Capítulo 42
- Eu estava conversando com a Reina, e a última fase do seu treinamento não vai ser a jornada que normalmente os recrutas fazem.
- Porque não?
- Porque você já mostrou que consegue sobreviver em condições extremas, então sua última tarefa será comigo.
Olhei para Kuana desconfiada, apesar das atividades na arena machucarem mais o meu corpo, para mim era mais fácil aguentar cortes e testes físicos, do que ter que lidar com magia e a parte mística.
Preferiria fazer essa jornada do que ter que meditar e encontrar a magia que esta selada dentro de mim, ela me dá medo quando eu tento libera-la, pois não tenho o controle completo ainda.
- E o que você preparou para mim, pois acredito que já está me testando?
Ela desviou seus olhos para o chão, algo não estava me cheirando bem.
- Seu último teste Lia será a benção.
- O QUE? Você enlouqueceu Kuana?
- Calma Lia, eu não tenho mais nada para te ensinar, e você sabe como estamos precisando que você consiga ....
- Isso não justifica querer que eu beba de uma água que pode me matar, sem falar que eu já lhe disse mil vezes, que não sou dessa ordem e não sei como fazer essa maldita benção.
Eu não estava acreditando que ela estava me pressionando tanto com uma coisa, que eu já tinha falado que não iria fazer. O rei me pediu para eu tentar e eu pesquisei no livro que Ani me deu, e em todos os arquivos que consegui procurar, mas não encontrei nenhuma menção ao tal ritual.
Eu não ia sacrificar a minha vida, por uma coisa que eu não fazia a menor ideia de como fazer, além de que, não iria trazer nenhum beneficio para nenhuma das duas partes caso desse errado.
Kuana me olhava como se implorando para eu reconsiderar, eu estava com raiva, muita raiva, por ela ter tramado isso pelas minhas costas, mas entendia o seu lado, seu povo estava morrendo.
- Kuana, eu não vou dar minha vida em vão, se eu soubesse que isso ajudaria a vocês eu faria, mas não ajuda.
- Eu tenho certeza que você não vai morrer, por favor Lia, tenta pelo menos.
- Nós temos tempo ainda para pesquisar sobre, se não...
Como se o destino risse da minha cara, um pedaço de pergaminho se materializou em chamas na minha frente. Me assustei com o que aconteceu, mas logo peguei o papel em minhas mãos.
" Torre real de Dakar, livro Lugares Sagrados, procure pelo lago de cristal. Criança do Ciclo Lunar, você corre muito mais perigo do que imagina. Precisamos fazer a mesma coisa de quando você chegou na ilha.
Ps: não é seguro se comunicar por aqui."
Reconheci a letra de Ani assim que comecei a ler, ótimo, minha desculpa de tempo tinha acabado de ser pisoteada. O conteúdo da mensagem parecia ser urgente, ela deve ter descoberto algo e pelo jeito bem importante.
Respirei fundo, Ani não escreveu claramente, mas ela estava mandando eu me encontrar com ela nesse lago quando começasse o próximo ciclo lunar, isso me dava mais ou menos um mês para cumprir o que me foi ordenado.
Se eu queria cumprir o que Ani acabou de me pedir, precisaria partir em no máximo dois dias. Kuana me olhava confusa, a encarei tristemente e expliquei o que queria dizer o bilhete.
Estávamos no templo sentadas perto da fonte, eu olhei para a água e para Kuana, via o desespero no olhar da minha amiga por eu ter que partir mais cedo do que ela imaginava, e pela única esperança de seu povo prosperar novamente estar indo embora.
Num ímpeto de coragem, peguei uma espécie de concha que estava na borda da fonte, a enchi com a água e bebi. A água não tinha gosto e nem cheiro, não me senti estranha, mas minha amiga me olhava com os olhos arregalados, dizendo que tinha um ritual a ser feito antes deu tomar a água, bem agora já era tarde para isso.
Senti meus olhos pesarem e minha visão embaçar, minha cabeça girava, cai de costas no chão e a última coisa que eu vi, foi o teto do templo com o desenho da rosa negra.
Acordei num lugar que não reconhecia, estava cercada por uma neblina densa, não via nada a minha volta, o silêncio era total, nem o vento estava presente ali.
Me levantei e andei pelo lugar, a paisagem não mudava, somente neblina me rodeava, chamei por Kuana e minha voz pareceu alta de mais para aquele lugar.
Meu coração acelerou, será que eu tinha morrido e estava no céu, não, ali não era o céu, mas então que diabos de lugar eu estava? Como que se respondendo minha pergunta, vi ao longe uma figura encapuzada se aproximar.
Chamei a atenção do ser, e ele atendeu ao meu chamado vindo em minha direção, conforme se aproximava, mais nítido ficava a sua imagem. Uma mulher de cabelos e olhos verdes e pele extremamente branca, me encarava com certa curiosidade.
Ela não me parecia humana, não, ela com certeza não era humana. Dei dois passos para trás, a estranha emanava um grande poder que fez os pelos do meu corpo todo se arrepiarem. Então eu reparei que a estranha vestia um manto preto igual ao da minha mãe, sim, ela com certeza era da ordem negra.
- Quem é você e o que faz aqui?
- Eu me chamo Lia, e não sei como vim parar aqui.
Agora a mulher me analisava, sua voz tinha um tom suave, mas estava longe de ser uma voz doce e amigável. Ela começou a me rodear, me olhava dos pés a cabeça, fazendo com que eu me sentisse bem desconfortável, mas não ousei me mexer, algo me dizia que não seria uma boa ideia.
- Você é da ordem negra, não é?
Ela parou de andar em ciclos, veio para minha frente se mantendo ainda distante, inclinou a cabeça e estreitou os olhos.
- Como sabe da ordem? Você não faz parte dela.
- Seu manto, minha mãe tinha um igual, e não, não faço parte.
- Quem era sua mãe? – Uma curiosidade brilhava em seus olhos.
- Hélia, pelo menos era assim que eu a chamava.
Ela apertou mais ainda seus olhos, se aproximou de mim, levantou sua mão e tocou em meus cabelos, encarava meu rosto bem de perto. E assim da mesma forma que se aproximou do nada, se afastou rapidamente.
- Não lembro de nenhum membro com esse nome, apesar de que você me tem um rosto familiar. Como chegou aqui?
- Eu estava no deserto do esquecimento, na cidade de Matmata, minha amiga Kuana é a xamã de lá, ela me pediu para eu fazer uma benção pois a cidade não está bem. Ela acha que por minha mãe ter sido da ordem eu poderia ajuda-los, então bebi a água da fonte sagrada e aqui estou eu.
Minhas palavras saíram muito rápido da minha boca, eu estava com os nervos a flor da pele, o olhar daquela mulher me deixava assim. Eu não sabia onde estava e ela emanava um poder que me amedrontava demais.
Ela não desgrudava os olhos de mim, parecia estar analisando o que eu acabava de falar, começou a andar de um lado para o outro, apoiando a mão no queixo pensativamente.
- Matmata, é a cidade do povo do deserto, é a cidade abençoada por Corina.
- Por quem?
- Pela ninfa Corina, que salvou esse povo da morte e levou a ordem até eles os abençoando a milhares de anos atrás.
Eu apenas escutava, não sabia quem era essa ninfa, mas pelo que ela acabou de falar, me pareceu ser a mulher da ordem da história de Kuana. Eu não duvidaria, não depois de tudo que já passei.
- A magia da benção deve estar fraca, principalmente depois do que aconteceu com os membros da ordem.
- Onde eu estou? – a pergunta saiu dos meus lábios antes que eu pudesse segurar.
A mulher parou de andar de um lado para o outro, e voltou a fixar seus olhos em mim. Me arrependi de ter feito a pergunta no mesmo momento, que a sua atenção se voltou novamente para mim.
- Você está nas memórias, e no plano espiritual, você está no plano que a ordem criou para guardar e preservar seus conhecimentos e guardiões.
- O que? – eu não entendi absolutamente nada do que ela acabou de falar.
- Aqui você pode acessar conhecimentos da ordem, você pode conversar com membros que já não estão no mesmo plano que o seu, para buscar orientações.
- E esse plano tinha que ser cheio de neblina.
- Ele não é assim, você só o estava vendo assim porque não está pronta para mais informações.
-Pera, você disse que eu poderia conversar com antigos membros, ou seja, os membros que já estão mortos?
- Sim. - Ela relutou em me responder.
- Eu posso falar com a minha mãe? – Essa possibilidade me encheu de esperança.
A mulher me olhava agora com certa cautela, se aproximou um pouco mais, colocou uma mão em meus ombros.
- Se sua mãe não estiver mais viva da forma que vocês consideram viva, e ter sido da ordem então, sim,....
- Eu quero falar com ela por favor! - meus olhos já estavam cheios de lágrimas, só de pensar que poderia conversar com minha mãe novamente.
- Você ainda não pode, veio parar aqui por acaso, e não é um membro da ordem, e como já disse, não conheço nenhum membro com o nome de sua mãe.
As palavras da mulher foram um balde de água congelada em meu coração. Mas eu engoli minha tristeza, e me foquei no que eu precisava no momento.
- Você pode me explicar como fazer a benção, para eu poder ajudar Kuana e o povo do deserto?
- Não sei....
Eu continuei a encarando, não tinha resposta para isso, melhor deixa-la decidir e não pressionar. A mulher pegou uma de minhas mãos e uma adaga se materializou do nada em sua outra mão, sem aviso nenhum, a mulher cortou a palma da minha mão.
O corte ardeu, ela segurou minha mão em concha, deixando o sangue se acumular nela, a olho com a pergunta explicita no meu rosto, do porque diabos ela fez isso. Quando se tem sangue o bastante na minha mão ela a vira para baixo, deixando o sangue pingar e o que acontece me surpreende.
Meu sangue cai em gotas pela neblina, mas cada gota sai de uma cor, vermelha, verde, azul, amarela, roxa e por fim uma gota preta, que assim que atinge o sangue que estava numa pequena poça no chão, forma a imagem de uma rosa desabrochando.
- O que foi isso?
- Um teste – ela me olhava com um brilho nos olhos - vou lhe ensinar a benção.
- Obrigada.
A mulher sussurra algumas palavras em meu ouvido e coloca um dedo em minha testa, eu vejo imagens do ritual que tenho que fazer em minha mente. Vejo Corina dar a primeira benção ao povo do deserto, a ninfa era linda e seu poder era magnífico.
Quando ela retira o dedo de minha testa volto a encara-la, ela está mais séria do que antes, ela retira de seu manto uma rosa negra, a rosa estava com um brilho suave a sua volta.
- Preste atenção jovem Lia, essa rosa é muito especial, você comerá uma de suas pétalas e então poderá fazer a benção.
Ela coloca uma das pétalas na mão.
- Nós voltaremos a nos encontrar, seu caminho já está a muito tempo traçado – a mulher começa a desaparecer entre as neblinas e sua voz fica cada vez mais distante – sua mãe é uma grande mulher, uma grande....
Eu despertei me levantando num susto, estava de volta no templo, eu não escutei o que a mulher estava falando sobre a minha mãe, mas ela sabia mais do que falou, Kuana estava me abraçava e chorava compulsivamente.
- Eu pensei que você tinha morrido.
A abracei de volta, meu corpo estava todo suado, que sonho mais esquisito. Afastei Kuana que estava me sufocando, e então percebi que tinha algo em minha palma direita, ao abri-la vi a pétala negra.
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