amarrei em uma flecha. Eu só teria uma chance de fazer aquilo sem que eles notassem o tiro, a janela vinha até quase o meu busto o que dificultava a minha mira.
Arrastei uma das cadeiras de madeira até a janela, subi em cima dela, apoiei meu pé direito no parapeito e então estiquei a corda, inspirava e expirava, para acalmar meu coração e isolar qualquer som que estava ao meu redor.
Focalizei o meu alvo, estendendo mais ainda a corda do arco, encostei minha mão na minha boca, e quando soltei o ar novamente deixei a flecha voar.
Fiquei olhando a flecha transparente fluir pelo ar e se fincar no telhado da torre. Amarrei o que sobrou de corda na pilastra, a deixando bem esticada.
Estava na hora, os sons dos soldados já estavam altos demais, o que significava que o meu tempo naquele lugar tinha acabado. Coloquei a aljava de flechas na frente do meu corpo, e prendi o arco no meu braço, dei uma última olhada naquela sala, que parecia ser tão sagrada e antiga, que não combinava com aquele lugar frio e cheio de morte.
Subi no parapeito, segurei firme a corda testando sua tensão, e então impulsionei meus pés para se prenderem em em X nela, estava pendurada pelos pés e pelas mãos.
Respirei fundo pois a parte complicada começaria agora, a descida até a torre do portão teria que ser feita rapidamente, antes que algum dos homens olhasse para cima e me visse. Com esse pensamento na cabeça, comecei a descer pela corda rumo a única saída que encontre.
Eu estava já na metade do pátio acima das cabeças dos soldados, e então o maldito do comandante resolveu olhar para cima, ao me ver gritou ordens para começarem a atirar em mim.
- MERDA!
Comecei a acelerar a minha descida até a torre do portão, mas a armadura que eu estava vestindo era pesada e me deixava lenta. Tive que ir me balançando para desviar das flechas e lanças que jogavam em mim.
Já tinha andado um bom pedaço quando o comandante montado em seu cavalo, soltou uma flecha que se cravou na minha cintura. Uma dor irradiou pelo meu corpo todo, os soldados pararam de atirar, pensando que eu fosse soltar e cair de onde estava, por ter recebido uma flechada.
Aproveitando o momento de distração, apoiei a aljava no meu pescoço para as flechas não caírem, soltei minhas mãos ficando presa somente pelas pernas, icei o arco com uma flecha e a soltei em direção ao comandando.
A distração do meu tiro foi o suficiente para os homens que tentavam retirar a flecha fincada no telhado, parassem para olhar o que estava acontecendo, me dando o tempo que eu precisava para chegar na muralha e descer da corda em segurança.
Num movimento rápido, desferi socos e chutes derrubando os guardas que estavam ali rapidamente, olhei por cima do muro para ver os soltados no pátio, e então vi que minha flecha tinha acertado o ombro do comandante.
Eu estava agora bem mais próxima dele e pude ver claramente seu rosto, eu não conseguia acreditar no que os meus olhos me mostravam. Um barulho de passos vindo da escada da torre, me tirou do meu transe.
Três soldados subiam com espadas em punho, prendi novamente o arco nas costas e desembainhei a minha espada. O espaço na escada era estreito, o que me dava vantagem, pois só tinha que lutar com um de cada vez.
Conforme ia derrotando os homens, ia avançando os degraus, quando cheguei no chão, sai praticamente do lado do portão, os guardas que estavam ali eram os que tinham subido. Os que estavam vindo ajuda-los ainda estavam longe, apesar de que conseguiriam me ver assim que eu pisasse para fora da torre.
Quando entrei na luz debaixo do portão, que para minha sorte estava aberto, um deles gritou avisando aonde eu estava. Eu não tinha como lutar contra todos eles, então fiz a única coisa que me restava, eu corri.
Eu corri o mais rápido que conseguia, a flecha fincada na minha cintura, lançava ondas de dor e repuxava uma das minhas pernas. Minha distância dos homens diminuía cada vez mais.
Comecei a fazer caminhos alternativos, entrando em vielas e saindo da rua principal para tentar despista-los, demorou, mas funcionou. Eu não queria abusar da sorte, disparei para o estábulo aonde Gale estava.
Quando cheguei no estábulo estava tudo muito quieto, ao abrir a porta aonde o animal se encontrava, vi que ela se assustou com minha presença, mas logo se acalmou ao reconhecer minha voz.
Eu precisava monta-la, mas não com aquela flecha fincada em mim, entretanto se eu a tirasse poderia perder muito sangue. Encostei em um dos pilares de madeira, tomei coragem, segurei a flecha com as duas mãos e então a quebrei, num pedaço pequeno.
Mordi meu lábio com tanta força para não gritar de dor, que acabei o cortando, minha égua estava muito bem tratada e pelo visto descansada também.
Retirei do bolso todas as moedas que me sobraram e deixei em cima da mesa, onde o homem colocou uma escova e balde. Peguei o meu manto que estava pendurado perto da baia de Gale e o amarrei na égua, eu o tinha deixado para ela ter algo meu enquanto eu estivesse no castelo.
Abri a porta da sua baia e assim como da primeira vez, a montei sem nenhum equipamento, usei o meu manto como cela, segurei em sua crina e a fiz começar a correr. Gale cavalgava cada vez mais rápido, e não demorou muito para chegarmos a muralha externa.
Passei que nem um furacão com ela pelos guardas, que tentaram ficar na frente do cavalo para barrar nossa passagem, contudo, ao verem que não íamos parar, acabaram pulando para os lados quando passamos em disparada por eles quase os atropelando-os.
Já estávamos fora das muralhas de Dakar, minha respiração estava acelerada e minha ferida latejava, eu precisava de um lugar seguro para trata-la.
- Corra Gale, corra como o vento e me leve para o lago de Cristal.
Minha companheira não me desapontou e como se o vento tivesse me escutado, uma brisa fresca batia em nossos corpos nos acompanhando pelo caminho que estávamos fazendo.
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